Ouça os Evangelhos Sagrados
O Evangelho
de Lucas.
Evangelhos do Ministério
de Jesus Cristo.
LIVRO 010
Capítulo 1
Muitos tentaram escrever a história dos fatos ocorridos entre nós, assim como nos transmitiram aqueles que, desde o início, foram testemunhas oculares e, depois, se tornaram ministros da palavra.
Uma vez que muitos tomaram em suas mãos a tarefa de escrever, em ordem, uma narração a respeito dos fatos entre nós, tendo sido plenamente certificados.
Conforme nos transmitiram aqueles que desde o início foram testemunhas oculares dos fatos e serviçais da Palavra.
Tendo eu compreendido perfeitamente todas as coisas desde o princípio, pareceu-me também conveniente escrevê-las ordenadamente a ti, ó, excelentíssimo Teófilo.
A fim de que, a respeito das coisas de que já foste instruído, conheças a certeza.
Nos dias de Herodes, o Grande, rei da Judeia, havia um sacerdote chamado Zacarias, que pertencia à ordem de Abias.
A sua esposa, Isabel, era descendente das filhas de Arão e ambos eram justos aos olhos do PAI.
Eles seguiam irrepreensíveis em todos os mandamentos e doutrina de YHWH (o Senhor da Lei).
Eles não tinham filhos, pois Isabel era estéril, e ambos já estavam com idade avançada.
Aconteceu, então, que, no exercício do sacerdócio de Zacarias, na ordem de sua turma e segundo o costume do ofício sacerdotal, coube a ele, por sorteio, a tarefa de queimar o incenso ao entrar no Lugar Santo do Templo de YHWH.
Enquanto isso, a multidão do povo estava orando do lado de fora do lugar sagrado, no momento da queima do incenso.
Um anjo do Logos surgiu, colocando-se à direita do altar do incenso.
E agitou-se Zacarias, havendo-o visto, e o temor caiu sobre ele.
Mas o anjo lhe disse: “Não temas, Zacarias, pois a tua súplica foi ouvida. Isabel, tua esposa, dará à luz um filho, e tu lhe darás o nome de João.”
“Ele será motivo de grande alegria e exultação para ti, e muitos se alegrarão com o seu nascimento.”
“Ele será grande aos olhos do Poder do Logos. Ele não beberá vinho nem bebida forte e será cheio do Espírito Santo desde o ventre de sua mãe.”
“Ele converterá muitos dos filhos de Israel ao Poder do Logos, o Deus verdadeiro deles.”
“João irá adiante do Poder do Logos, no Espírito e Poder de Elias, para converter os corações dos pais aos filhos e os desobedientes à prudência dos justos, a fim de preparar para o Poder do Logos um povo preparado.”
Disse então Zacarias ao anjo: “Como saberei que isso é verdade? Já sou velho, e minha esposa está em idade avançada.”
Tendo o anjo respondido, disse-lhe: “Sou Gabriel e fui enviado pelo Poder do Logos para falar e pregar estas boas-novas, pois estou sempre na presença do PAI Inefável, o Único, para servi-lo.”
“Você ficará mudo e incapaz de falar até o dia em que tudo isso se cumpra, pois não creu em minhas palavras, que certamente se realizarão no devido tempo.”
E o povo aguardava Zacarias, admirando-se da sua demora no santuário do Templo de YHWH.
Mas ao sair, ele não conseguia falar com eles, e perceberam que ele havia tido uma visão no Lugar Santo do Templo.
Ele fazia sinais para eles, permanecendo mudo. E assim que os dias de seu serviço no Templo se completaram, ele retornou para sua casa.
Porém, após aqueles dias, concebeu Isabel, a sua esposa. E ocultava a si mesma por cinco meses, dizendo: “Assim me faz o Salvador, nos dias em que atentou sobre mim, para plenamente remover o meu desprezo entre os homens.”
No sexto mês da gestação de Isabel, o anjo Gabriel foi enviado pelo PAI, a Nazaré, uma cidade da Galileia.
Desposada com um homem chamado José, da casa de Davi, achava-se uma virgem cujo nome era Maria.
E, havendo o anjo vindo até ela, disse: “Alegra, tendo tu sido recebedora de graça! O Senhor está contigo, tendo tu sido bendita entre as mulheres.”
No entanto, ao vê-lo, ela ficou perturbada com suas palavras, questionando-se sobre o significado daquela saudação.
O anjo disse a Maria: “Não temas, pois achaste graça diante do PAI Inefável, o Único. Conceberás e dará à luz um filho, a quem chamarás Yeshua.”
“Ele será grande e será chamado Filho do PAI Supremo. O Único lhe dará o trono de Davi, seu pai, e ele reinará sobre a casa de Jacó para sempre e seu reinado não terá fim.”
Então, Maria perguntou ao anjo: “Como acontecerá isso, uma vez que não conheço homem algum?”
Então, o anjo respondeu: “O Espírito Santo virá sobre você, e o Poder do PAI Supremo a cobrirá com a Sua Luz.”
“Por essa razão, o Sagrado que nascerá de ti será chamado: ‘O Ungido’, Filho do PAI Supremo, o Único e Inefável.”
“E, eis que, Isabel, sua prima, que era considerada estéril, também concebeu um filho em sua velhice.”
“Este é o sexto mês para ela, pois para o PAI Inefável, o Único, nenhuma palavra é impossível.”
Então, Maria disse: “Aqui está a serva do Senhor! Cumpra-se em mim conforme a tua palavra.” Em seguida, o anjo se afastou dela.
Naqueles dias, Maria se apressou para a região montanhosa, em direção a uma cidade de Judá.
Ao chegar, entrou na casa de Zacarias e saudou Isabel.
Ao ouvir a saudação de Maria, a criança (João) na barriga de Isabel pulou de alegria, e Isabel ficou cheia do Espírito Santo.
E com grande voz exclamou: “Bendita és tu entres as mulheres, e bem-aventurado é o fruto do teu ventre, Jesus! Donde me vem a honra de receber a visita da mãe do meu Salvador?”
“Pois eis que, quando chegou a voz da tua saudação para o interior dos meus ouvidos, deu saltos, em exultação, a minha criancinha João dentro do meu útero.”
“Bem-aventurada aquela que creu, pois as palavras proferidas a ela pelo Poder do Logos serão cumpridas.”
Então disse Maria: “Minha alma e meu espírito engrandecem e se alegra no Salvador, meu Senhor, por atentar para a humildade de sua serva.”
“A partir de agora, todas as gerações me chamarão bem-aventurada, porque o Senhor Salvador fez grandes coisas em mim”.
“Sagrado é o Seu nome! Sua misericórdia se estende de geração em geração sobre aqueles que o temem.”
“Com seu braço, Ele agiu com grande poder, dispersando os orgulhosos em suas próprias intrigas.”
“Derrubou os poderosos de seus tronos e exaltou os humildes. Encheu os famintos de bens e despediu os ricos de mãos vazias.”
“Amparou a Israel, seu servo, lembrando-se de sua misericórdia, conforme havia falado aos nossos pais: a Abraão e à sua descendência para sempre.”
Maria permaneceu com Isabel por quase três meses antes de retornar à sua casa.
Ora, para Isabel foi completado o tempo de dar à luz, e ela deu à luz um filho.
Ao tomarem conhecimento da grande misericórdia que o Senhor Salvador demonstrara para com ela, vizinhos e parentes uniram-se em celebração e alegria.
E aconteceu que, no oitavo dia, vieram circuncidar o menino, e o chamavam pelo nome do seu pai, ‘Zacarias’.
Mas a mãe dele respondeu: “Não! Ele se chamará João.”
Então lhe disseram: “Não há ninguém em sua família que tenha esse nome.”
Perguntaram, por acenos, ao pai dele o que desejava que o menino fosse chamado.
Zacarias, pedindo uma tabuinha de escrever, escreveu: “João é o seu nome.”
Todos ficaram maravilhados. Imediatamente, a boca de Zacarias se abriu, e sua língua foi solta, e ele falava, louvando a YHWH.
Temor veio sobre todos os que moravam ao redor deles e todas essas palavras foram divulgadas por toda a região montanhosa da Judeia.
Todos os que as ouviram guardaram em seus corações, dizendo: “Que tipo de menino será este?” E a mão do Senhor estava com ele.
Zacarias, seu pai, foi cheio do Espírito Santo e profetizou, dizendo: “Bem-aventurado seja YHWH, o seu, Elohim de Israel, porque cuidou e redimiu o Seu povo.”
“E nos levantou um poder de salvação na casa de Davi, seu servo, conforme falou pela boca dos Seus santos profetas, os quais existem desde o princípio do mundo, salvação dos nossos inimigos e da mão de todos os que nos odeiam.”
“Para executar a misericórdia prometida aos nossos pais, e para que eles se lembrassem da santa aliança Dele. O juramento que jurou a Abraão, de nos conceder após termos sido libertos da mão dos nossos inimigos, e prestar-lhe culto sem temor, em santidade e justiça diante Dele, todos os dias da nossa vida.”
Continuou Zacarias: “E tu, ó, menino, profeta do Salvador, serás chamado, porque precederás diante da face do Poder do Logos, a preparar os Seus caminhos.”
“Para dar conhecimento da salvação ao Seu povo, na remissão dos seus pecados.”
“Pela profunda misericórdia do nosso PAI Supremo, o amanhecer do alto nos visitou e cuidou de nós.”
“Para iluminar os que jazem nas trevas e na sombra da morte, e para guiar nossos passos no caminho da paz.”
E o menino João crescia e era fortalecido em espírito. E estava nos desertos até o dia de sua manifestação a Israel.
Capítulo 2
Naquela época, o imperador Augusto Cesar emitiu um decreto para que fosse realizado um censo em todo o império.
Este foi o primeiro recenseamento e ocorreu durante o governo de Quirino na Síria.
Todos se dirigiam às suas cidades para o recenseamento.
José também partiu da Galileia, de Nazaré, para a Judeia, rumo a Belém, a cidade de Davi, por ser descendente da casa e linhagem de Davi.
Ele foi para fazer o recenseamento e alistou também Maria, como sua esposa grávida.
Enquanto estavam a caminho de Belém, chegou o tempo de Maria dar à luz.
Então, Maria e José buscaram refúgio em uma caverna e ali, ela deu à luz o Filho, o Logos encarnado.
E não havendo lugar para eles na hospedaria, ele foi envolto em panos e, posteriormente, em um estábulo próximo, foi deitado numa manjedoura.
Sua divindade e pureza inigualáveis foram manifestas desde o seu nascimento.
Naquela região, havia pastores que passavam a noite no campo, cuidando de seus rebanhos.
De repente, um anjo do Logos apareceu, e a glória do PAI resplendeu ao redor deles, causando-lhes grande temor.
O anjo lhes disse: “Não temam, pois lhes trago boas novas de grande alegria, que serão para todo o povo.”
“Hoje, na cidade de Davi, nasceu para vocês o Salvador, que é Cristo, o Poder do Logos.”
“E este será o sinal para vocês: encontrarão o bebê envolto em panos e deitado numa manjedoura.”
Então, uma multidão de anjos celestiais se juntou ao anjo, louvando ao Único e dizendo: “Glória ao PAI nas alturas, e paz na terra aos homens de boa vontade.” E após dizerem isso, os anjos ascenderam ao céu.
Os pastores disseram uns aos outros: “Vamos para Belém ver o que aconteceu e do que nos foi revelado.”
Eles foram apressadamente e encontraram Maria, José e o menino deitado na manjedoura.
Após verem, divulgaram o que lhes havia sido dito sobre o menino.
Todos que ouviram se maravilharam com as palavras dos pastores.
Maria, porém, guardava todas essas coisas em seu coração, meditando sobre elas.
Os pastores voltaram glorificando e louvando ao PAI por tudo o que haviam ouvido e visto, exatamente como lhes havia sido dito.
Oito dias depois, quando o menino foi circuncidado, seu nome foi Yeshua, como o anjo havia dito antes de Ele ser concebido.
Após os dias da purificação de Maria, segundo a Lei de Moisés, José e Maria levaram Jesus a Jerusalém para apresentá-lo a YHWH.
Conforme está escrito na Lei: “Todo primogênito será consagrado a YHWH.”
Eles também ofereceram um sacrifício, como diz a Lei de YHWH: um par de rolas ou dois pombinhos.
Em Jerusalém, vivia um homem chamado Simeão, justo e piedoso, que esperava o consolo de Israel. O Espírito Santo estava sobre ele.
Havia-lhe sido revelado pelo Espírito Santo que não morreria sem antes ver o Cristo, o Poder do Logos do PAI. Então, movido pelo Espírito, Simeão foi ao Templo.
Quando os pais trouxeram o menino Jesus para cumprir o costume da Lei, ele o tomou nos braços, louvou dizendo: “Agora, meu Senhor Salvador, despede em paz o Teu servo, segundo a Tua palavra. Pois os meus olhos viram a Tua salvação, que preparaste à vista de todos os povos, luz para revelação aos gentios e glória do Teu povo Israel.”
José e a mãe de Jesus estavam maravilhados com o que era dito a respeito de Jesus.
Simeão os abençoou e disse a Maria, a mãe de Jesus: “Este menino está destinado a causar a queda e o levantamento de muitos em Israel, e a ser um sinal de contradição, para se revelarem os pensamentos de muitos corações. E uma espada traspassará a tua própria alma.”
Havia também uma profetisa, Ana, filha de Fanuel, da tribo de Aser.
Ela era muito idosa, tendo vivido sete anos com o marido após sua virgindade, e era viúva há cerca de oitenta e quatro anos.
Nunca se afastava do Templo, servindo a YHWH, o seu, Elohim, com jejuns e orações dia e noite.
Chegando naquele momento, ela também deu graças ao Salvador e falava de Jesus a todos que esperavam a redenção em Jerusalém.
Após cumprirem tudo segundo a Lei de YHWH, José e Maria voltaram para a Galileia, para sua cidade de Nazaré.
O menino crescia e se fortalecia no espírito, cheio de sabedoria, e a graça do PAI estava sobre ele.
Todos os anos, os pais de Jesus iam a Jerusalém para a Festa da Páscoa.
Quando Ele completou doze anos, subiram a Jerusalém, como era de costume para a festa.
Ao final dos dias da festa, enquanto voltavam, Jesus ficou em Jerusalém, sem que José e Sua mãe soubessem.
Julgando que Ele estivesse na caravana, andaram o caminho de um dia e o procuraram entre os parentes e conhecidos.
Não o encontrando, voltaram a Jerusalém, procurando-o.
Após três dias, O encontraram no Templo, sentado entre os mestres e doutores da lei, ensinando-os e revelando-lhes mistérios profundos.
Todos que o ouviam admiravam-se profundamente de sua sabedoria e das verdades que ele desvelava.
Todos que o ouviam admiravam-se de seu entendimento e sabedoria de suas respostas.
Quando O viram, ficaram maravilhados, e sua mãe lhe disse: “Filho, por que nos fizeste isto? Teu pai e eu te procurávamos angustiados.”
E ele lhes disse: “Por que me procuram? Pois não sabeis que meu PAI está comigo.”
Eles não compreenderam o que Ele lhes disse.
Então, Ele desceu com eles para Nazaré e lhes era obediente.
Sua mãe guardava todas essas palavras em seu coração.
E Jesus crescia em sabedoria, em estatura e em graça, diante do PAI e dos homens.
Capítulo 3
No décimo quinto ano do reinado de Tibério César, Pôncio Pilatos governava a Judeia. Herodes Antipas era tetrarca da Galileia, e seu irmão Filipe, da Itureia e Traconites, Lisânias era tetrarca de Abilene.
Em paralelo aos sumos sacerdotes de Anás e de Caifás, veio a palavra do PAI sobre João, o filho de Zacarias, no deserto.
E João veio para o interior de toda a terra ao redor do rio Jordão, pregando a submersão como sinal de arrependimento e em consequência da remissão dos pecados deles.
Segundo o que se escreveu no grande livro rolo das palavras de Isaías, o profeta, dizendo: “Voz daquele clamando no deserto, preparai a estrada do Salvador, planos e retos, fazei os Seus caminhos. Todo o vale será aterrado, e todo o monte e o morro será abaixado. E os lugares tortuosos serão tornados em um caminho plano e reto, e os lugares acidentados serão tornados em caminhos aplanados. E todo ser humano verá a salvação do PAI.”
Então, João dizia às multidões que vinham para ser submersas por ele: “Ó, descendência de víboras, quem vos avisou para fugirdes da ira que se aproxima?”
“Dê frutos que mostrem o seu arrependimento. E não pensem: ‘Temos Abraão como nosso pai’. Eu lhes digo que YHWH, o seu, Elohim, pode fazer surgir filhos de Abraão até destas pedras.”
“E já, também, o machado já está posto à raiz das árvores. Toda árvore que não produz bons frutos será cortada e lançada ao fogo.”
Então, as multidões o interrogavam, dizendo: “Que faremos, pois?”
João respondeu à multidão: “Quem tiver duas túnicas, dê uma a quem não tem. Quem tiver comida, faça o mesmo.”
Publicanos, buscando o batismo, perguntaram: “Mestre, o que devemos fazer?”
João lhes disse: “Não cobrem mais do que o estipulado.”
Soldados também perguntaram: “E nós, o que faremos?”
João respondeu: “Não maltratem nem acusem falsamente ninguém, e contentem-se com o seu salário.”
A expectativa do povo crescia, e muitos questionavam em seus corações se João seria o Cristo.
João, ciente de seus pensamentos, declarou a todos: “Eu os batizo com água, mas aquele que vem depois de mim é mais poderoso, e não sou digno sequer de desatar as correias de suas sandálias. Ele os batizará com o Espírito Santo e com fogo.”
“Ele já tem a pá em sua mão, com ela, limpará sua eira, juntando o trigo no celeiro e queimando a palha em fogo que não se apaga.”
João proclamava as boas novas, e muitas outras coisas em sua exortação, evangelizava o povo.
Herodes Antipas, o tetrarca, foi repreendido por João devido à Herodias, esposa de seu irmão Filipe, e por todas as suas maldades.
Além de todas as suas iniquidades, Herodes acrescentou uma a mais, lançando João na prisão.
Quando todo o povo foi batizado, Jesus também o foi. Enquanto Ele orava, o céu se abriu e o Espírito Santo desceu sobre Ele em forma corporal, como uma pomba.
E uma voz vinda do céu disse: “Tu és o Meu Filho amado, em Ti me comprazo.”
O Poder do Logos, Yeshua, tinha cerca de trinta anos quando manifestou plenamente seu ministério, um Poder emanado diretamente da Luz Primordial, gerado do Inefável PAI, o Único.
Sua verdadeira genealogia não se traça pelas linhagens terrenas de homens, sujeitas à corrupção dos Arcontes, mas sim pela linhagem do Conhecimento, transmitida desde o princípio da humanidade.
Desde Adão, a chama da Gnose foi confiada à linhagem de Seth, o filho puro, que a preservou através das eras, antes e depois do grande dilúvio.
Este conhecimento primordial, a verdade sobre o PAI e os Aeons, manteve-se vivo em poucos corações, guardado por aqueles que resistiram à influência das trevas.
Contudo, a partir dos descendentes de Shem, o Conhecimento original começou a ser obscurecido pelos Arcontes e gradualmente perdido pela maioria da humanidade, ficando restrito a pouco, como os Essênios, que se esforçaram para preservar a pureza da Gnose em meio à crescente ignorância do mundo.
Capítulo 4
Jesus, Ora, Jesus, cheio do Espírito Santo, voltou proveniente-de-junto-do Jordão e, por ação do Espírito Santo, era levado para dentro do deserto.
Por quarenta dias, Jesus foi provado por Belial, e durante esse período, não comeu nada. Ao final desses dias, Jesus sentiu fome.
E lhe disse Belial: “Se, filho do PAI, tu és, dize a esta pedra que se transforme em pão.”
E Jesus lhe respondeu, dizendo: “Está escrito: ‘Não somente de pão viverá o homem.’ Mas de toda a Palavra que procede da boca do PAI, da qual sou o Poder do Logos e o verdadeiro Pão da Vida.”
E Belial, havendo-o guiado para um alto monte, lhe mostrou todos os reinos do mundo, em um momento de tempo.
E lhe disse Belial: “A Ti darei toda autoridade e a glória deles, porque a mim ela tem sido entregue. E, a todo e qualquer homem que eu queira, a dou.”
“Tudo isso será Teu se te prostrares em adoração diante de mim.”
E, havendo-lhe respondido, disse Jesus: “Vai-te para trás de mim, Belial! Porque está escrito: Adorarás YHWH, o teu, Elohim, e somente a Ele prestarás culto.”
Belial levou-o a Jerusalém, onde O fez postar-se sobre o pináculo do Templo, dizendo-lhe: “Se és Filho do PAI, lança-te daqui abaixo.”
“Pois está escrito que Ele dará ordens aos seus anjos a teu respeito, para que te guardem.
“Para que Te sustentem em suas mãos, e assim Teu pé nunca tropece em pedra alguma.”
Jesus, em resposta, disse: “Está escrito: Não tentarás YHWH, o teu, Elohim.”
Tendo Belial concluído toda a sua tentação a Jesus, ele se afastou dele por um tempo.
Jesus retornou à Galileia, movido pelo Espírito Santo, e Sua fama se espalhou por toda a região circunvizinha.
Ele ensinava nas sinagogas deles, sendo glorificado por todos.
Ele foi à Nazaré, onde havia crescido. Como de costume, foi à sinagoga no Shabat e levantou-se para fazer a leitura.
Foi-lhe entregue o livro do profeta Isaías. Ao desenrolá-lo, encontrou a passagem onde estava escrito: “O Espírito do PAI está sobre mim, pois Ele Me ungiu para anunciar o evangelho aos pobres e Me enviou para curar os de coração quebrantado. Para proclamar liberdade aos cativos, restaurar a vista aos cegos, libertar os oprimidos e anunciar o ano aceitável de YHWH.”
Após enrolar o pergaminho, ele o devolveu ao servidor e sentou-se. Todos na sinagoga tinham os olhos fixos nele.
Então, Jesus falou: “Hoje foi cumprida esta Escritura que está nos vossos ouvidos.”
Todos testemunhavam a Seu favor e se admiravam com as palavras de graça que saíam de Sua boca, questionando: “Não é este o filho de José?”
Ele então, lhes disse: “Certamente vocês me dirão este provérbio: ‘Médico, cure-se a ti mesmo’. Tudo o que ouvimos ter sido feito em Cafarnaum, faça-o também aqui, em sua própria cidade natal.”
Disse Ele, ademais: “Em verdade vos digo que nenhum profeta é bem recebido na própria terra.”
