Ouça os Evangelhos Sagrados
O Evangelho
de Marcos.
Evangelhos do Ministério
de Jesus Cristo.
LIVRO 011
Capítulo 1
Princípio das Boas Novas de Jesus, o Messias, Filho do PAI Supremo.
Conforme está escrito no profeta Isaías: “Eis que envio ante a tua face, o meu mensageiro, que há de preparar o teu caminho.”
“Voz do que clama no deserto: preparai o caminho do Salvador, endireitai as suas veredas.”
Assim apareceu João, o Batista, no deserto, pregando o batismo de arrependimento para remissão dos pecados.
E saíam a ter com ele toda a terra de Judeia, e todos os moradores de Jerusalém; e eram por ele imergidos no rio Jordão, confessando os seus pecados.
Ora, João usava uma veste de pelos de camelo, e um cinto de couro em torno de seus lombos, e comia gafanhotos e mel silvestre.
E pregava, dizendo: “Após mim vem aquele que é mais poderoso do que eu, de quem não sou digno de, inclinando-me, desatar a correia das sandálias.”
Eu vos imergi em água; ele, porém, vos imergirá no Espírito Santo.
E aconteceu naqueles dias que veio Jesus de Nazaré da Galileia, sendo imerso por João no Jordão.
E logo, quando saía da água, viu os céus se abrirem, e o Espírito Santo, qual pomba, a descer sobre ele.
E ouviu-se dos céus esta voz: “Tu és meu Filho amado; em ti me agrado.”
Imediatamente, o Espírito Santo o impeliu para o deserto.
E esteve no deserto quarenta dias sendo tentado por Belial, estava entre as feras, e os anjos o serviam.
Ora, depois que João foi entregue, veio Jesus para Galileia pregando as Boas Novas do PAI Supremo.
E dizendo: “O tempo está cumprido, sendo oferecido o reino do PAI Supremo. Fazei arrependimento, e crede nas Boas Novas.”
E, passando pelo Lago de Genesaré, viu Simão, e André, irmão de Simão, os quais lançavam a rede ao lago, pois eram pescadores.
Disse-lhes Jesus: “Sigam-me, e eu farei que vos torneis pescadores de homens.”
Então eles, deixando imediatamente as suas redes, o seguiram.
E ele, passando um pouco adiante, viu Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão, que estavam no barco, consertando as redes.
E logo os chamou; eles, deixando seu pai Zebedeu no barco com os empregados, e o seguiram.
Entraram em Cafarnaum; e, logo no Shabat, indo ele à sinagoga, pôs-se a ensinar.
E maravilhavam-se com o seu ensinamento, porque os ensinava como tendo autoridade, e não como os mestres da Lei.
Ora, estava na sinagoga um homem possuído por um espírito imundo.
O qual gritou: “Que temos nós contigo, Jesus, de Nazaré? Vieste destruir-nos? Bem sei quem és: o Sagrado do Único.”
Mas Jesus o repreendeu, dizendo: “Cala-te, e sai dele.”
Então, o espírito imundo, convulsionando-o e clamando com grande voz, saiu dele.
E todos se maravilharam a ponto de perguntarem entre si, dizendo: “Que é isto? Um novo ensinamento com autoridade! Pois ele ordena aos espíritos imundos, e eles lhe obedecem!”
E logo correu a sua fama por toda a região da Galileia.
Em seguida, saiu da sinagoga e foi à casa de Simão e André com Tiago e João.
A sogra de Simão estava de cama com febre, e logo lhe falaram a respeito dela.
Então, Jesus, chegando-se e tomando-a pela mão, a levantou, e a febre a deixou, e ela os servia.
Sendo já tarde, tendo-se posto o sol, traziam-lhe todos os enfermos, e os endemoniados.
E toda a cidade estava reunida à porta.
E ele curou muitos doentes atacados de diversas moléstias, e expulsou muitos demônios, mas não permitia que os demônios falassem, porque o conheciam.
De madrugada, ainda bem escuro, levantou-se, saiu e foi a um lugar deserto, e ali orava.
Foram, pois, Simão e seus companheiros procurá-lo.
Quando o encontraram, disseram-lhe: “Todos te buscam.”
Respondeu-lhes Jesus: “Vamos a outras partes, às povoações vizinhas, para que eu pregue ali também; pois para isso é que vim.”
Foi, então, por toda Galileia, pregando nas sinagogas deles e expulsando os demônios.
E veio a ele um homem com lepra que, de joelhos, lhe pedia, dizendo: “Se quiseres, bem podes tornar-me curado.”
Jesus, pois, compadecido dele, estendendo a mão, tocou-o e disse-lhe: “Quero; sê cure.”
Imediatamente desapareceu dele a lepra e ficou curado.
E Jesus, despedindo, advertindo-o secretamente, dizendo-lhe: “Olha, não digas nada a ninguém; mas vai, mostra-te aos sacerdotes e oferece pela tua purificação o que Moisés determinou, para lhes servir de testemunho.”
Ele, porém, saindo dali, começou a publicar o caso por toda parte e a divulgá-lo, de modo que Jesus já não podia entrar abertamente numa cidade, mas conservava-se fora em lugares desertos; e de todos os lados iam ter com ele.
Capítulo 2
Alguns dias depois, entrou Jesus outra vez em Cafarnaum, e soube-se que ele estava em casa.
Ajuntaram-se, pois, muitos, a ponto de não caberem nem mesmo diante da porta; e ele lhes anunciava a palavra.
Nisso vieram alguns a trazer-lhe um paralítico, carregado por quatro.
E não podendo aproximar-se dele, devido à multidão, descobriram o telhado onde estava e, fazendo uma abertura, baixaram o leito em que jazia o paralítico.
E Jesus, vendo-lhes a fé, disse ao paralítico: “Filho, perdoados são os teus pecados.
Ora, estavam ali sentados alguns dos mestres da Lei, que argumentavam em seus corações, dizendo:
“Por que fala assim este homem? Ele blasfema. Quem pode perdoar pecados senão um só, sendo o YWHW?”
Mas Jesus logo percebeu em seu espírito que eles assim argumentavam dentro de si, e perguntou-lhes: “Por que arrazoais desse modo em seus corações?”
“Qual é mais fácil? Dizer ao paralítico: ‘Perdoados são os teus pecados; ou dizer: Levanta-te, toma o teu leito, e anda’?”
“Ora, para que saibais que o Filho do homem tem sobre a terra autoridade para perdoar pecados, disse ao paralítico, a ti te digo, levanta-te, toma o teu leito, e vai para tua casa.”
Então, ele se levantou e, tomando logo o leito, saiu à vista de todos; de modo que todos pasmavam e glorificavam ao Salvador, dizendo: “Nunca vimos coisa semelhante.”
