Ouça os Evangelhos Sagrados
João Batista, o mensageiro da Luz Primordial.
Capítulo 1.
O Poder do Logos Habitou na Carne.
No princípio, era o Logos, e o Logos estava com o PAI, e o Logos é o PAI. O mesmo estava no princípio com o PAI. Todas as coisas foram feitas por ele. E sem ele nada do que foi feito se fez. Nele está a vida e a vida é a luz dos homens. E a luz resplandece nas trevas e a escuridão não o compreendeu.
Houve um mensageiro enviado pelo PAI, cujo nome era João. Este veio para dar testemunho da Luz, para que todos creiam por meio dele. Ele não era aquela Luz, mas foi enviado para dar testemunho da Luz Primordial. Esse é o Logos, a verdadeira Luz que ilumina todo homem que vem ao mundo. O Poder do Logos estava no mundo, e o mundo foi feito por intermédio dele, e o mundo não o reconheceu.
Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos do PAI, aos que creem em seu nome. Os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas do PAI. E o Logos se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade.
João deu testemunho dele, e clamou, dizendo: “Este era aquele de quem eu falava: O que vem após mim tem a preferência diante de mim, porque já existia antes de mim. E da sua plenitude todos recebemos, e graça sobre graça. Porque a lei foi dada por Moisés, mas a graça e a verdade vieram por Jesus Cristo. Ninguém jamais viu o PAI; o Filho unigênito, que está no seio do PAI, ele o revelou.”
E este é o registro de João, quando os judeus enviaram sacerdotes e levitas de Jerusalém para perguntar-lhe: “Quem és tu?”
E João confessou, e não negou; mas confessou: “Eu não sou o Cristo.”
E perguntaram: “E então? És tu Elias?”
E ele disse: “Não sou.”
Eles perguntaram de novo: “Você é aquele profeta?”
E ele respondeu: “Não.”
Disseram-lhe então: “Quem és tu? Para podermos responder aos que nos enviaram. Que dizes tu de ti mesmo?”
Ele disse: “Sou a voz do que clama no deserto. Endireitai o caminho do Senhor, como disse o profeta Isaías.”
E os que foram enviados eram dos fariseus e eles o interrogaram: “Por que batizas, então, se tu não és o Cristo, nem Elias, nem o profeta?”
João respondeu dizendo: “Eu batizo com água; mas no meio de vós estais um a quem vós não conheceis; ele é aquele que vem após mim, é preferido antes de mim, o qual as correias das sandálias eu não sou digno de desatar.”
Estas coisas aconteceram em Betânia, além do Jordão, onde João batizava.
No dia seguinte, João viu a Jesus, que vinha para ele, e disse: “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo.”
Este é aquele de quem eu disse: “Após mim vem um homem preferido antes de mim: porque ele existia antes de mim. E eu não o conhecia; mas para que ele se manifestasse para o mundo, por isso vinha batizando com água.”
E João deu testemunho, dizendo: “Vi o Espírito descer do céu como uma pomba e repousar sobre ele. E eu não o conhecia; mas aquele que me enviou a batizar com água, me disse: ‘Sobre aquele que vires descer o Espírito e sobre ele repousar, esse é o que batiza com o Espírito Santo.’ E eu vi e testifiquei que este é o Filho do PAI.”
No dia seguinte, estava João outra vez na companhia de dois dos seus discípulos. Levantou-se e, olhando para Jesus enquanto caminhava, disse: “Eis o Cordeiro de Deus!”
E os dois discípulos, ouvindo-o falar, seguiram-no.
Voltando-se, Jesus viu que o seguiam e perguntou: “O que procuram?”
Eles disseram: “Mestre, onde moras?”
E Jesus respondeu: “Venham e vejam.”
Eles foram e viram onde ele morava, e ficaram com ele naquele dia, porque era quase a hora décima.
Um dos dois discípulos que ouviram João falar e o seguiram era André, irmão de Simão Pedro.
Inicialmente, ele encontrou seu próprio irmão, Simão, e disse: “Encontramos o Messias, que é, se interpretarmos, o Cristo.” Então, ele apresentou Pedro a Jesus.
E Jesus, olhando para ele, disse: “Tu és Simão, filho de Jonas; tu serás chamado Cefas, que significa pedra.”
No dia seguinte, quis Jesus partir para a Galileia, e no caminho encontrou a Filipe, e disse: “Siga-me.” Ora, Filipe era de Betsaida, cidade de André e Pedro.
Filipe se encontrou com Natanael e disse: “Estamos com aquele de quem escreveram Moisés na lei e os profetas: Jesus de Nazaré, filho de José.”
E Natanael disse: “Pode vir alguma coisa boa de Nazaré?”
Filipe respondeu: “Vem e vê.”
Jesus viu Natanael aproximar-se dele e então disse a seu respeito: “Eis aqui um verdadeiro israelita, em quem não há engano!”
Natanael disse-lhe: “De onde me conhece?”
Jesus respondeu: “Antes que Filipe te chamasse, eu te vi, quando estavas debaixo da figueira.”
Natanael respondeu e disse: “Mestre, tu és o Filho de Deus; tu és o Rei de Israel.”
Jesus respondeu, e disse-lhe: “Porque te disse: te vi debaixo da figueira, crês? Verás coisas maiores do que estas”
E continuou dizendo-lhe: “Em verdade vos digo, que vereis o céu aberto e os anjos do PAI subindo e descendo sobre o Filho do homem.”
Capítulo 2.
Jesus transforma água em vinho.
E ao terceiro dia houve um casamento em Caná da Galileia e estava ali Maria, a mãe de Jesus. Foram chamados tanto Jesus como seus discípulos para as bodas.
Faltando vinho, Maria disse a Jesus: “Eles não têm vinho.”
Jesus, porém, respondeu: “Mulher, que tenho eu contigo? Ainda não é chegada a minha hora.”
Então, sua mãe disse aos servos: “Tudo o que ele vos disser, façam-no.”
E estavam ali colocados seis cântaros de pedra, segundo o costume da purificação dos judeus, contendo cada uma trinta ou quarenta litros.
Jesus disse-lhes: “Encham os cântaros com água.” Então, os servos encheram os cântaros até a borda.
Jesus disse: “Tire agora, e leve ao mestre-sala.” E eles assim fizeram.
Quando o mestre-sala provou a água transformada em vinho, sem saber de onde era, chamou o noivo.
E disse-lhe: “Todo homem põe primeiro o bom vinho e, quando todos já beberam bem, então põe o vinho inferior, mas tu guardaste o bom vinho até agora.”
Este princípio de milagres fez Jesus em Caná da Galileia, e manifestou sua glória e seus discípulos acreditaram nele.
Após isso, ele foi para Cafarnaum com sua mãe, seus irmãos e seus discípulos, onde ficara pouco tempo.
Estando próxima à páscoa dos judeus, Jesus subiu a Jerusalém e encontrou no templo os que vendiam bois, ovelhas e pombas, e os cambistas sentados.
Ele fez um chicote de cordas e expulsou todos do templo, com as ovelhas e os bois. Ele também derrubou as mesas dos cambistas e espalhou o dinheiro deles pelo chão.
E Jesus, dirigindo-se aos que vendiam pombas, ordenou: “Retirem estas coisas daqui! Não está escrito que ‘Esse templo será chamado casa de oração para todos os povos’? Vocês, porém, a transformaram em um covil de ladrões.”
E seus discípulos relembraram as escrituras: “O zelo por tua casa me consumiu”.
Então, responderam os judeus e disseram-lhe: “Que sinal nos mostras, visto que fazes estas coisas?”
Jesus respondeu, e disse-lhes: “Derrubem este templo e em três dias o levantarei.”
Disseram, pois, os judeus: “Quarenta e seis anos levaram à edificação deste templo, e tu o levantarás em três dias?”
Mas Jesus se referia ao templo de seu corpo.
Os discípulos se lembraram de que Jesus havia predito sua ressurreição. Quando ele ressuscitou, eles creram nas Escrituras e nas palavras de Jesus.
Ora, estando ele em Jerusalém por ocasião da páscoa, no dia da festa, muitos creram no seu nome, ao verem os sinais que fazia. Mas Jesus não confiava neles, porque conhecia todos os homens.
E não precisava que alguém lhe desse testemunho do homem, porque ele bem sabia o que havia no homem.
Capítulo 3.
Jesus ensina Nicodemos a Respeito da Verdadeira Ressurreição.
Havia entre os fariseus um homem chamado Nicodemos, autoridade dos judeus e Mestre da Lei.
Este foi conversar com Jesus de noite e disse-lhe: “Mestre, sabemos que és vindo da parte de Deus, porque ninguém pode fazer estas coisas que tu fazes, se Deus não estiver com ele.”
Jesus respondeu, e disse: “Em verdade, em verdade te digo que aquele que não nascer de novo, não pode ver os Aeons Eternos.”
Nicodemos lhe disse: “Como pode um homem nascer de novo, sendo velho? Ele pode entrar pela segunda vez no ventre de sua mãe e nascer?”
Jesus respondeu: “Em verdade, em verdade te digo que, aquele que não nascer da água e do Espírito e do fogo não pode entrar no Aeon Eterno. O nascido da carne é carne, e o que é nascido do espírito é espírito. Não te maravilhe por eu te ter dito: ‘deve nascer de novo’. O vento sopra onde quer, ouves a sua voz, mas não sabes de onde vem, nem para onde vai, assim é todo aquele nascido do Espírito.”
Nicodemos perguntou e disse-lhe: “Como pode ser isso?”
Jesus respondeu, e disse-lhe: “Tu és mestre de Israel e não sabes estas coisas? Em verdade, em verdade, te digo que dizemos que sabemos e testificamos o que vimos; e não aceitam o nosso testemunho.”
“Se te falei de coisas terrestres, e não acredita, como irá acreditar, se te falar das coisas celestiais?”
“Ninguém subiu ao Aeon, senão aquele que desceu do Aeon, o Filho do homem, que está nos Aeons Eternos.”
“Assim como Moisés ergueu a serpente no deserto para que aqueles que o acompanhavam cressem, É necessário que o Filho do homem seja exaltado, para que todos os que nele creem tenham a vida eterna e não pereçam.”
“Porque o PAI ama todos no mundo de tal maneira que enviou o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele acredites não pereça, mas tenha a vida eterna.”
“Porque o PAI não enviou o seu Filho ao mundo para condenar a todos no mundo; mas que todos no mundo através dele poderem ser salvos.”
“Quem crê nele não é condenado, mas quem não crê já está condenado, porque não acreditou no nome do unigênito Filho do PAI.”
“E a condenação é esta: ‘A luz que veio ao mundo, sendo a humanidade enganada pelos Arcontes, amaram mais as trevas do que a luz, porque as obras dos Arcontes eram más, levando a humanidade a todo tipo de erro e iniquidades.”
“Pois todo aquele que faz o mal odeia a luz, nem vem para a luz, para que suas ações não sejam reprovadas.”
“Mas quem pratica a verdade vem para a luz, a fim de que as suas obras sejam manifestas, por serem feitas no PAI.”
Depois destas coisas, Jesus e os seus discípulos chegaram à terra da Judeia; e lá ele ficou com eles e batizava.
E João também estava batizando em Enom, perto de Salim, porque havia muita água lá, e eles vieram, sendo batizados. Pois João ainda não tinha sido lançado na prisão.
Houve uma discussão entre alguns discípulos de João e judeus a respeito da purificação.
E foram falar com João e disseram: “Mestre, aquele que estava contigo além do Jordão, de quem tens dado testemunho, eis que está batizando, e todos vão conversar com ele.”
João respondeu e disse: “Um homem não pode receber nada, a menos que lhe seja dado do céu.”
Vós mesmos sois testemunhas de que eu disse: ‘eu não sou o Cristo, mas fui enviado à frente dele.’
Aquele que tem a noiva é o noivo, mas o amigo do noivo, que lhe assiste e o ouve, alegra-se muito com a voz do noivo.
Portanto, esta minha alegria está consumada. É necessário que ele cresça, e que eu diminua.”
Aquele que vem do alto está acima de todos, aquele que é da terra é terrestre, e fala da terra, aquele que vem dos Aeons está acima de todos.
E o que ele viu e ouviu, isso testifica e ninguém aceita o seu testemunho.
Aquele que recebeu seu testemunho colocou em seu selo que o PAI é verdadeiro.
Porque aquele que o PAI enviou fala as palavras do PAI, porque o PAI não lhe dá o Espírito por medida.
O PAI ama o Filho e todas as coisas entregou em suas mãos.
Aquele que crê no Filho tem a vida eterna, mas aquele que não crê no Filho não terá a vida eterna, e perecerá.”
Capítulo 4.
A mulher Samaritana.
Quando Jesus soube que os fariseus tinham ouvido dizer que ele batizava e que fazia mais discípulos do que João. Embora Jesus mesmo não batizasse, mas seus discípulos. Ele deixou a Judeia e voltou para a Galileia.
E era necessário que ele passasse por Samaria. Chegou então a uma cidade da Samaria, chamada Sicar, perto das terras que Jacó dera a seu filho José.
Ora, o poço de Jacó estava ali. Jesus, pois, cansado da viagem, sentou-se assim junto do poço; e era cerca da hora sexta.
Os seus discípulos haviam ido à cidade comprar comida. Nisso veio uma mulher samaritana tirar água.
Disse-lhe Jesus: “Dê-me um pouco de água”.
A mulher samaritana lhe perguntou: “Como, sendo tu judeu, pede a mim, uma samaritana, água para beber? Pois os judeus não se relacionam com os samaritanos.”
Jesus respondeu, e disse-lhe: “Se conhecesses o dom do PAI e quem é o que te pede: ‘Dá-me de beber’; tu lhe terias pedido, e ele te teria dado água viva.”
Disse-lhe a mulher: “Senhor, não tens com que tirar, e o poço é fundo; de onde tens, pois, essa água viva?
És tu maior do que nosso pai Jacó, que nos deu o poço, e dele bebeu ele mesmo, seus filhos e seu gado?”
Jesus respondeu, e disse: “Todo aquele que beber desta água tornará a ter sede, mas aquele que beber da água que eu lhe der nunca mais terá sede, mas a água que eu lhe der fará nele uma fonte de água que salte para a vida eterna.”
Disse-lhe a mulher: “Senhor, dá-me desta água, para que eu não tenha sede, nem venha aqui tirá-la.”
Disse-lhe Jesus: “Vai, chama o teu marido e vem cá.”
A mulher respondeu e disse: “Não tenho marido.”
Disse-lhe Jesus: “Disseste bem que não tem marido, porque cinco maridos tiveste e aquele que agora tens não é teu marido, nisso disseste a verdade.”
Disse-lhe a mulher: “Senhor, vejo que és profeta. Nossos pais adoraram neste monte; e dizeis que em Jerusalém é o lugar onde se deve adorar.”