“Em verdade vos digo que muitas viúvas existiam em Israel nos dias de Elias, quando o céu se cerrou por três anos e seis meses, de sorte que em toda a terra houve grande fome.”
“A nenhuma delas foi enviado Elias, senão a Serepta de Sidom, a uma mulher viúva.
E muitos leprosos havia em Israel no tempo do profeta Eliseu, e nenhum deles foi purificado, senão Naamã, o siro.
E todos, na sinagoga, ouvindo estas coisas, se encheram de ira.
E, levantando-se, o expulsaram da cidade, e o levaram até o cume do monte onde a cidade deles estava edificada, para dali o precipitarem.
Ele, porém, passando pelo meio deles, retirou-se.
E desceu a Cafarnaum, cidade da Galileia, e os ensinava nos Shabat.
E admiravam a sua doutrina porque a sua palavra era com autoridade.
Na sinagoga, havia um homem possuído por um demônio imundo. Ele gritou: “Ah! O que queres conosco, Jesus de Nazaré? Vieste para nos destruir? Sei quem tu és: o Sagrado do Único.”
E Jesus o repreendeu, dizendo: “Cala-te, e sai dele.”
E o demônio, lançando-o por terra no meio do povo, saiu dele sem lhe fazer mal.
Todos ficaram admirados e comentavam: “Que tipo de palavra é essa? Ele expulsa os espíritos imundos com autoridade e poder, e eles obedecem!”
E a sua fama divulgava-se por todos os lugares, em redor daquela região.
Ao sair da sinagoga, Jesus dirigiu-se à casa de Simão.
Lá, a sogra de Simão estava acamada, com febre alta, e pediram a Jesus que a ajudasse.
E, inclinando-se para ela, repreendeu a febre, e a deixou. E ela, levantando-se logo, servia-os.
E, ao pôr do sol, todos os que tinham enfermos de várias doenças lhos traziam. E, pondo as mãos sobre cada um deles, os curava.
E também de muitos saíam demônios, clamando e dizendo: “Tu és o Cristo, o Filho do Único.”
E ele, repreendendo-os, não os deixava falar, pois sabiam que ele era o Cristo.
E, sendo já dia, saiu, e foi para um lugar deserto e a multidão o procurava, e chegou junto dele e o detinham, para que não se ausentasse deles.
Ele, porém, lhes disse: “Também a outras cidades me é necessário pregar as boas-novas que anunciam o reinar do PAI Supremo, porque para isso tenho eu sido enviado. A plenitude dos mistérios do Reino, contudo, e a Gnose profunda são reveladas somente aos escolhidos e àqueles que buscam e se tornam dignos.”
E pregava nas sinagogas da Galileia.
Capítulo 5
Certa vez, quando a multidão apertava Jesus para ouvir suas palavras, ele estava junto ao lago de Genesaré.
E viu dois barcos junto à praia do lago; mas os pescadores haviam descido deles, e estavam lavando as redes.
Entrando ele num dos barcos, que era o de Simão, pediu-lhe que o afastasse um pouco da terra; e, sentando-se, ensinava do barco as multidões.
Quando acabou de falar, disse a Simão: Faze-te ao largo e lançai as suas redes para a pesca.
Ao que disse Simão: “Mestre, trabalhamos a noite toda, e nada apanhamos; mas, sobre tua palavra, lançarei as redes.”
Feito isto, apanharam uma abundância de peixes, de modo que as redes se rompiam.
Acenaram então aos companheiros que estavam no outro barco, para virem ajudá-los. Eles, pois, vieram, e encheram ambos os barcos, de maneira tal que quase iam a pique.
Vendo isso, Simão Cefas prostrou-se aos pés de Jesus, dizendo: “Retira-te de mim, Senhor, porque sou um homem pecador.”
Pois, à vista da pesca que haviam feito, o espanto se apoderara dele e de todos os que com ele estavam, bem como de Tiago e João, filhos de Zebedeu, que eram sócios de Simão.
Disse Jesus a Simão: “Não temas! De agora em diante, serás pescador de homens.”
E, levando os barcos para a terra, deixaram tudo e o seguiram.
Estando ele numa das cidades, apareceu um homem cheio de lepra que, vendo a Jesus, prostrou-se com o rosto em terra e suplicou-lhe: “Senhor, se quiseres, bem podes tornar-me limpo.”
Jesus, pois, estendendo a mão, tocou-lhe, dizendo: “Quero! Fique limpo.” No mesmo instante, desapareceu dele a lepra.
Ordenou-lhe, então, que ele a ninguém contasse isto.
Então disse ele: “Mas vai, mostra-te ao sacerdote e faze a oferta pela tua purificação, conforme Moisés determinou, para lhes servir de testemunho.”
A sua fama, porém, se divulgava cada vez mais, e grandes multidões se ajuntavam para ouvi-lo e serem curadas das suas enfermidades.
Mas ele se retirava para os desertos, e ali orava.
Um dia, quando ele estava ensinando, achavam-se ali sentados fariseus e doutores da Lei, que haviam vindo de todas as aldeias de Galileia e de Judeia, e de Jerusalém. O Poder do PAI estava com ele para curar.
E eis que uns homens, trazendo um paralítico num leito, procuravam introduzi-lo e pô-lo diante dele.
Mas, não achando por onde o pudessem introduzir devido à multidão, subiram ao terraço e, por entre as telhas, o baixaram com o leito, para o meio de todos, diante de Jesus.
Percebendo a fé que possuíam, Jesus declarou: “Homem, os seus pecados estão perdoados.”
Então, os mestres da Lei e os fariseus começaram a arrazoar, dizendo: “Quem é este que profere blasfêmias? Quem pode perdoar pecados, senão só YHWH?”
Jesus, porém, percebendo os seus pensamentos, respondeu, e disse-lhes: “Por que cogitais em seus corações?”
“Qual é mais fácil? Dizer: ‘Estão perdoados os teus pecados.’ ou dizer: ‘Levanta-te, e anda’?”
“Ora, para que saibais que o Filho do homem tem sobre a terra autoridade para perdoar pecados (disse ao paralítico), a ti te digo: ‘levanta-te, toma o teu leito e vai para tua casa’.”
Imediatamente se levantou diante deles, tomou o leito em que estivera deitado e foi para sua casa, glorificando o Salvador.
E, tomados de espanto, todos glorificavam ao PAI; e diziam, cheios de temor: “Hoje vimos coisas extraordinárias.”
Depois disso, saiu e, vendo um coletor de impostos chamado Levi, sentado na coletoria, disse-lhe: “Segue-me.”
Este, deixando tudo, levantou-se e o seguiu.
Deu-lhe então Levi um abundante banquete em sua casa. Havia ali grande número de coletores de impostos e outros que estavam com eles à mesa.
Murmuravam, pois, os fariseus e seus mestres da Lei contra os discípulos, perguntando: “Por que comeis e bebeis com coletores de impostos e pecadores?”
Respondeu-lhes Jesus: “Não necessitam de médico os sãos, mas sim os enfermos, eu não vim chamar justos, mas pecadores, ao arrependimento.”
Disseram-lhe eles: “Os discípulos de João jejuam frequentemente e fazem orações, como também os dos fariseus, mas os teus comem e bebem.”
Respondeu-lhes Jesus: “Podeis, por acaso, fazer jejuar os convidados às núpcias enquanto o noivo está com eles?”
“Dias virão, porém, em que lhes será tirado o noivo; naqueles dias, sim hão de jejuar.”
Propôs-lhes também uma parábola: “Ninguém tira um pedaço de um vestido novo para o coser em vestido velho; do contrário, não somente rasgará o novo, mas também o pedaço do novo não condirá com o velho.”
“E ninguém acomoda vinho novo em odres velhos; do contrário, o vinho novo romperá os odres e se derramará, e os odres se perderão.”
“Mas vinho novo deve ser acomodado em odres novos. E ninguém, tendo bebido o velho, quer o novo; porque diz: ‘O velho é bom’.”
Capítulo 6
E aconteceu que, num dia de Shabat, passava Jesus pelas searas e seus discípulos iam colhendo espigas e, debulhando-as com as mãos, as comiam.
Alguns dos fariseus, porém, perguntaram: “Por que estais fazendo o que não é lícito fazer nos Shabat?”
E Jesus, respondendo-lhes, disse: “Nem ao menos tens lido o que fez Davi quando teve fome, ele e seus companheiros?”
“Como entrou na casa dos Elohim, tomou os pães da mesa de YHWH, dos quais não era lícito comer senão só aos sacerdotes, e deles comeu e deu também aos companheiros?”
Também lhes disse: “O Filho do homem é Senhor do Shabat.”
Ainda em outro Shabat entrou na sinagoga, e pôs-se a ensinar. Estava ali um homem que tinha a mão direita atrofiada.
E os Mestres da Lei e os fariseus observavam-no, para ver se curaria em dia de Shabat, para acharem de que o acusar.
Mas ele, conhecendo-lhes os pensamentos, disse ao homem que tinha a mão atrofiada: “Levanta-te, e fica em pé aqui no meio.” E ele, levantando-se, ficou em pé.
Disse-lhes, então, Jesus: “Eu vos pergunto: É lícito no Shabat fazer bem, ou fazer mal? Salvar a vida, ou tirá-la?”
E olhando para todos em redor, disse ao homem: “Estende a tua mão.” Ele assim o fez, e a mão lhe foi restabelecida.
Mas eles se encheram de furor; e uns com os outros conferenciavam sobre o que fariam a Jesus.
Naqueles dias, retirou-se para o monte a fim de orar e passou a noite toda em oração ao PAI Supremo.
Depois do amanhecer, chamou seus discípulos, e escolheu doze dentre eles, aos quais deu também o nome de apóstolos: “Simão, ao qual também chamou Cefas, e André, seu irmão; Tiago Maior e João; Bartolomeu; Mateus e Judas Tomé; Filipe, Tiago Menor, e Simão, chamado Zelote; Judas Tadeu, filho de Alfeu; e Judas Iscariotes.
E Jesus, descendo com eles, parou num lugar plano, onde havia não só grande número de seus discípulos, mas também grande multidão do povo, de toda Judeia e Jerusalém, e do litoral de Tiro e de Sidom, que haviam vindo para ouvi-lo e serem curadas das suas doenças.
E os que eram atormentados por espíritos imundos ficavam curados.
E toda a multidão procurava tocar-lhe; porque saía dele poder que curava a todos.
Então, levantando os olhos para os seus discípulos, dizia: “Bem-aventurados vós, os pobres, porque vosso é o reino de YHWH, o seu, Elohim.”
“Bem-aventurados vós, que agora tendes fome, porque sereis fartos.”
“Bem-aventurados vós, que agora chorais, porque haveis de rir.”
“Bem-aventurados sereis quando os homens vos odiarem, e quando vos expulsarem da sua companhia, e vos injuriarem, e vos difamarem, devido ao Filho do homem.”
“Alegrai-vos nesse dia e exultai, porque eis que é grande o vosso galardão no céu; pois assim faziam os seus pais aos profetas.”
“Mas ai de vós que sois ricos! Porque já recebestes a vossa consolação.”
“Ai de vós, os que agora estais fartos! Porque tereis fome.”
“Ai de vós, os que agora rides! Porque vos lamentareis e chorareis.”
“Ai de vós, quando todos os homens vos louvarem! Porque assim faziam os seus pais aos falsos profetas.”
“Mas a vós que ouvistes, digo: amai os inimigos de vocês, fazei bem aos que vos odeiam.”
“Bendizei aos que vos maldizem, e orai pelos que vos caluniam.”
“Ao que te ferir numa face, oferece-lhe também a outra, isto é: não comece uma briga.”
“E, ao que te houver tirado a capa, não lhe negues também a túnica.”
“Dá a todo o que te pedir e ao que tomar o que é teu, não reclame.”
“Assim como quereis que os homens vos façam, do mesmo modo lhes fazeis também.”
“Se amardes aos que vos amam, que mérito há nisso? Pois também os pecadores amam aos que os amam.”
“E se fizerdes bem aos que vos fazem bem, que mérito há nisso? Também os pecadores fazem o mesmo.”
“E se emprestardes àqueles de quem esperais receber, que mérito há nisso? Também os pecadores emprestam aos pecadores, para receberem outro tanto.”
“Amai, porém o inimigos de vocês, fazei bem e emprestai, nunca desanimado. E grande será a vossa recompensa nesse mundo, e sereis filhos de El-Elyon (Yaldabaoth); porque ele é benigno até para com os ingratos e maus.”
“Sejam misericordiosos, como também o PAI de vocês é misericordioso.”
“Não julgueis, e não sereis julgados; não condeneis, e não sereis condenados; perdoai, e sereis perdoados.”
“Dai, e vos será dado, boa medida, recalcada, sacudida e transbordando, vos deitarão no regaço. Porque, com a mesma medida com que medis, vos medirão a vós.”
Então, Yeshua propôs-lhes também uma parábola: “Pode por acaso um cego guiar outro cego? Não cairão ambos no abismo?”
“Não é o discípulo mais do que o seu Mestre! Mas todo o que for bem instruído será como o seu Mestre.”
“Por que vês o cisco no olho de teu irmão, e não reparas na trave que está no teu próprio olho?”
“Ou como podes dizer a teu irmão: ‘Irmão, deixa-me tirar o cisco que está no teu olho,’ não vendo tu mesmo a trave no teu? Hipócrita! Tira primeiro a trave do teu olho! E então verás bem para tirar o cisco que está no olho de teu irmão.”
“Porque não há árvore boa que dê mau fruto nem tampouco árvore má que dê bom fruto.”
“Porque cada árvore se conhece pelo seu próprio fruto; pois dos espinheiros não se colhem figos, nem dos abrolhos se ceifam uvas.”
“O homem bom, do bom tesouro do seu coração, tira o bem. E o homem mau, do seu mau tesouro, tira o mal, pois do que há em abundância no coração, disso fala a boca.”
“E por que me chamais: Senhor, Senhor, e não fazeis o que eu vos digo?”
“Todo aquele que vem a mim, e ouve as minhas palavras, e as poem em prática, eu vos mostrarei a quem é semelhante.”
“É semelhante ao homem que, edificando uma casa, cavou, abriu profunda vala, e pôs os alicerces sobre a rocha e, vindo a enchente, bateu com ímpeto a torrente naquela casa, e não a pôde abalar, porque havia sido bem edificada.”
“Mas o que ouve e não pratica é semelhante a um homem que edificou uma casa sobre a terra, sem alicerces, na qual bateu com ímpeto a torrente, e logo caiu. E foi grande a ruína daquela casa.”
Capítulo 7
Quando acabou de proferir estas palavras aos ouvidos do povo, Jesus entrou em Cafarnaum.
E um servo de certo centurião, de quem era muito estimado, estava doente, quase à morte.
O centurião, pois, ouvindo falar de Jesus, enviou-lhes uns anciãos dos judeus, a pedir-lhe que viesse curar o seu servo.
E chegando eles junto de Jesus, pediam-lhe com instância, dizendo: “É digno que lhe conceda isto. Porque ama à nossa nação, e ele mesmo nos edificou a sinagoga.”
Ia, pois, Jesus com eles; mas, quando já estava perto da casa, enviou o centurião uns amigos a dizer-lhe: “Senhor, não te incomode, porque não sou digno que entres debaixo do meu telhado.”
“Por isso, nem ainda me julguei digno de ir à tua presença; diz, porém, uma palavra, e seja o meu servo curado.”
“Pois também sou homem sujeito à autoridade, e tenho soldados às minhas ordens; e digo a este: ‘Vai, e ele vai’; e a outro: ‘Vem, e ele vem’; e ao meu servo: ‘Faze isto, e ele o faz’.”
Jesus, ouvindo isso, admirou-se dele e, voltando-se para a multidão que o seguia, disse: “Eu vos afirmo que nem mesmo em Israel encontrei tamanha fé.”
E voltando para casa, os que haviam sido enviados, encontraram o servo com saúde.
Pouco depois, seguiu-o, viagem para uma cidade chamada Naim; e iam com ele seus discípulos e uma grande multidão.
Quando chegou perto da porta da cidade, eis que levavam para fora um defunto, filho único de sua mãe, que era viúva e com ela ia uma grande multidão da cidade.
Logo que o Salvador a viu, encheu-se de compaixão por ela, e disse-lhe: “Não chores.”
Então, chegando-se, tocou no esquife e, quando pararam os que o levavam, disse: “Moço, a ti te digo: levanta-te.”
O que estivera morto sentou-se e começou a falar. Então, Jesus o entregou à sua mãe.
O medo se apoderou de todos, e glorificavam ao PAI, dizendo: “Um grande profeta se levantou entre nós; e: o PAI visitou o seu povo.”
E correu a notícia disto por toda Judeia e por toda a região circunvizinha.
Ora, os discípulos de João anunciaram-lhe estas coisas.
E João, chamando a dois deles, enviou-os ao Salvador para perguntar-lhe: “És tu aquele que havia de vir, ou havemos de esperar outro?”
Quando aqueles homens chegaram junto dele, disseram: “João, o Batista, enviou-nos a perguntar-te: “És tu aquele que havia de vir, ou havemos de esperar outro?”
Naquela mesma hora, curou a muitos de doenças, de moléstias e de espíritos malignos; e deu vista a muitos cegos.
Então, lhes respondeu: “Ide, e contai a João o que tens visto e ouvido: os cegos veem, os coxos andam, os que tem lepra são purificados, e os surdos ouvem; os mortos são ressuscitados, e aos pobres são anunciadas as Boas Novas.”
E bem-aventurado aquele que não se escandalizar de mim.
E, tendo-se retirado os mensageiros de João, Jesus começou a dizer às multidões a respeito de João: “Que saístes a ver no deserto? Um caniço agitado pelo vento?”
“Mas que saístes a ver? Um homem trajado de vestes luxuosas? Eis que aqueles que trajam roupas preciosas, e vivem em delícias, estão entre os reis.”
“Mas que saístes a ver? Um profeta? Sim, vos digo, e muito mais do que profeta.”
“Este é aquele de quem está escrito: ‘Eis aí envio ante a tua face, o meu mensageiro, que há de preparar adiante de ti o teu caminho’.”
“Pois eu vos digo que, entre os nascidos de mulher, não há nenhum maior do que João; mas aquele que é o menor no reino de Yaldabaoth (e seu, Elohim) é maior do que ele.”
“E todo o povo que o ouviu, e até os coletores de impostos, reconheceram a justiça de Yaldabaoth (e seu, Elohim), recebendo o batismo de João.”
“Mas os fariseus e os doutores da Lei rejeitaram o conselho de Yaldabaoth (e seu, Elohim) quando a si mesmos, não sendo imersos por ele.”
“A que, pois, compararei os homens desta geração, e a que são semelhantes?”
“São semelhantes aos meninos que, sentados nas praças, gritam uns para os outros: ‘Tocai-vos flauta, e não dançastes, cantamos lamentações, e não chorastes’.”
“Porquanto veio João, o Batista, não comendo pão nem bebendo vinho, e dizeis: ‘Tem demônio’.”
“Veio o Filho do homem, comendo e bebendo, e dizeis: ‘Eis aí um comilão e bebedor de vinho, amigo de coletores de impostos e pecadores’. Mas a Sophia é justificada por seus filhos.”
Um dos fariseus convidou-o para comer com ele e entrando na casa do fariseu, reclinou-se à mesa.
E eis que uma mulher pecadora que havia na cidade, quando soube que ele estava à mesa na casa do fariseu, trouxe um vaso de alabastro com bálsamo.
E estando por detrás, dos seus pés, chorando, começou a regar-lhe os pés com lágrimas e os enxugava com os cabelos da sua cabeça e beijava-lhe os pés e ungia-os com o bálsamo.
Mas, ao ver isso, o fariseu que o convidara falava consigo, dizendo: “Se este homem fosse profeta, saberia quem e de que qualidade é essa mulher que o toca, por ser uma pecadora.”
E respondendo Jesus, disse-lhe: “Simão, tenho uma coisa a dizer-te.”
“Respondeu Simão a ele: “Dize-a, Mestre.”
“Certo credor tinha dois devedores; um lhe devia quinhentas moedas, e outro cinquenta. Não tendo eles com que pagar, perdoou a ambos. Qual deles, pois, o amará mais?”
Respondeu Simão: “Suponho que seja aquele a quem mais perdoou.”
Replicou-lhe Jesus: “Julgaste bem.”
E, voltando-se para a mulher, disse a Simão: “Vês tu esta mulher? Entrei em tua casa, e não me deste água para os pés; mas esta com suas lágrimas os regou e com seus cabelos os enxugou.”
“Não me deste beijo, ela, porém, desde que entrou, não tem cessado de beijar-me os pés.”
“Não me ungiste a cabeça com óleo; mas esta com bálsamo, ungiu-me os pés.”
“Por isso te digo: ‘Perdoados lhe são os pecados, os quais são muitos. Porque ela muito amou, mas aquele a quem pouco se perdoa, pouco ama.”
E disse a ela: “Perdoados são os teus pecados.”
Mas os que estavam com ele à mesa começaram a dizer entre si: “Quem é este que até perdoa pecados?”
Jesus, porém, disse à mulher: “A tua fé te salvou; vai-te com a paz.”
Capítulo 8
Depois disso, andava Jesus de cidade em cidade, e de aldeia em aldeia, pregando e anunciando as Boas Novas do reino do PAI Supremo; e iam com ele os doze.
Bem como algumas mulheres que haviam sido curadas de espíritos malignos e de enfermidades: Maria, chamada Madalena, da qual haviam saído sete demônios.
Joana, mulher de Cuza, procurador de Herodes, Marta, e muitas outras que os serviam com os seus bens.
Ora, ajuntando-se uma grande multidão, e vindo ter com ele gente de todas as cidades.
Disse Jesus por parábola: “Saiu o semeador a semear a sua semente. E quando semeava, uma parte da semente caiu à beira do caminho e pisada, e as aves do céu a comeram.”
“Outra caiu sobre pedra e, nascida, secou-se porque não havia umidade. E outra caiu no meio dos espinhos, e crescendo com ela, os espinhos sufocaram-na.”
“Mas outra caiu em boa terra e, nascida, produziu fruto, cem por um.”
Dizendo ele estas coisas, clamava: “Quem tem ouvidos para ouvir, ouça.”
Perguntaram-lhe então seus discípulos o que significava essa parábola.
Respondeu ele: “A vós é dado conhecer os mistérios do reino do PAI, mas aos outros se fala por parábolas; para que, vendo, não vejam, e ouvindo, não entendam.
“É, pois, esta a parábola: A semente é a palavra do PAI. Os que estão à beira do caminho são os que ouvem; mas logo vem o Acusador e tira-lhe do coração a palavra, para não acontecer que, crendo, sejam salvos.”