Outra vez saiu Jesus para a beira do lago; e toda a multidão ia ter com ele, e ele os ensinava.
Quando ia passando, viu Levi, filho de Alfeu, sentado na coletoria, e disse-lhe: “Segue-me.” E ele, levantando-se, o seguiu.
Ora, estando Jesus à mesa em casa de Levi, estavam também ali reclinados com ele e seus discípulos muitos coletores de impostos e pecadores, pois eram em grande número e o seguiam.
Vendo os mestres da Lei dos Fariseus que comiam com os coletores de impostos e pecadores, perguntavam aos discípulos: “Por que é que ele come com os coletores de impostos e pecadores?”
Jesus, porém, ouvindo isso, disse-lhes: “Não necessitam de médico os sãos, mas sim os enfermos; eu não vim chamar justos, mas pecadores.”
Ora, os discípulos de João e os fariseus estavam jejuando; e perguntaram-lhe: “Por que jejuam os discípulos de João e os dos fariseus, mas os teus discípulos não jejuam?”
Respondeu-lhes Jesus: “Podem, por acaso, jejuar os convidados às núpcias, enquanto está com eles o noivo? Enquanto têm consigo o noivo, não podem jejuar.”
“Dias virão, porém, em que lhes será tirado o noivo; nesses dias, sim hão de jejuar.”
“Ninguém cose remendo de pano novo em vestido velho; do contrário o remendo novo tira parte do velho, e torna-se maior a rotura.”
“E ninguém coloca vinho novo em odres velhos; do contrário, o vinho novo romperá os odres, e perder-se-á o vinho e também os odres; mas deita-se vinho novo em odres novos.”
E aconteceu que ele passou num dia de Shabat pelas searas; e os seus discípulos, caminhando, começaram a colher espigas.
E os fariseus lhe perguntaram: “Olha, por que estão fazendo no Shabat o que não é lícito?”
Respondeu-lhes ele: “Acaso nunca lestes o que fez Davi quando se viu em necessidade e teve fome, ele e seus companheiros?”
“Como entrou na casa de YHWH, e comeu dos pães da mesa de YHWH, dos quais não era lícito comer senão aos sacerdotes, e deu também aos companheiros?”
E prosseguiu: “O Shabat foi feito devido ao homem, e não o homem devido ao Shabat.”
“Porque o Filho do homem até é Senhor do Shabat.
Capítulo 2
Outra vez, entrou numa sinagoga, e estava ali um homem que tinha uma das mãos atrofiada.
E observavam-no para ver se no Shabat curaria o homem, a fim de o acusarem.
E disse Jesus ao homem que tinha a mão atrofiada: “Levanta-te e vem para o meio.”
Então, lhes perguntou: “É lícito no Shabat fazer bem, ou fazer mal? Salvar a vida ou matar?”
Eles, porém, se calaram. E olhando em redor para eles com indignação, condoendo-se da dureza dos seus corações, disse ao homem: “Estenda tua mão.”
Ele estendeu-a, e lhe foi restabelecida a sua mão atrofiada.
E os fariseus, saindo dali, entraram logo em conselho com os herodianos contra ele, para o matarem.
Jesus, porém, se retirou com os seus discípulos para a beira do lago e uma grande multidão da Galileia o seguiu e também da Judeia.
E de Jerusalém, da Idumeia e de além do Jordão, e das regiões de Tiro e de Sidom, grandes multidões, ouvindo falar de tudo quanto fazia, vieram ter com ele.
Recomendou, pois, a seus discípulos que se lhe preparasse um barquinho, devido à multidão, para que não o apertasse.
Ele havia curado tantos que todos os que sofriam de alguma enfermidade se lançavam sobre ele para tocá-lo.
E os espíritos imundos, quando o viam, prostravam-se diante dele e clamavam, dizendo: “Tu és o Filho do PAI Supremo.”
E Yeshua lhes advertia com insistência que não o dessem a conhecer.
Depois, subiu ao monte, e chamou a si os que ele mesmo queria; e vieram a ele.
Então designou doze para que estivessem com ele, e os mandasse a pregar.
E para terem autoridade de expulsar os demônios.
Designou, pois, os doze, a saber: “Simão, a quem pôs o nome de Cefas.
Tiago, filho de Zebedeu, e João, irmão de Tiago, aos quais pôs o nome de filhos do trovão.
André, Filipe, Bartolomeu, Mateus, Tomé, Tiago, filho de Alfeu, Tadeu, Simão, o Zelote.
E Judas Iscariotes do litoral de Skirot, aquele a quem Yeshua escolheu para cumprir a tarefa de entregá-lo, para a glorificação do PAI Supremo.
Depois entrou numa casa. E afluiu novamente a multidão, de tal modo que nem podiam comer.
Quando os seus familiares ouviram isso, saíram para detê-lo; porque diziam: “Ele está fora de si.”
E os mestres da Lei que haviam descido de Jerusalém diziam: “Ele está possuído por Belial, sendo pelo príncipe dos demônios que expulsa os demônios.”
Então, Jesus os chamou e lhes disse por parábolas: “Como pode Belial expulsar demônios? Pois, se um reino se dividir contra si, tal reino não pode subsistir.”
“Ou, se uma casa se dividir contra si mesma, tal casa não poderá subsistir.”
“E se Belial se levantou contra si e está dividido, não pode subsistir; o seu fim chegou.”
“Pois ninguém pode entrar na casa do valente e roubar-lhe os bens, se primeiro não amarrar o valente e então lhe saquear a casa.”
“Em verdade, eu vos digo, todos os pecados serão perdoados aos filhos dos homens, bem como todas as blasfêmias que proferirem. Mas aquele que blasfemar contra o Espírito Santo, nunca mais terá perdão, mas será réu de pecado eterno.”
Porquanto eles diziam: “Está possuído de um espírito imundo.”
Chegaram então sua mãe e seus irmãos e, ficando do lado de fora, mandaram chamá-lo.
E a multidão estava sentada ao redor dele, e disseram-lhe: “Eis que tua mãe e teus irmãos estão lá fora e te procuram.”
Respondeu-lhes Jesus, dizendo: “Quem é minha mãe e meus irmãos?”
E olhando em redor para os que estavam sentados à roda de si, disse: “Eis aqui minha mãe e meus irmãos! Pois aquele que fizer a vontade do PAI Supremo, esse é meu irmão, irmã e mãe.”
Capítulo 3
Começou novamente a ensinar à beira do lago. E reuniu-se a ele grande multidão que ele entrou num barco e sentou-se nele, sobre o lago e todo o povo estava em terra junto do lago.
Jesus, então, ensinava-lhes muitas coisas por meio de parábolas, dizendo em seus ensinamentos: “Escutem! O semeador saiu para semear.”
“E aconteceu que, quando semeava, uma parte da semente caiu à beira do caminho, e vieram as aves e a comeram.”