Disse-lhe Jesus: “Mulher, acredite, vem a hora em que nem neste monte, nem em Jerusalém adorareis o PAI. Vós adorais o que não sabeis; sabemos o que adoramos, porque a salvação vem do PAI. Mas vem a hora, e já chegou, em que os verdadeiros adoradores adorarão o PAI em espírito e em verdade; porque o PAI procura tais que assim o adorem. O PAI é Espírito, e importa que os que o adoram o adorem em espírito e em verdade.”
Disse-lhe a mulher: “Eu sei que vem o Messias, chamado Cristo; quando ele vier, nos anunciará todas as coisas.”
Disse-lhe Jesus: “Sou eu que falo contigo.”
E chegaram os seus discípulos, e admiraram-se de que falasse com a mulher, mas ninguém disse: “Que procuras? Ou, por que você fala com ela?”
A mulher então deixou o seu cântaro e foi à cidade, e disse aos homens: “Venham e vejam um homem que me disse tudo o que tenho feito, não é este o Cristo?”
Então, saindo da cidade, foram conversar com ele.
Enquanto isso, seus discípulos rogavam a ele, dizendo: “Mestre, come.”
Ele, porém, lhes disse: “Tenho uma comida para comer que vós não conheceis.”
Disseram, pois, os discípulos uns aos outros: “Alguém lhe trouxe alguma coisa para comer?”
Disse-lhes Jesus: “A minha comida é fazer a vontade daquele que me enviou e completar a sua obra. Não dizeis que ainda faltam quatro meses e depois vem a colheita?”
“Eis que vos digo: levantai os olhos e vejam os campos; porque já estão brancos para a ceifa. E o que ceifa já recebe recompensa e ajunta fruto para a vida eterna, para que o que semeia e o que ceifa juntamente se satisfaçam.”
E aqui é verdadeiro o ditado: “Um semeia e outro, ceifa. Eu vos enviei a ceifar onde não trabalhastes, outros trabalharam e vós entrastes no trabalho deles.”
E muitos dos samaritanos daquela cidade acreditaram nele devido à palavra da mulher, que testificou: “Ele me contou tudo o que fiz.”
Então, quando os samaritanos foram falar com Jesus, pediram-lhe que ficasse com eles e então ele permaneceu lá por dois dias. E muitos mais creram devido à sua própria palavra.
E disse à mulher: “Já não é pela tua palavra que cremos, porque nós mesmos o temos ouvido e sabemos que este é verdadeiramente o Cristo, o Salvador do mundo.”
Dois dias depois, partiu dali e foi para a Galileia. Pois o próprio Jesus testificou que um profeta não tem honra em sua própria terra.
Então, quando ele veio para a Galileia, os galileus o receberam, tendo visto tudo o que ele fez em Jerusalém na festa, porque eles também foram à festa.
Jesus então voltou a Caná da Galileia, onde da água fez vinho. E havia um certo nobre, cujo filho estava doente em Cafarnaum.
Ouvindo que Jesus vinha da Judeia para a Galileia, dirigiu-se a ele e rogou-lhe que descesse e curasse seu filho, porque estava à beira da morte.
Disse-lhe então Jesus: “Se não ver sinais e prodígios, não acreditará.”
O nobre disse-lhe: “Senhor, desce antes que meu filho morra.”
Jesus disse-lhe: “Vai; teu filho vive.”
E o homem acreditou na palavra que Jesus lhe disse, e partiu. E, retornando, saíram ao encontro dos seus servos, e lhe anunciaram, dizendo: “O teu filho vive.”
Então, perguntou a eles a hora em que começou a melhorar e eles disseram-lhe: “Ontem, à hora sétima, a febre o deixou.”
Reconheceu, pois, o pai, que era aquela mesma hora em que Jesus lhe dissera: “O teu filho vive”; e creu nele e toda a sua casa.
Este é novamente mais um milagre que Jesus fez, quando ele saiu da Judeia para a Galileia.
Capítulo 5.
A cura do paralítico no tanque de Betsaida.
Depois disto, houve uma festa dos judeus e Jesus foi a Jerusalém. Ora, há em Jerusalém, junto ao mercado das ovelhas, um tanque, que em hebraico se chama Betsaida, com cinco galerias.
Nestes jazia uma grande multidão de doentes, inválidas, cegos, mancos e paralíticos, esperando o movimento da água.
Havia ali um homem que estava incapacitado há trinta e oito anos. Quando Jesus o viu mentir, e sabia que ele já estava há muito tempo naquele caso, disse-lhe: “Queres tu, ser curado?”
O paralítico respondeu-lhe: “Senhor, não tenho ninguém que, quando a água é agitada, me ponha no tanque, mas enquanto vou, outro desce antes de mim.”
Disse-lhe Jesus: “Levanta-te, toma o teu leito e anda.”
E logo o homem ficou curado, pegou a sua cama e andou e naquele dia era Shabat.
Disseram, pois, os judeus ao que fora curado: “É Shabat; não te é lícito carregar a tua cama.”
Ele respondeu-lhes: “Aquele que me curou, o mesmo me disse: ‘Pegue a sua cama e ande’.”
Perguntaram-lhe então: “Que homem é esse que te disse: ‘Toma a tua cama e anda’?”
E o que fora curado não sabia quem era, porque Jesus havia desaparecido no meio da multidão.
Depois Jesus o encontrou no templo, e disse-lhe: “Eis que já estás curado; não erres mais, para que não te suceda alguma coisa pior.”
Retirou-se o homem e disse aos judeus que fora Jesus quem o havia curado.
E, portanto, os judeus perseguiram Jesus e procuraram matá-lo, porque ele havia feito essas coisas no dia de Shabat.
Jesus, porém, respondeu-lhes: “Meu PAI trabalha até agora e eu também trabalho.”
Portanto, os judeus ainda mais procuravam matá-lo, porque ele não somente violava o Shabat, mas também dizia que Deus era seu Pai, fazendo-se igual a Deus.
Então, respondendo Jesus, disse-lhes: “Em verdade, em verdade vos digo que o Filho nada pode fazer de si, senão o que vê o PAI fazer. Porque o PAI ama o Filho, e mostra-lhe tudo o que ele mesmo faz. E ele lhe mostrará obras maiores do que estas, para vos maravilhardes.”
“Porque, assim como o PAI ressuscita os mortos e os vivifica, mesmo assim o Filho vivifica quem ele quer. Porque o PAI a ninguém julga, mas deu ao Filho todo o julgamento. Para que todos honrem o Filho, assim como honram o PAI. Quem não honra o Filho, não honra o PAI que o enviou.”
“Em verdade, em verdade vos digo que quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou tem a vida eterna e não entrará em condenação, mas passou da morte para a vida.”
“Em verdade, em verdade vos digo que vem a hora, e já chegou, em que os mortos ouvirão a voz do Filho do PAI e os que a ouvirem viverão.”
“Porque, assim como o PAI tem a vida em si, assim deu ao Filho ter vida em si. E deu-lhe autoridade para julgar também, porque é o Filho do homem.”
“Não vos maravilheis disto, porque vem a hora em que todos os que estão nos túmulos ouvirão a sua voz, e sairão, os que fizeram o bem, para a ressurreição da vida e os que praticaram o mal, para a ressurreição da condenação.”
“Por mim mesmo não posso fazer nada: como ouço, julgo; e meu julgamento é justo; porque não procuro a minha própria vontade, mas a vontade do PAI que me enviou. Se eu der testemunho de mim mesmo, meu testemunho não é verdadeiro.”
“Há outro que dá testemunho de mim e sei que o testemunho que ele dá de mim é verdadeiro. Mandastes a João, e ele deu testemunho da verdade. Mas não recebo testemunho de homem, mas digo isto para que sejais salvos.”
“Ele era uma luz radiante e resplandecente, mas tenho maior testemunho do que o de João, porque as obras que o PAI me deu para terminar, as mesmas obras que faço, dão testemunho de mim, que o PAI me enviou.”
“E o próprio PAI, que me enviou, deu testemunho de mim. Vocês nunca ouviram sua voz em nenhum momento, nem viram sua forma. E não tendes a sua palavra permanecendo em vós, porque não acreditais naquele que ele enviou.”
Examinai as Escrituras, porque julgais ter nelas a vida eterna e são elas que testificam de mim. E não quereis vir a mim para terdes vida.
Eu não recebo honra dos homens. Mas eu vos conheço, que não tendes em vós o amor do PAI.
Vim em nome de meu PAI e não me recebeis, se outro vier em seu próprio nome, a esse recebereis.
Como podeis crer, vós que recebeis honra uns dos outros, e não buscais a honra que vem do Único?
Não penseis que eu vos acusarei diante do PAI, há um que vos acusa, Moisés, em quem vós confiais.
Pois, se acreditassem em Moisés, também acreditariam em mim, porque ele escreveu a meu respeito. Contudo, se não acreditaram em seus escritos, como acreditarão em minhas palavras?
Capítulo 6.
O milagre da multiplicação.
Depois destas coisas, Jesus atravessou o mar da Galileia, o qual é o mar de Tiberíades. Uma grande multidão o seguia, porque via os sinais que ele fazia sobre os enfermos.
E Jesus subiu a um monte, e ali se sentou com seus discípulos. Estava próxima à páscoa, festa dos judeus.
Jesus, então, erguendo os olhos e vendo que uma grande multidão vinha falar com ele, disse a Filipe: “Onde compraremos pão para estes comerem?” E isto disse para o provar, pois ele mesmo sabia o que havia de fazer.
Filipe respondeu-lhe: “Duzentos denários de pão não são suficientes para eles, para que cada um deles coma um pouco.”
Disse-lhe um dos seus discípulos, André, irmão de Simão Pedro: “Está aqui um rapaz com cinco pães de cevada e dois peixinhos; mas o que é isto para tantos?”
E Jesus disse: “Fazei com que os homens se assentem.”
Havia muita grama naquele local. Então os homens se sentaram, em número de cerca de cinco mil.
E Jesus tomou os pães e, havendo dado graças, distribuiu-os aos discípulos, e os discípulos aos que estavam assentados e também aos peixes, tanto quanto eles quisessem.
Quando eles foram preenchidos, ele disse a seus discípulos: “Recolham as sobras, para que nada se perca.”
Então, eles os reuniram e encheram doze cestos com os restos dos cinco pães de cevada, que sobraram para os que comeram.
Aqueles homens, vendo o milagre que Jesus havia feito, disseram: “Este é verdadeiramente o Cristo que havia de vir ao mundo.”
Quando Jesus, portanto, percebeu que eles viriam e o levariam à força, para fazê-lo rei, ele partiu novamente para uma montanha sozinho.
E, ao cair da tarde, seus discípulos desceram ao mar e entraram em um barco e atravessou o mar em direção a Cafarnaum. Já estava escuro, e Jesus não havia vindo para se juntar a eles.
E o mar ficou revolto devido a um grande vento que soprou. Tendo eles remado cerca de vinte e cinco ou trinta estádios, viram Jesus andando sobre o mar e aproximando-se do barco.
Jesus, porém, lhes disse: “Sou eu, não tenha medo.” Então, de bom grado, o receberam no barco; e logo chegaram à terra para onde iam.
No dia seguinte, quando as pessoas que estavam do outro lado do mar viram que não havia outro barco ali, exceto aquele em que seus discípulos haviam entrado, e que Jesus não entrou com seus discípulos no barco, mas que seus discípulos foram embora sozinhos; entretanto, outros barcos chegaram de Tiberíades perto do lugar onde comeram pão, depois que Jesus deu graças. Quando a multidão viu que Jesus não estava lá, nem seus discípulos, eles também embarcaram e foram para Cafarnaum, procurando por Jesus.
E, encontrando-o no outro lado do mar, perguntaram-lhe: “Mestre, quando chegou aqui?”
Jesus respondeu: “Em verdade, em verdade vos digo que me procuram, não porque viram os milagres, mas porque comeram dos pães e ficaram satisfeitos. Trabalhem, não pela comida que perece, mas pela comida que permanece para a vida eterna, a qual o Filho do Homem vos dará, porque a ele, o PAI, o selou.”
Eles disseram então: “Que faremos nós para realizarmos as obras do PAI?”
Jesus respondeu, e disse: “A obra do PAI é esta: que acreditem naquele a quem ele enviou.”
Pois, perguntaram: “Que sinal mostras, então, para que o vejamos e creiamos em ti? Qual é a sua obra? Nossos pais comeram maná no deserto, como está escrito: ‘Deu-lhes a comer pão do céu’.”
Então, Jesus lhes disse: “Em verdade, em verdade vos digo que não foi Moisés quem vos deu o pão do céu. Mas meu PAI vos dá o verdadeiro pão do céu. Porque o pão do PAI é aquele que desce do céu e dá vida ao mundo.”
Disseram-lhe então: “Senhor, dá-nos sempre deste pão.”
Jesus disse: “Sou o pão da vida, aquele que vem a mim nunca terá fome e aquele que crê em mim nunca terá sede. Eu, porém, vos disse que também vós me vistes e não acreditastes.”
“Todo aquele que o PAI me dá, virá a mim, e o que vem a mim de maneira nenhuma o lançarei fora. Porque desci do Aeon de Luz, não para fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou.”
“Esta é a vontade do PAI que me enviou, que de todos os que ele me deu, eu não perca nada, mas ressuscite no último dia. A vontade daquele que me enviou é esta: que todo aquele que vê o Filho, e nele crê tenha a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia.”
Então, os judeus murmuravam sobre ele, porque dizia: “Eu sou o pão que desceu do céu”
E eles disseram: “Não é este Jesus, filho de José, cujo pai e mãe nós conhecemos? Como é então que ele diz: ‘Desci do céu’?”
Jesus, portanto, respondeu e disse: “Não murmures entre vós. Ninguém pode vir a mim, se o PAI que me enviou não o trouxer, e eu o ressuscitarei no último dia.”
“Está escrito nos profetas: ‘E serão todos ensinados por Deus. Todo homem, pois, que ouviu e aprendeu do PAI, vem a mim. Não que alguém tenha visto o Pai, senão aquele que é de Deus, ele viu o Pai’.”
“Em verdade, em verdade vos digo que aquele que crê em mim tem a vida eterna. Sou o pão da vida.”
“Vossos pais comeram o maná no deserto e pereceram. Este é o pão que desceu do céu, para que o que dele comer não pereça.”
“Sou o pão vivo que desceu do céu, se alguém comer deste pão, viverá para sempre; e o pão que darei é a minha carne, que darei pela vida do mundo.”
Disputavam, pois, os judeus entre si, dizendo: “Como pode este dar-nos a sua carne a comer?”