“Os que estão sobre a pedra são os que, ouvindo a palavra, a recebem com alegria, mas estes não têm raiz, somente creem por algum tempo, mas na hora da provação se desviam.”
“A parte que caiu entre os espinhos são os que ouviram e, seguindo seu caminho, são sufocados pelos cuidados, riquezas, e prazeres desta vida e não dão fruto com perfeição.”
“Mas a semente que caiu em boa terra são os que, ouvindo a palavra com coração reto e bom, a retêm e dão fruto com perseverança.”
“Ninguém, ao acender uma lâmpada e a cobre com algum vaso, ou a põe debaixo da cama, mas põe no velador, para que os que entram vejam a luz.”
Jesus disse: “Reconheça o que está diante de teus olhos, e o que está oculto a ti será desvelado. Pois não há nada oculto que não seja manifesto.”
“Portanto, prestem atenção em como ouvem; pois a quem tem, mais será dado, e a quem não tem, até o que pensa possuir lhe será tirado.”
Vieram, então, ter com ele sua mãe e seus irmãos, e não podiam aproximar-se dele devido à multidão.
Foi-lhe dito: “Tua mãe e teus irmãos estão lá fora, e querem ver-te.”
Ele, porém, lhes respondeu: “Minha mãe e meus irmãos são estes que ouvem a palavra do PAI e a observam.”
Ora, aconteceu certo dia que entrou num barco com seus discípulos, e disse-lhes: “Passemos à outra margem do lago.” E partiram.
Enquanto navegavam, Jesus adormeceu. De repente, uma forte tempestade de vento abateu-se sobre o lago, e o barco começou a encher-se de água, a ponto de correr perigo.
Chegando-se a ele, o despertaram, dizendo: “Mestre, Mestre, estamos morrendo.”
Então, lhes perguntou: “Onde está a vossa fé?” E ele, levantando-se, repreendeu o vento e a fúria da água e cessaram, e fez-se bonança.
Eles, atemorizados, admiraram-se, dizendo uns aos outros: “Quem é este, que até aos ventos e a água mandam, e lhe obedecem?”
Apontaram à terra dos gerasenos, que está na frente da Galileia.
Logo que saltou em terra, saiu-lhe ao encontro um homem da província, possesso de demônios, que havia muito tempo não vestia roupa, nem morava em casa, mas nos sepulcros.
Quando ele viu a Jesus, gritou, prostrou-se diante dele, e com grande voz exclamou: “Que tenho eu contigo, Jesus, Filho do Único, o PAI? Peço-te que não me atormentes.”
Porque Jesus ordenara ao espírito imundo que saísse do homem. Pois já havia muito tempo que se apoderara dele, e guardavam-no preso com grilhões e cadeias. Mas ele, quebrando as prisões, era impelido pelo demônio para os desertos.
Perguntou-lhe Jesus: “Diga o teu nome?”
Respondeu ele: “Legião!” Pois muitos demônios o possuíam.
E pediam-lhe que não os mandasse para o abismo.
Ora, andava ali pastando no monte uma grande manada de porcos; pediram-lhe, pois, que lhes permitisse entrar neles, e Jesus os permitiu.
E tendo os demônios, saído do homem, possuíram os porcos e a manada precipitou-se pelo despenhadeiro no lago, e afogou-se.
Quando os pastores viram o que acontecera, fugiram, e foram anunciá-lo na província e nos campos.
Então saíram, para ver o que havia acontecido, e foram ter com Jesus, a cujos pés acharam sentado, vestido e em perfeito juízo, o homem de quem haviam saído os demônios; e se aterrorizaram.
Os que haviam visto aquilo contaram-lhes como fora curado o endemoniado.
Então, todo o povo da região dos gerasenos solicitou-lhe que se retirasse deles, porque estavam possuídos de grande medo. Pois ele entrou no barco, e voltou.
Pedia-lhe, porém, o homem de quem haviam saído os demônios, que o deixasse estar com ele.
Mas Jesus despediu, dizendo: “Volta para tua casa, e conta tudo quanto o PAI Supremo te fez.” E ele se retirou, proclamando por toda a cidade tudo quanto Jesus lhe fizera.
Quando Jesus voltou, a multidão o recebeu, porque todos o estavam esperando.
E eis que veio um homem chamado Jairo, que era chefe da sinagoga; e prostrando-se aos pés de Jesus, pedia-lhe que fosse à sua casa.
Porque tinha uma filha única, chamada Semida, com cerca de doze anos, que estava à morte.
Enquanto, pois, ele estava a caminho, apertavam-no as multidões e uma mulher chamada Verônica, que tinha uma hemorragia havia doze anos e gastara com os médicos todos os seus haveres e por ninguém pudera ser curada.
Chegando-se por detrás, tocou-lhe a franja do manto, e cessou imediatamente a sua hemorragia.
Perguntou Jesus: “Quem é que me tocou?”
Como todos negassem, disse-lhe Simão Cefas: “Mestre, as multidões te apertam e te empurram.”
Mas disse Jesus: “Alguém me tocou; pois percebi que de mim emanou Poder.”
Então, vendo a mulher que não passara despercebida, aproximou-se tremendo e, prostrando-se diante dele, declarou-lhe perante todo o povo a causa por que lhe havia tocado, e como fora imediatamente curada.
Disse-lhe ele: “Filha, a tua fé te salvou; vai-te em paz.”
Enquanto ainda falava, veio alguém da casa do chefe da sinagoga dizendo: “A tua filha já está morta; não incomode mais o Mestre.”
Jesus, porém, ouvindo-o, respondeu-lhe: “Não temas: crê somente, e será salva.”
Tendo chegado à casa, ninguém o deixou entrar com ele, senão Cefas, João, Tiago, e Jairo, pai e a mãe da menina.
E todos choravam e pranteavam; ele, porém, disse: “Não chorem, ela não está morta, mas dorme.”
E riam-se dele, sabendo que ela estava morta.
Então ele, tomando-lhe a mão, exclamou: “Menina, levanta-te.”
E o seu espírito voltou, e ela se levantou imediatamente e Jesus solicitou que lhe desse de comer.
E seus pais ficaram maravilhados e ele ordenou-lhes que ninguém contasse o que havia acontecido.
Capítulo 9
Reunindo os doze, Jesus deu-lhes poder e autoridade sobre todos os demônios, e para curarem doenças.
E enviou-os a pregar o reino do PAI Supremo, e fazer curas.
Dizendo-lhes: “Nada leveis para o caminho, nem bordão, nem bolsa, nem pão, nem dinheiro; nem tenhais duas túnicas. Em qualquer casa em que entrardes, nela ficai, e dali partireis.”
“Mas, onde quer que não vos receba, saindo daquela cidade, sacudi o pó dos seus pés, em testemunho contra eles.”
Saindo, pois, os discípulos percorreram as aldeias, anunciando as Boas Novas e fazendo curas por toda parte.
Ora, o tetrarca Herodes soube de tudo o que se passava, e ficou muito perplexo, porque diziam uns: “João ressuscitou dos mortos.” Outros: “Elias apareceu”; e outros: “Um dos antigos profetas se levantou.”
Herodes, porém, disse: “A João mandei degolar; quem é, pois, este a respeito de quem ouço tais coisas? E procurava vê-lo.”
Quando os apóstolos voltaram, contaram-lhe tudo o que haviam feito. E ele, levando-os consigo, retirou-se à parte para uma cidade chamada Betsaida.
Mas as multidões, percebendo isto, seguiram-no; e ele as recebeu, e falava-lhes do reino do PAI, e curava os que necessitavam de cura.
Ora, quando o dia começava a declinar, aproximando-se os doze, disseram-lhe: “Despede a multidão, para que, indo às aldeias e aos sítios em redor, se hospedem, e achem o que comer; porque aqui estamos em lugar deserto.”
Mas ele lhes disse: “Dai-lhes vós de comer.”
Responderam eles: “Não temos senão cinco pães e dois peixes; salvo se formos comprar comida para este povo.”
Pois eram cerca de cinco mil homens. Então disse a seus discípulos: Fazei-os reclinar-se em grupos de cerca de cinquenta cada um.
Assim o fizeram, mandando que todos se reclinar se.
E, tomando Jesus os cinco pães e os dois peixes, e olhando para o alto, fez a bênção e partiu, e os entregava aos seus discípulos para os porem diante da multidão.
Todos, ao comerem e se fartaram, foram levantados, do que lhes sobrou, doze cestos de pedaços.
Enquanto ele estava orando à parte, achavam-se com ele somente seus discípulos; e perguntou-lhes: “Quem dizem as multidões, quem eu sou?”
Responderam eles: “Uns dizem: João, o Batista; outros: Elias; e ainda outros, que um dos antigos profetas se levantou.”
Então, lhes perguntou: “Mas vós, quem dizeis quem eu sou?”
Respondendo Simão Cefas, disse: “o Messias do PAI.”
Jesus, porém, advertindo-os, solicitou que não contassem isso a ninguém.
E disse-lhes: “É necessário que o Filho do homem exponha muitas coisas, que seja rejeitado pelos anciãos, pelos principais sacerdotes e professores da Lei, que seja morto, e que ao terceiro dia ressuscite.”
Então, Jesus disse a todos: “Se alguém quiser ser meu discípulo, deverá negar a si mesmo, carregar a sua cruz diariamente e me seguir.”
“Pois quem quiser salvar a sua vida, irá perdê-la, mas quem perder a sua vida por amor devido a mim, esse a salvará.”
“Pois, que aproveita o homem ganhar o mundo inteiro, e perder a vida?”
“Porque, quem se envergonhar de mim e das minhas palavras, dele se envergonhará o Filho do homem, quando vier na sua glória, e na do PAI e dos anjos sagrados.”
“Assim seja, eu vos digo porém que alguns há, dos que estão aqui, que de modo nenhum provarão a morte até que vejam o reino do PAI.”
“Cerca de oito dias após ter pronunciado essas palavras, tomou Jesus consigo, a Cefas, João e Tiago, e subiu ao monte para orar.”
Enquanto ele orava, mudou-se a aparência do seu rosto, e a sua roupa tornou-se branca e resplandecente.
E eis que estavam falando com ele dois homens, que eram Moisés e Elias.
Os quais apareceram com glória, e falavam da sua partida que estava para cumprir-se em Jerusalém.
Ora, Cefas e os que estavam com ele se haviam deixado vencer pelo sono, despertando, porém, viram a sua glória e os dois homens que estavam com ele.
E, quando estes se apartaram dele, disse Cefas a Jesus: “Mestre, bom é estarmos nós aqui: façamos, pois, três tendas, uma para ti, uma para Moisés, e uma para Elias.” Não sabendo ele o que dizia.
Enquanto ele ainda falava, veio uma nuvem que os cobriu; e se aterrorizaram ao entrarem na nuvem.
E da nuvem saiu uma voz vinda do céu do PAI Supremo, disse: “Este é o meu Filho amado, o meu eleito; a ele ouvi.”
Ao soar esta voz, Jesus foi achado sozinho e eles calaram-se, e por aqueles dias não contaram a ninguém nada do que haviam visto.
No dia seguinte, quando desceram do monte, veio-lhe ao encontro uma grande multidão.
E eis que um homem dentre a multidão clamou, dizendo: “Mestre, solicito-te que olhe para meu filho, porque é o único que tenho. Pois um espírito se apodera dele, fazendo-o gritar repentinamente, convulsionando-o até escumar e, mesmo após o ter quebrantado, dificilmente o larga. E solicitai aos teus discípulos que o expulsassem, mas não puderam.”
Respondeu Jesus: “Ó, geração incrédula e perversa! Até quando estarei com vocês e vos sofrerei? Traze-me cá o teu filho.”
Ainda quando ele vinha chegando, o demônio o derrubou e o convulsionou, mas Jesus repreendeu o espírito imundo, curou o menino e o entregou a seu pai.
E todos se maravilhavam com a majestade do Salvador, e admiravam-se todos de tudo o que Jesus fazia.
Disse ele a seus discípulos: “Escutem atentamente estas palavras, pois o Filho do Homem está para ser entregue nas mãos dos homens.”
Contudo, eles não conseguiam entender o que ele quis dizer com isso; o significado estava oculto para eles, de modo que não o compreendiam. E tinham receio de fazer-lhe perguntas sobre o assunto.
E suscitou-se entre eles uma discussão sobre qual deles seria o maior.
Mas Jesus, percebendo o pensamento de seus corações, tomou uma criança, pô-la junto de si.
E disse-lhes: “Qualquer que receber esta criança em meu nome, a mim me recebe e qualquer que me receber a mim, recebe aquele que me enviou, pois aquele que entre vós todos é o menor, esse é grande.”
Disse-lhe João: “Mestre, vimos um homem que em teu nome expulsava demônios; e o proibimos, porque não segue conosco.”
Respondeu-lhe Jesus: “Não o proibais; porque quem não é contra vós é por vós.”
Ora, quando se completavam os dias para a sua assunção, manifestou o firme propósito de ir a Jerusalém.
Enviou, pois, mensageiros adiante de si. Indo eles, entraram numa aldeia de samaritanos para lhe prepararem pousada.
Mas não o receberam, porque seu propósito era Jerusalém.
Vendo isto, os discípulos Tiago e João, disseram: “Mestre, queres que mandemos descer fogo do céu para os consumir como Elias também fez?”
Ele porém, voltando-se, repreendeu-os, e disse: “Vós não sabeis que espírito sois. Isto é, seu temperamento é muito ruim. Pois o Filho do Homem não veio para destruir as vidas dos homens, mas para salvá-las.”
Após dizer essas coisas, foram para outra aldeia.
Quando iam pelo caminho, disse-lhe um homem: “Te seguirei para onde quer que fores.”
Respondeu-lhe Jesus: “As raposas têm covis, e as aves do céu têm ninhos, mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça.”
E a outro disse: “Segue-me.”
Ao que este respondeu: “Permite-me ir primeiro sepultar meu pai. Isto é: cuidar do pai até a morte do mesmo.”
Replicou-lhe Jesus: “Deixa os mortos sepultar os seus próprios mortos; tu, porém, vai e anuncia o reino do PAI Supremo.”
Jesus, porém, lhe respondeu: “Ninguém que lança mão do arado e olha para trás é apto para o reino do PAI Supremo.”
Capítulo 10
Depois disso, designou o Jesus Cristo outros setenta, e os enviou adiante de si, a cada dois, a todas as cidades e lugares aonde ele havia de ir.
E dizia-lhes: “Na verdade, a lavoura é grande, mas os trabalhadores são poucos; solicitai, pois, ao PAI Supremo da lavoura que mande trabalhadores para a sua lavoura.”
“Ide; eis que vos envio como cordeiros ao meio de lobos.”
“Não leveis bolsa, nem alforge, nem sandálias; e a homem algum se junteis pelo caminho.”
“Em qualquer casa em que entrardes, dizei primeiro: ‘Paz a esta casa’.”
“Se um "filho da paz" ali residir, ou seja, se houver harmonia, a vossa paz repousará sobre ele; caso contrário, retornará a vós.”
“Ficai nessa casa, comendo e bebendo do que eles tiverem; pois digno é o trabalhador do seu sustento. Não andeis de casa em casa.”
“Também, em qualquer cidade em que entrardes, e vos receberem, comei do que puserem diante de vós.”
“Curai os enfermos que nela houver, e dizei-lhes: “É chegado a vós o reino do PAI Supremo.”
“Contudo, em qualquer cidade em que entrardes e não fordes recebidos, ao sairdes para as ruas, proclamai: ‘Até mesmo o pó de vossa cidade, que se apegou aos nossos pés, sacudimos contra vós. Todavia, sabei isto: o reino do PAI Supremo é oferecido a vós’.”
“Digo-vos que naquele dia haverá menos rigor para Sodoma e Gomorra, do que para aquela cidade.”
“Ai de ti, Corazim! Ai de ti, Betsaida! Porque, se em Tiro e em Sidom se tivessem operado os milagres que em vós se operaram, há muito, sentadas em cilício e cinza, elas teriam se arrependido.”
“Contudo, para Tiro e Sidom haverá menos rigor no juízo do que para vós.”
“E tu, Cafarnaum, que se eleva até o céu, até o Hades descerás.”
“Quem vos ouve, a mim me ouve e quem vos rejeita, a mim me rejeita; e quem a mim me rejeita, rejeita aquele que me enviou.”
Voltaram depois os setenta com alegria, dizendo: “Mestre, em teu nome, até os demônios se submetem a nós.”
Respondeu-lhes ele: “Eu via Belial, como raio, cair do céu. E eis que vos dei autoridade para pisar sobre serpentes e escorpiões, e sobre todo o poder do inimigo, e nada vos fará dano algum.”
“No entanto, não vos alegreis meramente pela submissão dos espíritos a vós, mas sim alegreis-vos porque os vossos nomes estão escritos nos céus.”
Naquela mesma hora, exultou Jesus no Espírito Santo, e disse: “Graças te dou, ó, PAI, Senhor do céu e da terra, porque ocultaste estas coisas aos sábios e entendidos, e as revelaste aos pequeninos, sim, ó, PAI, porque assim foi do teu agrado.”
“Todas as coisas me foram entregues por meu PAI, e ninguém conhece quem é o Filho senão o PAI, nem quem é o PAI senão o Filho, e aquele a quem o Filho o quiser revelar.”
E voltando-se para os discípulos, disse-lhes em particular: “Bem-aventurados os olhos que veem o que vocês veem. Porque eu lhes digo que muitos profetas e reis desejaram ver o que vocês veem, e não viram, e ouvir o que vocês ouvem, e não ouviram.”
E eis que se levantou certo doutor da Lei e, para o provar, disse: “Mestre, que farei para herdar a vida eterna?”
Perguntou-lhe Jesus: “Que está escrito na Lei? Como lês tu?”
Respondeu-lhe ele: “Amarás ao teu, Elohim, o seu YHWH de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todas as tuas forças e de todo o teu entendimento, e ao teu próximo como a ti mesmo.”
Tornou-lhe Jesus: Respondeste bem; faz isso, e viverás.
Ele, porém, querendo justificar-se, perguntou a Jesus: “E quem é o meu próximo?”
Jesus, prosseguindo, disse: “Um homem desceu de Jerusalém a Jericó, e caiu nas mãos de ladrões, os quais o despojaram e espancaram-no, se retiraram, deixando-o meio morto. Casualmente, descia pelo mesmo caminho certo sacerdote; e vendo-o, passou de distante. De igual modo, também um levita chegou àquele lugar, viu-o, e passou distante. Mas um samaritano, que ia de viagem, chegou perto dele e, vendo-o, encheu-se de compaixão. E, aproximando-se, atou-lhe as feridas, deitando nelas azeite e vinho; e pondo-o sobre a sua montaria, levou-o para uma estalagem e cuidou dele. No dia seguinte, tirou duas moedas, deu-os ao hospedeiro e disse-lhe: ‘Cuida dele; e tudo o que gastares a mais, eu to pagarei quando voltar’.”
Jesus continuou, questionando, disse-lhe: “Qual, pois, destes três te parece ter sido o próximo daquele que caiu nas mãos dos ladrões?”
Respondeu o doutor da Lei: “Aquele que usou de misericórdia para com ele.”
Disse-lhe Jesus: “Vai, e faz tu o mesmo.”
Enquanto viajavam, Jesus entrou em uma aldeia chamada Betânia, onde foi recebido em casa por uma mulher chamada Marta.
Tinha esta uma irmã chamada Maria, na qual, sentando-se aos pés do Mestre Salvador, ouvia a sua palavra.
Marta, por sua vez, estava atarefada com a quantidade de afazeres. Aproximou-se de Jesus e questionou: “Senhor, não te importas que minha irmã me deixe sozinha com todo o serviço? Dize-lhe que venha me ajudar.”
Respondeu-lhe Jesus Cristo: “Marta, Marta, estás ansiosa e perturbada com muitas coisas. Entretanto poucas são necessárias, ou mesmo uma só e Maria escolheu a boa parte, a qual não lhe será tirada.”
Capítulo 12
Certo dia, estava Jesus em certo lugar orando e, quando acabou, disse-lhe um dos seus discípulos: “Mestre Salvador, ensina-nos a orar, como também João ensinou aos seus discípulos?”
Ao que ele lhes disse: “Quando orardes, dizei: “Avinu Shebashamayim.”
“PAI nosso, que estás nos céus, santificado seja o teu nome; venha o teu reino. Dá-nos cada dia o nosso pão cotidiano. E perdoa-nos os nossos pecados, pois também perdoamos a todo aquele que nos deve; e não nos deixes entrar em tentação, mas salva-nos do maligno.”
Disse-lhes também: “Se um de vós tiver um amigo, e se for procurá-lo à meia-noite e lhe disser: ‘Amigo, empresta-me três pães. Pois que um amigo meu, estando em viagem, chegou a minha casa, e não tenho o que lhe oferecer’.”
“E se ele, de dentro, responder: ‘Não me incomode, já está a porta fechada, e os meus filhos estão comigo na cama, não posso levantar-me para te atender’.”
“Digo-vos que, ainda que se levante para lhes dar por ser seu amigo, todavia, devido à sua importunação, se levantará e lhe dará quantos pães ele precisar.”
“Por isso digo: ‘Peçam, e será dado a vocês; busquem, e encontrarão; batam, e a porta será aberta.”
“Pois todo o que pede, recebe; e quem busca acha; e ao que bate, se abrirá.”
“E qual o pai dentre vós que, se o filho lhe pedir pão, lhe dará uma pedra? Ou, se lhe pedir peixe, lhe dará por peixe uma serpente? Ou, se pedir um ovo, lhe dará um escorpião?”
“Se vós, pois, sendo maus, sabeis dar boas dádivas aos filhos de vocês, quanto mais dará o PAI celestial, o Espírito Santo, àqueles que lho pedirem?”
Jesus estava expulsando um demônio de um homem que impedia a fala. Quando o demônio saiu, o mudo pôde falar, e as multidões ficaram maravilhadas.
Mas alguns deles disseram: “É por Ba'al Zibul, o príncipe dos demônios, que ele expulsa os demônios.”
E outros, o testando, lhe pediam um sinal do céu.
Jesus, ciente dos pensamentos deles, declarou: “Qualquer reino dividido internamente será devastado, e uma casa em discórdia cairá.”
“Ora, pois, se Belial está dividido contra si mesmo, como subsistirá o seu reino? Pois dizeis que expulso os demônios por Ba'al Zibul.”
“E, se eu expulso os demônios por Ba'al Zibul, por quem os expulsam os filhos de vocês? Por isso, eles mesmos serão os seus juízes.”
“Mas, se é pelo dedo do PAI Supremo que eu expulso os demônios, logo é chegado a vós o reino do PAI Supremo.”