“Outra caiu no solo pedregoso, onde não havia muita terra e logo nasceu, porque não tinha terra profunda. Mas, saindo o sol, queimou-se, e, porque não tinha raiz, secou-se.”
“E outra caiu entre espinhos e cresceram os espinhos, e a sufocaram; e não deu fruto.”
“Mas outras caíram em boa terra e, vingando e crescendo, davam fruto e um grão produzia trinta, outro sessenta, e outro cem.”
E disse-lhes: “Quem tem ouvidos para ouvir, ouça.”
Quando ficou sozinho, aqueles que estavam com ele, incluindo os doze, perguntaram por que lhes falava por parábola.
E Jesus lhes disse: “A vós é confiado o mistério do Aeon Eterno do PAI Supremo, mas aos de fora tudo se lhes diz por parábolas.”
“Para que, vendo, vejam e não percebam; e ouvindo, ouçam, e não entendam; para não fazerem arrependimento e sejam perdoados.”
Disse-lhes ainda: “Não compreendeis esta parábola? Como, então, entendereis as demais parábolas?”
“O semeador semeia a palavra e os que estão junto do caminho são aqueles em quem a palavra é semeada. Mas, tendo-a eles ouvido, vem logo Belial e tira a palavra que neles foi semeada.”
“Da mesma forma, aqueles que recebem a palavra em solo pedregoso são os que a acolhem imediatamente com alegria. Contudo, por não terem raízes profundas, são de curta duração; e quando surgem tribulações ou perseguições devido à palavra, logo se desanimam.”
“Por outro lado, há aqueles que recebem a palavra como a semente lançada entre os espinhos. Estes, embora a ouçam, são dominados pelas preocupações mundanas, pelo engano das riquezas e pelo desejo de outras coisas. Tais princípios, ao entrarem em suas vidas, sufocam a palavra, impedindo-a de produzir frutos.”
“Aqueles outros que foram semeados em boa terra são os que ouvem a palavra e a recebem, e dão fruto, a trinta, a sessenta, e a cem, por um.”
Disse-lhes mais: “Por que se acenderia uma lâmpada para escondê-la debaixo de um cesto ou da cama? Pelo contrário, ela deve ser colocada em um candeeiro.”
“Pois não há nada oculto que não se torne manifesto, e nada oculto que não seja desvelado. Quem tem ouvidos para ouvir, ouça.”
Também lhes disse: “Prestai atenção ao que escutais. A medida que usardes para os outros será a mesma que usada para vós, e ainda mais vos será concedido.”
“Pois ao que tem, lhe será dado e ao que não tem, até aquilo que tem lhe será tirado.”
Disse também: “O Aeon Eterno do PAI Supremo é como um homem que lança sementes na terra. Ele dorme, acorda de dia e de noite, e a semente brota e cresce, sem que ele saiba como.”
“A terra por si mesma produz fruto, primeiro a erva, depois a espiga, e por último o grão cheio na espiga. Mas assim que o fruto amadurecer, logo lhe mete a foice, porque é chegada a colheita.”
Disse ainda: “A que assemelharemos o reino do PAI Supremo? Ou com que parábola o representaremos?”
“É como um grão de mostarda que, quando se semeia, é a menor de todas as sementes que há na terra. Mas, tendo sido semeado, cresce e faz-se a maior de todas as hortaliças e cria grandes ramos, de tal modo que as aves do céu podem aninhar-se à sua sombra.”
E com muitas parábolas tais lhes dirigiam a palavra, conforme podiam compreender.
E sem parábola não lhes falava; mas em particular explicava tudo a seus discípulos.
Naquele dia, quando já era tarde, disse-lhes: “Passemos para o outro lado.”
E eles, deixando a multidão, levaram consigo, assim como estava no barco e havia com ele também outros barcos.
E se levantou grande tempestade de vento, e as ondas cobriam o barco, de modo que já se enchia.
Ele, contudo, dormia na popa, com a cabeça sobre o travesseiro. Eles o acordaram e perguntaram: “Mestre, o Senhor não se importa se padecermos?”
E ele, levantando-se, repreendeu o vento, e disse ao lago: “Cala-te, aquieta-te.”
E cessou o vento, e fez-se grande bonança.
Então, lhes perguntou: “Por que sois assim tímidos? Ainda não tens fé?”
Encheram-se de grande temor, e diziam mutualmente: “Quem, por acaso, é este, que até o vento e o lago lhe obedecem?”
Capítulo 4
Chegaram então ao outro lado do lago, à terra dos gerasenos.
Assim que Jesus desceu do barco, um homem possuído por um espírito impuro, que vivia entre os túmulos, veio ao seu encontro.
Ninguém conseguia prendê-lo, nem mesmo com correntes.
Muitas vezes, ele havia sido preso com grilhões e cadeias; contudo, as cadeias eram quebradas em pedaços por ele, e os grilhões, desfeitos em migalhas. Ninguém conseguia dominá-lo.
E sempre, de dia e de noite, andava pelos sepulcros e pelos montes, gritando, e ferindo-se com pedras.
Vendo, pois, de longe, a Jesus, correu e adorou-o.
E, clamando com grande voz, disse: Que tenho eu contigo, Jesus, Filho do Único, o PAI Supremo? Conjuro-te por Yaldabaoth que não me atormentes.
Pois Jesus lhe dizia: “Sai desse homem, espírito imundo.”
E perguntou-lhe: “Qual é o teu nome?”
Respondeu-lhe ele: “Legião é o meu nome, porque somos muitos.”
E pedia-lhe muito que não os enviasse para fora da região.
Ora, andava ali pastando no monte uma grande manada de porcos.
Pediram-lhe, pois, os demônios, dizendo: “Manda-nos para aqueles porcos, para entrarmos neles.”
E ele lhe permitiu. Saindo, então, os espíritos imundos, entraram nos porcos; e precipitou-se a manada, que era de uns dois mil, pelo despenhadeiro no lago, onde todos se afogaram.
Nisso fugiram aqueles que os apascentavam, e o anunciaram na cidade e nos campos; e muitos foram ver o que era aquilo que havia acontecido.
Chegando-se a Jesus, viram o endemoniado, o que tivera a legião, sentado, vestido, e em perfeito juízo, e temeram.
Aqueles que presenciaram os eventos narraram o ocorrido com o homem possuído e com os porcos.
Em seguida, as pessoas começaram a rogar a Jesus que partisse daquela região.
E, entrando ele no barco, pedia-lhe o que fora endemoniado que o deixasse estar com ele.
Jesus, porém, não lhe permitiu, mas disse-lhe: “Vai para tua casa, para os teus, e anuncia-lhes o quanto o PAI Supremo te fez, e como teve misericórdia de ti.