Então, Jesus lhes disse: “Em verdade, em verdade vos digo que, se não comerdes a carne do Filho do homem e não beberdes o seu sangue, não tereis vida em vós. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia. Porque a minha carne é verdadeiramente comida, e o meu sangue é verdadeiramente bebido. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele. Assim como o PAI, que vive, me enviou, e eu vivo pelo PAI, assim, quem de mim se alimenta, também viverá por mim. Este é o pão que desceu do céu, não como vossos pais que comeram o maná e morreram, pois quem comer deste pão viverá para sempre.”
Estas coisas, disse ele na sinagoga, enquanto ensinava em Cafarnaum.
Muitos, pois, dos seus discípulos, ouvindo isto, disseram: “Duro é este discurso, quem pode ouvi-lo?”
Sabendo Jesus em si que os seus discípulos murmuravam disso, disse-lhes: “Isto vos escandaliza? E se virem o Filho do homem se elevar para os Aeons Eternos? É o espírito que da vida, a carne nada aproveita: as palavras que eu vos digo são espíritos e são vidas. Mas há alguns de vocês que não acreditam.”
Pois Jesus sabia desde o princípio quem eram os que não acreditavam e quem o havia de deixá-lo.
E Jesus disse: “Por isso vos disse que ninguém pode vir a mim, se por meu PAI lhe não for concedido.”
Desde então, muitos de seus discípulos retrocederam e não andaram mais com ele.
Então Jesus disse aos doze: “Querem vocês também se retirar?”
Então Simão Pedro lhe respondeu: “Senhor, para onde iremos nós? Tu tens as palavras da vida eterna. E nós cremos e estamos certos de que tu és o Cristo, o Filho do PAI vivo.”
Jesus respondeu-lhes: “Não vos escolhi doze, e um de vós é o escolhido?”
Ele referiu-se a Judas Iscariotes, filho de Simão: porque era ele o escolhido a quem deveria entregá-lo, sendo um dos doze.
Capítulo 7.
Jesus Ensina a Doutrina do PAI no Templo na festa do tabernáculo.
Depois destas coisas, andava Jesus pela Galileia, porque não queria andar na Judeia, devido aos judeus que procuravam matá-lo. Estava próxima à festa dos tabernáculos dos judeus.
Disseram-lhe, pois, seus irmãos: “Sai daqui e vai para a Judeia, para que também os teus discípulos vejam as obras que fazes. Pois não há homem que faça alguma coisa em segredo, e ele mesmo visa ser conhecido abertamente. Se fizeres estas coisas, mostra-te ao mundo.” Pois seus irmãos acreditavam nele.
Disse-lhes então Jesus: “Ainda não é chegado o meu tempo, mas o vosso tempo está sempre pronto. O mundo não pode odiar vocês, mas me odeia, porque dou testemunho dele de que suas obras são más. Vocês sobem para a festa, porém eu não subo para esta festa; porque ainda não chegou o meu tempo.”
Após lhes dizer estas palavras, ficou na Galileia.
Mas quando seus irmãos subiram, então ele também subiu para a festa, não abertamente, mas em segredo.
Então, os judeus o procuravam na festa, e perguntavam: “Onde está ele?”
E havia muita murmuração entre o povo a respeito dele, porque alguns diziam: “Ele é um homem bom”; outros diziam: “Não! mas ele engana o povo.”
No entanto, ninguém falou abertamente dele por medo dos judeus.
E foi só na metade da festa que Jesus subiu ao templo e começou a ensinar ali. Os judeus se maravilhavam, dizendo: “Como sabe este, escrituras, não as tendo sido instruído?
Jesus respondeu-lhes, e disse: “O conhecimento que transmito não é meu, vem daquele que me enviou. Qualquer pessoa, que esteja preparada para fazer a sua vontade, pode dizer por si mesma se esse aprendizado vem do PAI ou se estou transmitindo uma mensagem de mim mesmo. Quem fala por si mesmo busca a sua própria glória; mas o que busca a glória daquele que o enviou, esse é verdadeiro, e não há nele injustiça. Moisés não vos deu a lei, e ainda assim nenhum de vocês cumpre a lei? Por que vocês estão pretendendo me matar?”
O povo respondeu e disse: “Tens demônio, quem vai te matar?”
Jesus respondeu, e disse-lhes: “Fiz uma só obra, e todos vos admirais. Moisés, pois, vos deu a circuncisão; não porque é de Moisés, mas dos patriarcas; e no dia de Shabat circuncidai um homem. Se um homem foi circuncidado no dia de Shabat, vocês estão com raiva de mim porque curei um homem completamente no dia de Shabat, para que a lei de Moisés não seja violada? Sejam honestos em seus julgamentos, em vez de julgar pelas aparências.”
Então, alguns fariseus de Jerusalém diziam: “Não é este aquele a quem procuram matar? Mas eis que ele fala com ousadia, e nada lhe dizem. Os governantes sabem de fato que este é o próprio Cristo? No entanto, sabemos de onde ele é, mas, quando Cristo vier, ninguém saberá de onde ele é.”
Então, Jesus clamou no templo enquanto ensinava, dizendo: “Vós me conheceis e sabeis de onde sou; eu não vim por mim mesmo, mas aquele que me enviou é verdadeiro, a quem vós não conheceis. Mas eu o conheço, porque dele venho, e ele me enviou.”
Então, eles procuravam prendê-lo, mas ninguém lançou mão dele, porque sua hora ainda não havia chegado.
E muitos creram nele e diziam: “Quando o Cristo vier, fará mais sinais do que este tem feito?”
Os fariseus ouviram que o povo murmurava tais coisas a respeito dele, então os fariseus e os principais sacerdotes enviaram oficiais para prendê-lo.
Disse-lhes então Jesus: “Ainda um pouco de tempo estou convosco, e depois vou para aquele que me enviou. Vós me buscareis, mas não me achareis; e onde estou, vós não podeis ir.”
Então disseram os judeus entre si: “Para onde irá ele, que não o encontraremos? Ele irá aos gentios dispersos e ensinará os gentios? Que maneira de dizer é esta que ele disse? ‘Vós me buscareis, mas não me achareis; e onde eu estou, vós não podeis ir?”
No último dia, o grande dia da festa, levantou-se Jesus e clamou, dizendo: “Se alguém tem sede, venha a mim e beba. Quem crê em mim, como diz a Escritura, rios de água viva correrão do seu ventre.”
Isto, porém, disse ele do Espírito que hão de receber seus ensinamentos os que nele crerem.
Outros diziam: “Este é o Cristo.”
Mas alguns diziam: “O Cristo virá da Galileia? Não diz a Escritura: ‘Que o Cristo vem da descendência de Davi e da cidade de Belém, de onde era Davi’?”
Assim, houve divisão entre o povo por causa dele. E alguns deles o teriam prendido; mas ninguém pôs as mãos nele.
Então vieram os oficiais aos principais sacerdotes e fariseus; e eles disseram-lhes: “Por que não o trouxeste?”
Os oficiais responderam: “Nunca ninguém falou como este homem.”
Então, responderam-lhes os fariseus: “Também vós fostes enganados? Alguém das autoridades ou dos fariseus creu nele? Mas este povo que não conhece a lei é amaldiçoado.”
Nicodemos, aquele que veio falar com Jesus de noite, sendo um deles, disse-lhes: “A nossa lei julga alguém, antes de ouvi-lo e saber o que ele faz?”
Eles responderam e disseram-lhe: “És tu também da Galileia? Procure e veja: pois da Galileia não surgiu nenhum profeta.”
Após todos esses acontecimentos, cada um foi para sua casa.
Capítulo 8.
Jesus, a Luz do mundo, revela os filhos dos Arcontes.
Enquanto isso, Jesus foi ao monte das Oliveiras. De manha apareceu novamente no templo; todas as pessoas simples vieram até ele, sentando-se ali e começou a ensiná-los.
Os escribas e fariseus trouxeram uma mulher apanhada em adultério, e, colocando-a no meio deles, disseram: “Mestre, esta mulher foi apanhada em flagrante adultério. Ora, Moisés na lei nos ordenou que tais fossem apedrejados; mas que dizes tu?”
Isto diziam eles, tentando-o, para terem de que o acusar.
Jesus, porém, inclinando-se, começou a escrever na terra com o dedo, como se não os ouvisse.
E, como insistissem em interrogá-lo, endireitou-se e disse: “Aquele que dentre vós está sem iniquidade, seja o primeiro que atire pedra contra ela.” E tornou-se a inclinar-se e a escrever no chão.
Os que o ouviram, convencidos pela própria consciência, saíram um a um, começando pelos mais velhos até os últimos.
Erguendo-se Jesus e não vendo ninguém senão a mulher, disse: “Mulher, onde estão aqueles teus acusadores? Ninguém te condenou?”
Ela disse: “Ninguém, Senhor.”
E Jesus lhe disse: “Nem eu também te condeno, vai, e não erra mais.”
Então, Jesus continuou dizendo: “Sou a luz do mundo, quem me segue não andará nas trevas, mas terá a luz da vida.”
Disseram, pois, os fariseus: “Tu dás testemunho de ti mesmo; teu registro não é verdadeiro.”
Jesus respondeu, e disse: “Embora eu dê testemunho de mim mesmo, o meu testemunho é verdadeiro, porque sei de onde vim e para onde vou, mas não podeis dizer de onde venho e para onde vou. Vós julgais segundo a carne, eu não julgo nenhum homem. Mas, se julgo, o meu juízo é verdadeiro, porque não estou só, mas eu e o PAI que me enviou. Também está escrito em sua lei, que o testemunho de dois homens é verdadeiro. Sou aquele que dá testemunho de mim mesmo, e o PAI que me enviou também dá testemunho de mim.”
Disseram então: “Onde está teu PAI?”
Jesus respondeu: “Vós não conheceis a mim nem a meu PAI, se me conheceis, conhecereis também o meu PAI.”
Estas palavras falou Jesus no tesouro, como ensinava no templo, e ninguém lançou mão dele, pois sua hora ainda não havia chegado.
Disse, pois, Jesus outra vez: “Eu vou, e vós me buscareis, e morrereis nas vossas iniquidades, para onde vou, vós não podeis ir.”
Então disseram os judeus: “Ele se matará? Porque ele diz: ‘Para onde eu vou, vós não podeis ir’.”
E Jesus lhes disse: “Vós sois de baixo, eu sou de cima e vós sois deste mundo, porem, eu não sou deste mundo. Por isso vos disse que morrereis nas vossas iniquidades, porque, se não acreditares quem sou, morrereis nas vossas iniquidades.”
Disseram-lhe então: “Quem és tu?”
E Jesus disse: “Sim, o mesmo que eu vos disse desde o princípio. Muito tenho que dizer e julgar a vosso respeito, mas aquele que me enviou é verdadeiro e falo ao mundo as coisas que dele ouvi.”
Eles não entenderam o que Jesus lhes falava a respeito do PAI.
Disse-lhes então Jesus: “Quando levantardes o Filho do homem, então conhecereis quem sou, que nada faço por mim mesmo, mas como meu PAI me ensinou, assim falo. E aquele que me enviou está comigo. O PAI não me deixou só, porque eu sempre faço o que lhe agrada.”
Enquanto ele falava essas palavras, muitos acreditaram nele.
Então disse Jesus aos judeus que acreditaram nele: “Se permanecerem na minha palavra, verdadeiramente sois meus discípulos. E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.”
Eles responderam: “Somos a descendência de Abraão, e nunca fomos escravos de nenhum homem: como dizes tu: ‘Sereis livres’?”
Jesus respondeu-lhes: “Em verdade, em verdade vos digo que todo aquele que comete iniquidade é escravo da iniquidade. E o servo não fica para sempre na casa, mas o Filho fica para sempre. Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres. Bem sei que sois descendentes de Abraão, mas procurais matar-me, porque a minha palavra não cabe em vós. Falo o que vi junto de meu PAI, e vós fazeis o que vistes junto de vosso pai.”
Eles responderam e disseram-lhe: “Abraão é nosso pai.”
Disse Jesus: “Se fossem filhos de Abraão, fariam as obras de Abraão. Mas agora procurais matar-me, um homem que vos disse a verdade, que ouvi de meu PAI, isso não foi Abraão. Vós fazeis as obras de vosso pai.”
Disseram eles: “Não nascemos da fornicação; temos um pai, sim, ‘Deus’.”
Disse-lhes Jesus: Se ‘Deus’ fosse o vosso PAI, vós me amariam, porque vim do PAI; nem vim de mim mesmo, mas ele me enviou. Por que vós não entendeis o meu discurso?
Mesmo porque não podeis ouvir a minha palavra. Vocês pertencem a seu pai, isto é, filhos do Arconte, e as luxúrias de seu pai vocês farão. Ele foi homicida desde o princípio, e não permaneceu na verdade, porque não há verdade nele. Quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso e pai da mentira. E, porque vos digo a verdade, não me acreditais. Qual de vós me convence de iniquidade? E se digo a verdade, por que vos não acreditam em mim? Quem é do PAI ouve as palavras do PAI; portanto, vós não as ouvistes, porque não sois do PAI.”
Então, responderam os judeus, e disseram: “Não dizemos, nós bem que és samaritano e tens demônio?”
Jesus respondeu: “Eu não tenho demônio, mas honro o meu PAI, e vós me desonram. E eu não busco a minha própria glória, há quem busque e julgue. Em verdade, em verdade vos digo que, se alguém guardar a minha palavra, nunca verá a morte.”
Disseram-lhe então os judeus: “Agora sabemos que tens demônio. Abraão está morto, e os profetas; e tu dizes: ‘Se alguém guardar a minha palavra, nunca provará a morte’. És tu maior do que nosso pai Abraão, que morreu? E os profetas estão mortos, quem te fazes a ti mesmo?”
Jesus respondeu: “Se eu me honro, minha honra não é nada, é meu PAI que me honra, de quem dizeis ser o vosso Deus, contudo não o conhecesse, mas eu o conheço e se disser que não o conheço, serei mentiroso como vós, mas eu o conheço e guardo a sua palavra. Abraão, vosso pai, alegrou-se ao ver o meu dia, viu-o e alegrou-se.”
Disseram, então, os judeus: “Ainda não tens cinquenta anos, e viste Abraão?”
Disse-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo que antes que Abraão existisse, eu existo.”
Então eles pegaram pedras para atirar nele, mas Jesus se escondeu e saiu do templo, passando pelo meio deles, e assim passou.
Capítulo 9.
Jesus Revela o Filho do PAI: A Porta do Conhecimento.
E, passando Jesus, viu um homem cego de nascença. Seus discípulos lhe perguntaram, dizendo: “Mestre, quem pecou, este ou seus pais, para que nascesse cego?”
Jesus respondeu: “Nem ele pecou, nem seus pais, mas para que as obras do PAI se manifestem nele. Devo fazer as obras daquele que me enviou, enquanto é dia, a noite vem, quando ninguém pode trabalhar. Enquanto estou no mundo, sou a luz do mundo.”