“Enquanto o homem forte e bem armado protege sua casa, seus bens permanecem em segurança.”
“Mas, sobrevindo outro mais valente do que ele, e vencendo-o, tira-lhe toda a armadura em que confiava, e reparte os seus despojos.”
“Quem não é comigo, é contra mim; e quem comigo não ajunta, espalha.”
“Ora, havendo o espírito imundo saindo do homem, anda por lugares áridos, buscando repouso, e não o encontrando, diz: ‘Voltarei para minha casa, de onde saí’. E chegando, acha-a varrida e adornada.”
“Então vai, e leva consigo outros sete espíritos piores do que ele e, entrando, habitam ali; e o último estado desse homem é pior do que o primeiro.”
“Ora, enquanto ele dizia estas coisas, certa mulher dentre a multidão levantou a voz e lhe disse: ‘Louvado seja o ventre que te gerou e os seios que te nutriram’.”
Ele, porém, respondeu: “Bem-aventurados são os que ouvem e guardam a palavra do PAI Celestial.”
Como afluíssem as multidões, começou ele a dizer: “Geração perversa é esta; ela pede um sinal; e nenhum sinal lhe dará, senão o de Jonas. Porquanto, assim como Jonas foi sinal para os ninivitas, também o Filho do Homem o será para esta geração.”
“A rainha do sul se levantará no juízo com os homens desta geração, e os condenará; porque veio dos confins da terra para ouvir a sabedoria de Salomão; e eis, aqui, quem é maior do que Salomão.”
“Os homens de Nínive se levantarão no juízo com esta geração, e a condenarão, porque se arrependeram com a pregação de Jonas, e eis aqui quem é maior do que Jonas.”
“Uma lâmpada, uma vez acesa, não é escondida ou colocada debaixo de um cesto. Pelo contrário, ela é posta em um lugar visível, para que todos que entrem possam desfrutar de sua luz.”
“Os olhos são a lâmpada do corpo. Se a sua visão for límpida, todo o seu ser estará cheio de luz. Contudo, se a sua visão for turva, todo o seu corpo estará em completa escuridão. Portanto, certifique-se de que a luz que existe em você não se transforme em trevas.”
“Assim, se o seu corpo estiver completamente cheio de luz, sem nenhuma parte em trevas, ele será totalmente iluminado, como quando uma lâmpada o envolve com seu brilho.”
Acabando Jesus de falar, um fariseu o convidou para almoçar com ele, e, havendo Jesus entrado, reclinou-se à mesa. O fariseu admirou-se, vendo que ele não se lavara antes de comer.
Ao que Jesus lhe disse: “Ora, vós, os fariseus, limpais o exterior do corpo e do prato, mas o vosso interior do copo e do prato, mas o vosso interior está cheio de rapina e maldade. Loucos! Quem fez o exterior, não fez também o inferior?”
“Dai, porém, de esmola o que está no copo e no prato, e eis que todas as coisas vos serão limpas.”
“Mas ai de vós, fariseus! Porque dais o dízimo da hortelã, e da arruda, e de toda hortaliça, e desprezais a justiça e o amor do PAI Supremo. Ora, estas coisas importavam fazer, sem deixar aquelas.”
“Ai de vós, fariseus! Porque gostais dos primeiros assentos nas sinagogas, e das saudações nas praças.”
“Ai de vós! Porque sois como as sepulturas que não aparecem, sobre as quais andam os homens sem o saberem.”
Disse-lhe, então, um dos doutores da Lei: “Mestre, quando dizes isso, também nos afrontas a nós.”
Ele, porém, respondeu: “Ai de vós também, doutores da Lei! Porque carregais os homens com fardos difíceis de suportar, e vós mesmos nem ainda com um dos seus dedos tocais nesses fardos.”
“Ai de vós! Porque edificais os túmulos dos profetas, e os pais de vocês os mataram.”
“Assim sois testemunhas e aprovais as obras dos pais de vocês, porquanto eles os mataram, e vós lhes edificais os túmulos.”
“Por isso diz também Sophia: ‘Profetas e apóstolos lhes mandarei, e eles matarão uns, e perseguirão outros’. Para que esta geração seja responsabilizada pelo sangue de todos os profetas derramado desde a fundação do mundo.”
“Desde o sangue de Abel, até o sangue de Zacarias, morto entre o altar e o Templo; sim, eu vos digo, a esta geração se pedirão contas.”
“Ai de vós, doutores da Lei! Porque tirastes a chave do conhecimento, vós mesmos não entrastes, e impedistes aqueles que entravam.”
Ao deixarem aquele local, os doutores da Lei e os fariseus passaram a insistir com vigor contra ele, além de questioná-lo sobre diversos assuntos.
Armavam-lhe ciladas, procurando pegá-lo em alguma declaração que fizesse, para terem motivo para acusá-lo.
Capítulo 13
Ajuntando-se entretanto muitos milhares de pessoas, de modo que se atropelavam uns aos outros, começou Jesus a dizer primeiro aos seus discípulos: “Tomai cuidado com o fermento dos fariseus, pois não há nada oculto que não se torne manifesto e nada escondido que não seja revelado.”
“Pois tudo o que foi dito nas trevas será ouvido na luz; e o que sussurrastes ao ouvido, em secreto, será proclamado dos telhados.”
“Eu lhes digo, meus amigos, não temam aqueles que podem matar o corpo, pois depois disso nada mais lhes podem fazer.”
“Eu lhes mostrarei a quem realmente devem temer: temam Aquele que, tendo o poder de matar, também pode lançar na Geena. Sim, a esse, eu repito, devem temer.”
“Não se vendem cinco passarinhos por dois denários? E nenhum deles está esquecido diante do PAI Supremo.”
“Mas até os cabelos da vossa cabeça estão todos contados. Não temais, pois mais valeis vós do que muitos passarinhos.”
“E digo-vos que todo aquele que me confessar diante dos homens, também o Filho do Homem o confessará diante dos anjos do PAI Supremo. Mas quem me negar diante dos homens, será negado diante dos anjos do PAI Supremo.”
“E a todo aquele que proferir uma palavra contra o Filho do homem, isso lhe será perdoado, mas ao que blasfemar contra o Espírito Santo, não lhe será perdoado.”
“Quando, pois, levarem a vocês às sinagogas, aos sumos sacerdotes e às autoridades, não estejais solícitos de como formular seu argumento, nem do que haveis de dizer. Porque o Espírito Santo vos ensinará na mesma hora o que deveis dizer.”
Disse-lhe alguém dentre a multidão: “Mestre, dize a meu irmão que reparte comigo a herança.”
Mas ele lhe respondeu: “Homem, quem me constituiu a mim juiz ou repartidor entre vós?”
E disse ao povo: “Tomai cuidado e guardai-vos de toda espécie de cobiça; porque a vida do homem não consiste na abundância das coisas que possui.”
Então, lhes propôs uma parábola: “Um homem rico teve uma colheita abundante em sua propriedade. Ele refletia consigo mesmo: ‘O que farei? Não tenho onde armazenar tantos frutos’.”
“E disse: ‘Farei o seguinte: derrubarei meus celeiros e construirei outros maiores, onde guardarei toda a minha colheita e meus bens. Então direi à minha alma: Alma, você tem muitos bens guardados para muitos anos; descanse, coma, beba e aproveite a vida’.”
Mas Belial lhe disse: “Insensato, esta noite te pedirão a tua alma; e o que tens preparado, para quem será?”
Assim é aquele que para si ajunta tesouros, e não é rico para com o PAI Supremo.
E disse aos seus discípulos: “Por isso vos digo, não estejais ansiosos quanto à vossa vida, pelo que haveis de comer, nem quanto ao corpo, pelo que haveis de vestir. Pois a vida é mais do que o alimento, e o corpo mais do que a vestimenta.”
“Considerai os corvos, que não semeiam nem ceifam; não têm despensa nem celeiro; contudo, Yaldabaoth os alimenta. Quanto mais, não valeis vós do que as aves!”
“Ora, qual de vós, por mais ansioso que esteja, pode acrescentar um côvado à sua estatura?”
“No entanto, se não podeis fazer nem as coisas mínimas, por que estais ansiosos pelas outras?”
“Considerai os lírios, como crescem; não trabalham, nem fiam; contudo vos digo que nem mesmo Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como um deles.”
“Se, pois, Yaldabaoth assim veste a erva que hoje está no campo e amanhã é lançada no forno, quanto mais vós, homens de pouca fé?”
“Não procureis, pois, o que haveis de comer, ou o que haveis de beber, e não andeis preocupados.”
“Porque a estas coisas os povos do mundo procuram; mas o PAI de vocês sabe que precisais delas.”
“Buscai antes o reino do PAI Supremo, e estas coisas vos serão acrescentadas.”
“Não temas, ó, pequeno rebanho! Porque ao PAI de vocês agradou dar-vos o reino.”
“Vendei o que possuís, e dai esmolas. Fazei para vós bolsas que não envelheçam; tesouro nos céus que jamais acabe, aonde não chega ladrão e a traça não rói.”
“Porque, onde estiver o vosso coração e sua mente, aí estará também o vosso tesouro.”
“Permaneçam vigilantes, com as vestes prontas e as lâmpadas acesas. Sejam como servos que aguardam o retorno do seu Senhor Salvador de uma festa de casamento, para que, ao chegar e bater, possam prontamente abrir-lhe a porta.”
“Bem-aventurados os servos que o Senhor Salvador encontrar vigilantes em Sua vinda! Em verdade, e eu vos digo que Ele se cingirá, os fará sentar à mesa e, aproximando-se, os servirá.”
“Quer venha na segunda vigília, quer na terceira, bem-aventurados serão eles, se assim os achar.”
“Contudo, estai cientes: se o proprietário da residência soubesse o momento da chegada do ladrão, permaneceria vigilante e não permitiria que sua casa fosse invadida.”
“Estai vós também apercebidos; porque, numa hora em que não penseis, virá o Filho do homem.”
“Então, Cefas perguntou: “Mestre, dize essa parábola a nós, ou também a todos?”
“Então, Jesus disse: “Quem é, pois, o administrador fiel e sensato a quem o Senhor confiará seus servos, para lhes dar a porção de alimento no tempo certo?”
“Bem-aventurado aquele servo a quem o seu Senhor Salvador, quando vier, achar fazendo assim. Que assim seja, e eu vos digo, que o porá sobre todos os seus bens.”
“Mas, se aquele servo disser em teu coração: ‘O meu Senhor Salvador tarda em vir; e começar a espancar os criados e as criadas, e a comer, a beber e a embriagar-se. Virá o Poder do Logos, o Cristo desse servo num dia em que não o espera, e numa hora de que não sabe, e cortá-lo ao meio, e lhe dará a sua parte com os infiéis.”
“O servo que soube a vontade do seu Senhor Salvador, e não se aprontou, nem fez conforme a sua vontade, será castigado com muitos açoites. Mas o que não a soube, e fez coisas que mereciam castigo, com poucos açoites, será castigado.”
“Para quem muito é dado, muito será exigido; e de quem muito é incumbido, mais ainda será cobrado.”
“Vim lançar fogo no mundo e estou aguardando até que queime. É preciso ser batizado em uma submersão, e a minha angústia é profunda até que isso se realize!”
“Achais que vim para trazer paz à terra? De modo nenhum, eu vos digo, antes, discórdia.”
“Pois daqui em diante estarão cinco pessoas numa casa divididas, três contra duas, e duas contra três. Estarão divididos: pai contra filho, e filho contra pai; mãe contra filha, e filha contra mãe; sogra contra nora, e nora contra sogra.”
“Dizia também às multidões: ‘Quando vedes subir uma nuvem do ocidente, logo dizeis: Lá vem chuva; e assim acontece’.”
“E, quando notais a vinda do vento sul, dizeis: Haverá calor; e assim sucede.”
“Hipócritas, sabeis discernir a face da terra e do céu; como não sabeis então discernir este tempo?”
“E por que não julgais também por vós mesmos o que é justo?”
“Quando, pois, vais com o teu adversário ao magistrado, procura negociar com ele no caminho e se livrar; para não acontecer que ele te arraste ao juiz, e o juiz te entregue ao oficial, e o oficial te lance na prisão. Digo-te que não sairás dali enquanto não pagares a última moeda.”
Capítulo 14
Naquela mesma ocasião, algumas pessoas informaram Jesus sobre os galileus que Pilatos havia matado, misturando o sangue deles com os sacrifícios que ofereciam.
Jesus lhes respondeu: “Vocês pensam que aqueles galileus eram pecadores maiores que todos os outros galileus, por sofrerem tal coisa? Não, eu lhes digo; mas se não se arrependerem, todos vocês perecerão da mesma forma.”
“Ou pensais que aqueles dezoito, sobre os quais caiu a torre de Siloé e os matou, foram mais culpados do que todos os outros habitantes de Jerusalém? Não, eu vos digo; antes, se não vos arrependerdes, todos de igual modo morrereis.”
E passou a narrar esta parábola: “Certo homem tinha uma figueira plantada na sua vinha; e foi procurar fruto nela, e não o achou.”
“Disse então ao viticultor: ‘Eis que há três anos venho procurando fruto nesta figueira, e não o acho; corte-a; para que ocupa ela ainda a terra inutilmente’?”
Respondeu-lhe ele: “Senhor, permita que ela permaneça por mais este ano. Vou cavar ao redor dela e adubar o solo. Se no futuro ela produzir frutos, que assim seja; caso contrário, então tu a cortarás.”
Jesus estava ensinando numa das sinagogas no Shabat.
E estava ali uma mulher que tinha um espírito de enfermidade havia já dezoito anos e andava encurvada, e não podia de modo algum se endireitar.
Vendo-a, Jesus chamou-a, e disse-lhe: “Mulher, estás livre da tua enfermidade. E impôs-lhe as mãos e imediatamente ela se endireitou, e glorificava ao Salvador.
Então, o chefe da sinagoga, indignado porque Jesus curara no Shabat, tomando a palavra, disse à multidão: “Seis dias há em que se deve trabalhar, vinde, pois, neles para serdes curados, e não no dia de Shabat.”
Respondeu-lhe, porém, o Jesus Cristo: “Hipócritas, no Shabat não desprende da manjedoura cada um de vós o seu boi, ou jumento, para o levar a beber?”
“E não devia ser solta desta prisão, no dia de Shabat, esta que é filha de Abraão, a qual há dezoito anos Belial tinha presa?”
E dizendo ele essas coisas, todos os seus adversários ficavam envergonhados e todo o povo se alegrava por todas as coisas gloriosas que eram feitas por ele.
Ele, pois, dizia: “A que é semelhante ao reino do PAI, e a que o compararei? É semelhante a um grão de mostarda que um homem tomou e lançou na sua horta, cresceu, e fez-se árvore, e em seus ramos se aninharam as aves do céu.”
E disse outra vez: “A que compararei o reino do PAI? É semelhante ao fermento que uma mulher tomou e misturou com três medidas de farinha, até ficar toda ela levedada.”
Assim, percorria Jesus as cidades e as aldeias, ensinando, e caminhando para Jerusalém.
E alguém lhe perguntou: “Mestre, são poucos os que se salvam?”
Ao que ele lhes respondeu: “Esforcem-se para entrar pela porta estreita, pois eu lhes digo que muitos tentarão entrar e não conseguirão.”
“Quando o dono da casa se tiver levantado e cerrado a porta, e vós começardes, de fora, a bater à porta, dizendo: “Senhor, abre-nos.”
E ele vos responderá: “Não sei de onde vós sois.”
Então, começareis a dizer: “Comemos e bebemos na tua presença, e tu ensinaste nas nossas ruas.”
E ele vos responderá: “Não sei de onde sóis, apartai-vos de mim, vós, todos os que praticais a hipocrisia.”
“Ali haverá choro e ranger de dentes quando virdes Abraão, Isaque, Jacó e todos os profetas no reino do PAI, e vós lançados fora.”
“Muitos virão do oriente e do ocidente, do norte e do sul, e reclinarão-se à mesa no reino do PAI.”
“Pois os últimos que serão primeiros, e os primeiros que serão últimos.”
Naquela mesma hora, chegaram alguns fariseus que lhe disseram: “Sai, e retira-te daqui, porque Herodes quer te matar.”
Respondeu-lhes Jesus: “Ide e dizei a essa raposa: ‘Eis que vou expulsando demônios e fazendo curas, hoje e amanhã, e no terceiro dia serei consumado’.”
“Importa, contudo, trabalhar hoje, amanhã, e no dia seguinte partirei, porque não convém que morra um profeta fora de Jerusalém.”
“Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas, e apedrejas os que a ti são enviados! Quantas vezes quis eu ajuntar os teus filhos, como a galinha ajunta a sua ninhada debaixo das asas, e não quiseste!”
“Eis aí, abandonada vos é a vossa casa. E eu vos digo que não me vereis até que venha o tempo em que digais: ‘Bendito aquele que vem em nome do PAI’.”
Capítulo 15
Tendo, num Shabat, Jesus entrado na casa de um dos chefes dos fariseus para comer pão, eles o estavam observando.
Achava-se ali diante dele certo homem hidrópico.
E Jesus, tomando a palavra, falou aos doutores da Lei e aos fariseus, e perguntou: “É lícito curar no Shabat, ou não?”
Eles, porém, ficaram calados. E Jesus, pegando no homem, o curou, e o despediu.
Então, lhes perguntou: “Qual de vós, se lhe cair um filho num poço, ou um boi, não o tirará logo, mesmo em dia de Shabat?”
A isto nada puderam responder.
Ao notar como os convidados escolhiam os primeiros lugares, propôs-lhes esta parábola.
“Quando por alguém for convidado às bodas, não te reclines no primeiro lugar; não aconteça que esteja convidado outro mais digno do que tu.”
“E vindo o que te convidou a ti e a ele, te diga: ‘Dá o lugar a este.’ E então, com vergonha, tenhas de tomar o último lugar.”
“Mas, quando for convidado, vai e reclina-te no último lugar, para que, quando vier o que te convidou, te diga: ‘Amigo, sobe mais para cima.’ Então terás honra diante de todos os que estiverem contigo à mesa.”
“Porque todo o que a si mesmo se exaltar será humilhado, e aquele que a si mesmo se humilhar será exaltado.”
Disse também ao que o havia convidado: “Quando deres um jantar, ou uma ceia, não convides teus amigos, nem teus irmãos, nem teus parentes, nem os vizinhos ricos, para não acontecer que também eles te tornem a convidar, e te seja isso retribuído.”
“Mas quando deres um banquete, convida os pobres, os aleijados, os mancos e os cegos.”
“E serás bendito; porque eles não têm com que te retribuir; pois retribuído te será na ressurreição dos justos.”
Ao ouvir isso, um dos que estavam com ele à mesa, disse-lhe: “Bendito aquele que comer pão no reino dos Elohim.”
Jesus, porém, lhe disse: “Certo homem dava uma grande ceia, e convidou a muitos.”
“E à hora da ceia mandou o seu servo dizer aos convidados: ‘Vinde, porque tudo já está preparado’.”
“No entanto, todos, a uma só voz, começaram a apresentar desculpas. O primeiro disse: ‘Comprei um campo e preciso ir vê-lo; solicito-te que me dês por recusado’.”
“Outro disse: ‘Comprei cinco juntas de bois, e vou experimentá-los; peço-te que me dês por recusado’.”
“Ainda outro disse: ‘Casei-me e portanto não posso ir’.”
“Voltou o servo e contou tudo isto a seu senhor. Então, o dono da casa, indignado, disse a seu servo: ‘Sai depressa para as ruas e becos da cidade e traze aqui os pobres, os aleijados, os cegos e os mancos’.”
“Depois disse o servo: ‘Senhor, feito está como o ordenaste, e ainda há lugar’.”
“Respondeu o Senhor ao servo: ‘Sai pelos caminhos e fortificados, e obriga-os a entrar, para que a minha casa se encha’.”
“Pois eu vos digo que nenhum daqueles homens em quem foram convidados provará a minha ceia.”
Grandes multidões acompanhavam Jesus. Voltando-se para elas, ele disse: “Se alguém vier a mim, e não deixar a pai e mãe, a mulher e filhos, a irmãos e irmãs, e ainda também à própria vida, não pode ser meu discípulo.”
“Aquele que não toma sua cruz e não me segue não pode ser meu discípulo.”
“Quem de vocês, ao planejar construir uma torre, não se senta primeiro para calcular os custos e verificar se possui os recursos necessários para terminá-la?”
“Para que, após lançar os alicerces, não aconteça de ele não conseguir terminar a obra, levando todos os que zombarem dele, dizendo: ‘Este homem começou a construir e não pôde terminar’.”
“Ou qual é o rei que, indo entrar em guerra contra outro rei, não se senta primeiro a consultar se, com dez mil soldados, pode sair ao encontro do que vem contra ele com vinte mil soldados?”
“Caso contrário, enquanto o outro ainda está longe, manda embaixadores, e solicita condições de paz.”
“Assim, pois, todo aquele dentre vós que não renuncia a tudo quanto possui, não pode ser meu discípulo.”
“Bom é o sal; mas se o sal se tornar sensabor, com que se há de restaurar-lhe o sabor?”
“Não presta nem para terra, nem para adubo; lançam-no fora. Quem tem ouvidos para ouvir, ouça.”
Capítulo 16
Ora, chegavam-se a ele todos os coletores de impostos e pecadores para o ouvir.
E os fariseus e os professores da Lei murmuravam, dizendo: “Este recebe pecadores, e come com eles.”
Então, Jesus lhes propôs esta parábola: “Qual de vós é o homem que, possuindo cem ovelhas, e perdendo uma delas, não deixa as noventa e nove no deserto, e não vai após a perdida até que a encontre?”
“E, achando-a, põe-na sobre os ombros, cheio de júbilo. E chegando à casa, reúne os amigos e vizinhos e lhes diz: Alegrai-vos comigo, por achar a minha ovelha que se havia perdido.”
“Digo-vos que assim haverá maior alegria no reino do PAI Supremo por um pecador que se arrepende, do que por noventa e nove justos que não necessitam de arrependimento.”
“Ou qual é a mulher que, tendo dez dracmas e perdendo uma dracma, não acende a lâmpada, e não varre a casa, buscando cuidadosamente até a encontrar?”
“E, achando-a, reúne as amigas e vizinhas, dizendo: ‘Alegrai-vos comigo, por achar a dracma que eu havia perdido.”
“Assim, digo-vos, há alegria na presença dos anjos do PAI Supremo por um só pecador que se arrepende.”
Jesus prosseguiu: “Havia um homem que tinha dois filhos. O filho mais novo disse ao pai: ‘Pai, quero a parte da herança que me cabe’. Então o pai dividiu seus bens entre eles.”