Então, Jesus partiu, e o homem começou a proclamar em Decápolis tudo o que Jesus havia feito por ele, deixando a todos admirados.
Tendo Jesus passado de novo no barco para o outro lado, juntou-se a ele uma grande multidão e ele estava à beira do lago.
Chegou um dos chefes da sinagoga, chamado Jairo, e, logo que viu a Jesus, lançou-se aos pés.
E lhe pedia com veemência, dizendo: “Minha filhinha Semida, está nas últimas, peço-te que venhas e lhe imponhas as mãos nela para curá-la e viver.”
Jesus foi com ele, e seguiu-o uma grande multidão, que o apertava.
Ora, certa mulher, chamada Verônica (cujo nome é Berenice) que havia doze anos, sofria de uma hemorragia.
Ela havia sofrido muito nas mãos de vários médicos e gastado todos os seus bens, sem melhora alguma; pelo contrário, só piorava.
Tendo ouvido falar a respeito de Jesus, veio por detrás dele, entre a multidão, e tocou-lhe o manto.
Pois ela pensava: “Se eu somente tocar em suas vestes, serei curada.”
E cessou imediatamente a sua hemorragia, e sentiu no corpo estar já curada do seu mal.
E logo Jesus, percebendo em si que saíra dele poder, virou-se no meio da multidão e perguntou: “Quem me tocou as vestes?”
Responderam-lhe os seus discípulos: “Vês que a multidão te aperta, e perguntas: Quem me tocou?”
Ele então olhou em volta para identificar quem havia feito aquilo.
Então, a mulher, aterrorizada e trêmula, ciente do que nela se havia operado, veio e prostrou-se diante dele, e declarou-lhe toda a verdade.
Ele lhe disse: “Filha, a sua fé a salvou, vá em paz e fique livre do seu mal.”
Enquanto ele ainda falava, chegaram pessoas da casa do chefe da sinagoga, a quem disseram: “A tua filha já padeceu, por que ainda incomodas o Mestre?”
Ouvindo o que foi falado, Jesus disse ao chefe da sinagoga: “Não temas, crê somente.”
E não permitiu que ninguém o acompanhasse, senão Cefas, João, e Tiago, irmão de João.
Quando chegaram à casa do chefe da sinagoga, viu Jesus um alvoroço, e os que choravam e faziam grande pranto.
E, entrando, disse-lhes: “Por que fazeis alvoroço e chorais? A menina não morreu, mas dorme.”
E riam-se dele, porém ele, tendo feito sair a todos, tomou consigo o pai e a mãe da menina, e os que com ele vieram, e entrou onde a menina estava.
E, tomando a mão da menina, disse-lhe: “Menina, levanta-te.”
Imediatamente, a menina se levantou, e pôs-se a andar, pois tinha doze anos. E logo foram tomados de grande espanto.
Então, ordenou-lhes expressamente que ninguém o soubesse, e mandou que lhe dessem de comer.
Capítulo 5
Saiu Jesus dali, e foi para a sua terra, e os seus discípulos o seguiam.
Ora, chegando o Shabat, começou a ensinar na sinagoga; e muitos, ao ouvi-lo, se maravilhavam, dizendo: “De onde lhe vêm estas coisas? E que sabedoria é esta que lhe é dada? E como se fazem tais milagres por suas mãos?”
E escandalizavam-se dele, dizendo: “Não é este o carpinteiro, filho de Maria, irmão de Tiago, de Josetos, de Judas e de Simão? E não estão aqui entre nós, suas irmãs Assia e Lydia?”
Então, Jesus lhes dizia: “Um profeta não fica sem honra senão na sua terra, entre os seus parentes, e na sua própria casa.”
E não podia fazer ali nenhum milagre, a não ser curar alguns poucos enfermos, impondo-lhes as mãos.
E admirou-se da incredulidade deles. Em seguida, percorria as aldeias da redondeza, ensinando.
E chamou a si os doze, e começou a enviá-los a dois e dois, e dava-lhes poder sobre os espíritos imundos.
Ordenou-lhes que nada levassem para o caminho, senão somente um bordão, nem pão, nem bolsa, nem dinheiro no cinto. Mas que fossem calçados de sandálias, e que não vestissem duas túnicas.
Dizia-lhes mais: “Onde quer que entrardes numa casa, ficai nela até sairdes daquele lugar. E se qualquer lugar não vos receber, nem os homens vos ouvirem, saindo dali, sacudi o pó que estiver debaixo dos seus pés, em testemunho conta eles.”
Então saíram e proclamaram a todos para se arrependerem.
E expulsavam muitos demônios, e ungiam muitos enfermos com óleo, e os curavam.
E soube disso o rei Herodes, e disse: “João, o Batista, ressuscitou dos mortos; e por isso estes poderes milagrosos operam nele.”
Mas outros diziam: “É Elias.” E ainda outros diziam: “É profeta como um dos profetas.”
Herodes, porém, ouvindo isso, dizia: “É João, aquele a quem mandei degolar, ressuscitou.”
O próprio Herodes havia mandado prender João e o mantinha acorrentado na prisão devido a Herodias, esposa de seu irmão Filipe, com quem Herodes havia se casado.
Pois João dizia a Herodes: “Não te é lícito ter a mulher de teu irmão.”
Por isso, Herodias lhe guardava rancor e queria matá-lo, mas não podia.
Herodes temia João, pois sabia que ele era um homem justo e santo. Por isso, o mantinha em segurança e, ao ouvi-lo, ficava muito intrigado, mas ainda assim o escutava com agrado.
Chegado, porém, um dia oportuno quando Herodes, no seu aniversário natalício, ofereceu um banquete aos grandes da sua corte, aos principais da Galileia.
Entrou a filha da mesma Herodias e, dançando, agradou a Herodes e aos convivas. Então, o rei disse à jovem: “Pede-me o que quiseres, e eu to darei.”
E jurou-lhe, dizendo: “Tudo o que me pedires te darei, ainda que seja metade do meu reino.”
Tendo Salomé saído, perguntou a sua mãe: “Que pedirei?”
Herodias respondeu: “A cabeça de João, o Batista.”
E, tornando-se logo com pressa à presença do rei, pediu, dizendo: “Quero que imediatamente me dê num prato a cabeça de João, o Batista.”
Ora, entristeceu-se muito o rei, todavia, devido aos seus juramentos e aos que estavam à mesa, não lhe quis negar.
O rei, enviando prontamente um de seus soldados da guarda, ordenou que trouxesse a cabeça de João. Assim, o soldado foi e o decapitou na prisão.
E trouxe a cabeça num prato e a deu à jovem, e a jovem a deu à sua mãe.
Quando os seus discípulos ouviram isso, vieram, tomaram o seu corpo e o puseram num sepulcro.
Reuniram-se os apóstolos com Jesus e contaram-lhe tudo o que haviam feito e ensinado.