Dito isto, cuspiu no chão, e com a saliva fez lodo e com o lodo ungiu os olhos do cego, E disse: “Vai, lava-te no tanque de Siloé.”
Partiu, pois, o homem e lavou-se, e voltou vendo.
Os vizinhos, que antes o haviam visto cego, diziam: “Não é este o que se sentava a mendigar?”
Uns diziam: “Este é ele”.
Outros diziam: “É como ele”.
Mas ele dizia: “Sou eu.”
Disseram-lhe, pois: “Como se abriram os teus olhos?”
Ele Respondeu: “Um homem chamado Jesus fez lodo, ungiu-me os olhos e disse-me: ‘Vai ao tanque de Siloé e lava-te’.”
Então eles disseram a ele: “Onde ele está?”
Ele disse: “eu não sei.”
Eles trouxeram aos fariseus aquele que antes era cego. E era Shabat quando Jesus fez o lodo e lhe abriu os olhos.
Novamente, os fariseus também lhe perguntaram como havia recuperado a visão.
O homem lhes disse: “Pôs-me lodo nos olhos, lavei-me e vejo.”
Por isso diziam alguns dos fariseus: “Este homem não é de ‘Deus’, porque não guarda o Shabat.”
Outros diziam: “Como pode um homem pecador fazer tais sinais?”
E havia uma divisão entre eles e eles interrogaram o cego novamente: “O que dizes tu dele, que ele te abriu os olhos?”
Ele disse: “Ele é um profeta.”
Mas os judeus não acreditaram a respeito dele, que era cego e havia recuperado a visão, até chamarem os pais daquele homem que havia recuperado a visão.
E perguntaram-lhes, dizendo: “É este o vosso filho, que dizeis ter nascido cego? Como então ele vê agora?”
Seus pais responderam-lhes, dizendo: “Sabemos que este é nosso filho, e que nasceu cego. Mas por quais meios ele agora vê, não sabemos ou quem lhe abriu os olhos, não sabemos, por ser maior de idade, pergunte a ele e falará por si mesmo.”
Estas palavras falaram seus pais, porque temiam os judeus, pois os judeus já haviam concordado que, se alguém confessasse que ele era Cristo, deveria ser expulso da sinagoga.
Portanto, disseram seus pais: “Ele é maior de idade; pergunte a ele.”
Então chamaram novamente o homem que era cego, e disseram-lhe: “Dá graças a Deus, sabemos que este homem que te curou é um pecador.”
O homem que era cego respondeu, e disse: “Se ele é pecador ou não, não sei, de uma coisa sei, de quando eu era cego, e agora vejo.”
Então, os judeus lhe perguntaram novamente: “O que te fez ele? Como ele abriu os teus olhos?”
Ele respondeu-lhes: “Já vos disse, e não ouvistes, por que quereis ouvir de novo? Quereis vós também ser seus discípulos?”
Então o injuriavam, dizendo: “Tu és seu discípulo, más somos os discípulos de Moisés. Sabemos que Deus falou a Moisés, quanto a este, não sabemos de onde é.”
O homem que era cego respondeu e disse-lhes: “Por que isso é uma coisa maravilhosa, que você não sabe de onde ele é, e ainda assim ele abriu meus olhos? Ora, sabemos que Deus não ouve os pecadores. Desde que o mundo começou, nunca se ouviu que algum homem abriu os olhos a um cego de nascença. Se este homem não fosse de ‘Deus’, nada poderia fazer.”
Eles responderam, e disseram-lhe: “Tu nasceste todo em pecado e tu nos ensinas?” E eles o expulsaram.
Jesus ouviu que o haviam expulsado e, encontrando-o, disse: “Crês no Filho do PAI?”
Ele respondeu e disse: “Quem é ele, Senhor, para que eu creia nele?”
Respondeu-lhe Jesus: “Já o viste, e é ele quem fala contigo.”
E o homem que era cego o adorou, dizendo: “Senhor, eu creio.”
E Jesus disse: “Eu vim a este mundo para julgamento, a fim de que os que não veem vejam e para que os que veem se tornem cegos.”
Alguns dos fariseus que estavam com ele ouviram estas palavras e disseram-lhe: “Também somos cegos?”
Disse-lhes Jesus: “Se fôsseis cegos, não teriam iniquidades; mas agora dizeis: ‘Nós vemos’; portanto, sua iniquidade permanece.”
Continuou dizendo Jesus: “Em verdade, em verdade vos digo que aquele que não entra pela porta no curral, mas sobe por outra parte, esses são ladrões. Mas o que entra pela porta é o pastor das ovelhas. A ele, o porteiro abre e as ovelhas ouvem a sua voz e ele chama pelo nome as suas ovelhas, e as conduz para fora. E quando ele sai com as suas ovelhas, vai adiante delas, e as ovelhas o seguem, porque conhecem a sua voz. De modo algum, seguirão o estranho, antes fugirão dele, porque não conhecem a voz dos estranhos.”
Esta parábola lhes falou Jesus: mas eles não entenderam o que eram as coisas que ele lhes falava.
Então, disse-lhes Jesus outra vez: “Em verdade, em verdade vos digo que sou a porta das ovelhas. Todos quantos vieram antes de mim são ladrões, mas as ovelhas não os ouviram.”
“Sou a porta, aquele que entrar por mim, se salvará, entrará e sairá, e achará pastagens. O ladrão não vem senão para roubar, matar e destruir. Vim para terem vida e a terem em abundância.”
“Sou o bom pastor: o bom pastor dá a sua vida pelas ovelhas. Mas o mercenário e não pastor, de quem não são as ovelhas, vê vir o lobo, abandona as ovelhas e foge. O mercenário foge, porque é mercenário, e não tem cuidado das ovelhas. Sou um bom pastor, e conheço as minhas ovelhas, e das minhas sou conhecido. Como o PAI me conhece, também conheço o PAI e dou a minha vida pelas ovelhas. Ainda tenho outras ovelhas que não são deste curral e haverá um rebanho e um pastor. ”
“Portanto, meu PAI me ama, porque dou minha vida, para que eu possa tomá-la novamente. Ninguém mal me tira de mim, mas eu, de mim mesmo, a dou. Tenho poder para entregá-lo e tenho poder para tomá-lo novamente. Este mandamento recebi de meu PAI.”
Houve, pois, nova divisão entre os judeus por causa destas palavras.
E muitos deles diziam: “Ele está endemoninhado e enlouqueceu, por que ouvi-lo?”
Outros diziam: “Estas não são palavras de um endemoninhado. Pode um demônio abrir os olhos dos cegos?”
Capítulo 10.
Jesus revela a Supremacia do Único Transcendendo os Arcontes e a Lei.
E estava acontecendo a festa da Dedicação em Jerusalém, e era inverno. E Jesus andava no templo na varanda de Salomão.
Então, os judeus cercaram-no e perguntaram-lhe: “Até quando nos farás duvidar? Se tu és o Cristo, diz-nos claramente.”
Respondeu-lhes Jesus: “Já vos disse e não acreditastes, as obras que faço em nome do meu PAI, elas testificam de mim. Mas vós não acreditais, porque não sois das minhas ovelhas, como já vos disse. As minhas ovelhas ouvem a minha voz e eu as conheço e elas me seguem: E dou-lhes a vida eterna e nunca hão de perecer, e ninguém as arrebatará da minha mão. Meu PAI, que me deu, é exaltado acima de todos (os Arcontes) e ninguém pode arrancá-las da mão de meu PAI. Eu e meu PAI somos o Único.”
Então, os judeus pegaram novamente em pedras para apedrejá-lo.
Jesus respondeu-lhes: “Muito das boas obras vos tenho mostrado da parte de meu PAI, por qual dessas obras vocês me apedrejam?”
Responderam-lhe os judeus, dizendo: “Não te apedrejamos por uma boa obra, mas por blasfêmia e porque tu, sendo homem, te fazes ‘Deus’.”
Jesus respondeu-lhes: “Não está escrito na vossa lei: ‘Vós sois deuses?’ Se ele os chamou de deuses, de quem veio a palavra ‘Deus’, e a escritura não pode ser anulada. Dizeis daquele a quem o PAI santificou e enviou ao mundo: ‘Blasfemas’; porque eu disse: ‘Eu sou o Filho de Deus’? Se não faço as obras do meu PAI, não acredita em mim. Mas, se as faço, embora não me acredite, acredite nas obras, para que saibais e creiais que o PAI está em mim e eu nele.”
Portanto, buscaram prendê-lo novamente, mas ele se desapareceu, retirando-se para a região além do Jordão, onde João inicialmente batizava, e lá permaneceu.
E muitos recorreram a ele, e disseram: “João não fez nenhum milagre, mas todas as coisas que João falou deste homem eram verdadeiras.” E muitos acreditaram nele lá.
Capítulo 11.
Jesus ressuscita Lázaro, o irmão de Marta e Maria de Betânia.
Estava enfermo o irmão de Maria e Marta, um homem chamado Lázaro, natural de Betânia, cidade também de suas irmãs.
E esta é a ‘Maria de Betânia’, cujo irmão Lázaro havia adoecido, era a mulher que iria ungir o Senhor com unguento e enxugando os pés dele com seus cabelos.
Então, suas irmãs mandaram dizer a Jesus: “Senhor, eis que aquele a quem tu amas está doente.”
Jesus, ouvindo isto, disse: “Esta doença não é para a morte, mas para a glória do PAI, para que o Filho do PAI seja glorificado por ela.”
Ora, Jesus amava Marta, e sua irmã Maria de Betânia, e Lázaro. Quando ele ouviu, portanto, que ele estava doente, ele permaneceu dois dias ainda no mesmo lugar onde estava.
Depois disso, disse aos seus discípulos: “Vamos outra vez para a Judeia.”
Disseram os seus discípulos: “Mestre, ultimamente os judeus procuravam te apedrejar e vais para lá novamente?”
Jesus respondeu: “Não há doze horas no dia? Se alguém anda de dia, não tropeça porque vê a luz deste mundo. Mas se um homem anda de noite, tropeça, porque nele não há luz.”
Estas palavras, ele disse e continuou dizendo: “Nosso amigo Lázaro dorme, mas vou, para que eu possa despertá-lo do sono.”
Disseram, pois, os seus discípulos: “Senhor, se ele dormir, bem se fará.”
Jesus, porém, falava da sua morte, mas eles pensavam falar do repouso do sono.
Então, Jesus lhes disse claramente: “Lázaro morreu. E por vossa causa, alegro-me de não ter estado presente, para que acrediteis; contudo, vamos até ele.”
Então disse Judas Tomé, chamado Dídimo, aos seus condiscípulos: “Vamos nós também, para morrermos com ele.”
Então, quando Jesus chegou, viu que Lázaro já estava na sepultura há quatro dias.
Ora, Betânia ficava perto de Jerusalém, a cerca de quinze estádios de distância. E muitos dos judeus foram conversar com Marta e Maria de Betânia, para as consolar a respeito de seu irmão.
Ao tomar conhecimento da chegada de Jesus, Marta foi ao seu encontro; Maria de Betânia, no entanto, permaneceu em casa.
Disse então Marta a Jesus: “Senhor, se tivesses estado aqui antes, meu irmão não teria morrido. Mas sei que, mesmo agora, tudo o que pedires ao PAI, ele te concederá.”
Disse Jesus: “Teu irmão ressuscitará.”
Disse Marta: “Sei que ele ressuscitará na ressurreição, no último dia.”
Disse Jesus: “Sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá; e todo aquele que vive e crê em mim nunca perecerá. Você acredita nisso?”
Ela lhe disse: “Sim, Senhor, creio que tu és o Cristo, o Filho do PAI, que havia de vir ao mundo.”
E, havendo dito isso, Marta retirou-se e chamou em segredo a sua irmã Maria de Betânia, dizendo: “O Mestre chegou e te chamou.”
Assim que ela ouviu isso, ela se levantou rapidamente e foi até ele. Ora, Jesus ainda não havia chegado à cidade, mas estava no lugar onde Marta o encontrara.
Os judeus, então, que estavam com ela em casa e a consolavam, vendo Maria levantar-se apressadamente e sair, seguiram-na, dizendo: “Ela vai ao sepulcro chorar ali.”
Então, quando Maria de Betânia chegou onde Jesus estava, e o viu, ela caiu a seus pés, dizendo-lhe: “Senhor, se tu estivesses aqui, meu irmão não teria morrido.”
Jesus, pois, vendo-a chorar, e também os judeus que a acompanhavam, consternou-se por elas, e disse: “Onde o puseste?”
Disseram-lhe: “Senhor, vem e vê.”
Jesus comoveu-se. Então disseram os judeus: “Eis como ele o amava!”
E alguns deles disseram: “Não poderia este homem, que abriu os olhos dos cegos, fazer que também este homem não morresse?”
Jesus, portanto, consternado, vai para a sepultura. Era uma caverna e havia uma pedra sobre ela.
Disse Jesus: “Tirai a pedra.”
Marta, disse-lhe: “Senhor, já cheira mal, porque está morto há quatro dias.”
Disse-lhe Jesus: “Não te disse eu que, se acreditasses, verias a glória do PAI?”
Então, eles tiraram a pedra do lugar no sepulcro.
E Jesus levantou os olhos e disse: “PAI, graças te dou porque me ouviste. Sei que sempre me ouves.”
E, tendo dito isso, conclamou em alta voz: “Lázaro, vem para fora!”
E saiu Lázaro, o que estivera morto, com os pés e as mãos atados com faixas, e o seu rosto envolto num lenço.
Disse-lhes Jesus: “Soltai-o e deixai-o ir.”
Então, muitos dos judeus que foram falar com Maria de Betânia e viram as coisas que Jesus fez, creram nele. Mas alguns deles foram falar com os fariseus, e contaram-lhes as coisas que Jesus havia feito.
Reuniram-se então os principais sacerdotes e os fariseus no sinédrio e perguntaram: “O que faremos nós? Pois este homem realiza muitos milagres. Se o deixarmos livre fazendo essas coisas, todos os homens acreditarão nele. E os romanos virão e tomarão nosso lugar e nação.”
E um deles, chamado Caifás, sendo o sumo sacerdote naquele mesmo ano, disse-lhes: “Vós, nada sabeis, nem considerais que nos convém que um homem morra pelo povo, para que toda a nação não pereça.”
E isso ele não falou de si mesmo, mas sendo sumo sacerdote naquele ano, ele prenunciou que Jesus morreria por aquela nação.
E não apenas para aquela nação, mas também para reunir em um reino os filhos de Israel que estavam dispersos.
Então, a partir daquele dia, eles deliberaram entre si para condená-lo à morte.
Jesus, portanto, não andava mais abertamente entre os judeus, mas foi dali para uma região próxima ao deserto, para uma cidade chamada Efraim e ali permaneceu com seus discípulos.