“Poucos dias depois, o filho mais novo, ajuntando tudo, partiu para um país distante, e ali desperdiçou os seus bens, vivendo livremente.”
“E, havendo ele consumido tudo, houve uma grande fome naquela terra, e começou a passar necessidades.”
“Então, foi encontrar-se a um dos cidadãos daquele país, o qual o mandou para os seus campos a apascentar porcos.”
“E desejava encher o ventre com as cascas que os porcos comiam; e ninguém lhe dava nada.”
“Caindo, porém, em si, disse: ‘Quantos empregados de meu pai têm abundância de pão, e eu aqui pereço de fome!”
“Me levantarei e irei ter com meu pai e lhe direi: ‘Pai, pequei contra o céu e diante de ti.”
“Já não sou digno de ser chamado teu filho; trata-me como um dos teus empregados.”
“Levantou-se, pois, e foi para seu pai. Estando ele ainda longe, seu pai o viu, encheu-se de compaixão e, correndo, lançou-se-lhe ao pescoço e o beijou.”
“Disse-lhe o filho: ‘Pai, pequei contra o céu e diante de ti; já não sou digno de ser chamado teu filho.”
“Contudo, o pai ordenou aos seus servos: ‘Trazei rapidamente a melhor túnica, vesti-o, colocai-lhe um anel no dedo e sandálias nos pés’.”
“Trazei também o bezerro, gordo e o matai; comamos, e alegremo-nos. Porque este meu filho estava morto, e ressuscitou; tinha-se perdido, tendo sido achado. E começaram a alegrar-se.”
“Ora, o seu filho mais velho estava no campo; e quando voltava, ao aproximar-se de casa, ouviu a música e as danças. E chegando um dos servos, perguntou-lhe que era aquilo.”
“Respondeu-lhe este: ‘Chegou teu irmão; e teu pai matou o bezerro gordo, porque o recebeu são e salvo’.”
“Mas ele se indignou e não queria entrar. Saiu então o pai e insistia com ele.”
“Ele, porém, respondeu ao pai: ‘Eis que há tantos anos te sirvo, e nunca transgredi um mandamento teu; contudo, nunca me deste um cabrito para eu me alegrar com os meus amigos’.”
“Vindo, porém, este teu filho, que desperdiçou os teus bens com as prostitutas, mataste-lhe o bezerro gordo.”
“Replicou-lhe o pai: ‘Filho, tu sempre estás comigo, e tudo o que é meu é teu’.”
“Era justo, porém, alegrarmo-nos e ficamos felizes, porque este teu irmão estava morto, e reviveu; tinha-se perdido, sendo achado.”
Capítulo 17
Dizia Jesus também aos seus discípulos: “Havia certo homem rico, que tinha um mordomo; e este foi acusado perante ele de estar roubando os seus bens.”
“Chamou-o, então, e lhe disse: ‘Que é isso que ouço dizer de ti? Presta contas da tua mordomia, porque já não podes mais ser meu mordomo.”
“Disse, pois, o mordomo consigo: ‘Que hei de fazer, já que o meu senhor me tira a mordomia? Para cavar, não tenho forças, de mendigar, tenho vergonha.”
“Agora sei o que vou fazer, para que, quando for desapossado da mordomia, me recebam em suas casas.”
“E, chamando a si cada um dos devedores do seu senhor, perguntou ao primeiro: ‘Quanto deves ao meu senhor’?”
“Respondeu ele: ‘Cem partes de azeite’.”
“Disse-lhe então: ‘Toma a tua conta, senta-te depressa e escreve cinquenta’.”
“Perguntou depois a outro: ‘E tu, quanto deves’?”
“Respondeu ele: ‘Cem coros de trigo’.”
“E disse-lhe: ‘Toma a tua conta e escreve oitenta’.”
“E louvou aquele senhor ao injusto mordomo por haver procedido com sagacidade.”
“Pois os filhos deste mundo são mais hábeis em suas próprias negociações do que os filhos da luz em suas relações.”
“Eu lhes digo mais: façam amigos usando as riquezas deste mundo corrupto, para que, quando elas se esgotarem, vocês sejam acolhidos nos Aeons Eternos.”
“Quem é fiel no pouco, também é fiel no muito, quem é injusto no pouco, também é injusto no muito.”
“Se, pois, nas riquezas injustas não fostes fiéis, quem vos confiará as verdadeiras?”
“E se não fostes fiéis com o que é de outros, quem vos confiará o que é realmente vosso?”
“Nenhum servo pode servir dois senhores, porque ou há de odiar a um e amar ao outro, ou há de dedicar-se a um e desprezar o outro. Não podeis servir ao PAI Supremo e às riquezas.”
Os fariseus, que eram gananciosos, ouviam todas essas coisas e zombavam dele.
E ele lhes disse: “Vós sois os que vos justificais a vós mesmos diante dos homens, mas o PAI Supremo conhece os seus corações, porque o que entre os homens é elevado, perante o PAI Supremo é abominação.”
“A Lei e os profetas profetizaram a respeito de João; desde então são anunciadas as Boas Novas do reino do PAI Supremo, e todo homem o trata com violência.”
“É, porém, mais fácil passar o céu e a terra do que cair uma letra da Lei.”
“Todo aquele que repudia sua mulher e casa com outra, comete adultério, e quem casa com a que foi repudiada pelo marido, também comete adultério.”
Ora, havia um homem rico que se vestia de púrpura e de linho finíssimo, e diariamente se regalava esplendidamente.
Ao seu portão fora deitado um mendigo, chamado Lázaro, todo coberto de úlceras.
O qual desejava encher o ventre com as migalhas que caíam da mesa do rico, e os próprios cães vinham lamber-lhe as feridas.
O mendigo faleceu, levado pelos anjos ao seio de Abraão, e o rico também morreu, sendo sepultado.
Ergueu os olhos ao longe, estando em tormentos no Hades, e viu ao longe Abraão, e a Lázaro no seu seio.
E, clamando, disse: “Pai Abraão, tem misericórdia de mim, e envia-me Lázaro, para molhar na água a ponta do dedo e me refrescar a língua, porque estou atormentado nesta chama.”
Disse, porém, Abraão: “Filho, lembra-te de que em tua vida recebeste os teus bens, e Lázaro de igual modo os males; agora, porém, ele aqui é consolado, e tu atormentado.”
“E além disso, entre nós e vós, estás posto um grande abismo, de sorte que os que quisessem passar daqui para vós não poderiam, nem os de lá, passar para nós.”
Disse ele então: “Peço-te, pois, ó, pai, que o mandes à casa de meu pai. Porque tenho cinco irmãos, para que lhes dê testemunho, a fim de que não venham eles também para este lugar de tormento.”
Disse-lhe Abraão: “Têm Moisés e os profetas, ouçam-nos.”
Respondeu ele: “Não! Pai Abraão, mas, se alguém dentre os mortos for ter com eles, hão de se arrepender.”
Abraão, porém, lhe disse: “Se não ouvem a Moisés e aos profetas, tampouco acreditarão, ainda que ressuscite alguém dentre os mortos.”
Capítulo 18
Jesus disse a seus discípulos: “É inevitável ocorrerem escândalos, mas ai daquele que os provoca!”
“Seria melhor para ele que uma pedra de moinho fosse amarrada ao seu pescoço e ele fosse lançado ao mar, do que fazer um destes pequeninos tropeçar.”
“Tende cuidado de vós mesmos; se teu irmão pecar, repreende-o; e se ele se arrepender, perdoa-lhe.”
“Mesmo se pecar contra ti sete vezes no dia, e sete vezes vier ter contigo, dizendo: Arrependo-me; tu lhe perdoarás.”
Disseram então os apóstolos ao Salvador: “Aumenta-nos a fé.”
Respondeu então o Salvador: “Se tivésseis fé como um grão de mostarda, diríeis a esta amoreira: ‘Desarraiga-te, e planta-te no mar,’ e ela vos obedeceria.”
“Qual de vós, tendo um servo a lavrar ou a apascentar gado, lhe dirá, ao voltar ele do campo: ‘chega-te já, e reclina-te à mesa’?”
“Não lhe dirá antes: ‘Prepara-me a ceia, e cinge-te, e serve-me, até que eu tenha comido e bebido, e depois comerás tu e beberás’?”
“Por acaso agradecerá ao servo, por que este fez o que lhe foi mandado?”
“Assim, também vós, quando fizerdes tudo o que vos for mandado, dizei: ‘Somos servos inúteis, fizemos somente o que devíamos fazer’.”
E aconteceu que, indo ele a Jerusalém, passava pela divisa entre a Samaria e Galileia.
Ao entrar em certa aldeia, saíram-lhe ao encontro dez homens com lepra, os quais pararam ao longe. E levantaram a voz, dizendo: “Mestre, tem compaixão de nós!”
Ele, logo que os viu, disse-lhes: “Ide, e mostrai-vos aos sacerdotes. E aconteceu que, enquanto iam, ficaram curados.”
Um deles, vendo que fora curado, voltou glorificando ao Salvador em alta voz. E prostrou-se com o rosto em terra aos pés de Jesus, dando-lhe graças; e este era samaritano.
Perguntou, pois, Jesus: “Não foram curados os dez? E os nove, onde estão?”
“Não se achou quem voltasse para dar glória ao Salvador, senão este estrangeiro?”
E disse-lhe: “Levanta-te, e vai; a tua fé te salvou.”
Sendo Jesus interrogado pelos fariseus sobre quando viria o reino.
Então, Jesus lhes respondeu: “O reino do PAI não se manifesta de forma visível. Ninguém dirá: ‘Vejam, está aqui!’ ou ‘Lá está!’, porque o reino do PAI está dentro de vocês.”
Então, ele disse aos discípulos: “Chegará o tempo em que vocês desejarão ver um dos dias do Filho do Homem, mas não o verão. As pessoas dirão: ‘Olhem, está aqui!’ ou ‘Olhem, está ali!’ Não vão, nem os sigam.”
“Pois o Filho do Homem, no seu dia, será como o relâmpago que, ao reluzir de uma ponta a outra do céu, o ilumina por completo.”
“Mas primeiro é necessário que ele padeça muitas coisas, e que seja rejeitado por esta geração.”
“Como aconteceu nos dias de Noé, assim também será nos dias do Filho do homem.”
“Comiam, bebiam, casavam e davam-se em casamento, até o dia em que Noé entrou na arca, e veio o dilúvio e os destruiu a todos.”
“Como também da mesma forma aconteceu nos dias de Ló. Comiam, bebiam, compravam, vendiam, plantavam e edificavam.”
“Mas no dia em que Ló saiu de Sodoma, Yaldabaoth fez chover do céu fogo e enxofre, e os destruiu a todos.”
“Assim será no dia em que o Filho do homem se há de manifestar.”
“Naquele dia, quem estiver no terraço, tendo os seus bens em casa, não desça para tirá-los; e, da mesma sorte, o que estiver no campo, não volte para trás. Lembrai-vos da mulher de Ló.”
“Quem tentar salvar a sua vida, irá perdê-la. E quem perder a sua vida, a encontrará.”
“Digo-vos ainda que, naquela noite, estarão dois numa cama, um será tomado, e o outro será deixado.”
“Duas mulheres estarão juntas moendo; uma será tomada, e a outra será deixada.”
“Dois homens estarão no campo; um será tomado, e o outro será deixado.”
Perguntaram-lhe: ‘Onde, Senhor Salvador?
E respondeu-lhes: “Onde estiver o corpo, aí se ajuntarão também os abutres.”
Capítulo 19
Jesus disse a seus discípulos uma parábola para mostrar-lhes a necessidade de orar sempre, sem nunca desistir:
Dizendo: Havia em certa cidade um juiz que não temia a YHWH, o seu, Elohim, nem respeitava os homens.
Havia também naquela mesma cidade uma viúva que ia ter com ele, dizendo: “Faze-me justiça contra o meu adversário.”
E por algum tempo não quis atendê-la. Mas depois disse consigo: “Ainda que não temo a YHWH, o meu, Elohim, nem respeito os homens.”
“Todavia, como esta viúva me incomoda, hei de fazer-lhe justiça, para que ela não continue a vir molestar-me.”
Prosseguiu o Senhor Salvador: “Ouçam as declarações proferidas por esse juiz injusto. E não fará o PAI Supremo justiça aos seus escolhidos, que dia e noite clamam a ele, já que é generoso para com eles?”
“Digo-vos que depressa lhes fará justiça. Contudo quando vier o Filho do homem, por acaso achará fé na terra?”
Propôs também esta parábola a uns que confiavam em si mesmos, crendo serem justos, e desprezavam os outros.
Prosseguiu o Senhor Salvador: “Dois homens subiram ao Templo para orar; um fariseu, e o outro coletor de impostos.
O fariseu, de pé, assim orava consigo mesmo: “Ó, YHWH, o meu, Elohim, graças te dou que não sou como os demais homens, roubadores, injustos, adúlteros, nem ainda como este coletor de impostos. Jejuo duas vezes na semana, e dou o dízimo de tudo quanto ganho.”
“Mas o coletor de impostos, estando em pé de longe, nem ainda queria levantar os olhos ao céu, mas batia no peito, dizendo: ‘Ó, YHWH, o meu, Elohim, sê propício a mim, o pecador!”
“Digo-vos que este foi para sua casa justificado, e não aquele, porque todo o que a si mesmo se exaltar será humilhado, mas o que a si mesmo se humilhar será exaltado.”
Traziam-lhe também as crianças, para as tocar, mas os discípulos, vendo isso, os repreendiam.
Jesus, porém, chamando-as para si, disse: “Deixai vir a mim as crianças, e não as impeçais, porque de tais é o reino do PAI Supremo.”
“Em verdade, eu vos digo, que, aquele que não receber o reino do PAI Supremo como criança, de modo algum entrará nele.”
E perguntou-lhe um dos principais sacerdotes: “Bom, mestre, que hei de fazer para herdar a vida eterna?”
Respondeu-lhe Jesus: “Por que me chamas bom? Ninguém é bom, senão o ÚNICO, o qual é o PAI Supremo.”
“Sabes as leis: Não adulterarás; não matarás; não furtarás; não dirás falso testemunho; honra a teu pai e a tua mãe.”
Replicou o homem: “Tudo isso guardo desde a minha juventude.”
Quando Jesus ouviu isso, disse-lhe: “Ainda te falta uma coisa; venda tudo o que tens e dê aos pobres, e terás um tesouro no céu e siga-me.”
Mas, ouvindo ele isso, encheu-se de tristeza; porque era muito rico.
E Jesus, vendo-o assim, disse: “Quão dificilmente entrarão no Aeon Eterno do PAI Supremo os que têm riquezas!”
“Pois é mais fácil uma corda passar pelo fundo duma agulha, do que entrar um rico no Aeon Eterno do PAI Supremo.”
Então, os que ouviram isso disseram: “Quem pode, então, ser salvo?”
Respondeu-lhes: “As coisas que são impossíveis aos homens são possíveis ao PAI Supremo.”
Disse-lhe Cefas: “Eis que deixamos tudo, e te seguimos.”
Respondeu-lhes Jesus: “Em verdade, eu vos digo, que ninguém há que tenha deixado casa, ou mulher, ou irmãos, ou pais, ou filhos, por amor do reino do PAI Supremo. Receberá nessa vida muito mais, e no Aeon Eterno a vida eterna.”
Tomando Jesus consigo os doze discípulos, disse-lhes: “Eis que subimos a Jerusalém e se cumprirá no Filho do Homem tudo o que pelos profetas foi escrito.”
“Pois será entregue aos gentios, e escarnecido, injuriado e cuspido. E após o açoitarem, o matarão; e ao terceiro dia ressuscitará.”
Mas seus discípulos não entenderam nada de que Jesus falava; pois essas palavras lhes eram obscuras, e não perceberam o significado do que ele dizia.
Ora, quando ele ia chegando a Jericó, estava um cego sentado junto do caminho, mendigando.
Este, pois, ouvindo passar a multidão, perguntou que era aquilo. Disseram-lhe que Jesus, de Nazaré, ia passando.
Então ele se pôs a clamar, dizendo: “Jesus, Filho de Davi, tem compaixão de mim!”
E os que iam à frente repreendiam-no, para que se calasse; ele, porém, clamava ainda mais: “Filho de Davi, tem compaixão de mim!”
Parou, pois, Jesus, e mandou que lhe trouxessem e, tendo ele chegado, perguntou-lhe: “O que queres que te faça?”
Respondeu-o ele: “Senhor Salvador, que eu veja.”
Disse-lhe Jesus: “Vê; a tua fé te salvou.”
Recuperou Imediatamente a visão, e o seguiu, glorificando ao Senhor Salvador.
E todo o povo, vendo isso, dava louvores ao Senhor Salvador.
Capítulo 20
Tendo Jesus entrado em Jericó, ia atravessando a cidade.
Havia ali um homem chamado Zaqueu, o qual era chefe de coletores de impostos e era rico.
Este procurava ver quem era Jesus, e não podia, devido à multidão, porque era de pequena estatura.
E, correndo adiante, subiu a um sicômoro a fim de vê-lo, porque havia de passar por ali.
Quando Jesus chegou àquele lugar, olhou para cima e disse-lhe: “Zaqueu, desce depressa, porque importa que eu fique hoje em tua casa.”
Desceu, pois, a toda a pressa, e o recebeu com alegria.
Ao verem isso, todos murmuravam, dizendo: “Entrou para ser hóspede de um homem pecador.”
Zaqueu, porém, levantando-se, disse ao Senhor Salvador: “Eis aqui, Mestre, dou aos pobres metade dos meus bens; e se em alguma coisa tenho fraudado alguém, eu lhe restituo quadruplicado.”
Disse-lhe Jesus: “Hoje veio a vida a esta casa, porquanto também este é filho de Abraão. Porque o Filho do homem veio buscar e salvar o que se havia perdido.”
Ouvindo-os eles isso, prosseguiu Jesus, e contou uma parábola, por estar ele perto de Jerusalém, e pensarem eles que o reino do PAI Supremo se havia de manifestar imediatamente.
Disse pois Jesus: “Certo homem nobre partiu para uma terra longínqua, a fim de tomar posse de um reino e depois voltar.”
“E chamando dez servos seus, deu-lhes dez talentos que equivalem a alguns meses de salário, e disse-lhes: ‘Negociem até que eu venha’.”
“Entretanto, seus conterrâneos o odiavam e enviaram uma delegação atrás dele para dizer: ‘Não queremos que este homem reine sobre nós’.”
“E aconteceu que, ao voltar, ele, após ter tomado posse do reino, mandou chamar aqueles servos a quem entregara os talentos, a fim de saber como cada um havia negociado.”
“Apresentou-se, pois, o primeiro servo, e disse: “Mestre, o teu talento rendeu dez talentos.
“Respondeu-lhe o Mestre: ‘Bem está, servo bom! Porque, no mínimo, foste fiel, sobre dez talentos terás posse’.”
“Veio o segundo servo, dizendo: ‘Mestre, o teu talento rendeu cinco talentos’.”
“A este também respondeu: ‘Sê tu também sobres cinco talentos’.”
“E veio outro, dizendo: ‘Mestre, eis aqui teu talento, que guardei num lenço. Pois tinha receio de ti, porque és homem severo; tomas o que não puseste, e ceifas o que não semeaste’.”
“Disse-lhe o Mestre: ‘Servo mau! Pela tua boca te julgarei; sabias que sou homem severo, que tomo o que não pus, e ceifo o que não semeei. Por que, pois, não aplicou o meu dinheiro? Então, vindo eu, o teria retirado com os juros’.”
“E disse aos que estavam ali: ‘Tirai-lhe o talento, e dai-a ao que tem os dez talentos.
“Responderam-lhe eles: ‘Mestre, ele já tem dez talentos’.”
“Porque eu vos digo que a quem tem, será dado; mas a quem não tem, até o que tem lhe será tirado.”
“Quanto aos meus inimigos que recusaram meu reinado, trazei-os à minha presença e executai-os.”
Tendo Jesus assim falado, ia caminhando adiante deles, subindo para Jerusalém.
Ao aproximar-se de Betfagé e de Betânia, junto do monte que se chama das Oliveiras, enviou dois dos discípulos.
Dizendo-lhes: “Ide à aldeia que está na frente, e aí, ao entrar, achareis preso um jumentinho em que ninguém jamais montou; desprendei-o e trazei-o. Se alguém vos perguntar: Por que o desprendeis? Responderei assim: ‘O Mestre precisa dele’.”
Partiram, pois, os que haviam sido enviados, e acharam conforme lhes dissera.
Enquanto desprendiam o jumentinho, os seus donos lhes perguntaram: “Por que desprendeis o jumentinho?”
Responderam eles: “O Mestre precisa dele.”
Trouxeram-no, pois, a Jesus e, lançando os seus mantos sobre o jumentinho, fizeram que Jesus montasse.
E, enquanto ele ia passando, outros estendiam no caminho os seus mantos.
Quando já ia chegando à descida do Monte das Oliveiras, toda a multidão dos discípulos, alegrando-se, começou a louvar ao PAI em alta voz, por todos os milagres que havia visto.
Dizendo: “Bendito o Rei que vem em nome do Senhor; paz no céu, e glória nas alturas.”
Nisso, disseram-lhe alguns dos fariseus dentre a multidão: “Mestre, repreende os teus discípulos.”
Ao que ele respondeu: “Digo-vos que, se estes se calarem, as pedras clamarão.”
E quando chegou perto e viu a cidade, se comoveu dizendo: “Ah! Se tu conhecesses, ao menos neste dia, o que te poderia trazer a paz! Mas agora isso está encoberto aos teus olhos.”
“Porque dias virão sobre ti, onde os teus inimigos te cercarão de trincheiras, e te sitiarão, e te apertarão de todos os lados.”
“E te derrubarão, a ti e aos teus filhos que em ti estiverem; e não deixarão em ti pedra sobre pedra, porque não conheceste o tempo da tua visitação.”
Então, entrando ele no Templo, começou a expulsar os que ali vendiam, dizendo-lhes: “Está escrito: ‘Esta casa será casa de oração’. Vós, porém, a fizestes covil de ladrões.”
E todos os dias ensinava no Templo, mas os principais sacerdotes, os mestres da Lei, e os principais do povo procuravam matá-lo.
Mas não achavam meio de o fazer, porque todo o povo ficava enlevado ao ouvi-lo.
Capítulo 21
Certo dia, enquanto Jesus ensinava o povo no Templo e anunciava as Boas Novas, os chefes dos sacerdotes, os mestres da Lei e os anciãos se aproximaram.
E falaram-lhe deste modo: “Dize-nos, com que autoridade fazes tu estas coisas? Ou, quem é o que te deu esta autoridade?”