Ao que ele lhes disse: “Vinde vós, à parte, para um lugar deserto, e descansai um pouco. Porque eram muitos os que vinham e iam, e não tinham tempo nem para comer.”
Retiraram-se, pois, no barco para um lugar deserto, à parte.
Muitos, porém, os viram partir, e os reconheceram; e para lá correram a pé de todas as cidades, e ali chegaram primeiro do que eles.
E Jesus, ao desembarcar, viu uma grande multidão e compadeceu-se deles, porque eram como ovelhas que não têm pastor e começou a ensinar-lhes muitas coisas.
Estando a hora já muito adiantada, aproximaram-se dele, seus discípulos e disseram: “O lugar é deserto, e a hora já está muito adiantada.”
Despede-os, para que vão aos sítios e às aldeias, em redor, e comprem para si o que comer.
Ele, porém, lhes respondeu: “Dai-lhes vós de comer.”
Então, eles lhe perguntaram: “Havemos de ir comprar duzentas moedas de pão e dar-lhes de comer?”
Ao que Jesus lhes disse: “Quantos pães tens? Ide ver.”
E, tendo-se informado, responderam: “Cinco pães e dois peixes.”
Então, lhes ordenou que todos fizessem reclinar-se, em grupos, sobre a relva verde.
E reclinaram-se em grupos de cem e cinquenta.
E, tomando Jesus os cinco pães e os dois peixes, e erguendo os olhos ao céu, fez a bênção; partiu os pães e os entregava a seus discípulos para lhes servirem; também repartiu ambos os peixes por todos.
E todos comeram e se fartaram.
Em seguida, recolheram doze cestos cheios dos pedaços de pão e de peixe.
Ora, os que comeram os pães eram cinco mil homens.
Logo em seguida, obrigou os seus discípulos a entrar no barco e passar adiante, para o outro lado, a Betsaida, enquanto ele despedia a multidão.
E, tendo-a despedido, foi ao monte para orar.
Chegada à tardinha, estava o barco no meio do lago, e ele sozinho em terra.
E, vendo-os fatigados a remar, porque o vento lhes era contrário, pela quarta vigília da noite, foi ter com eles, andando sobre o lago e queria passar-lhes adiante.
Eles, porém, ao vê-lo andando sobre o lago, pensaram ser um fantasma e gritaram.
Porque todos o viram e se assustaram, mas ele falou imediatamente com eles e disse-lhes: “Tenham ânimo, sou eu, não temam.”
E subiu para junto deles no barco, e o vento cessou e ficaram, no seu íntimo, grandemente pasmados.
Pois não haviam compreendido o milagre dos pães, antes o seu coração estava endurecido.
E, terminada a travessia, chegaram à terra em Genesaré, e ali atracaram.
Logo que desembarcaram, o povo reconheceu a Jesus.
E correndo eles por toda aquela região, começaram a levar nos leitos os que se achavam enfermos, para onde ouviam dizer que ele estava.
Onde quer, pois, que entrasse, fosse nas aldeias, nas cidades ou nos campos, apresentavam os enfermos nas praças, e pediam-lhe que os deixasse tocar ao menos as franjas de seu manto de oração, e todos os que a tocavam ficavam curados.
Capítulo 6
Foram ter com Jesus os fariseus, e alguns dos mestres da Lei vindos de Jerusalém.
E repararam que alguns dos seus discípulos comiam pão com as mãos impuras, isto é, por lavar.
Pois os fariseus, e todos os moradores da região de Judeia, guardando a tradição dos anciãos, não comem sem lavar as mãos cuidadosamente.
E quando voltam do mercado, se não se purificarem, não comem. E muitas outras coisas há que receberam para observar, como lavar copos, jarros e vasos de bronze.
Perguntaram-lhe, pois, os fariseus e os professores da Lei: “Por que não andam os teus discípulos conforme a tradição dos anciãos, mas comem o pão com as mãos por lavar?”
Respondeu-lhes Jesus: “Bem profetizou Isaías a respeito de vós, hipócritas, como está escrito: ‘Este povo honra-me com os lábios; o seu coração, porém, está longe de mim’.”
“Mas em vão me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos de homens.”
“Vós deixais a lei de YHWH, o seu, Elohim, e vos apegais à tradição dos homens.”
Disse-lhes ainda: “Bem sabeis rejeitar a lei de YHWH, o seu, Elohim, para guardardes a vossa tradição.”
“Pois Moisés disse: ‘Honra a teu pai e a tua mãe; e: quem maldisser ao pai ou à mãe, certamente morrerá’.”
“Mas vós dizeis: ‘Se um homem disser a seu pai ou a sua mãe: aquilo que poderias aproveitar de mim é sacrifício, isto é, oferta ao YHWH, o seu, Elohim, não mais lhe permitis fazer coisa alguma por seu pai ou por sua mãe’.”
Invalidando assim a palavra do PAI Supremo pela vossa tradição que vós transmitistes, também muitas outras coisas semelhantes fazeis.
Jesus convocou a multidão novamente e disse: “Ouçam e compreendam todos vocês. Pois o que entrar em vossa boca não vos maculará, mas o que sair de vossa boca, é isso que vos maculará. Quem tem ouvidos para ouvir, ouça.”
Depois, quando deixou a multidão e entrou em casa, os seus discípulos o interrogaram a respeito da parábola.
Jesus lhes respondeu: “Vocês também não conseguem entender? Não compreendem que nada que venha de fora e entre na boca do homem pode contaminá-lo? Pois não entra no seu coração, mas sim no estômago, e depois é expelido pelos intestinos, purificando assim os alimentos.”
E prosseguiu Jesus: “O que sai da boca do homem, isso é que o contamina. Pois é do interior, do coração dos homens, que vêm os maus pensamentos, as prostituições, os furtos, os homicídios, os adultérios. A cobiça, as maldades, o dolo, a libertinagem, a inveja, a blasfêmia, a soberba, a insensatez. Estas coisas más vêm de dentro e contaminam o homem.”
Partindo dali, Jesus dirigiu-se às regiões de Tiro e Sidom. Ao entrar em uma casa, desejava permanecer em segredo, mas não conseguiu ocultar-se.
Porque logo, certa mulher, cuja filha estava possuída de um espírito imundo, ouvindo falar dele, veio e prostrou-se-lhe aos pés.
Ora, a mulher era pagã, de origem siro-fenícia e pedia-lhe que expulsasse de sua filha o demônio.
Respondeu-lhes Jesus: “Deixa que primeiro se fartem os filhos; porque não é bom tomar o pão dos filhos e lança-lo aos cachorrinhos.”
Ela, porém, replicou, e disse-lhe: “Sim, Senhor Salvador; mas também os cachorrinhos debaixo da mesa comem das migalhas dos filhos.”