E estava próxima à páscoa dos judeus. Então eles procuraram por Jesus e falaram entre si, enquanto estavam no templo: “O que vocês pensam, será que ele não virá para a festa?”
Ora, tanto os principais sacerdotes como os fariseus haviam dado ordem para que, se alguém soubesse onde ele estava, o mostrasse, para que o prendessem.
Capítulo 12.
Jesus é ungido por Maria de Betânia.
Então, Jesus, seis dias antes da páscoa, chegou a Betânia, onde estava Lázaro, o qual havia morrido, a quem ele ressuscitou dentre os mortos.
Ali lhe fizeram uma ceia; e Marta servia a todos; mas Lázaro era um dos que estavam sentados à mesa com ele.
Então, Maria de Betânia tomou uma libra de unguento de nardo, muito caro, e ungiu os pés de Jesus, e os enxugou com seus cabelos.
Disse um dos seus discípulos, Judas Iscariotes: “Por que não se vendeu este unguento por trezentos denários, e não se deu aos pobres?”
Então Jesus disse: “Deixe-a em paz, ela guardou este perfume para o dia do meu sepultamento. Vocês sempre terão os pobres entre vocês, mas a mim não terão sempre”.
Muitos dos judeus, portanto, sabiam que ele estava lá. Eles vieram não apenas devido a Jesus, mas também para ver Lázaro, a quem ele ressuscitou dentre os mortos.
Então, os principais sacerdotes decidiram que Lázaro também deveria ser morto, pois muitos judeus estavam se afastando deles e acreditando em Jesus por causa dele.
No dia seguinte, muita gente que havia vindo à festa, ouvindo que Jesus vinha a Jerusalém, tomou ramos de palmeiras, e saiu ao seu encontro, e clamavam: “Hosana! Bendito o Rei de Israel que vem em nome do Senhor.”
E Jesus, tendo encontrado um jumentinho, sentou-se nele; como está escrito: ‘Não temas, filha de Sião; eis que vem o teu Rei, montado na cria de uma jumenta’.
A princípio, seus discípulos não entenderam essas coisas.
As pessoas, portanto, estavam com ele quando ele chamou Lázaro de sua sepultura e o ressuscitou dentre os mortos, testemunho nu.
Por isso, o povo também o encontrou, ao ouvirem que ele havia realizado esse milagre.
Disseram, pois, os fariseus entre si: “Percebeis que nada prevalecerá? Eis que o mundo vai atrás dele.”
Capítulo 13.
Jesus submete em julgamento o mundo e os Arcontes.
E alguns gregos estavam entre eles, que subiram para adorar na festa.
Ele, dirigindo-se a Filipe, que era de Betsaida da Galileia, pediu: “Senhor, queremos ver Jesus”.
Filipe vem e conta a André; e novamente André e Filipe contam a Jesus.
E Jesus respondeu-lhes, dizendo: “É chegada a hora em que o Filho do homem há de ser glorificado. Em verdade, em verdade vos digo que, se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas, se morrer, dá muitos frutos.”
“Quem ama a sua vida, a perderá; e aquele que odeia sua vida neste mundo a conservará para a vida eterna.”
“Se alguém me servir, siga-me; e onde eu estiver, ali estará também o meu servo; se alguém me servir, meu PAI o honrará. Agora a minha alma está perturbada; e o que devo dizer? PAI, salva-me desta hora; mas para isto vim a esta hora. PAI, glorifique o teu nome.”
Então veio uma voz dos Aeons Eternos, dizendo: “Eu já o glorifiquei e o glorificarei novamente.”
A multidão, portanto, que estava presente e ouviu, disse que trovejou; outros disseram: “Um anjo falou com ele.”
Jesus respondeu e disse: “Esta voz não veio por minha causa, mas devido a vós. Agora é o julgamento deste mundo e os Arcontes que o regem serão surpreendidos. E eu, quando for exaltado da terra, todos os humanos atrairei a mim.”
Isso ele disse, significando que de morte havia de morrer.
O povo respondeu-lhe: “Ouvimos da lei que Cristo permanece para sempre: e como dizes tu: ‘Importa que o Filho do homem seja exaltado’? Quem é este Filho do Homem?”
Então, Jesus lhes disse: “Ainda por um pouco de tempo, a luz está entre vós. Caminhai enquanto tendes a luz, para que as trevas não vos alcancem; porque quem caminha nas trevas não sabe para onde vai. Enquanto tendes luz, crede na luz, para que sejais filhos da luz.”
Estas coisas, falou Jesus, e desapareceu e retirou-se deles. Mas, embora ele tivesse feito tantos milagres antes deles, eles não acreditaram nele.
No entanto, entre os principais sumo sacerdotes, também muitos acreditaram nele, mas devido aos fariseus, não o confessavam, para não serem expulsos da sinagoga. Pois eles amavam mais o louvor dos homens do que o louvor do PAI.
Jesus clamou e disse: “Quem crê em mim, não crê em mim, mas naquele que me enviou. E quem me vê, vê aquele que me enviou. Vim ao mundo como luz, para que todo aquele que crê em mim não permaneça nas trevas. E se alguém ouvir as minhas palavras e não acreditar, eu não o julgo, porque não vim para julgar o mundo, mas para salvar o mundo. Quem me rejeita e não recebe as minhas palavras, já tem quem o julgue, a palavra de que tenho falado, essa o julgará no último dia. Pois eu não falei de mim mesmo, mas do PAI que me enviou, esse me deu mandamento sobre o que devo dizer e o que devo falar. E eu sei que o seu mandamento é a vida eterna, tudo o que falo, assim como o PAI me disse, assim eu falo.”
Capítulo 14.
Jesus pede a Judas Iscariotes que execute sua tarefa para ser glorificado.
Ora, antes da festa da páscoa, sabendo Jesus que era chegada a sua hora de passar deste mundo para os Aeons Eternos, tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim.
Terminada a ceia, pediu a Judas Iscariotes, filho de Simão, que o entregasse, sabendo Jesus que o PAI lhe entregara todas as coisas e que viera do PAI e para o PAI voltará.
Levantou-se da ceia e tirou as vestes e pegou uma toalha e cingiu-se. Depois disso, ele derramou água em uma bacia e começou a lavar os pés dos discípulos e enxugá-los com a toalha com a qual estava cingido.
Aproximou-se então de Simão Pedro e disse: “Senhor, lava-me os pés?”
Jesus respondeu, e disse: “O que faço, tu não sabes agora, mas tu saberás a seguir.”
Disse Pedro: “Nunca me lavarás os pés.”
Jesus respondeu: “Se eu não te lavar, não tens parte comigo.”
Disse Simão Pedro: “Senhor, não somente os meus pés, mas também as minhas mãos e a minha cabeça.”
Jesus disse: “Aquele que é lavado não precisa senão lavar os pés, mas está limpo em tudo; e vós estais limpos, mas não todos.”
Pois ele havia escolhido quem iria entregá-lo; portanto, disse ele: “Nem todos estais limpos.”
Então, após lhes ter lavado os pés, tomado as suas vestes e posto-se de novo, disse: “Sabeis o que vos fiz? Chamai-me Mestre e Senhor, e dizeis bem; pois assim eu sou.”
“Portanto, se eu, vosso Senhor e Mestre, vos lavei os pés, vós também deveis lavar os pés uns dos outros. Pois eu vos dei o exemplo, para fazerem como eu vos fiz.”
“Em verdade, em verdade vos digo que o servo não é maior do que o seu senhor, nem aquele que é enviado é maior do que aquele que o enviou. Se sabeis estas coisas, felizes sois se as praticardes.”
“Acerca de todas as coisas, eu vos digo: tenho visto que me escolhestes, mas para que se cumpra a Escritura. Quem come do meu pão me tocou com o calcanhar. Por isso, eu te digo antes que ele nasça, para que, quando nascer, creiais que eu sou.”
Em verdade, em verdade vos digo, quem receber aquele que eu enviar, a mim me recebe e quem me recebe, recebe aquele que me enviou.”
Quando Jesus disse isso, ficou perturbado em espírito e testificou, e disse: “Em verdade, em verdade vos digo que um de vós me entregará.”
Então os discípulos se entreolharam, duvidando de quem ele falava. Ora, estava encostado ao peito de Jesus, João, um dos seus discípulos, a quem Jesus amava.
Simão Pedro, portanto, acenou para ele, para ele perguntar quem deveria ser de quem ele falava.
Então, reclinando-se sobre o peito de Jesus, perguntou-lhe João: “Senhor, quem é?”
Jesus respondeu: “Ele é, a quem darei um pedaço de pão, após o molhar.”
E, após molhar o pão na sopa, deu a Judas Iscariotes, filho de Simão.
Então Jesus disse a Judas Iscariotes: “O que está prestes a fazer, faça-o depressa.”
Ora, ninguém à mesa sabia com que intenção ele lhe falava isso.
Porque alguns pensavam, visto que Judas tinha a bolsa, que Jesus lhe havia dito: “Compra o que nos falta para a festa; ou que ele deveria dar algo aos pobres.”
Judas, então, tendo recebido o pão, comeu e saiu imediatamente e era noite.
Tendo, pois, Judas saído, Jesus disse: “Agora foi glorificado o Filho do homem, e o PAI foi glorificado nele. Se o PAI for glorificado nele, o PAI também o glorificará em si, e imediatamente o glorificará. Filhinhos, ainda um pouco de tempo, estou convosco. Vós me procurareis.”
“E, como eu disse aos judeus: ‘Para onde vou, vós não podeis ir’; então agora digo a vocês. Um novo mandamento vos dou: que vos ameis uns aos outros; como eu vos amo, que vós também vos ameis uns aos outros. Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros.”
Disse-lhe Simão Pedro: “Senhor, para onde vais?”
Jesus respondeu-lhe: “Para onde vou, não podes seguir-me agora, mas tu me seguirás depois.”
Pedro disse-lhe: “Senhor, por que não posso seguir-te agora? Darei a minha vida por tua causa.”
Respondeu-lhe Jesus: “Queres dar a tua vida por mim?”
Em verdade, em verdade, te digo que não cantará o galo até que me tenha negado três vezes.”
Capítulo 15.
Jesus é o Caminho para o PAI e os Aeons Eternos.
Jesus disse: “Não perturbeis o vosso coração, creiam no PAI, creiam também em mim. Nos Aeons Eternos de meu PAI, há muitos lugares, se não fosse assim, eu não teria dito. Prepararei um lugar para vocês. E se eu for e vos preparar lugar, voltarei e vos receberei para mim mesmo, para que onde estejais vós também. E para onde vou, vós sabeis e o caminho, vós sabeis.”
Disse Judas Tomé: “Senhor, não sabemos para onde vais e como podemos saber o caminho?”
Respondeu Jesus: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida, ninguém vem ao PAI senão por mim. Se me conhecessem, também conheceriam meu PAI. E desde agora vocês o conhecem e o têm visto.”
Disse-lhe Filipe: “Senhor, mostra-nos o PAI, e isso nos basta.”
Disse Jesus: “Estou há tanto tempo convosco e ainda não me conheces, Filipe? Quem me vê, vê o PAI e, como dizes então: ‘Mostra-nos o Pai’?”
“Não crê que estou no PAI e o PAI em mim? As palavras que eu vos digo, não as digo de mim mesmo, mas do PAI, que está em mim, é quem realiza as obras. Crede-me que estou no PAI, e o PAI em mim. Ou então, crede-me pelas próprias obras.”
“Em verdade, em verdade vos digo que aquele que crê em mim também fará as obras que faço e maiores obras do que estas fará, porque vou para o meu PAI. E tudo quanto pedirdes em meu nome, eu o farei, para o PAI ser glorificado no Filho. Se pedirdes alguma coisa em meu nome, eu o farei. Se me amas, guardarão os meus mandamentos.”
“Rogarei ao PAI e ele vos dará outro Consolador, para ficarem convosco para sempre. Até o Grande Espírito Invisível da Verdade, a quem o mundo não pode receber, porque não o vê nem o conhece, mas vós o conheceis porque ele habita convosco e estará em vós.”
“Não vos deixarei órfãos, voltarei para vós. Ainda um pouco e o mundo não me verá mais, mas vós me veem. Porque vivo, vós também vivereis.”
“Naquele dia sabereis que estou em meu PAI, vocês em mim e eu em vocês. Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda, esse é o que me ama e aquele que me ama será amado de meu PAI e eu o amarei e me manifestarei nele.”
Judas Tadeu disse: “Senhor, como tu te manifestarás a nós, e não ao mundo?”
Jesus respondeu e disse-lhe: “Se alguém me ama, guardará a minha palavra e meu PAI o amará e viremos para ele e faremos nele morada. Quem não me ama não guarda as minhas palavras e a palavra que estais ouvindo não é minha, mas do PAI que me enviou.”
“Estas coisas vos tenho dito, estando ainda convosco. Mas aquele Consolador, o Espírito Santo, a quem o PAI enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas e vos fará lembrar de tudo quanto vos tenho dito. Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou, não a dou como o mundo a dá.”
“Não perturbem vosso coração, nem tenham medo. Ouvistes como vos disse: vou e volto para vós outros. Se me amarem, alegrem-se, porque eu disse: ‘Vou para o PAI, porque meu PAI é maior do que Eu’.”
“Daqui em diante, não falarei muito convosco, porque se aproximam os Arcontes deste mundo, e nada tem em mim. Mas para o mundo saber que amo o PAI e como o PAI me deu um mandamento, assim eu faço. Levantem-se, vamos embora.”
Capítulo 16.
Jesus Explica a Parábola da Videira.
“Eu sou a verdadeira videira e meu PAI é o agricultor. Todo ramo que, estando em mim, não dá fruto, ele corta e todo que dá fruto, ele poda, para dar mais fruto ainda. Já estais limpos pela palavra que vos tenho falado. Permanecei em mim e eu em vós. Como o ramo não pode dar fruto por si mesmo, a menos que permaneça na videira, não mais podeis, se não permaneceres em mim.”
“Eu sou a videira, vós os ramos, quem está em mim e eu nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer. Se um homem não permanecer em mim, ele será lançado fora como um ramo e secará, e os homens os colhem e lançam no fogo, sendo queimados.
“Se permaneceres em mim e minhas palavras permanecerem em vós, pedireis o que quiseres e vos será feito. Nisto é glorificado meu PAI, que deis muito fruto, assim sereis meus discípulos. Como o PAI me ama, também eu vos amo, continuai no meu amor.”
“Se guardarem os meus mandamentos, permanecereis no meu amor, assim como guardo os mandamentos de meu PAI e permaneço em seu amor. Estas coisas vos tenho dito, para a minha alegria permanecer em vós e a vossa alegria seja completa.”