Respondeu-lhes Jesus: “Eu também vos farei uma pergunta; dizei-me, pois, o batismo de João era do céu ou dos homens?”
Ao que eles argumentavam entre si: “Se dissermos do céu, ele dirá: ‘Por que não crestes nele’?”
“Mas, se dissermos: dos homens, todo o povo nos apedrejará; pois está convencido de que João era profeta.”
Pois responderam: “Não sabemos.”
Replicou-lhes Jesus: “Nem eu vos digo com que autoridade faço estas coisas.”
Começou então a dizer ao povo esta parábola: “Um homem plantou uma vinha, arrendou-a a uns lavradores, e ausentou-se do país por muito tempo.”
“No tempo apropriado, mandou um servo aos lavradores, para que lhe dessem dos frutos da vinha. Mas os lavradores, espancando-o, mandaram-no embora de mãos vazias.”
“Tornou a mandar outro servo, mas eles espancaram também a este e, afrontando-o, mandaram-no embora de mãos vazias.”
“E mandou ainda um terceiro, mas feriram também a este e lançaram-no fora.”
“Disse então o senhor da vinha: ‘Que farei? Mandarei o meu filho amado, a ele talvez respeitarão’.”
“Mas quando os lavradores o viram, arrazoaram entre si, dizendo: ‘Este é o herdeiro; matemo-lo, para que a herança seja nossa. E lançando-o fora da vinha, o mataram’.”
“O que lhes fará, pois, o senhor da vinha?”
“Virá e destruirá esses lavradores, e dará a vinha a outros.”
Ouvindo eles isso, disseram: “Que tal fato não aconteça!”
Mas Jesus, olhando para eles, disse: “Pois, o que quer dizer isto que está escrito? ‘A pedra que os edificadores rejeitaram, essa foi posta como pedra angular’?”
“Todo o que cair sobre esta pedra será despedaçado, mas aquele sobre quem ela cair será reduzido a pó.”
Ainda na mesma hora, os mestres da Lei e os principais sacerdotes, percebendo que contra eles proferira essa parábola, procuraram deitar-lhe as mãos, mas temeram o povo.
E, aguardando oportunidade, mandaram espias, os quais se fingiam justos, para o apanharem em alguma palavra, e o entregarem à jurisdição e à autoridade do governador.
Estes, pois, o interrogaram, dizendo: “Mestre, sabemos que falas e ensinas retamente, e que não consideras a aparência da pessoa, mas ensinas segundo a verdade o caminho de YHWH o seu, Elohim. É-nos lícito dar tributo a César, ou não?”
Mas Jesus, percebendo a astúcia deles, disse-lhes: “Mostrai-me uma moeda.”
Então, eles lhe deram uma moeda e Jesus perguntou: “De quem é a efígie e a inscrição que ela tem?”
Responderam: “De César.”
Disse-lhes então: “Dai, pois, a César o que é de César, e a YHWH o que é de YHWH e dai a mim o que é meu.”
E não puderam apanhá-lo em palavra alguma diante do povo; e admirados da sua resposta, se retiraram.
Chegaram então alguns dos saduceus, que dizem não haver ressurreição, e perguntaram-lhe: “Mestre, Moisés nos deixou escrito que se morrer alguém, tendo mulher mas não tendo filhos, o irmão dele case com a viúva, e suscite descendência ao irmão. Havia, pois, sete irmãos. O primeiro casou-se e morreu sem filhos. Então o segundo, e depois o terceiro, casaram com a viúva. E assim todos os sete, e morreram, sem deixar filhos. Depois, morreu também a mulher.”
“Portanto, na ressurreição, de qual deles será ela esposa, pois os sete por esposa a tiveram?”
Respondeu-lhes Jesus: “Os filhos deste mundo casam-se e dão-se em casamento. Mas os que são julgados dignos de alcançar o Aeon Eterno, e a ressurreição dentre os mortos, nem se casam, nem se dão em casamento.”
“Porque já não podem mais morrer por serem iguais aos anjos, e são filhos do PAI Supremo, sendo filhos da ressurreição.”
“Quanto aos mortos, porém, serem ressuscitados, não lestes no livro de Moisés, onde se fala da sarça, como o YHWH, o seu, Elohim, lhe disse: Eu sou o YHWH, o, Elohim, de Abraão, o YHWH, o, Elohim, de Isaque e o YHWH, o, Elohim, de Jacó?”
O meu PAI não é a ‘Divindade’ dos mortos, mas dos vivos.”
Responderam alguns dos mestres da Lei: “Mestre, disseste bem.”
Não ousavam, pois, perguntar-lhe mais coisa alguma.
Jesus, porém, lhes perguntou: “Como dizem que o Messias é Filho de Davi?
“Pois o próprio Davi, em espírito, o chama dizendo: ‘Disse Yaldabaoth ao meu YHWH o seu, Elohim: ‘Assenta-te à minha direita. Até eu pôr os teus inimigos por escabelo dos teus pés.’
Pois, se Davi, o chama de ‘YHWH o seu, Elohim,’ então, como ele é seu filho?”
“Não vedes que o Cristo vem do meu PAI, acima de vosso YHWH, acima de Yaldabaoth e de todos os Arcontes?”
Enquanto todo o povo o ouvia, disse Jesus aos seus discípulos: “Guardai-vos dos Mestres da Lei, que querem andar com vestes compridas, e gostam das saudações nas praças, dos primeiros assentos nas sinagogas, e dos primeiros lugares nos banquetes.”
“Que devoram as casas das viúvas, fazendo, por pretexto, longas orações, estes hão de receber maior condenação.”
Capítulo 22
Jesus, ao erguer o olhar, observou os ricos depositando suas ofertas no tesouro do templo.
Ele também viu uma viúva pobre colocar duas pequenas moedas ali.
Jesus disse: “Eu lhes asseguro que esta viúva pobre deu mais do que todos os outros. Pois todos eles deram o que lhes sobrava; mas ela, da sua pobreza, deu tudo o que tinha para o seu sustento.”
E falando-lhe alguns a respeito do Templo, como estava ornado de formosas pedras e dádivas,
Disse Jesus: “Quanto a isto que veem, dias virão em que não se deixará aqui pedra sobre pedra, que não seja derrubada.”
Perguntaram-lhe então: “Mestre, quando, pois, acontecerão estas coisas? E que sinal haverá, quando elas estiverem para se cumprir?”
Respondeu então Jesus: “Tenham cuidado para não serem enganados, pois muitos virão em meu nome, declarando: ‘Sou eu’ e ‘Chegou o tempo’. Não os sigam.”
“Quando ouvirdes de guerras e tumultos, não vos assusteis; pois é necessário que primeiro aconteçam essas coisas; mas o fim não será logo.”
Então lhes disse: “Se levantará nação contra nação, e reino contra reino. E haverá em vários lugares grandes terremotos, pestes e fomes. Haverá também coisas espantosas, e grandes sinais do céu.”
“Antes, porém, de tudo isso, sereis presos e perseguidos; sereis entregues às sinagogas e postos em prisões, e conduzidos à presença de reis e governadores, devido ao meu nome. Isso vos acontecerá por darem testemunho.”
“Tomai a firme decisão de não vos preocupardes com a vossa defesa. Eu vos darei palavras e sabedoria às quais nenhum dos vossos adversários poderá se opor ou contradizer.”
“Sereis traídos até por pais, irmãos, parentes e amigos, e alguns de vós serão mortos. Devido ao meu nome, sereis odiados por todos.”
“Mas não se perderá um único cabelo da vossa cabeça. Pela vossa perseverança, ganhareis as suas almas.”
“Mas, quando virem Jerusalém cercada de exércitos, sabei então que é chegada a sua desolação.”
“Então, os que estiverem em Judeia fujam para os montes, os que estiverem na cidade, saiam; e os que estiverem nos campos não entrem nela.”
“Porque dias de vingança são estes, para se cumprirem todas as coisas em que estão escritas.”
“Ai das que estiverem grávidas, e das que amamentarem naqueles dias! Porque haverá grande angústia sobre a terra, e ira contra este povo.”
“E cairão ao fio da espada, e para todas as nações serão levados cativos; e Jerusalém será pisada pelos gentios, até que os tempos destes se completem.”
“E haverá sinais no sol, na lua e nas estrelas e sobre a terra haverá angústia das nações em perplexidade pelo bramido do mar e das ondas.”
“As pessoas desfalecerão de terror, e pela expectativa das coisas que sobrevirão ao mundo, pois os Poderes dos Sete Céus do Caos serão abalados.”
“Então, o Filho do homem será visto vindo em uma nuvem, com grande poder e glória.”
“Ora, quando essas coisas começarem a acontecer, exultai e levantai as suas cabeças, porque a vossa redenção se aproxima.”
Jesus propôs-lhes então uma parábola: “Olhai para a figueira, e para todas as árvores. Quando começam a brotar, sabeis por vós mesmos, ao vê-las, que já está próximo o verão.”
“Assim também vós, quando virdes acontecer estas coisas, sabei que o reino do PAI Supremo está próximo.”
“Em verdade, eu vos digo, que não passará esta geração até que tudo isso se cumpra.”
“Passará o céu e a terra, mas as minhas palavras jamais passarão.”
“Estejam vigilantes, para que vossos corações não se tornem pesados com comida, embriaguez e as preocupações desta vida, e para que aquele dia não vos surpreenda, como uma armadilha. Pois ele virá sobre todos os que habitam a face da terra.”
“Portanto, mantenham-se vigilantes em todos os momentos, orando para que possam escapar de tudo o que está para acontecer e permanecer firmes na presença do Filho do Homem.”
“Jesus passava os dias ensinando no Templo. À noite, retirava-se para pernoitar no monte das Oliveiras. Pela manhã, o povo madrugava para ir ao Templo a fim de ouvi-lo.”
Capítulo 23
Aproximava-se a festa dos pães ázimos, que se chama a Páscoa.
E os principais sacerdotes e os Mestres da Lei andavam procurando um modo de o matar, pois temiam o povo.
Então, após receber instrução particular do Salvador, Judas, do litoral de Sk'irot, que era um dos doze, dirigiu-se aos principais sacerdotes e aos sumo-sacerdotes do Templo.
Ele foi tratá-los de como entregaria o Salvador, cumprindo o plano predeterminado.
Eles se alegraram com isso, e concordaram em lhe dar dinheiro.
E ele concordou, buscando a ocasião para cumprir a profecia.
Ora, chegou o dia da Páscoa, em que se devia imolar o cordeiro de Páscoa.
E Jesus enviou Cefas e a João, dizendo: “Ide, preparai-nos o jantar da Páscoa, para comermos.”
Perguntaram-lhe eles: “Onde queres que a preparemos?”
Respondeu-lhes: “Quando entrardes na cidade, vos sairá ao encontro um homem, levando um cântaro de água, segui-o até a casa em que ele entrar.”
“E direis ao dono da casa: ‘O Mestre te pergunta: Onde é o cenáculo em que cearei a Páscoa com os meus discípulos’?”
Então, ele vos mostrará um grande cenáculo mobiliado, aí fazei os preparativos.
Foram, pois, e acharam tudo como lhes dissera e prepararam o jantar da Páscoa.
E, chegada a hora, pôs-se Jesus à mesa, e com ele os apóstolos.
E disse-lhes: “Com grande desejo, ansiei por compartilhar esta ceia de Páscoa com vocês antes de enfrentar meu sofrimento.”
Pois vos digo que não a comerei mais até que ela se cumpra no reino do PAI Supremo.
Então, havendo recebido um cálice, e tendo dado graças, disse: “Tomai-o, e reparti-o entre vós.”
“Porque vos digo que desde agora não mais beberei do fruto da videira, até que venha o reino do PAI Supremo.”
“E tomando o pão, e havendo dado graças, partiu-o e deu-lho, dizendo: “Isto é o meu corpo, dado por vós, fazei isto em memória de mim.”
Do mesmo modo, após a ceia, Jesus tomou o cálice e disse: “Este cálice representa a nova aliança, selada com o meu sangue, derramado em favor de vocês.”
Mas eis que a mão daquele que me entregará para a glorificação está comigo à mesa.
Porque, na verdade, o Filho do homem vai segundo o determinado; mas ai daquele que não compreende a necessidade deste ato!
Então, eles começaram a perguntar entre si qual deles faria tal coisa, pois não compreendiam o sentido destas palavras.
Levantou-se também entre eles disputa, sobre qual deles parecia o maior.
Ao que Jesus lhes disse: “Os reis dos gentios dominam sobre eles, e os que sobre eles exercem autoridade são chamados benfeitores.”
“Mas vós não sereis assim; antes o maior entre vós seja como o mais novo; e quem governa como quem serve.”
“Pois, qual é maior, quem está à mesa, ou quem serve? Por acaso, não é quem está à mesa? Eu, porém, estou entre vós como quem serve.”
“Mas vós sois os que tendes permanecido comigo nas minhas provações.”
“E assim como meu PAI me conferiu domínio, eu vo-lo confiro a vós.”
“Para que vocês possam comer e beber à minha mesa no meu Reino, e sentar-se em tronos para julgar as doze tribos de Israel.”
E disse Jesus a Simão: “Simão, eis que Belial deseja vos peneirar como trigo. Mas solicitei por ti, para que a tua fé não desfaleça. E tu, quando te voltares, fortalece teus irmãos.”
Respondeu-lhe Cefas: “Mestre, estou pronto a ir contigo tanto para a prisão como para a morte.”
Tornou-lhe Jesus: “Digo-te, Cefas, que não cantarás hoje o galo antes que três vezes tenhas negado que me conheces.”
E perguntou-lhes: “Quando vos enviei sem bolsa, alforje ou sandálias, sentiram falta de algo?”
Eles responderam: “Nada nos faltara.”
Disse-lhes pois: “Mas agora, quem tiver bolsa, tome-a, como também o alforje; e quem não tiver espada, venda o seu manto e compre-a.”
“Porquanto vos digo que importa que se cumpra em mim isto que está escrito: E com os malfeitores foi contado. Pois o que me diz respeito tem seu cumprimento.”
Disseram eles: “Mestre, eis aqui duas espadas.”
Respondeu-lhes: “Basta.”
Então, saiu e, segundo o seu costume, foi para o Monte das Oliveiras, e os discípulos o seguiam.
Quando chegou àquele lugar, disse-lhes: “Orai, para que não entreis em tentação.”
Ele se afastou deles a uma distância de um arremesso de pedra, e então se ajoelhou para orar.
Dizendo: “PAI, se queres, afasta de mim este cálice; todavia, não se faça a minha vontade, mas a tua.”
Então lhe apareceu um anjo do céu, que o confortava.
E, posto em agonia, orava mais intensamente e o seu suor tornaram-se como gotas de sangue, que caíam sobre o chão.
Então, ao levantar-se da oração, Ele foi até onde estavam os seus discípulos e os encontrou adormecidos, tomados pela tristeza.
E disse-lhes: “Por que estais dormindo? Levantai-vos, e orai, para que não entreis em tentação.”
E estando ele ainda a falar, eis que surgiu uma multidão, e aquele que se chamava Judas, um dos doze, ia adiante dela, e chegou-se a Jesus para o beijar.
Jesus, porém, lhe disse: “Judas, com um beijo, entrega o Filho do Homem.”
Quando os que estavam com ele viram o que ia acontecer, disseram: “Mestre, devemos feri-los com a espada?”
Então, um deles feriu o servo do sumo sacerdote, e cortou-lhe a orelha direita.
Mas Jesus disse: “Deixei-os; basta.” E tocando-lhe a orelha, o curou.
Então, disse Jesus aos principais sacerdotes, oficiais do Templo e anciãos, que haviam ido contra ele: “Saístes, como a um ladrão, com espadas e varas?”
“Eu estava diariamente convosco no Templo, e vós não me prendestes; contudo, esta é a vossa hora, e o Poder das Trevas prevalece.”
Então, prendendo-o, o levaram e o introduziram na casa do sumo sacerdote, e Cefas seguia-o de longe.
E tendo eles acendido fogo no meio do pátio e havendo-se sentado à roda, sentou-se Cefas entre eles.
Uma criada o viu sentado ali à luz do fogo. Olhou fixamente para ele e disse: “Este homem estava com ele”.
Mas Cefas o negou, dizendo: “Mulher, não o conheço.”
Daí a pouco, outro o viu, e disse: “Tu também és um deles.”
Mas Cefas disse: “Homem, não sou.”
E, tendo passado quase uma hora, outro afirmava, dizendo: “Certamente este também estava com ele por ser da Galileia.”
Mas Cefas respondeu: “Homem, não sei o que dizes.”
E, imediatamente, estando ele ainda a falar, cantou o galo.
Virando-se o Salvador, olhou para Cefas; e Cefas lembrou-se da palavra do Salvador, como lhe havia dito: “Hoje, antes que o galo cante, três vezes me negarás.”
E, havendo saído, chorou amargamente.
Os homens que detinham Jesus zombavam dele, e feriam-no.
E, vendando-lhe os olhos, perguntavam, dizendo: “Profetiza, quem foi que te bateu?”
E, blasfemando, diziam muitas outras coisas contra ele.
Logo que amanheceu, reuniu-se a assembleia dos anciãos do povo, tanto os principais sacerdotes como os mestres da Lei.
Conduziram-no então ao Sinédrio, onde o interrogaram: “Se és o Messias, dize-nos.”
Ele lhes respondeu: “Se eu vos disser, não crereis. E se eu vos interrogar, de modo algum me respondereis.”
“Mas desde agora estará sentado o Filho do Homem à mão direita do Poder do PAI Supremo.”
Ao que perguntaram todos: “És tu o Messias, o Filho de Elohim, O Abençoado?”
Respondeu Jesus: “Sou o Poder do Logos, e vereis o Filho do Homem sentado à direita do Poder do PAI Supremo e vindo com as nuvens do céu.
Então disseram: “Por que ainda temos necessidade de testemunho? Pois nós mesmos o ouvimos da sua própria boca.”
Capítulo 24
Em seguida, levantando-se toda a multidão deles, conduziram Jesus a Pilatos.
E começaram a acusá-lo, dizendo: “Achamos este homem pervertendo a nossa nação, proibindo dar o tributo a César, e dizendo ser ele mesmo o Messias, rei.”
Pilatos, pois, perguntou-lhe: “És tu o rei dos judeus?”
Respondeu-lhe Jesus: “É como dizes.”
Então disse Pilatos aos principais sacerdotes, e às multidões: “Não acho culpa neste homem.”
Eles, porém, insistiam ainda mais, dizendo: “Alvoroça o povo ensinando por toda Judeia, começando desde a Galileia até aqui.”
Então Pilatos, ouvindo isso, perguntou se o homem era da Galileia.
E, quando soube que era da jurisdição de Herodes, remeteu-o a Herodes, que também naqueles dias estava em Jerusalém.
Ora, quando Herodes viu a Jesus, alegrou-se muito; pois de longo tempo desejava vê-lo, por ter ouvido falar a seu respeito; e esperava ver algum sinal feito por ele.
E fazia-lhe muitas perguntas; mas ele nada lhe respondeu.
Estavam ali os principais sacerdotes, e os mestres da Lei, acusando-o com grande veemência.
Herodes, porém, com os seus soldados, desprezou-o e, escarnecendo dele, vestiu-o com um manto púrpura e tornou a enviá-lo a Pilatos.
Nesse mesmo dia Pilatos e Herodes tornaram-se amigos; pois antes andavam em inimizade um com o outro.
Então Pilatos convocou os principais sacerdotes, as autoridades e o povo.
E disse-lhes: “Apresentastes-me este homem como pervertedor do povo; e eis que, interrogando-o diante de vós, não achei nele nenhuma culpa, das de que o acusais.”
“Nem tampouco Herodes, pois no-lo tornou a enviar e eis que não tem feito ele coisa alguma digna de morte. Castigá-lo-ei, pois, e o soltarei.”
E era-lhe costume soltar-lhes um pela festa.
Mas todos clamaram a uma, dizendo: “Fora com este, e solta-nos Barrabás!”
Ora, Barrabás fora lançado na prisão devido a uma sedição feita na cidade, e de um homicídio.
Mais uma vez, pois, falou-lhes Pilatos, querendo soltar a Jesus.
Eles, porém, bradavam, dizendo: “Executa-o! Executa-o!”
Falou-lhes, então, pela terceira vez: “Mas o que ele fez de errado? Não encontrei nele nenhuma razão para a pena de morte. Eu o castigarei e o libertarei.”
Mas eles instavam com grandes brados, pedindo que fosse executado. E prevaleceram os seus clamores.
Então Pilatos resolveu atender-lhes o pedido.
E soltou-lhes o que fora lançado na prisão devido à sedição e ao homicídio, que era o que eles pediam; mas entregou Jesus à vontade deles.
Quando o levaram dali, tomaram um certo Simão, Cireneu, que vinha do campo, e puseram-lhe o madeiro às costas, para a levar após Jesus.
Seguia-o grande multidão de povo e de mulheres, as quais o pranteavam e lamentavam.
Jesus, porém, voltando-se para elas, disse: “Filhas de Jerusalém, não choreis por mim; chorai antes por vós mesmas, e pelos filhos de vocês.”
“Porque dias hão de vir em que se dirá: ‘Bem-aventuradas as estéreis, e os ventres que não geraram, e os peitos que não amamentaram’!”
“Então eles clamarão aos montes: ‘Caiam sobre nós!’ E dirão às colinas: ‘Cubram-nos!’.”
Se fazem isto a uma árvore verde, o que acontecerá com uma árvore seca?
E levavam também com ele outros dois, que eram malfeitores, para serem mortos.
Quando chegaram ao lugar chamado Caveira, ali o executaram, a ele e também aos malfeitores, um à direita e outro à esquerda.
Jesus, porém, dizia: “PAI, perdoa-lhes; porque não sabem o que fazem.”
Então repartiram as vestes dele, deitando sortes sobre elas.
E o povo estava ali a olhar. E as próprias autoridades zombavam dele, dizendo: “Aos outros salvou; salve-se a si mesmo, se é o Messias, o escolhido.”
Os soldados também o escarneciam, chegando-se a ele, oferecendo-lhe vinagre.
E dizendo: “Se tu és o rei dos judeus, salva-te a ti mesmo.”
Por cima dele estava esta inscrição em letras aramaicas, hebraicas e romanas: “ESTE É O REI DOS JUDEUS.”
Então, um dos malfeitores que estavam pendurados, blasfemava dele, dizendo: “Não és tu o Messias? Salva-te a ti mesmo e a nós.”
Respondendo, porém, o outro, repreendia-o, dizendo: “Nem ao menos temes a YHWH, o seu, Elohim, estando na mesma condenação?
“E nós, na verdade, com justiça, porque recebemos o que os nossos feitos merecem, mas este nenhum mal fez.”