Então ele lhe disse: “Por essa palavra, vai; o demônio já saiu de tua filha.”
E, voltando ela para casa, achou a menina deitada sobre a cama, e que o demônio já havia saído.
Tendo Jesus partido das regiões de Tiro e Sidom, até o lago de Galileia, passando pelas regiões das Dez Cidades.
E trouxeram-lhe um surdo, que falava dificilmente; e pediram-lhe que pusesse a mão sobre ele.
Jesus, pois, tirou-o de entre a multidão, à parte, meteu-lhe os dedos nos ouvidos e, cuspindo, tocou-lhe na língua.
E erguendo os olhos ao céu, suspirou e disse-lhe: “Abre-te.”
E abriram-se-lhe os ouvidos, a prisão da língua se desfez, e falava perfeitamente.
Então, lhes ordenou Jesus que ninguém o dissesse mas, quando mais lhe proibia, tanto mais o divulgavam.
E se maravilhavam sobremaneira, dizendo: “Tudo tem feito bem, faz até os surdos ouvirem e os mudos falarem.”
Capítulo 7
Naqueles dias, havendo de novo uma grande multidão, e não tendo o que comer, então reuniu Yeshua os discípulos.
Então ele disse-lhes: “Tenho compaixão da multidão, porque já faz três dias que eles estão comigo, e não têm o que comer. Se eu os mandar em jejum para suas casas, desfalecerão no caminho; e alguns deles vieram de longe.”
E seus discípulos lhe responderam: “De onde poderá alguém satisfazê-los de pão aqui no deserto?”
Perguntou-lhes Jesus: “Quantos pães tens?
Responderam os discípulos: “Sete.”
Logo mandou ao povo que se sentasse no chão e, tomando os sete pães e havendo dado graças, partiu-os e os entregava a seus discípulos para que os distribuíssem, e eles os distribuíram pela multidão.
Tinham também alguns peixinhos, sobre os quais ele fez a bênção, e mandou que estes também fossem distribuídos.
Comeram, pois, e se fartaram e, dos pedaços que sobejavam, levantaram sete cestos.
Ora, eram cerca de quatro mil homens. E Jesus os despediu.
E, entrando logo no barco com seus discípulos, foi para as regiões de Dalmanuta.
Os fariseus saíram e começaram a questioná-lo, buscando um sinal do céu para testá-lo.
Ele, suspirando profundamente em seu espírito, disse: “Por que pede esta geração um sinal? Em verdade, eu vos digo, que a esta geração não será dado sinal algum.”
E, deixando-os, tornou a embarcar e foi para o outro lado.
Ora, eles se esqueceram de levar pão, e no barco não tinham consigo senão um pão.
E Jesus ordenou-lhes, dizendo: “Olhai, cuidado com o fermento dos fariseus e do fermento de Herodes.”
Pelo que eles argumentavam entre si, porque não tinham pão.
E Jesus, percebendo isso, disse-lhes: “Por que arrazoais por não terdes pão? Não compreendeis ainda, nem entendeis? Tendes o vosso coração endurecido? Tendo olhos, não vedes? E tendo ouvidos, não ouvi? E não vos lembrais?”
“Quando parti os cinco pães para os cinco mil, quantos cestos cheios de pedaços levantastes?”
Responderam-lhe: “Doze.”
“E quando partimos os sete para os quatro mil, quantas cestas cheias de pedaços levantastes?”
Responderam-lhe: “Sete.”
E ele lhes disse: “Não entendeis ainda?”
Então chegaram a Betsaida. E trouxeram-lhe um cego, e pediram-lhe que o tocasse.
Jesus, ao tomar o cego pela mão, e o levou para fora da aldeia e cuspindo-lhe nos olhos, e impondo-lhe as mãos, perguntou-lhe: “Vês alguma coisa?”
E, levantando-o os olhos, disse: “Estou vendo os homens. Porque como árvores, os vejo andando.”
Então, tornou a pôr-lhe as mãos sobre os olhos; e ele, olhando atentamente, ficou restabelecido, pois já via nitidamente todas as coisas.
Depois, o mandou para casa, dizendo: “Mas não entres na aldeia.”
E saiu Jesus com os seus discípulos para as aldeias de Cesareia de Filipe, e no caminho interrogou os discípulos, dizendo: “Quem dizem os homens que eu sou?”
Responderam-lhe eles: “Uns dizem: João, o Batista; outros: Elias; e ainda outros: algum dos profetas.”
Então, lhes perguntou: “Mas vós, quem dizeis que Eu sou?”
Respondendo, Cefas lhe disse: “Tu és o Messias do PAI Supremo.”
E ordenou-lhes Jesus que ninguém dissesse aquilo a respeito dele.
Começou então a ensinar-lhes que era necessário que o Filho do homem sofresse muitas coisas, que fosse rejeitado pelos anciãos e principais sacerdotes e pelos mestres da Lei, que fosse morto, e que, após três dias, ressuscitasse.
E isso dizia abertamente. Ao que Cefas, tomando-o à parte, começou a repreendê-lo.
Mas ele, virando-se olhando para seus discípulos, repreendeu Cefas, dizendo: “Para trás de mim, Satanás; porque não cuidas das coisas que são do PAI Supremo, mas sim das que são dos homens.”
E chamando a si a multidão com os discípulos, disse-lhes: “Se alguém quer vir após mim, negue-se a si, tome o seu madeiro, e siga-me.”
Pois quem quiser salvar a sua vida, irá perdê-la; mas quem perder a sua vida por amor de mim e das Boas Novas, irá salvá-la.”
“Pois que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua vida?”
“Ou que dirá o homem em troca da sua vida?”
Porque, se alguém desta geração incrédula e pecadora se envergonhar de mim e das minhas palavras, o Filho do Homem também se envergonhará dele quando vier na glória de seu PAI com os santos anjos.
Capítulo 8
Além disso, Yeshua lhes disse: “Em verdade vos digo que alguns dos que aqui estão não experimentarão a morte antes de verem o reino do PAI Supremo chegar com Poder.”
Seis dias depois, tomou Jesus consigo a Cefas, a Tiago, e a João, e os levou à parte sós, a um alto monte; e transfigurado diante deles.
Suas roupas se tornaram tão brancas e resplandecentes que nenhum lavandeiro na terra conseguiria igualar tal brancura.
E apareceu-lhes Elias com Moisés, e falavam com Jesus.
Cefas, tomando a palavra, disse a Jesus: “Mestre, bom é estarmos aqui; façamos, pois, três tendas, uma para ti, outra para Moisés, e outra para Elias.”
Pois não sabia o que havia de dizer, porque ficaram aterrorizados.
Nisto veio uma nuvem que os cobriu, e dela saiu uma voz que dizia: “Este é o meu Filho amado, a ele ouçam.”