“Este é o meu mandamento: ‘que vos ameis uns aos outros, como eu vos amo’. Ninguém tem maior amor do que este, de dar alguém a sua vida pelos seus amigos. Vós sois meus amigos, se fizerem tudo o que eu vos mando.”
“De agora em diante, não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor. Mas tenho-vos chamado amigos, porque tudo o que ouvi do meu PAI vos dou a conhecer. Vós não me escolheste, mas eu vos escolhi e vos ordenei, para que ides e produzis fruto, para o vosso fruto permanecer, para que tudo quanto pedirem ao PAI em meu nome, ele vos dê.”
“Estas coisas vos ordeno: ‘que vos ameis uns aos outros.’ Se o mundo vos odeia, sabeis que me odiou antes de vos odiar. Se fosse do mundo, o mundo amaria os seus, mas, porque não sois do mundo, eu vos escolhi do mundo, por isso o mundo vos odeia.”
“Lembre-se da palavra que eu disse a vocês: ‘O servo não é maior que seu senhor.’ Se me perseguirem, também perseguirão a vocês, se guardarem a minha palavra, também guardarão a vossa. Mas tudo isto vos farão devido ao meu nome, porque não conhecem aquele que me enviou.”
“Se eu não tivesse vindo e falado com eles, eles não teriam iniquidades, mas agora eles não têm desculpa para as suas iniquidades. Quem me odeia, odeia também o meu PAI. Se eu não tivesse feito entre eles tais obras, quais nenhum outro fez, não teriam iniquidades, mas agora ambos viram e odiaram tanto a mim como a meu PAI. Mas isso aconteceu, para se cumprir a palavra, que está escrita em sua lei. Eles me odiaram sem motivo.”
“Mas, quando vier o Consolador, que eu vos enviarei da parte do PAI, o Grande Espírito Invisível da Verdade, que procede do PAI, ele testificará de mim. E vós também dareis testemunho, porque estais comigo desde o princípio.”
Capítulo 17.
O Grande Espirito Invisível da Verdade.
“Estas coisas vos tenho dito para que não vos escandalizeis. Serão expulsos das sinagogas, sim, chegará o tempo em que todo aquele que vos matar pensará que está servindo a ‘Deus’. E estas coisas vos farão, porque não conheceram o PAI, nem a mim.”
“Mas estas coisas vos tenho dito, para que, quando chegar o tempo, vos lembreis de que vos falei delas. E estas coisas não vos disse no princípio, porque estava convosco. Mas agora vou para aquele que me enviou e nenhum de vós me pergunta: ‘Para onde vais’? Mas, porque eu disse essas coisas a vocês, a tristeza encheu os vossos corações.”
“No entanto, digo-vos a verdade. Convém-vos que eu vá; porque, se eu não for, o Consolador não virá a vós; mas, se eu for, o enviarei.”
“E, quando ele vier, convencerá o mundo da iniquidade, e da justiça, e do juízo. Da iniquidade, porque não crê em mim; da justiça, porque vou para meu PAI, e não me vereis mais; do juízo, porque os Arcontes deste mundo já estão julgados.”
“Ainda tenho muitas coisas para dizer a vocês, mas vocês não podem suportá-las agora.”
“Quando, porém, vier o Espírito da verdade, ele vos guiará em toda a verdade, porque de si mesmo não falará, mas tudo o que ele ouvir, isso falará e ele vos anunciará as coisas futuras. Ele me glorificará, porque receberá do que é meu, e vou anunciá-lo.
Todas as coisas que o PAI tem são minhas, um pouco mais e não me vereis e outra vez, um pouco, e me vereis, porque vou para o PAI.”
Então disseram alguns de seus discípulos entre si: “O que é isso que ele nos diz: ‘Um pouco, e não me vereis’,”
Disseram, pois: “Que é isto que diz: ‘Um pouco’?” Não podemos dizer o que ele diz.
Jesus, sabendo desejarem interrogá-lo, disse: “Indagais entre vós sobre o que eu disse: ‘Um pouco, e não me vereis’; em verdade, em verdade vos digo que chorareis e lamentareis, mas o mundo se alegrará.”
“A mulher, quando está para dar à luz, sente tristeza, porque é chegada a sua hora, portanto, agora estais tristes. E naquele dia nada me perguntarei.”
“Em verdade, em verdade vos digo: tudo o que pedirem ao PAI em meu nome, ele vos dará. Até agora, nada pedistes em meu nome, pedi e recebereis, para a vossa alegria ser completa.”
“Estas coisas vos falei em parábolas, mas chegará o tempo em que não mais vos falarei em parábolas, mas vos falarei claramente sobre o PAI.
“Naquele dia, pedireis em meu nome. Saí do PAI e vim ao mundo, outra vez deixo o mundo e vou para o PAI.”
Disseram-lhe os seus discípulos: “Eis que agora falas claramente e não em parábolas. Agora, temos certeza de que você sabe todas as coisas e não precisa que ninguém te pergunte, por isso acreditamos que você saiu do PAI.”
Jesus respondeu-lhes: “Agora credes? Eis que vem a hora, sim, já é chegada, em que sereis dispersos, cada um para o seu caminho e me deixareis só mas não estou só, porque o PAI está comigo. Estas coisas vos tenho dito para que em mim tenhais paz. No mundo, tereis aflições, mas tende bom ânimo, pois superei o mundo.”
Capítulo 18.
Jesus Fala Com o PAI.
Estas palavras, falou Jesus, e levantou os olhos ao céu, e disse: “PAI, é chegada a hora; glorifica a teu Filho, para que também teu Filho te glorifique. Assim como lhe deste poder sobre toda a carne, para dar a vida eterna a todos quantos lhe deste.”
“E a vida eterna é esta: que te conheçam, o Único ‘Deus’ verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste. Eu te glorifiquei na terra, acabei a obra que me deste para fazer. E agora, glorifica-me tu, ó, PAI, junto de ti mesmo, com aquela glória que eu tinha contigo antes que o mundo existisse.”
“Manifestei o teu nome aos homens que me deste do mundo, eram teus, e tu os deste a mim e eles guardaram a tua palavra. Agora eles sabem que todas as coisas que me deste são de ti. Pois eu lhes dei as palavras que tu me deste, e eles os receberam e verdadeiramente conheceram que saí de ti e acreditaram que tu me enviaste. Rogo por eles, não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me deste; pois eles são teus.”
“E todos os meus são teus, e os teus são meus; e eu sou glorificado neles. E agora não estou mais no mundo, mas estes estão no mundo, e eu vou para ti. PAI santo, guarda em teu próprio nome aqueles que me deste, para serem um, como nós. Enquanto estive com eles no mundo, guardei-os em teu nome, os que me deste, tenho guardado, e nenhum deles se perdeu, até o filho escolhido, para que a escritura se cumprisse. E agora venho a ti e isto falo no mundo, para terem a minha alegria completa em si.”
“Dei-lhes a tua palavra e o mundo os odiou porque não são do mundo, assim como eu não sou do mundo. Eu não rogo para que você os tire do mundo, mas que os proteja do mal. Eles não são do mundo, assim como eu não sou do mundo. Santifica-os na tua verdade, a tua palavra é a verdade. Assim como tu me enviaste ao mundo, também eu os enviei ao mundo.”
“E por eles me santifico a mim mesmo, para que também eles sejam santificados, na verdade. Não rogo somente por estes, mas também por aqueles que pela sua palavra hão de crer em mim para que todos sejam únicos, como tu, ó, PAI, estás em mim e eu em ti, que também eles sejam um em nós, para o mundo crer que tu me enviaste. E a glória que me deste eu lhes dei, para que eles sejam um, assim como somos um e eu neles, e tu em mim, para serem aperfeiçoados em um e para o mundo saber que tu me enviaste e os amaste, como me amaste.”
“PAI, aqueles que me deste, quero que também estejam comigo onde eu estiver, para verem a minha glória que me deste, porque me amaste antes da fundação do mundo. Ó, PAI justo, o mundo não te conheceu, mas eu te conheço e estes sabem que tu me enviaste. E eu lhes declarei o teu nome, e o anunciarei, para que o amor com que me amaste esteja neles, e eu neles esteja.”
Capítulo 19.
Jesus é Capturado Pelos Sacerdotes, Sendo Levado Perante Pilatos.
Tendo Jesus dito estas palavras, saiu com seus discípulos para o outro lado do riacho Cedron, onde havia um jardim de oliveiras, no qual ele entrou com seus discípulos.
E também Judas, que conhecia o lugar, pois Jesus costumava ali ir com seus discípulos.
Judas, então, tendo informado um grupo de homens e oficiais dos principais sacerdotes e fariseus, chegaram lá com lanternas, tochas e armas.
Jesus, pois, sabendo tudo o que lhe sobreviria, saiu e disse: “A quem procuram?”
Responderam: “Jesus de Nazaré.”
Jesus disse: “Eu sou ele.”
E também Judas, que o entregou, ficou com eles.
Logo que lhes disse: “Sou eu,” recuaram e caíram por terra.
Então perguntou novamente: “A quem procuram?”
E eles disseram: “Jesus de Nazaré.”
Jesus respondeu: “Eu vos disse que sou eu”.
Então Simão Pedro, que trazia consigo uma espada, puxou-a e feriu o servo do sumo sacerdote de nome Malchus, cortando-lhe a orelha direita.
Então disse Jesus a Pedro: “Guarde a tua espada na bainha. Não beberei eu o cálice que meu PAI me deu?”
Então, o grupo, o capitão e os oficiais dos judeus prenderam Jesus, amarraram-no, e levaram-no primeiro a Anás. Pois ele era sogro de Caifás, que era o sumo sacerdote naquele mesmo ano.
Ora, era Caifás quem aconselhava aos judeus que convinha que morresse um só homem pelo povo.
E Simão Pedro seguia a Jesus e também João, conhecido do sumo sacerdote, entrou com Jesus no palácio do sumo sacerdote. Mas Pedro ficou na porta do lado de fora.
Então saiu João, que era conhecido do sumo sacerdote, falou à porteira e levou Pedro para dentro.
Então disse a jovem que guardava a porta a Pedro: “Não és tu também um dos discípulos deste homem?”
E Pedro respondeu dizendo, “eu não sou.”
E os servos e oficiais estavam ali, que haviam feito um fogo de brasas; pois estava frio, e eles se aqueciam e Pedro estava com eles e se aquecia.
O sumo sacerdote interrogou então Jesus sobre os seus discípulos e sobre a sua doutrina.
Jesus respondeu: “Falei abertamente ao mundo, sempre ensinei na sinagoga e no templo, onde os judeus sempre recorrem e em segredo não disse nada. Por que me perguntas? Pergunta aos que me ouviram o que eu lhes disse, eis que eles sabem o que eu disse.”
E, havendo ele dito isso, um dos guardas que ali estavam deu uma bofetada em Jesus com a palma da mão, dizendo: “Respondes assim ao sumo sacerdote?”
Respondeu Jesus: “Se falei mal, dá testemunho do mal, mas, se bem, por que me bates?”
Ora, Anás o enviara preso a Caifás, o sumo sacerdote.
E Simão Pedro levantou-se e aqueceu-se. Disseram, pois: “Não és tu também um dos seus discípulos?”
Ele negou e disse: “Não sou.”
Um dos servos do sumo sacerdote, parente dele a quem Pedro cortou a orelha, disse: “Não te vi eu no jardim com ele?”
Pedro então negou novamente: e imediatamente o galo cantou.
Então, conduziram Jesus de Caifás ao pretório e eles próprios não foram ao pretório, para não se contaminarem, mas para que comessem a páscoa.
Então Pilatos falou com eles e disse: “Que acusação apresentais contra este homem?
Eles responderam e disseram: “Se ele não fosse um malfeitor, não o teríamos entregado a ti.”
Disse Pilatos: “Tomai-o vós e julgai-o segundo a vossa lei.”
Disseram, pois, os judeus: “Não nos é lícito matar ninguém.”
Então Pilatos tornou a entrar no pretório, chamou Jesus e disse-lhe: “És tu o rei dos judeus?”
Respondeu-lhe Jesus: “Dizes isto de ti mesmo, ou outros te contaram de mim?”
Pilatos respondeu: “Sou eu um judeu? A tua própria nação e os principais sacerdotes te entregaram a mim, o que fizeste?”
Jesus respondeu: “O meu reino não é deste mundo, se o meu reino fosse deste mundo, lutariam os meus servos, para que eu não fosse entregue aos judeus. Portanto o meu reino não é daqui.”
Disse, pois, Pilatos: “Então tu és rei?”
Jesus respondeu: “Tu é quem dizes que eu sou rei. Para isso nasci e, para isso, vim ao mundo, a fim de dar “O Testemunho da Verdade”. Todo aquele que é da verdade ouve a minha voz.”
Pilatos disse: “O que é a verdade?”
E, havendo dito isto, saiu novamente aos judeus, e disse: “Não acho nele crime algum. Mas tendes por costume que eu vos solte um prisioneiro na páscoa; queres, pois, que eu vos solte o rei dos judeus?”
Então todos tornaram a clamar, dizendo: “Este não, mas Barrabás.” Ora, Barrabás era um ladrão.
Capítulo 20.
Jesus é Condenado Pelos Judeus e Crucificado.
Então Pilatos tomou Jesus e o açoitou. E os soldados teceram uma coroa de espinhos, e puseram na sua cabeça, e puseram-no um manto de púrpura.
E disseram: “Salve, rei dos judeus!” E eles o feriram com as mãos.
Pilatos, ao sair outra vez e disse: “Eis que vos trago fora, para que saibais que não acho nele culpa alguma.”
Então saiu Jesus, usando a coroa de espinhos e o manto púrpura.
E Pilatos disse: “Eis o homem!”
Quando os principais sacerdotes e os oficiais o viram, gritaram, dizendo: “Crucifica-o, crucifica-o.”
Disse-lhes Pilatos: “Tomai-o vós e crucificai-o, porque não acho nele crime algum.”
Responderam-lhe os judeus: “Nós temos uma lei, e segundo a nossa lei ele deve morrer, porque se fez Filho de ‘Deus’.”
Pilatos, pois, ouvindo essas palavras, temeu ainda mais.
E tornou a entrar no pretório e disse a Jesus: “De onde és tu?” Mas Jesus não lhe deu resposta.
Disse Pilatos: “Não me falas? Não sabes que tenho poder para te crucificar e tenho poder para te libertar?”
Jesus respondeu: “Não terias poder algum contra mim, se de cima não te fosse dado, portanto, quem me entregou a ti maior pecado tem.”
E desde então Pilatos procurava soltá-lo, mas os judeus gritavam, dizendo: “Se soltaste este homem, não és amigo de César; qualquer que se faz rei, fala contra César.”
Ouvindo, pois, Pilatos essas palavras, trouxe Jesus para fora e sentou-se no tribunal, no lugar chamado Pavimento, mas em hebraico Gabatá. E era a preparação da páscoa, e cerca da hora sexta e disse aos judeus: “Eis o vosso Rei!”