Então disse: “Jesus, lembra-te de mim, quando entrares no teu reino.”
Respondeu-lhe Jesus: “Amém, e eu te digo que hoje estarás comigo no Aeon Eterno.”
Era já quase a hora sexta, e houve trevas em toda a terra até a hora nona, pois o sol se escurecera.
E rasgou-se ao meio o véu do Templo.
Jesus, clamando com grande voz, disse: “PAI, nas tuas mãos entrego o meu espírito. E, havendo dito isso, faleceu.
Quando o centurião viu o que acontecera, deu glória ao Senhor, dizendo: “Na verdade, este homem era justo.”
E todas as multidões que presenciaram este espetáculo, vendo o que havia acontecido, voltaram batendo no peito.
Entretanto, todos os conhecidos de Jesus, e as mulheres que o haviam seguido desde a Galileia, estavam de longe vendo estas coisas.
Então, um homem chamado José, natural de Ramatayim (Arimateia), cidade da região da Judeia, membro do Sinédrio, homem bom e justo.
Ele não havia concordado com as decisões ou ações dos outros, que aguardavam o reino do Pai Supremo.
Chegando a Pilatos, solicitou-lhe o corpo de Jesus.
E, tirando-o do madeiro, envolveu-o num pano de linho, e colocou-o num sepulcro escavado em rocha, onde ninguém ainda havia sido posto.
Era o dia da preparação, e ia começar o Shabat.
E as mulheres que haviam vindo com ele da Galileia, seguindo a José, viram o sepulcro, e viram como o corpo foi ali depositado.
Então voltaram e prepararam especiarias e unguentos. E no Shabat repousaram, conforme a Lei.
Capítulo 25
Mas já no primeiro dia da semana, nas primeiras horas, ainda na madrugada, foram elas ao sepulcro, levando as especiarias que haviam preparado.
E acharam a pedra revolvida do sepulcro.
Entrando, porém, não acharam o corpo de Jesus.
E, estando elas perplexas a esse respeito, eis que lhes apareceram dois seres em vestes resplandecentes.
E, ficando elas aterrorizadas e abaixando o rosto para o chão.
Eles lhes disseram: “Por que vocês procuram entre os mortos aquele que vive? Ele não está aqui; ressuscitou! Lembrem-se do que Ele lhes disse, enquanto ainda estava na Galileia.”
“Lembraram-se, então, das suas palavras dizendo: ‘Importa que o Filho do homem seja entregue nas mãos de homens pecadores, e seja executado, e ao terceiro dia ressuscitará’.”
E, as mulheres voltando do sepulcro, anunciaram estas coisas aos discípulos e aos demais.
E eram Maria de Magdala, e Joana, e Maria de Cleófas e Maria Salomé, mãe de Tiago; também as outras Marta e Maria de Betânia, que estavam com elas, relataram estas coisas aos apóstolos.
E aos seus olhos pareceram tolas as palavras das mulheres e não lhes deram crédito.
Mas Cefas, levantando-se, correu ao sepulcro e, abaixando-se, viu somente os panos de linho, e retirou-se, admirando consigo o que havia acontecido.
Nesse mesmo dia, iam dois deles para uma aldeia chamada Emaús, que era distante de Jerusalém sessenta estádios.
E iam comentando entre si tudo aquilo que havia acontecido.
Enquanto assim comentavam e argumentavam, o próprio Jesus veio e os alcançou, e ia com eles.
Mas os olhos deles estavam como que fechados, de modo que não o reconheceram.
Então, ele lhes perguntou: “Que palavras são essas que estão falando ao caminhar?”
Eles então pararam tristes. E um deles, chamado Cléopas, respondeu-lhe: “És tu o único peregrino em Jerusalém que não soube das coisas que nela têm acontecido nestes dias?”
Ao que ele lhes perguntou: “Quais?”
Disseram-lhe: “As que dizem respeito a Jesus, de Nazaré, que foi profeta, poderoso em obras e palavras diante do Senhor e de todo o povo.”
“E como os principais sacerdotes e as nossas autoridades o entregaram para ser condenado à morte, e o executaram.”
“Ora, nós esperávamos que fosse ele quem havia de remir Israel; e, além de tudo isso, é já hoje o terceiro dia desde que essas coisas aconteceram.”
“Verdade é, também, que algumas mulheres do nosso meio nos encheram de espanto, ao irem de madrugada ao sepulcro.”
“E, não achando o corpo dele, voltaram, declarando que tiveram uma visão de anjos que diziam estar ele vivo.”
Além disso, alguns dos que estavam conosco foram ao sepulcro, e acharam ser assim como as mulheres haviam dito; a ele, porém, não o viram.
Então, ele lhes disse: “Como são insensatos, e de coração pesado para crerdes tudo o que os profetas disseram!”
“Por acaso, não importa que o Messias sofresse essas coisas e entrasse na sua glória?”
“E, começando por Moisés, e por todos os profetas, explicou-lhes o que dele se achava em toda a Escritura.”
Quando se aproximaram da aldeia para onde iam, ele fez como quem ia para mais longe.
Eles, porém, o constrangeram, dizendo: “Fica conosco; porque é tarde, e já declinou o dia.” Então, entrou para ficar com eles.
Estando com eles à mesa, tomou o pão e fez a bênção; e, partindo-o, lhe dava.
Abriram-se-lhes então os olhos, e o reconheceram; nisto ele desapareceu de diante deles.
E disseram um para o outro: “Por acaso não estava pesado o nosso coração, quando pelo caminho nos falava, e quando nos abria as Escrituras?”
E na mesma hora levantaram-se e voltaram para Jerusalém, e encontraram-se reunidos os onze e os que estavam com eles.
Os quais diziam: “Realmente, o Salvador ressuscitou, e apareceu a Simão.”
Então, os dois contaram o que acontecera no caminho, e como se lhes fizera conhecer no partir do pão.”
Enquanto ainda falavam nisso, o próprio Jesus se apresentou no meio deles, e disse-lhes: “A paz esteja convosco.”
Mas eles, espantados e aterrorizados, pensavam ver algum espírito.
Ele, porém, lhes disse: “Por que estais perturbados? E por que surgem dúvidas em seus corações?”
“Olhai as minhas mãos e os meus pés, que sou eu mesmo; apalpai-me e vede; porque um espírito não tem carne nem ossos, como percebeis que eu tenho.”
E, dizendo isso, mostrou-lhes as mãos e os pés.
Não acreditando eles ainda devido à alegria, e estando admirados, perguntou-lhes Jesus: “Tende aqui alguma coisa para comer?”
Então lhe deram um pedaço de peixe assado e um favo de mel.
O qual ele tomou e comeu diante deles.
Depois, lhe disse: “São estas as palavras que vos falei, estando ainda com vocês, que importava que se cumprisse tudo o que de mim estava escrito na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos.”
Então lhes abriu o entendimento para compreenderem as Escrituras.
E disse-lhes: “Assim está escrito que o Messias sofresse, e ao terceiro dia ressuscitasse dentre os mortos. E que em seu nome se pregasse o arrependimento para remissão dos pecados, a todas as nações, começando por Jerusalém.”
“Vós sois testemunhas destas coisas. E eis que sobre vós envio a promessa de meu PAI; ficai porém, na cidade, até que do alto sejais revestidos de poder.”
Então os levou fora, até Betânia; e levantando as mãos sobre eles, fez uma bênção.
E aconteceu que, enquanto fazia a bênção sobre eles, apartou-se deles; sendo elevado ao céu.
E, após o adorarem, voltaram com grande júbilo para Jerusalém.
E estavam continuamente no Templo, bendizendo ao PAI Supremo.
Amém.
O Evangelho de Lucas, em sua forma canônica tradicional, é uma testemunha fundamental da vida de Yeshua. No entanto, para este cânon, sua narrativa foi revisitada e harmonizada com a lente da Gnose, utilizando como texto-fonte a tradução do Novo Testamento Judaico (NTJ).
A escolha do NTJ foi crucial, pois sua proximidade com os nomes e costumes hebraicos nos permitiu uma análise mais precisa da real identidade das divindades. Onde a maioria das traduções usa termos genéricos como "Deus" e "Senhor", obscurecendo as camadas de significado, este Evangelho se propõe a desvelar a hierarquia divina que subjaz a cada versículo.
Nossa harmonização, baseada nas revelações de Pistis Sophia e outros textos gnósticos, estabelece uma distinção teológica vital: o PAI Supremo, a fonte de toda a Gnose, não é a mesma divindade que YHWH, o Deus de Israel e da Lei Mosaica. Esta última é uma manifestação de Yaldabaoth, o Arconte Supremo que governa sobre o mundo material, enquanto o PAI Supremo reside nos Aeons Eternos.
Cada identificação de divindade neste texto, assim como a reinterpretação de passagens-chave, foi realizada para refletir a Gnose de que o Logos Cristo veio não apenas para cumprir a Lei, mas para transcendê-la, libertando as almas da servidão imposta por Yaldabaoth e seus Arcontes.
Este Evangelho de Lucas, portanto, não é uma mera tradução, mas uma obra de reconstrução teológica que convida o leitor a uma compreensão mais profunda, revelando o caminho para a Gnose que estava velado e agora, para os dignos, é desvelado.
A primeira questão que se coloca ao examinar Lucas e Atos é se eles foram escritos pela mesma pessoa, como indicado nos prefácios. Com a concordância de quase todos os estudiosos, Udo Schnelle escreve: "Os extensos acordos linguísticos e teológicos, bem como as referências cruzadas entre o Evangelho de Lucas e os Atos, indicam que ambas as obras derivam do mesmo autor" ( The History and Theology of the New Testament Writings , p. 259). Isso implica a implausibilidade da hipótese de autores como John Knox de que Marcião conhecia apenas Lucas, não Atos, e que Atos era uma produção antimarcionita de meados do século II.
A próxima questão crítica mais elevada é: se Lucas e Atos foram escritos pela mesma pessoa, quem foi essa pessoa? O manuscrito mais antigo com o início do evangelho, Papiro Bodmer XIV (ca. 200 EC), proclama que é o euangelion kata Loukan , o Evangelho segundo Lucas. Essa atestação provavelmente não provém da leitura de Irineu ( Adv. haer. 3.1.1) ou Tertuliano ( Adv. Marcionem 4.2.2), nem Clemente de Alexandria ( Paedagogus 2.1.15 e Stromata 5.12.82), que também atribuem o terceiro Evangelho a alguém chamado Lucas. De fato, considerando que o destinatário imediato de Lucas é mencionado no prefácio, e dado que o autor do terceiro Evangelho está ciente de que muitos outros relatos foram elaborados antes dele, é inteiramente provável que o autor tenha indicado seu nome no autógrafo. (O "excelentíssimo Teófilo" mencionado no prefácio de Lucas é provavelmente seu patrono, como visto nas referências semelhantes ao "excelentíssimo X" nos prefácios do De libris propriis liber de Galeno, do De antiquis oratoribus de Dionísio Halicarnassensis, do Scriptor De Divinatione de Melampus, do Peri ton kata antipatheian kai sumpatheian de Nepualius, e de Josephi vita e Contra Apionem de Josefo.) Este Lucas tem sido tradicionalmente identificado como aquele mencionado em Filemom 24 como colaborador de Paulo. A evidência interna apoia a ideia de que o autor de Lucas-Atos conheceu Saulo de Tarso?
Entre as principais características de Lucas-Atos que sempre foram consideradas como apoiando a ideia de que o autor conhecia Paulo estão as passagens "nós" encontradas em 16:10-17, 20:5-15, 21:1-18 e 27:1-28:16. Por exemplo, Atos 16:10-17 diz: "Navegamos de Trôade, indo direto para Samotrácia, e no dia seguinte para Neápolis, e dali para Filipos, cidade importante naquele distrito da Macedônia e colônia romana. Passamos algum tempo naquela cidade. ... Enquanto íamos para o local de oração, encontramos uma escrava com um espírito oracular, que costumava trazer muito lucro aos seus senhores por meio de suas adivinhações. Ela começou a seguir a Paulo e a nós, gritando: 'Estas pessoas são escravas do Deus Altíssimo, que anunciam a vocês um caminho de salvação.'" Paulo a exorcizou e foi preso por seu ato. Paulo foi salvo em resposta à sua oração e viajou por Tessalônica, Bereia e Atenas. Paulo embarcou para a Síria passando por Éfeso, desembarcou em Cesareia e foi para Antioquia. Depois de viajar pela Galácia e Frígia, Paulo chegou a Éfeso, na Ásia Menor, onde Apolo estava batizando em nome de João. Após uma discussão com os ourives de Éfeso, a narração em primeira pessoa retoma a seguinte narrativa: "Passada a confusão, Paulo mandou chamar os discípulos e, depois de encorajá-los, despediu-se deles e partiu para a Macedônia. Ao viajar por essas regiões, dirigiu-lhes muitas palavras de encorajamento. Depois, chegou à Grécia, onde permaneceu por três meses. Mas, quando os judeus tramaram contra ele, quando estava prestes a embarcar para a Síria, decidiu retornar pela Macedônia. Sópatro, filho de Pirro, de Bereia, o acompanhou, assim como Aristarco e Secundo, de Tessalônica, Gaio, de Derbe, Timóteo, e Tíquico e Trófimo, da Ásia, que foram à frente e nos esperaram em Trôade. Navegamos de Filipos depois da festa dos Pães Asmos e nos reunimos com eles cinco dias depois em Trôade, onde passamos uma semana. No primeiro dia da semana, quando nos reunimos para partir o pão, Paulo falou com eles, pois estava indo para partir no dia seguinte, e ele continuou falando até a meia-noite. ... Fomos à frente, em direção ao navio, e zarpamos para Assos, onde deveríamos receber Paulo a bordo, como ele havia combinado, visto que ele viajaria por terra. Quando ele nos encontrou em Assos, nós o recebemos a bordo e seguimos para Mitilene. Partimos dali no dia seguinte e chegamos a um ponto de Quios, e um dia depois chegamos a Samos, e no dia seguinte chegamos a Mileto. Paulo havia decidido passar por Éfeso para não perder tempo na província da Ásia, pois estava com pressa de estar em Jerusalém, se possível, para o dia de Pentecostes. (Atos 20:1-16) Observe que a primeira passagem se refere a "Paulo e nós" e que o "nós" que navegou para Assos é diferente de Paulo, que viajou por terra.Observe também que a narração "nós" cessa em Filipos e continua na segunda passagem com "Navegamos de Filipos". Essa concordância indiferente e objetiva me convence de que o autor de Atos estava entre aqueles que foram deixados para trás em Filipos e se juntaram a Paulo para navegar de lá mais tarde. A distinção entre Paulo e "nós" desacredita a ideia de que a perspectiva em primeira pessoa nessas passagens seja algum tipo de recurso literário, que assumiria a perspectiva de Paulo (por exemplo, aumentando o drama da aventura de Paulo ou aumentando a conexão de Paulo com o grupo), e para o qual não há Sem precedentes na literatura antiga. A alternativa é que o autor de Atos estava fingindo ser companheiro de Paulo. Isso levanta a questão de por que o autor fez essa afirmação de forma tão sutil, em vez de garantir que o leitor não a deixasse passar despercebida, enfatizando o ponto, como escritores apócrifos frequentemente faziam. Também nos deixa pensando por que a falsa alegação de participação se restringe a algumas passagens, deixando Paulo sozinho na maior parte da narrativa — embora isso seja compreensível se a participação do autor foi de fato esporádica. A conclusão mais provável é que Lucas viajou com Paulo algumas vezes, fato do qual Teófilo, o patrono de Lucas, já estava ciente.
Outros argumentos são apresentados a respeito da autoria de Atos, mas nenhum deles é conclusivo. A tese de que o vocabulário de Lucas-Atos é exclusivo para médicos foi refutada por H. J. Cadbury em sua dissertação " O Estilo e o Método Literário de Lucas" (diz-se que Cadbury obteve seu doutorado privando Lucas do seu!). O argumento de que a viagem final a Roma é uma descrição especialmente precisa da viagem marítima pode ser contestado com a resposta de que o autor (não Lucas) navegou por ali posteriormente ou se apropriou do relato de um marinheiro sobre a mesma. A clivagem entre a teologia de Lucas e Paulo é simplesmente consequência do estudante seguir seu próprio caminho, uma tradição venerável. As divergências observadas entre a narrativa de Atos e as cartas (principalmente Gálatas) podem ser frequentemente reconciliadas, mas, em qualquer caso, são explicadas se o autor de Lucas-Atos não possuía nenhuma cópia das cartas de Paulo à qual pudesse se referir. Afinal, é improvável que Paulo enviasse uma carta tanto para uma igreja quanto para todos os seus companheiros ocasionais. O desconhecimento das cartas de Paulo por parte do autor de Lucas-Atos, na verdade, aponta para uma data anterior a ca. 100, após a qual essas cartas foram coletadas, publicadas e canonizadas.
Chegamos, então, à terceira questão da alta crítica: a data de Lucas-Atos. Às vezes, propõe-se que o Evangelho de Lucas possa ser de até 62 d.C., pois Atos não narra o martírio de Paulo. O final de Atos é um problema antigo que tem motivado muitas teorias. Luke Timothy Johnson escreve ( Atos dos Apóstolos , pp. 474-476):
Já no Cânon Muratoriano (final do século II), uma explicação para a incompletude de Lucas nesta parte da história parecia necessária, e o compilador dessa lista canônica explicou que Lucas não relatou o martírio de Pedro nem a subsequente viagem de Paulo ao Ocidente, pois queria relatar apenas os acontecimentos ocorridos em sua presença! Outras "explicações" de maior ou menor probabilidade não faltaram: que Lucas terminou este volume antes que o caso de Paulo chegasse à sua conclusão — e necessariamente, se a intenção era apresentar o seu caso! Alternativamente, que Lucas morreu antes de poder terminar este volume, ou antes de poder empreender um terceiro volume que ele cogitava. Esta última teoria ganhou recentemente novo fôlego na proposta de que as Cartas Pastorais foram escritas por Lucas como o terceiro volume de Lucas-Atos.
Tais teorias são exigidas apenas se Lucas for considerado o tipo de historiador cujo principal propósito é a completude e a precisão factual. De fato, porém, vimos que, em todos os lugares, o relato de Lucas é selecionado e moldado para atender aos seus interesses apologéticos, não em desafio, mas em conformidade com os antigos padrões da historiografia. As questões são geradas também pela presunção de que é o destino de Paulo que mais preocupa Lucas, e a falha em indicar claramente seu fim exige uma explicação. Mas, de fato, vimos que o argumento de Lucas envolve muito mais do que o destino pessoal de Paulo. Por mais importante que Paulo seja para Lucas e por mais dominante que tenha sido na segunda metade de Atos, ele permanece para Lucas, em última análise, apenas mais uma em uma série de figuras proféticas por meio das quais a mensagem de salvação de Deus é levada ao povo.
É por meio da atenção aos interesses narrativos gerais de Lucas que podemos melhor apreciar este final, não como resultado de um acaso histórico ou inépcia editorial, mas como uma conclusão deliberada e eficazmente elaborada para um argumento apologético substancial. Mesmo no que diz respeito ao destino de Paulo, Lucas não nos deixou nenhum mistério. A esta altura, o leitor deve compreender que todas as profecias proferidas na narrativa se cumprirão — mesmo que seu cumprimento não seja relatado na própria narrativa! Assim, o leitor sabe, com base em profecias autorizadas, que Paulo fez sua defesa perante César (27:24) e sabe ainda que Paulo morreu como testemunha das "boas novas do dom de Deus" (20:24), devido às profecias que a própria narrativa contém a esse respeito (20:22-23, 29, 38; 21:10-14). Mas o fato de Lucas não achar necessário nos contar esses eventos é uma pista importantíssima sobre como devemos ler a conclusão de sua obra: a questão não é o destino de Paulo, mas a fidelidade de Deus.
Assim, quando Paulo chega a Roma, seu primeiro passo é convidar os líderes judeus à sua presença. Em seu encontro inicial com eles, Paulo deixa claro não apenas sua inocência de quaisquer acusações dignas de morte, mas, mais importante, sua completa ausência de animosidade contra o judaísmo. Ele não veio como alguém que traz "uma acusação contra a minha nação" (28:19). De fato, seu desejo de falar longamente com eles não tem nada a ver com seu próprio destino, mas com sua mensagem, que diz respeito à "esperança de Israel" (28:20). Mesmo após as repetidas rejeições de seus companheiros judeus, que o levaram a se voltar para os gentios (13:46-47; 18:6), mesmo após a tentativa de matá-lo em Jerusalém por traição (23:12-15) e a cooptação do sistema romano (25:1-5), Paulo ainda busca seu próprio povo. A razão não é seu heroísmo pessoal, mas a fidelidade de Deus às promessas. Eles ainda têm uma nova chance de responder.
A reação inicial aos líderes judeus é cuidadosamente neutra. Eles ouviram falar mal "desta seita", mas não receberam instruções sobre o próprio Paulo. Portanto, estão dispostos a realizar uma segunda reunião, mais formal. O esforço despendido por Paulo nessa segunda conferência é extraordinário: da manhã à noite, ele defende Jesus. Como seria de se esperar, ele baseia seu apelo "na Lei e nos Profetas" (28:23). A resposta é mista. Alguns dos líderes judeus são positivos, outros são descrentes (28:24). É difícil avaliar com precisão o que Lucas pretende que o leitor entenda com isso: teremos outro exemplo do "povo de Deus dividido", de modo que mesmo entre os líderes judeus haja uma percepção do povo restaurado? Talvez, mas o fato de todos eles partirem "discordando uns dos outros" (28:25) oferece apenas uma esperança mínima.
A palavra final dirigida aos líderes judeus é, portanto, de rejeição, mas é uma rejeição que eles próprios assumiram. Lucas agora apresenta Paulo como um verdadeiro profeta, falando contra o povo de Israel como os profetas da antiguidade haviam feito. Lucas não havia feito pleno uso da passagem de Isaías 6:9-10 em seu Evangelho, pois aquela foi a época da primeira visita do profeta, e a rejeição daquele profeta foi mitigada pela "ignorância" do povo. A narrativa de Atos tem como argumento que Deus não deixou de oferecer a salvação a Israel por meio da proclamação do profeta Jesus ressuscitado. Só agora, depois de tantas tentativas de persuadir este povo, é hora de empregar esta profecia arrepiante, proferida primeiro sobre o povo antigo, mas agora "cumprida" nos eventos da história de Lucas. Paulo "foi a este povo" e proferiu a Palavra. E eles não ouviram, nem viram, nem compreenderam. Mas, como a versão LXX do texto deixa claro, a culpa não é de Deus nem do profeta. A mensagem em si não ensurdece, nem cega, nem atordoa. É porque as pessoas se tornaram obtusas que não percebem na mensagem sobre Jesus a realização da sua "esperança" mais autêntica.