De repente, tendo olhado em redor, não viram mais a ninguém consigo, senão só a Jesus.
Enquanto desciam do monte, ordenou-lhes que ninguém contasse o que haviam visto, até que o Filho do Homem ressuscitasse dentre os mortos.
E eles guardaram o caso em segredo, indagando entre si o que seria o ressuscitar dentre os mortos.
Então, lhe perguntaram: “Por que dizem os mestres da Lei que é necessário que Elias venha primeiro?”
Jesus lhes respondeu: “De fato, Elias virá primeiro para restaurar todas as coisas. Mas, então, por que está escrito que o Filho do Homem deve sofrer muito e ser desprezado?”
“No entanto, eu vos digo que Elias já veio, e eles fizeram com ele tudo o que quiseram, conforme o que dele está escrito.”
“Quando chegaram onde estavam os discípulos, viram ao redor deles uma grande multidão, e alguns mestres da Lei a tratarem com eles.”
E logo toda a multidão, vendo a Jesus, ficou grandemente exaltada, e correndo todos para ele, o saudavam.
Ele perguntou aos mestres da Lei: “O que discuti com eles?”
Respondeu-lhe um dentre a multidão: “Mestre, eu te trouxe meu filho, que tem um espírito mudo. E este, onde quer que o apanha, convulsiona-o, de modo que ele espuma, range os dentes, e vai definhando; e eu solicitai aos teus discípulos que o expulsassem, e não puderam.”
Jesus lhes disse: “Ó, geração sem fé! Por quanto tempo terei que ficar com vocês? Até quando terei que suportá-los? Tragam o menino aqui.”
Então, lhe trouxeram; e quando ele viu a Jesus, o espírito imediatamente o convulsionou e o endemoniado, caindo por terra, se debatia, espumando.
Perguntou Jesus ao pai dele: “Há quanto tempo acontece-lhe isto?”
Respondeu ele: “Desde a infância. E muitas vezes o tem lançado no fogo, e na água, para o destruir; mas o que puderes fazer, me ajude e tem compaixão de nós e ajuda-nos.”
Ao que lhe disse Jesus: “Se puderes confiar, tudo é possível ao que confia.”
Imediatamente, o pai do menino, clamando, com lágrimas, disse: “Mestre, eu confio! Ajuda a minha falta de confiança.”
E Jesus, vendo que a multidão, correndo, se aglomerava, repreendeu o espírito imundo, dizendo: “Espírito mudo e surdo, eu te ordeno: sai dele, e nunca mais entres nele.”
E ele, gritando, e agitando-o muito, saiu. E ficou o menino como morto, de modo que a maioria dizia: “Morreu.”
Mas Jesus, tomando-o pela mão, o ergueu e ele ficou em pé.
E quando entrou em casa, seus discípulos lhe perguntaram à parte: “Por que não pudemos nós expulsá-lo?”
Respondeu-lhes: “Essa espécie só pode ser expulsa por meio de jejum e oração.”
Depois, tendo partido dali, passavam pela Galileia, e ele não queria que ninguém soubesse.
Jesus estava ensinando a seus discípulos, dizendo-lhes: “O Filho do Homem será entregue aos homens, que o matarão. Mas, após três dias, ele ressuscitará dos mortos.”
Mas eles não entendiam esta palavra, e temiam interrogá-lo.
Chegaram a Cafarnaum. E, estando ele em casa, perguntou-lhes: “Que estavam discutindo pelo caminho?”
Mas eles se calaram, porque pelo caminho haviam discutido entre si qual deles era o maior.
Assentando-se, ele chamou os Doze e disse: “Quem quiser ser o primeiro, que seja o último de todos e servo de todos.”
Ele pegou uma criança, colocou-a entre eles, e a abraçou, dizendo: “Quem receber uma destas crianças em meu nome, a mim me recebe; e quem a mim me recebe, recebe àquele que me enviou.”
Disse-lhe João: “Mestre, vimos um homem que em teu nome expulsava demônios, e nós lhe proibimos, porque não nos seguia.”
Jesus, porém, respondeu: “Não o impeçais, pois ninguém que faça um milagre em meu nome será capaz de, em seguida, falar mal de mim. Pois quem não é contra nós, é por nós.”
“Em verdade vos digo: quem vos der a beber um copo de água por serdes do Messias, de modo algum perderá sua recompensa.”
“Entretanto, se alguém ofender um destes pequeninos que creem em mim, melhor lhe seria que se lhe pendurasse ao pescoço uma pedra de moinho, e se fosse submerso nas profundezas do mar.”
“E se a tua mão te fizer tropeçar, corta-a; melhor é entrares na vida eterna aleijado, do que, tendo duas mãos, ires para a Geena, para o fogo que nunca se apaga. Onde o seu verme não perece, e o fogo não se apaga.”
“Ou, se o teu pé te fizer tropeçar, corta-o; melhor é entrar coxo na vida eterna, do que, tendo dois pés, ser lançado na Geena. Onde o seu verme não perece, e o fogo não se apaga.”
“Ou, se o teu olho te fizer tropeçar, lança-o fora; melhor é entrares no Aeon Eterno do PAI Supremo com um só olho, do que, tendo dois olhos, ser lançado na Geena. Onde o seu verme não perece, e o fogo não se apaga.”
“Porque cada um será aniquilado com fogo.”
“O sal é bom, mas se perder o sabor, como será restaurado? Tenham sal em vocês, ou seja, ajam corretamente, e mantenham a paz entre si.”
Capítulo 9
Levantando-se, Jesus partiu dali para os termos da Judeia, e para além do Jordão e do novo, as multidões se reuniram em torno dele e pôs a ensiná-las, como tinha por costume.
Então se aproximaram dele alguns fariseus e, para o testarem, lhe perguntaram: “É lícito ao homem repudiar sua mulher?”
Ele, porém, respondeu-lhes: “Que vos ordenou Moisés?”
Replicaram eles: “Moisés permitiu escrever carta de divórcio, e repudiar a mulher.”
Disse-lhes Jesus: “Pela dureza dos seus corações, ele vos deixou escrito essa lei.
Mas desde o princípio da criação, o Yaldabaōth os fez homem e mulher.
Por isso, deixará o homem a seu pai e a sua mãe e unir-se-á à sua mulher, e serão os dois uma só carne; assim já não são mais dois, mas uma só carne.
Porquanto o que o Yaldabaōth juntou, não o separe o homem.
Em casa, os discípulos interrogaram-no de novo sobre isso.
Ao que lhes respondeu: “Qualquer que repudiar sua mulher e casar com outra comete adultério contra ela.”
E se ela for repudiada por seu marido e casar com outro, comete adultério.
Então lhe traziam algumas crianças para tocar, mas os discípulos o repreenderam.