Mas eles gritaram: “Fora com ele, fora com ele, crucifique-o.”
Pilatos disse-lhes: “Devo crucificar o vosso rei?”
O sumo sacerdote respondeu: “Não temos rei senão César.”
Então, entregou-o, pois, a eles para ser crucificado. E eles pegaram Jesus e o levaram.
E, levando-o a sua cruz, saiu para um lugar chamado lugar da Caveira, que em hebraico se chama Gólgota: Onde o crucificaram, e com ele outros dois, um de cada lado, e Jesus no meio.
E Pilatos escreveu um título e o colocou na cruz. E estava escrito: ‘jesus de Nazaré, O Rei Dos Judeus’.
Muitos judeus leram este título, pois o lugar onde Jesus foi crucificado era próximo da cidade e estava escrito em hebraico, grego e latim.
Então disseram os principais sacerdotes dos judeus a Pilatos: “Não! Escreva: ‘Rei dos judeus’, mas que ele disse: ‘Eu sou o rei dos judeus’.”
Pilatos respondeu: “O que escrevi, escrevi.”
Então os soldados, após terem crucificado Jesus, tomaram suas vestes e dividiram em quatro partes, para cada soldado, uma parte e também sua túnica.
Agora a túnica era sem costura, tecida de cima para baixo. Disseram, portanto, entre si: “Não a rasguemos, mas lancemos sortes sobre ela, de quem será.”
Para se cumprir a escritura que diz: ‘Repartiram entre si as minhas vestes, e sobre a minha túnica lançaram sortes’. Essas coisas, portanto, os soldados fizeram.
Capítulo 21.
A Revelação do Mistério da Cruz.
E junto à cruz de Jesus estavam Maria, sua mãe, e a irmã de sua mãe, Maria, mulher de Cléofas, e Maria Madalena.
Jesus, pois, vendo ali sua mãe, e ao lado dela o discípulo João, a quem ele amava, disse a sua mãe: “Mulher, eis aí o teu filho!” Então disse ao discípulo: “Eis aí tua mãe!”
E desde aquela hora o discípulo João a levou para sua própria casa. Depois disso, sabendo Jesus que tudo já estava consumado, para que se cumprisse a Escritura, disse: “Tenho sede.”
E puseram uma vasilha cheia de vinagre, então, embeberam uma esponja nela, colocaram a esponja na ponta de uma cana e a ergueram até os lábios de Jesus.
Tendo Jesus, pois, recebido o vinagre, disse: “Está consumado”, inclinou a cabeça e expirou.
E nós ficamos como homens surpresos e entorpecidos, e partimos para aqui e acolá. E assim eu o vi sofrer, e não esperei por seu sofrimento, mas parti para o Monte das Oliveiras e chorei sobre o que veio a se passar.
E quando ele estava pendurado sobre a cruz no dia antes do Shabat, na sexta hora do dia, veio uma escuridão sobre toda a terra.
E meu Senhor ficou no meio da caverna, iluminando-a, disse: “João, para o povo lá embaixo em Jerusalém, Eu estou sendo crucificado e transpassado com lanças e espinhos e estão me dando vinagre para beber. Mas para você estou falando, escutai o que eu digo. Coloquei em tua mente para vires a esta montanha para ouvir o que um discípulo deve aprender de seu mestre e o homem de seu Deus.”
E quando ele disse isto, mostrou-me uma cruz de Luz firmemente fixada e em volta da cruz uma grande multidão, que não tinha nenhuma forma definida, e na cruz estava uma outra forma, com a mesma aparência. E eu vi o Senhor, ele mesmo, sobre a cruz, sem nenhuma forma, mas apenas um tipo de voz; não aquela voz que conhecíamos, mas uma que era doce e gentil e verdadeiramente a voz do PAI.
Então, ele me disse: “João, deve haver um homem para ouvir estas coisas de mim, pois preciso de um que esteja pronto para ouvir. Esta cruz de Luz é algumas vezes chamada de Logos por mim, para vossos propósitos, algumas vezes Mente, algumas vezes Jesus. Algumas vezes Cristo, algumas vezes, uma porta, algumas vezes, um caminho, algumas vezes pão, algumas vezes semente, algumas vezes ressurreição, algumas vezes Filho, algumas vezes PAI, algumas vezes Espírito, algumas vezes Vida, algumas vezes Pestis (Fé), algumas vezes Charis (graça) e assim é chamada para propósitos do homem.”
“Mas o que é verdadeiramente, como conhecida em si e dito por nós, é que: ‘É a distinção de todas as coisas; e a forte elevação do que está firmemente fixo, fora do que é instável, e a harmonia da Sabedoria, sendo Sabedoria em harmonia’.”
“Mas há lugares à direita e à esquerda, Arcontes, Autoridades, Poderes, Principados e Demônios, ameaças, paixões e a raiz inferior de onde a natureza das coisas transientes provém. Esta cruz então é aquela que unificou todas as coisas pela palavra e que as separou do que é transitório e inferior, e que também compactou coisas dentro de mim. Mas esta não é aquela cruz de madeira que você deverá ver quando descer daqui, nem eu sou o homem que está sobre aquela cruz.”
“Eu, quem agora você não vê, mas apenas ouve a minha voz. Fui tomado para ser aquilo que eu não sou. Eu, que não sou o que para muitos fui, mas o que eles irão dizer de mim, é penoso e indigno de mim. Desde então, o lugar de meu repouso não deve ser nem visto, nem revelado.”
“Muito mais deverei eu, o Senhor deste lugar, ser nem visto, nem revelado. A multidão ao redor da cruz, que não é de uma forma, é a natureza inferior. E aqueles que você viu na cruz, mesmo que eles ainda não tenham uma forma, nem todos os membros daquele que desceu foram ainda reunidos. Mas quando a natureza humana é tomada, e a raça que vem a mim e obedece à minha voz, então aquele que agora me ouve, deverá unir-se a esta raça e não será mais o que ele é agora, mas estará acima deles, como estou agora.”
“Por tanto tempo, enquanto não te chamastes meu, eu não sou o que sou, mas se me ouvistes, tu também, como um ouvinte, deverás ser o que eu era, quando fores como sou comigo mesmo, pois de mim tu és o que eu sou. Portanto, ignore os muitos e despreze aqueles que estão fora do mistério, pois deves saber que sou totalmente com meu PAI e o PAI comigo.”
Assim, eu não sofri nada daquelas coisas que irão dizer de mim. Mesmo o sofrimento que mostrei a você e ao resto em minha dança, eu desejo que isto seja chamado de mistério. Pois o que você é, que mostrei a você, como você vê, mas o que sou, é apenas conhecido por mim mesmo, e ninguém mais. Deixa-me ter o que é meu, o que é teu, deves ver mediante mim, mas a mim deves ver não verdadeiramente o que sou, como eu disse, mas aquilo que você, meu amado irmão, pode saber.”
“Tu ouviste que sofri, e eu não sofri, e aquilo que eu não sofri, ainda assim sofri, e que fui transpassado, ainda assim eu não fui ferido, que fui pendurado, ainda assim eu não fui pendurado, que o sangue fluiu de mim, ainda assim ele não fluiu. E, numa palavra, aquilo que eles dizem de mim, eu não confirmo, mas aquilo que eles não dizem, estas coisas, eu sofri.”
“Agora, que coisas são estas, que mostro secretamente a você, pois sei que tu irás entender. Tu deves conhecer a mim, então, como um tormento do Logos, o sangue do Logos, as feridas do Logos, o jejum do Logos, a morte do Logos. E assim digo, descartando minha humanidade. O primeiro então que deves conhecer é o Logos, depois deves conhecer o Senhor e em terceiro lugar o homem e o que ele sofreu.”
Quando Jesus disse estas coisas para mim, e aos outros a quem eu não sei como dizer, como ele desejava, ele foi tomado, sem que ninguém da multidão o visse. E descendo, eu ri de todos eles, pois havia me dito o que eles diziam dele e eu guardei esta única coisa em minha mente, que o Senhor realizou tudo como um símbolo e uma liberação para a conversão e salvação do homem.
Então, os judeus, solicitaram a Pilatos que as pernas dos crucificados fossem quebradas e seus corpos retirados. Por ser a preparação para o Shabat e para que os corpos não permanecessem na cruz naquele dia importante.
Então vieram os soldados e quebraram as pernas do primeiro, e do outro, que foi crucificado com ele.
Chegando-se a Jesus, e vendo que já estava morto, não lhe quebraram as pernas. Mas um dos soldados traspassou o lado do corpo de Jesus com uma lança, e logo saiu sangue e água.
E aquele que viu dá testemunho, e o seu testemunho é verdadeiro; e ele sabe que diz a verdade, para que acrediteis.
E depois disso, José de Arimateia, sendo um discípulo de Jesus, mas secretamente por medo dos judeus, pediu a Pilatos que ele pudesse levar o corpo de Jesus e Pilatos o autorizou.
José de Arimateia veio, portanto, e tomou o corpo de Jesus.
E veio também Nicodemos, que primeiro veio a Jesus de noite, e trouxe uma mistura de mirra e aloés, cerca de cem libras de peso.
Então tomaram o corpo de Jesus e envolveram-no em faixas de linho com as especiarias, como é costume dos judeus sepultar.
Ora, no lugar onde foi crucificado, perto, havia um local chamado jardim de José e no jardim um novo sepulcro, onde nenhum homem foi colocado.
Lá eles colocaram Jesus, portanto, devido ao dia de preparação dos judeus, pois o sepulcro estava próximo.
Capítulo 22.
A Ressurreição de Jesus Cristo e o diálogo com Maria Madalena.
No primeiro dia da semana, Maria Madalena foi de madrugada, quando ainda estava escuro, ao sepulcro, e viu a pedra retirada do sepulcro.
Então ela correu e foi falar com Simão Pedro e João, e disse-lhes: “Tiraram o Senhor do sepulcro, e não sabemos onde o puseram.”
Pois, Pedro e João foram ao sepulcro. Correram, pois, ambos juntos; mas João ultrapassou Pedro e chegou primeiro ao sepulcro.
E ele, inclinando-se e olhando para dentro, avistou as roupas de linho caídas; mas não entrou.
Então chegou Simão Pedro, que o seguia, e entrou no sepulcro, e viu os lençóis de linho, e o lenço que estava sobre sua cabeça, não com os lençóis, mas enrolado em um lugar à parte.
Então entrou também João, que chegara primeiro ao sepulcro, e ele viu, e acreditou. Porque ainda não sabiam a Escritura, que ele deveria ressuscitar dentre os mortos. Então, os discípulos voltaram para casa.
Maria Madalena, porém, estava do lado de fora, no sepulcro, chorando e, enquanto chorava, abaixou-se e olhou para dentro do sepulcro e viu dois anjos vestidos de branco, assentados onde ficara o corpo de Jesus, um à cabeceira e o outro aos pés.
Disseram-lhe eles: “Mulher, por que choras?”
Ela lhes disse: “Porque levaram o meu Senhor, e não sei onde o colocaram.”
E, tendo ela dito isso, voltou-se para trás e viu Jesus em pé, mas não sabia que era Jesus.
Disse Jesus: “Mulher, por que choras? Quem procuras tu?”
Ela, supondo que ele fosse o jardineiro, disse: “Senhor, se tu o trouxeste daqui, diz-me onde o puseste e eu o levarei embora.”
Disse Jesus: “Maria.”
Ela voltou-se e respondeu: “Mestre.”
Disse Jesus: “Não me toques, porque ainda não ascendi para meu PAI; mas vai para meus irmãos e dizei: ‘Subo para meu PAI e vosso PAI; e ao meu Deus, e ao vosso Deus’.”
Maria Madalena veio e disse aos discípulos que ela havia visto o Senhor, e que ele havia dito essas coisas a ela.
Então, no mesmo dia, à tarde, o primeiro dia da semana, estando as portas fechadas, onde os discípulos estavam reunidos por medo dos judeus, apareceu Jesus e pôs-se no meio deles.
Jesus disse: “Paz esteja convosco.” E quando ele disse isso, ele mostrou a eles suas mãos e seu lado.
Então, os discípulos se alegraram quando viram o Senhor.
Disse, pois, Jesus outra vez: “Paz esteja convosco; assim como meu PAI me enviou, também eu vos envio.”
E, havendo dito isto, soprou sobre eles e disse: “Recebei o Espírito Santo e as quais as iniquidades retendes, elas são retidas.”
Mas Tomé, chamado Dídimo, um dos doze, não estava com eles quando Jesus veio. Os outros discípulos, portanto, disseram: “Vimos o Senhor.”
Tomé, porém, lhes disse: “Se eu não ver em suas mãos a marca dos cravos, e não puser o dedo na marca dos cravos, e não colocar a mão no seu lado, não acreditarei.”
Oito dias depois, os seus discípulos estavam novamente reunidos em casa, e Tomé com eles. Então apareceu Jesus, estando as portas fechadas, e pôs-se no meio deles, e disse: “Paz seja convosco.”
Então, disse ele a Tomé: “estenda aqui o seu dedo e veja minhas mãos, estende a tua mão e a coloque no meu lado e não sejas incrédulo, mas crente.”
E Tomé respondeu e disse-lhe: “Meu Senhor e meu PAI.”
Disse Jesus: “Tomé, porque me viste, acreditaste, bem-aventurados os que não viram e creram.”
E muitos outros sinais verdadeiramente fizeram Jesus na presença de seus discípulos, que não estão escritos somente neste livro. Estes, porém, foram escritos para que acreditais que Jesus é o Cristo, o Filho do PAI, e para que, crendo, tenhais vida por meio de seu nome e sua palavra.
Capítulo 23.
Jesus reúne com seus discípulos na Galileia.
Depois destas coisas, Jesus tornou a aparecer aos discípulos junto ao mar de Tiberíades na Galileia, e assim mostrou ele mesmo.
Estavam juntos Simão Pedro, e Tomé, chamado Dídimo, e Natanael, de Caná da Galileia, e os filhos de Zebedeu, e outros dois de seus discípulos.
Disse-lhes Simão Pedro: “Vou pescar.”
Disseram-lhe: “Nós também vamos contigo.” Eles saíram e entraram em um barco imediatamente e naquela noite não pescaram nada.
Mas, ao amanhecer, Jesus estava na praia mas os discípulos não sabiam que era Jesus.
Disse então Jesus: “Filhinhos, tens alguma coisa para comer?”
Eles responderam: “Não.”
E disse-lhes: “Lançai a rede à direita do barco, e pescarão.”
Eles lançaram a rede, portanto, e agora não puderam trazer de volta ao barco devido à quantidade de peixes.
Então, João disse a Pedro: “É o Senhor.” Ora, ouvindo Simão Pedro que era o Senhor, cingiu-se com a sua túnica de pescador e lançou-se ao mar.