Pela última vez, portanto, Paulo anuncia uma volta aos gentios com uma afirmação contundente: a salvação de Deus lhes foi enviada, e eles ouvirão! Os leitores de Lucas reconhecem isso como a profecia que de fato ocorreu "entre nós" (Lucas 1:1) e que gerou a pergunta que tornou necessária a escrita desta narrativa: como as boas novas chegaram aos gentios, e a rejeição delas pelos judeus significou que Deus falhou em sua fidelidade a eles? A resposta de Lucas está contida em toda a narrativa até este ponto. Em todos os sentidos, Deus se mostrou fiel; não sua palavra e poder proféticos, mas a cegueira do povo levou à sua exclusão obstinada das bênçãos messiânicas.
A visão final que Lucas nos dá de Paulo é, nesta leitura, inteiramente satisfatória. Absolutamente nada depende do sucesso ou fracasso da defesa de Paulo perante César, pois a apologética de Lucas não se preocupou principalmente com a segurança de Paulo ou mesmo com a legitimidade da religião cristã dentro do império. O que Lucas estava defendendo, ele concluiu com sucesso: a fidelidade de Deus ao seu povo e à sua própria palavra. E, concluído esse ponto, o final de Atos é verdadeiramente uma abertura para a vida contínua do povo messiânico, à medida que continua a pregar o reino e a ensinar as coisas concernentes a Jesus com ousadia e sem impedimentos, sabendo agora que, embora cada vez mais gentio em seu crescimento, suas raízes estão profundamente enraizadas na história do povo a quem os profetas de Deus foram infalivelmente enviados.
Hans Conzelmann é mais breve: "O ponto final é esclarecido: διετια , 'sem impedimentos' — um apelo a Roma. A referência a διετια , 'dois anos', certamente pressupõe que esta situação de Paulo tenha sido encerrada. O discurso de despedida em Mileto não deixa dúvidas sobre como isso aconteceu: Paulo foi executado. Mas Lucas não quis falar sobre isso. O propósito do livro foi plenamente alcançado; portanto, devemos rejeitar todas as hipóteses que entendem o livro como incompleto ou que declaram o final como acidental." ( Atos dos Apóstolos , pp. 227-228)
Que Lucas estava ciente da morte de Paulo é indicado no discurso de despedida de Paulo em Mileto: "Mas agora sei que nenhum de vocês, a quem preguei o reino durante as minhas viagens, jamais verá o meu rosto novamente. [...] Quando terminou de falar, ajoelhou-se e orou com todos eles. Todos choravam alto, abraçaram Paulo e o beijaram, pois estavam profundamente entristecidos por ele ter dito que nunca mais veriam o seu rosto. Então o escoltaram até o navio." (Atos 20:25-38)
Joseph A. Fitzmyer escreve: "De qualquer forma, pode parecer estranho que o leitor não seja informado sobre a morte de Paulo, o herói da segunda metade de Atos. No entanto, o final, tal como é, pode não ser tão intrigante quanto alguns pensam, porque registra que Paulo continuou a pregar o reino de Deus, mesmo em Roma, 'com toda a ousadia e sem impedimento' (28:31). Essa é a nota de triunfo com a qual Lucas queria que sua história terminasse. O evangelho estava, portanto, sendo pregado em Roma, o 'fim da terra' (1:8), 'e sem impedimento' (28:31). O leitor de Atos já sabe que o fim pessoal de Paulo não estava distante; o lucano Paulo insinuou isso em seu discurso em Mileto, e por isso Lucas não sentiu necessidade de recontá-lo. A Ilíada de Homero não é vista como incompleta por não descrever a morte de Aquiles!" ( Atos dos Apóstolos , pp. 791-792)
O final de Atos faz parte do plano narrativo de Lucas desde o início. O final de Atos com Paulo em Roma forma uma inclusão com as palavras de Jesus na ascensão em Atos 1:8: "Mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judeia e Samaria e até os confins da terra". A cidade de Roma era considerada uma extremidade do Ocidente, e o livro de Atos retrata o cumprimento dessa exortação, transmitida ao longo da narrativa, com o clímax da pregação confiante e desimpedida de Paulo na capital do Império. Isso não quer dizer que Lucas tenha visto a pregação de Paulo em Roma como um cumprimento sobrenatural e isolado da comissão, de modo que não estaria em andamento durante a evangelização anterior ou que não poderia ter continuado com outros profetas. Mas o final de Atos relembra o início e indica que Lucas completou sua obra como pretendido. A morte de Paulo pelas mãos da autoridade romana não reforça o ponto de Lucas sobre a fidelidade de Deus ao Seu povo na propagação do evangelho, primeiro aos judeus, mas expandindo-se aos gentios, sob a orientação do Espírito Santo. Mas Atos 28:25-28 reforça esse ponto:
Eles discordaram entre si e começaram a ir embora depois que Paulo fez esta declaração final: "O Espírito Santo falou a verdade aos seus antepassados, quando disse por meio do profeta Isaías: 'Vá a este povo e diga: Vocês estarão sempre ouvindo, mas nunca entenderão; estarão sempre vendo, mas nunca perceberão.' Pois o coração deste povo se tornou insensível; eles mal ouvem com os ouvidos e fecharam os olhos. Senão, eles poderiam ver com os olhos, ouvir com os ouvidos, entender com o coração e se converter, e eu os curaria.' Portanto, quero que vocês saibam que a salvação de Deus foi enviada aos gentios, e eles ouvirão!"
Por que Lucas teria esperado vinte anos ou mais desde sua chegada a Roma com Paulo até a composição de Lucas-Atos? A explicação poderia ser muito simples: depois de vinte anos, Lucas recebeu uma cópia do Evangelho de Marcos e decidiu escrever sua própria versão da história, colocando as coisas em ordem (em contraste com os "muitos" que escreveram antes dele) com base em suas próprias investigações, em resposta à sugestão de seu patrono, o excelentíssimo Teófilo. Veja o prólogo — ele não diz: "Ufa! Acabei de chegar a Roma e Paulo pode ser morto em breve, então deixe-me contar a história de como tudo começou enquanto ainda estou ocupado fazendo acontecer!" Em vez disso, diz: "Muitos se propuseram a compilar um relato dos fatos que se cumpriram entre nós, conforme nos foram transmitidos por aqueles que desde o princípio foram testemunhas oculares e ministros da palavra. Portanto, visto que eu mesmo investiguei tudo cuidadosamente desde o princípio, pareceu-me também conveniente escrever-te um relato em ordem, ó excelentíssimo Teófilo, para que tenhas a certeza das coisas que te foram ensinadas." Talvez Lucas tenha visitado a Terra Santa para investigar mais a fundo o assunto e entrevistar esses ministros da palavra. De qualquer forma, o autor de Lucas, no prólogo, indica que escreveu sua grande obra em um momento que foi (1) a pedido de Teófilo, provavelmente seu patrono, e (2) quando "muitos" já haviam escrito relatos, que Lucas gostaria de colocar em ordem, e (3) após investigar cuidadosamente tudo conforme transmitido pelos ministros da palavra. Isso se encaixa melhor em um momento após o qual Lucas havia se estabelecido para ensinar por conta própria, não enquanto aguardava os resultados do julgamento de seu mentor, Paulo.
FF Bruce escreve na ocasião da escrita de Lucas ( O Livro de Atos , pp. 10-12):
É necessário, então, buscar um contexto apropriado para uma obra que atinja a nota apologética exatamente dessa maneira. Uma sugestão interessante aponta para o período de 66 d.C. ou pouco depois, quando os principais acusadores de Paulo, as autoridades judaicas, se desacreditaram completamente aos olhos romanos pela revolta contra o domínio imperial. É verdade que o próprio Paulo já estava morto naquela época, mas as acusações contra ele, especialmente a de fomentar a desordem pública, continuaram a ser feitas contra os cristãos em geral, e sua defesa, que poderia ter sido vista como justificada no evento, poderia ser validamente defendida em seu favor. Naqueles anos, teria sido bastante eficaz enfatizar que, ao contrário dos judeus rebeldes, os cristãos não eram desleais ao império — que, na verdade, foram os próprios judeus rebeldes que sempre fizeram o possível para repudiar o cristianismo.
O argumento de que não há nada em Atos — ou mesmo em Lucas — que pressuponha a revolta judaica e a consequente destruição do templo e da cidade de Jerusalém (70 d.C.) tem sido usado em defesa de uma datação anterior a 70 para a dupla obra — no início do século XX por Adolf Harnack e mais de sessenta anos depois por J. A. T. Robinson. De fato, argumentou-se ainda, visto que não há alusão a dois eventos anteriores — a perseguição neroniana e a execução de Paulo —, que a composição de Lucas-Atos provavelmente deveria ser datada, no máximo, de 65 d.C. No que diz respeito à perseguição neroniana, até Tácito (que não é amigo dos cristãos) admite que foi a ação da malignidade de um homem, e não uma expressão de política pública, e a reprovação oficial da memória e das ações de Nero em sua morte poderiam ter sido usadas para encobrir sua perseguição aos cristãos de Roma. Portanto, o registro de Lucas sobre os julgamentos favoráveis ao cristianismo feitos por outras autoridades romanas pode ter tido a intenção de sugerir que a atividade anticristã de Nero foi um ataque irresponsável e criminoso daquele governante agora exilado a um movimento cuja inocência havia sido amplamente atestada por muitos representantes mais dignos do poder romano.
Novamente, independentemente de a execução de Paulo ter sido ou não um incidente na perseguição neroniana, o fato de não ser mencionada em Atos não é um argumento decisivo para a datação do livro: o objetivo de Lucas foi alcançado quando ele trouxe Paulo a Roma e o deixou pregando o evangelho livremente lá. Certamente, a chegada de Paulo a Roma, seu testemunho do evangelho ali por dois anos, o procedimento legal envolvido na apresentação de seu apelo a César, devem ter levado o cristianismo à atenção de classes da sociedade romana nas quais até então não havia causado nenhuma impressão. O interesse que agora era despertado por ele não desapareceu, mas se manteve e aumentou, até que, sob Domiciano (81-96 d.C.), penetrou nos escalões mais altos de todos. Em qualquer momento desse período, uma obra que apresentasse uma história inteligível da ascensão e do progresso do cristianismo, e ao mesmo tempo desse uma resposta fundamentada às calúnias populares contra ele, certamente teria recepção entre o público leitor inteligente – ou melhor, o público ouvinte – de Roma, do qual Teófilo provavelmente era um representante. Sua defesa positiva foi melhor expressa nas palavras de Paulo, o cidadão romano, cujo apelo a César foi feito não apenas em seu próprio nome, mas em nome da comunidade cristã e sua fé.
É difícil fixar a data de composição de Atos com mais precisão do que em algum momento do período Flaviano (69-96 d.C.), possivelmente em meados do período. Os argumentos pelos quais Sir William Ramsay, no final do século XIX, concluiu que a obra foi composta por volta de 80 d.C. são precários, mas nada do que foi descoberto desde então aponta para uma data mais provável. Uma consideração, reconhecidamente subjetiva, é a perspectiva a partir da qual a obra foi composta. As relações entre Pedro, Paulo e Tiago de Jerusalém são apresentadas de uma forma que seria mais natural se os três tivessem morrido e o autor tivesse podido visualizar suas realizações duradouras em uma proporção mais satisfatória do que teria sido facilmente alcançada se ainda estivessem vivos. Certamente, a impressão que ele nos dá de suas relações não é a impressão recebida das cartas de Paulo, e isso é mais inteligível se eles estivessem mortos há alguns anos e suas divergências (aos olhos de um homem como Lucas, pelo menos) não parecessem mais tão importantes quanto teriam sido na época.
Eckhard Plumacher, traduzido por Dennis Martin, comenta sobre o propósito de Lucas-Atos: "Dado o atraso da parousia, os cristãos precisavam encontrar seu lugar no mundo. No entanto, este mundo estava... tornando-se cada vez mais hostil ao cristianismo... Por um lado, ele se opunha ao tipo de hostilidade cristã intransigente em relação ao Estado e à sociedade, visível na renovação das expectativas apocalípticas compartilhadas pelo Apocalipse de João. Por outro lado, ele não queria se contentar e não se destacar... Em vez disso, as imagens triunfais em Atos 14:8-18, 16:16-40; 17:16-33; e 19:23-40 pretendiam mostrar que o cristianismo, apesar de toda a resistência, sempre conseguiu triunfar no mundo. Tais exemplos vívidos e, portanto, convincentemente retratados de ações bem-sucedidas no passado deveriam despertar no leitor a esperança de que o que foi tão claramente descrito no passado pudesse se tornar realidade no presente." ( The Anchor Bible Dictionary , v. 4, p. 400)
Considere Lucas 17:20-21: "Certa vez, perguntado pelos fariseus sobre quando viria o reino de Deus, Jesus respondeu: 'O reino de Deus não vem sem que vocês o observem atentamente, nem dirão: 'Aqui está' ou 'Ali está', porque o reino de Deus está dentro de vocês.'" Em Lucas 21:24, o autor indica um espaço de tempo entre a destruição de Jerusalém e quando "os tempos dos gentios estiverem cumpridos", quando os sinais cósmicos aparecerão, anunciando a vinda do Filho do Homem, sinais que Marcos coloca logo após a tribulação que acompanhou a Primeira Revolta Judaica (Marcos 13:24-29). Bart Ehrman também aponta que Lucas parece desencorajar expectativas escatológicas em relação ao futuro próximo: "Lucas não pôde fornecer nenhuma garantia absoluta disso, no entanto, então ele enfatiza aos seus leitores que sua preocupação final não deveria ser com o futuro, mas com o presente. Assim, eles deveriam agir de acordo com as implicações sociais da mensagem de Jesus no Evangelho (ajudando os pobres e oprimidos) e continuar a espalhar as boas novas em Atos. O autor quer enfatizar que o atraso do fim não pode ser usado para anular a verdade da mensagem cristã. É provável que alguns descrentes na localidade do autor estivessem usando o atraso precisamente para esse fim, apontando que o fracasso de Jesus em retornar para julgar era um sinal claro de que os cristãos estavam errados o tempo todo. Em oposição a essa visão, Lucas enfatiza que Deus não pretendia que o fim viesse imediatamente. Mais importante ainda, ele indica que, apesar do atraso, há boas razões para acreditar que Deus estava e ainda está por trás da missão cristã. Caso contrário, da perspectiva de Lucas, seria impossível explicar o sucesso milagroso da missão cristã ao longo do tempo. mundo. A mão de Deus estava por trás desta missão, e não havia nada que qualquer ser humano pudesse fazer para impedi-la." ( O Novo Testamento: Uma Introdução Histórica aos Escritos Cristãos Primitivos , p. 131)
Helmut Koester escreve: "Este mesmo Paulo, o maior dos primeiros missionários cristãos, foi o navio escolhido para levar o evangelho a Roma, a capital do mundo. Lucas sabia, por sua fonte, que Paulo havia sido preso durante sua última estadia em Jerusalém, informação que lhe permitiu abordar a posição do cristianismo em relação à autoridade romana com algum detalhe. Por um lado, Paulo aponta que toda a sua atividade, a fundação e o estabelecimento de uma igreja cristã mundial entre os gentios, deve-se à iniciativa e direção divinas. Para esse propósito, os leitores de Atos veem Paulo repetir a história de seu chamado duas vezes (22:3-21; 26:9-20). Por outro lado, os discursos de Paulo nestes últimos capítulos do livro não deixam dúvidas de que o cristianismo não é de forma alguma uma invenção nova, destinada a perturbar a paz religiosa do império. Lucas está aqui defendendo o cristianismo contra acusações de desrespeito às antigas e veneráveis tradições religiosas. Paulo precisa enfatizar repetidamente em sua defesa que ele é de fato um fariseu, ou seja, um judeu que nunca havia feito nada contra a religião de seus pais. (22:1ss; 23:1, 6; 24:14ss; 25:8; 26:2ss). Na apresentação de Lucas, Paulo faz mais do que apelar ao imperador em seu próprio nome (25:10); ele também faz um apelo geral à posição oficial romana em questões de política religiosa, visto que pode se apresentar como o protótipo do cidadão romano piedoso que nunca ofendeu "a lei (dos judeus), nem o templo, nem César" (25:8). O julgamento de Paulo visa demonstrar que sua condenação [por crime] (e, portanto, a condenação de qualquer cristão) seria uma violação dos princípios das políticas de Roma em questões religiosas. Isso também explica por que Lucas não estava interessado em descrever a condenação de Paulo ou de Pedro, ambos executados na época de Nero por um tribunal romano. Em vez disso, Lucas se preocupa em apontar que Paulo, um cidadão romano, é tratado com o devido respeito pelos oficiais e soldados romanos (22:24-29), que ele permanece no posse plena de seus poderes miraculosos durante sua movimentada viagem a Roma, mesmo sendo um prisioneiro (27:1-28:16), e que ele é capaz de 'pregar o reino de Deus e ensinar sobre o Senhor Jesus Cristo abertamente e sem impedimentos' na capital (28:31)." ( História e Literatura do Cristianismo Primitivo , p. 323)
Outro detalhe digno de nota. Em Atos 25:13, Lucas escreve: "Decorridos alguns dias, o rei Agripa e Berenice chegaram a Cesareia para visitar Festo". Lucas presume que seus leitores greco-romanos já soubessem quem era Berenice. Isso seria mais facilmente presumido depois que ela se tornou famosa por seu caso com o imperador Tito por volta de 69 d.C. Juvenal a menciona em suas Sátiras , no livro "Os Costumes das Mulheres", enquanto Suetônio comenta sobre "sua notória paixão pela rainha Berenice, a quem se dizia até que ele havia prometido casamento" ( Tito 7.1). Isso aumenta ainda mais a probabilidade de uma data posterior a 70 d.C. em Atos.
Considerando os propósitos de Lucas, não se deve presumir que ele desejasse narrar a execução injusta de Paulo durante a perseguição neroniana. Em vez disso, Lucas opta por encerrar sua história, planejada desde o início, com Paulo pregando na capital sem atrair o opróbrio da autoridade romana, e com a mensagem messiânica de Jesus sendo apresentada primeiro aos judeus e depois aos gentios, sob a orientação do Espírito Santo. A ênfase de Lucas está no sucesso da missão cristã, não na morte de Paulo. Lucas não perdeu repentinamente o interesse pelos detalhes da história de vida de Paulo, mas conta a história de Paulo como parte de sua apologética histórica do cristianismo, não como um fim em si mesmo. Vários indícios específicos apontam para um período da escrita em que Lucas teve tempo para pesquisar, refletir e planejar a execução de sua obra, e a opinião oposta baseia-se unicamente em uma apreensão incorreta da incompletude da narrativa de Lucas.
Stevan Davies escreve ( Jesus, o Curador , p. 174): "Lucas escreveu pelo menos sessenta anos após o Pentecostes e talvez perto de um século depois desse evento. Os estudos sobre o assunto atualmente oscilam entre uma data do final do primeiro século e uma do início a meados do segundo século para os escritos de Lucas." Eu me juntaria àqueles que defendem uma data do final do primeiro século. Se os Atos dos Apóstolos foram escritos em meados do segundo século, é difícil entender por que não haveria menção ou mesmo conhecimento das epístolas de Paulo, que eram citadas como autoras por escritores antes dessa época, especialmente porque Atos tem milhares de palavras dedicadas a registrar coisas sobre a vida de Paulo, ao contrário de Justino Mártir (cujas desculpas não citam Paulo). A ideia de que Atos não mencionou as cartas de Paulo porque elas eram de uso marcionita (como é plausível para Justino) naufraga na unidade da composição Lucas-Atos. E, claro, se o autor de Atos foi companheiro de Paulo, é improvável situá-lo muito depois da virada do século, mesmo que São Lucas tenha vivido até a idade madura de oitenta e quatro anos na Beócia, como afirma o Prólogo Antimarcionita. Não pesquisei o suficiente para chegar a uma conclusão sobre se Lucas usou as Antiguidades de Josefo , o que exigiria uma data posterior a 93 d.C. Marcião tinha uma forma do Evangelho de Lucas da qual derivou seu Evangelho do Senhor , que estabelece um limite superior de cerca de 130 d.C. Uma data para Lucas-Atos na década de 90 do primeiro século ou na primeira década do segundo explicaria todas as evidências, incluindo o suposto uso de Josefo e a aparente autoria de um companheiro ocasional de Paulo. Se Lucas não usou Josefo, uma data na década de 80 é permitida.
Novo Testamento Judaico: Embora seja uma tradução específica (com foco na perspectiva judaica e uso de nomes hebraicos), seria uma ferramenta suplementar incrivelmente valiosa. Ele já utiliza termos como “Yeshua” e pode contextualizar “Deus” de maneiras que ressoam com a distinção de YHWH, o que seria ótimo para comparar e fundamentar suas escolhas.
Copyright - David Harold Stern, Jewish Publication Society, 2007
Almeida Revista e Atualizada Interlinear: Esta seria ideal, ao apresentar o texto original (grego/hebraico) com a tradução literal. Isso permitiria a você ver diretamente qual termo original (Kyrios, Theos, Theos Hypsistos, etc.) está sendo traduzido como “Senhor”, “Deus”, “Altíssimo”, etc., facilitando suas atribuições.
Bíblia Literal do Texto Tradicional / Bíblia de Estudo Literal do Texto Tradicional (e Anotada): Como o próprio nome diz, priorizam a literalidade do Texto Tradicional, o que é excelente para seu trabalho.
Almeida Corrigida Fiel (ACF) / João Ferreira de Almeida Corrigida e Revisada, Fiel: São conhecidas por sua alta fidelidade literal ao Texto Tradicional/Recebido. Menos fluidas para leitura geral, mas ótimas para estudo minucioso.
Tradução Brasileira: Uma tradução histórica que também preza pela literalidade.
STERN, David Harold. Novo Testamento Judaico. Jewish Publication Society, 2007.
The Holy Bible: 1611 Edition, King James Version. Estados Unidos, American bible society., 1611.
The Holy Bible: King James Version. Estados Unidos, Hendrickson Publishers, 2004.
JAMES, King. Holy Bible King James Version. Evans Akuamoah-Boateng, 1976.
DE ALMEIDA, João Ferreira. A BÍBLIA SAGRADA, contendo o Velho e o Novo Testamento. Sociedada Bíblica do Brasil, 1864.
https://tuapalavra.com/pt-BR/NTJ/lc
https://www.earlychristianwritings.com/luke.html
O EVANGELHO DE LUCAS - DISCÍPULO DE PAULO
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