E os outros discípulos vieram num pequeno barco, pois não estavam longe da praia, arrastando a rede com os peixes.
Assim que desembarcaram, viram ali brasas, e peixes postos sobre ela, e pão.
Jesus disse: “Trazei dos peixes que agora apanhastes.”
Simão Pedro subiu e puxou a rede para a praia cheia de grandes peixes, cento e cinquenta e três.
Disse Jesus: “Vinde e comam.”
E nenhum dos discípulos ousou perguntar: “Quem és tu?” Sabendo que era o Senhor.
Jesus, então, veio, tomou o pão e deu-lhes, e também o peixe. Esta é a terceira vez que Jesus se manifesta aos seus discípulos, depois que ressuscitou dos mortos.
Então, após terem comido, Jesus disse a Simão Pedro: “Simão, filho de Jonas, amas-me mais do que estes?”
Ele lhe disse: “Sim, Senhor; tu sabes que eu te amo.”
Disse-lhe ele: “Apascenta as minhas ovelhas.”
Tornou a lhe perguntar pela segunda vez: “Simão, filho de Jonas, amas-me?”
Ele lhe disse: “Sim, Senhor; tu sabes que eu te amo.”
Disse-lhe ele: “Apascenta as minhas ovelhas.”
Perguntou-lhe pela terceira vez: “Simão, filho de Jonas, amas-me?”
Pedro entristeceu-se porque lhe disse pela terceira vez: ‘Amas-me?’ E ele lhe disse: “Senhor, tu sabes todas as coisas, tu sabes que eu te amo.”
Disse-lhe Jesus: “Apascenta as minhas ovelhas. Em verdade, em verdade te digo, quando eras jovem, tu te cingias e andavas para onde querias”.
Isso ele falou, significando com que morte ele deveria glorificar o PAI. E, havendo dito isto, disse-lhe: “Segue-me.”
Então, Pedro, voltando-se, viu que o seguia João, o discípulo a quem Jesus amava, Pedro, vendo-o, disse a Jesus: “Senhor, e que fará este?”
Jesus disse-lhe: “Se eu quiser que ele fique até que eu venha, o que é isso para ti? Siga-me.”
Divulgou-se, pois, entre os irmãos, este dito, que aquele discípulo não havia de morrer; contudo, Jesus não lhe disse: “Não morrerá; mas, se eu quiser que ele fique até que eu venha, o que é isso para você?”
Este é o discípulo que dá testemunho destas coisas e as escreveu, e nós sabemos que o seu testemunho é verdadeiro. E ainda há muitas outras coisas que Jesus fez, as quais, foram escritas todas, creio que nem ainda no mundo inteiro caberiam os livros que se escreveram.
Amém.
Notas:
Informações sobre o Evangelho de João:
Robert Kysar escreve o seguinte sobre a autoria do Evangelho de João ( The Anchor Bible Dictionary , v. 3, pp. 919-920):
A suposição de que o autor era o mesmo que o discípulo amado é frequentemente apresentada como um meio de assegurar que o evangelista testemunhou o ministério de Jesus. Duas outras passagens são apresentadas como evidência do mesmo - 19:35 e 21:24. Mas ambas vacilam sob um exame minucioso. 19:35 não afirma que o autor foi quem testemunhou a cena, mas apenas que a cena é relatada com base sólida de testemunha ocular. 21:24 faz parte do apêndice do evangelho e não deve ser assumido como tendo vindo da mesma mão que a responsável pelo corpo do evangelho. Nenhuma dessas passagens, portanto, convence muitos estudiosos joaninos de que o autor reivindica o condição de testemunha ocular.
Há um caso a ser feito de que João, o filho de Zebedeu, já havia morrido muito antes do Evangelho de João ser escrito. Vale a pena notar por si só, embora o “discípulo amado" não precise ser identificado com João, o filho de Zebedeu. Em sua Crônica do século IX no códice Coislinianus, George Hartolos diz, “[João] era digno de martírio.” Hamartolos prossegue citando Papias no sentido de que, "ele [João] foi morto pelos judeus.” No fragmento de Boor de um epítome da Crônica do século V de Filipe de Side, o autor cita Papias: Papias no segundo livro diz que João, o divino, e Tiago, seu irmão, foram mortos por judeus. Morton Enslin observa (Christian Beginnings , pp. 369-370): “Que a fonte de informação de Papias seja simplesmente uma inferência de Marcos 10:35-40 ou seu paralelo, Mateus 20:20-23, é possível. No entanto, esta passagem de Marcos em si fornece terreno sólido. Nenhuma interpretação razoável destas palavras pode negar a alta probabilidade de que, na época em que estas palavras foram escritas [ca. 70 EC] ambos os irmãos tinham 'bebido o cálice' que Jesus havia bebido e haviam sido 'batizados com o batismo' com o qual ele tinha sido batizado.” Uma vez que a tradição patrística é unânime em identificar o discípulo amado com João, pelo menos esta evidência desacredita a tradição patrística a respeito da autoria do Evangelho de João.
Se o autor do Evangelho de João fosse uma testemunha ocular, presumivelmente o autor saberia que Jesus e seus compatriotas tinham permissão para entrar nas sinagogas. Mas em vários pontos é declarado que aqueles que reconheceram Jesus como o Cristo durante a vida de Jesus foram expulsos da sinagoga. Esse anacronismo é inconcebível como produto de uma testemunha ocular.
Kysar afirma que a maioria dos estudiosos hoje vê o cenário histórico do Evangelho de João na expulsão da comunidade da sinagoga (op. cit., p. 918). A palavra aposynagogos é encontrada três vezes no evangelho (9:22, 12:42, 16:2). As altas reivindicações feitas a Jesus e a resposta a elas (5:18), a polêmica contra “os judeus” (9:18, 10:31, 18:12, 19:12) e a afirmação de uma superioridade da revelação cristã sobre a hebraica (1:18, 6:49-50, 8:58) mostram que “a comunidade joanina se opôs à sinagoga da qual havia sido expulsa.” (p. 918)
Kysar afirma sobre a datação do Evangelho de João:
“Aqueles que relacionam a expulsão a um esforço formal por parte do judaísmo para se purgar dos crentes cristãos vinculam a composição do evangelho a uma data logo após o Concílio de Jâmnia, que supostamente promulgou tal ação. Portanto, esses estudiosos datariam João depois de 90. Aqueles inclinados a ver a expulsão mais em termos de uma ação informal por parte de uma sinagoga local são livres para propor uma data anterior.” (p. 919)
Kysar também observa sobre a datação do Evangelho de João:
“A data mais antiga para o evangelho depende da questão de se pressupõe ou não a destruição do Templo em 70 EC. A maioria concorda que sim, embora tenha havido tentativas persistentes de argumentar o contrário. As razões para postular uma data pós-70 incluem a visão do Templo implícita em 2:13-22. A maioria argumentaria que a passagem tenta apresentar Cristo como a substituição do Templo, que foi destruído.” (p. 918) Observe também a ironia de 11:48: “Se o deixarmos continuar assim, todos crerão nele, e então os romanos virão e tirarão tanto o nosso lugar [ou seja, o templo] quanto a nossa nação.” Finalmente, não há menção aos saduceus, refletindo o judaísmo pós-70. A réplica de que também não há menção aos escribas erra o alvo, pois os fariseus representavam a tradição dos escribas, e os fariseus são mencionados.
O término do qual também pode ser definido pela dependência do Evangelho de Marcos, se fosse certo que o Evangelho de João é dependente de Marcos. O assunto é debatido na erudição contemporânea, mas Kysar diz que a teoria da independência joanina comanda uma “maioria estreita” de críticos contemporâneos. Para uma discussão sobre essa questão, John Among the Gospels , de D. Moody Smith, é recomendado.
A evidência externa fixa o terminus ad quem para o Evangelho de João. Irineu de Lyon fez uso de João (c. 180), e Taciano incluiu o Evangelho de João em sua harmonia (c. 170). O Evangelho de João também é mencionado no Cânon Muratoriano (c. 170-200). Justino Mártir (c. 150-160) e a Epistula Apostolorum (c. 140-150) podem ter feito uso do Evangelho de João. Mas o uso mais antigo conhecido de João está entre os círculos gnósticos. Estes incluem o Fragmento Naasseno citado por Hipólito Ref. 5.7.2-9 (c. 120-140), os textos valentinianos citados em Excerpta ex Theodotou de Clemente de Alexandria (c. 140-160), uma Exposição Valentiniana ao Prólogo do Evangelho de João citado em Adv. Haer de Irineu. 1.8.5-6 (c. 140-160), e o comentário de Heracleon sobre João (c. 150-180, citado no próprio comentário de Orígenes). O fragmento mais antigo do Novo Testamento, conhecido como p52 ou fragmento John Rylands, atesta o João canônico sendo datado paleograficamente de c. 120-130 EC.
Kysar escreve:
“No lugar onde os sinóticos narram a origem da eucaristia está o relato da lavagem dos pés (13:1-10). A última refeição que Jesus celebra com seus discípulos antes de sua paixão não é uma refeição de Páscoa. Assim, uma das características básicas das cenas de instituição nos sinóticos está faltando. Além disso, não há relato do batismo de Jesus, e há confusão sobre se Jesus praticou ou não o batismo (compare 3:22 e 4:2). O batismo nas águas é tratado criticamente e atribuído estritamente ao Batizador, em contraste com o batismo no Espírito (1:26, 31, 33). Fica-se com a impressão de que os sacramentos do batismo e da eucaristia não figuravam na teologia do quarto evangelista.” (p. 929)
Kysar afirma:
“As passagens que parecem abordar os sacramentos são às vezes consideradas redacionais. Alguns sustentam que 'água e' em 3:5 e o discurso em 6:51-59 são inserções de uma mão posterior por alguém interessado em fortalecer os ensinamentos sacramentais explícitos do evangelho. Foi argumentado recentemente que partes dos caps. 13-17 vêm de um redator na época da escrita das epístolas joaninas, cerca de dez anos ou mais após a conclusão do evangelho." (p. 922)
Norman Perrin acredita que o redator que adicionou as passagens sacramentais ao Evangelho de João também foi o autor da primeira epístola de João, na qual os sacramentos são enfatizados. Helms apresenta evidências de que houve divisões sobre a interpretação de João em um período inicial, já na escrita das epístolas 1 João e 2 João. Considere as passagens 1 João 2:18-19 e 2 João 7. Helms escreve ( Who Wrote the Gospels? , p. 163):
Alguns membros da comunidade joanina partiram, tornaram-se uma seita rival, sobre a questão da “carne” de Jesus Cristo, um evento que leva o autor de João à certeza de que “esta é a última hora”. Não sabemos ao certo quem eram esses secessionistas, mas como Raymond Brown observa, eles não eram “detectavelmente estranhos à comunidade joanina, mas descendentes do próprio pensamento joanino, justificando sua posição pelo Evangelho joanino e suas implicações” (1979, 107). Isso parece provável, até que reflitamos sobre a estranheza de pessoas que supostamente negam que “Jesus Cristo veio em carne” citando um evangelho que declara “o Logos se fez carne” e “quem come minha carne e bebe meu sangue possui a vida eterna”. O argumento de Brown naufraga em sua insistência de que “João exatamente como o temos” (108, itálico dele) foi o texto usado por aqueles que deixaram a comunidade joanina. Brown se recusa a 'excluir certas passagens do Quarto Evangelho sob o argumento de que elas provavelmente não estavam na tradição conhecida pelos secessionistas, mas foram adicionadas pelo redator (posteriormente ou como revisão antissecessionista)' (1979, 109). Ele admite que muitos aceitam que João 1:14 - 'O Verbo se fez carne' - foi 'adicionado pelo redator como um ataque aos oponentes de I João' (1979, 109), mas continua a escrever como se não houvesse revisão do Quarto Evangelho.
Helms afirma, “precisamos notar que parte do propósito de Irineu era atacar os ensinamentos de Cerinto, um professor cristão gnóstico que viveu em Éfeso no final do primeiro século” (op. cit., p. 162). Cerinto foi “educado na sabedoria dos egípcios, ensinado que o mundo não foi feito por um Deus Primordial, mas por um certo Poder inferior e muito separado dele... Além disso, após o batismo [de Jesus], Cristo desceu sobre ele na forma de uma pomba do Governante Supremo, e que então ele proclamou o PAI desconhecido, e realizou milagres. Mas finalmente Cristo se afastou de Jesus, e que então Jesus sofreu e ressuscitou, enquanto Cristo permaneceu impassível, enquanto era um ser espiritual” (1.26.1).
Irineu de Lyon em seu argumento, pensou que o propósito de João em Éfeso era o seguinte: pela proclamação do Evangelho, para remover aquele erro que por Cerinto havia sido disseminado entre os homens. E muito tempo antes, por aqueles chamados nicolaítas, sendo uma compensação daquele ‘conhecimento’ [gnose] assim chamado, para que ele pudesse confundi-los e persuadi-los de que há apenas um Deus, que fez todas as coisas por Sua Palavra. E não, como os gnósticos alegam, que o Criador era um, o PAI e o Adonai Sabaouth outro; e que o Filho do Criador era, em verdade, um, mas o Cristo de cima de outro (3.11.1)
Helms argumenta:
“Então o evangelho atribuído, no final do segundo século, a João em Éfeso foi visto como uma obra anti-gnóstica, anti-ceríntia. Mas, muito estranhamente, Epifânio, em seu livro contra os hereges, argumenta contra aqueles que realmente acreditavam que foi o próprio Cerinto quem escreveu o Evangelho de João! ( Adv. Haer. 51.3.6). Como poderia ser que o Quarto Evangelho tenha sido, em um momento de sua história, considerado o produto de um gnóstico treinado no Egito, e em outro momento de sua história, considerado composto com o propósito de atacar esse mesmo gnóstico? Acho que a resposta é plausível que em uma versão antiga, agora perdida, o Quarto Evangelho poderia muito bem ter sido lido de uma forma ceríntia, gnóstica, mas que em Éfeso uma revisão dele foi produzida (agora o chamamos de Evangelho de João ou o Segundo Evangelho de João) que colocou esse evangelho de volta na corrente principal cristã.”
Referências Bibliográficas:
The Holy Bible: 1611 Edition, King James Version. Estados Unidos, American bible society., 1611.
The Holy Bible: King James Version. Estados Unidos, Hendrickson Publishers, 2004.
JAMES, King. Holy Bible King James Version. Evans Akuamoah-Boateng, 1976.
DE ALMEIDA, João Ferreira. A BÍBLIA SAGRADA, contendo o Velho e o Novo Testamento. Sociedada Bíblica do Brasil, 1864.
Recursos on-line adicionais:
https://www.newadvent.org/bible/joh001.htm
http://www.earlychristianwritings.com/text/john-kjv.html