Jesus, porém, vendo isto, indignou-se e disse-lhes: “Deixai vir a mim as crianças, e não as impeçais, porque de tais é o Aeon do PAI Supremo.”
“Em verdade, eu vos digo, que qualquer que não receber o reino do PAI Supremo como criança, de maneira nenhuma entrará nele.”
E, tomando-as nos seus braços e pondo as mãos sobre elas, fez uma bênção.
Ora, ao sair para se pôr a caminho, correu para ele um homem, o qual se ajoelhou diante dele e lhe perguntou: “Bom Mestre, que hei de fazer para herdar a vida eterna?”
Respondeu-lhe Jesus: “Por que me chamas bom? Ninguém é bom senão o Único, o qual é o PAI Supremo. Sabes as leis?”
Ele, porém, lhe replicou: “Mestre, tudo isso guardo desde a minha juventude.”
E Jesus, olhando para ele, o amou e lhe disse: “Só te falta um mistério: vai, vende tudo o que tens e dá aos pobres, e terás um tesouro na Luz; depois, vem e segue-me.”
Mas ele, pesaroso desta palavra, retirou-se triste, porque possuía muitos bens.
Então, Jesus, olhando em redor, disse aos seus discípulos: “Quão dificilmente entrarão no reino do PAI Supremo os que têm riquezas!”
E os discípulos se maravilharam destas suas palavras; mas Jesus, tornando a falar, disse-lhes: “Filhos, quão difícil é para os que confiam nas riquezas entrar no reino do PAI Supremo!”
“É mais fácil uma corda passar pelo fundo de uma agulha, do que entrar um rico no reino do PAI Supremo.”
Com isso, eles ficaram sobremaneira maravilhados, dizendo entre si: “Quem pode, então, ser salvo?”
Jesus, fixando os olhos neles, respondeu: “Para os homens é impossível, mas não para o PAI Supremo; porque para o PAI Supremo tudo é possível.”
Cefas começou a dizer-lhe: “Eis que deixamos tudo e te seguimos.”
Respondeu Yeshua: “Na verdade, e eu vos digo, que aquele, que tenha deixado casa, ou irmãos, ou irmãs, ou mãe, ou pai, ou filhos, ou campos, por amor de mim e das Boas Novas, que não receba cem vezes mais, já neste tempo, em casas, irmãos, irmãs, mães, filhos e campos, mesmo com perseguições, e, no Aeon Eterno, a vida eterna.”
“Mas muitos que são primeiros serão últimos, e muitos que são últimos serão primeiros.”
Ora, estavam a caminho, subindo para Jerusalém e Jesus ia adiante deles, e eles se maravilhavam e o seguiam aterrorizados.
De novo, tomou consigo os doze e começou a contar-lhes as coisas que lhe haviam de sobrevir.
Yeshua disse-lhes: “Eis que subimos a Jerusalém, e o Filho do homem será entregue aos principais sacerdotes e aos mestres da Lei, e eles o condenarão à morte, e o entregarão aos gentios.”
“E irão escarnecê-lo e cuspir nele, e açoitá-lo, e executá-lo; e após três dias ressuscitará.
Nisso, aproximaram-se dele Maria Salomé, mãe de Tiago e João, filhos de Zebedeu, dizendo-lhe: “Mestre, queremos que nos faças o que te pedirmos.”
Ele, pois, lhes perguntou: Que quereis que eu vos faça?
Responderam-lhe: “Concede-nos que na tua glória eles sentem-se, um à tua direita, e outro à tua esquerda.”
Mas Jesus lhes disse: “Não sabem o que pedem, podem beber o cálice que bebo, e ser imersos no batismo em que Eu sou imerso?”
E lhe responderam: “Podemos.”
Mas Jesus lhes disse: “O cálice que bebo, haveis de bebê-lo, e no batismo em que Sou imerso, haveis de ser imersos.”
“Mas o sentar-se à minha direita, ou à minha esquerda, não me pertence concedê-lo; mas isso é para aqueles a quem está reservado.”
E, ouvindo isso, os dez, começaram a indignar-se contra Tiago e João.
Então, Jesus os chamou para si e disse: “Vocês sabem que aqueles que são considerados governantes entre os gentios dominam sobre eles, e os seus Arcontes exercem autoridade sobre eles.”
“Mas entre vós não será assim, antes, qualquer que entre vós quiser tornar-se grande, será esse o que vos servirá. E qualquer que entre vós quiser ser o primeiro, será servo de todos.”
“Pois também o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir, e para dar a sua vida em resgate de muitos.”
Eles chegaram a Jericó e, ao sair da cidade com seus discípulos e uma grande multidão, um mendigo cego chamado Timai, filho de Timai, estava sentado à beira do caminho.
Este, quando ouviu que era Jesus, de Nazaré, começou a clamar, dizendo: “Jesus, Filho de Davi, tem compaixão de mim!”
E muitos o repreendiam, para se calar; mas ele clamava ainda mais: “Filho de Davi, tem compaixão de mim.”
Parou, pois, Jesus e disse: “Chamai-o.”
E chamaram o cego, dizendo-lhe: “Tem bom ânimo; levanta-te, ele te chama.”
Nisto, lançando de si a sua capa, de um salto se levantou e foi ter com Jesus.
Jesus perguntou ao cego: “Que queres que te faça?”
Respondeu-lhe o cego: “Mestre, que eu veja.”
Disse-lhe Jesus: “Vai, a tua fé te salvou.”
E recuperou imediatamente a vista, e foi seguindo pelo caminho.
Capítulo 10
Ora, quando se aproximavam de Jerusalém, de Betfagé e de Betânia, junto do Monte das Oliveiras, enviou Jesus dois dos seus discípulos.
E disse-lhes: “Ide à aldeia que está na frente de vós; e logo que nela entrardes, encontrareis preso um jumentinho, em que ainda ninguém montou; desprendei-o e trazei-o.”
E se alguém vos perguntar: “Por que fazeis isso? Respondei: O Mestre precisa dele, e logo tornará a enviá-lo para aqui.”
Foram, pois, e acharam o jumentinho preso ao portão do lado de fora na rua, e o desprenderam.
E alguns dos que ali estavam lhes perguntaram: “Que fazeis, desprendendo o jumentinho?”
Responderam como Jesus lhes havia mandado e lho deixaram levar.
Então trouxeram a Jesus o jumentinho e lançaram sobre ele os seus mantos e Jesus montou nele.
Muitos também estenderam pelo caminho os seus mantos, e outros, ramagens que haviam cortado nos campos.
E tanto os que o precediam como os que o seguiam, clamavam: “Salve-nos! Bendito vindo em nome do PAI Supremo!”
Bendito o reino que vem, o reino de nosso pai Davi! Salva-nos, ó, Salvador!
Tendo Jesus entrado em Jerusalém, foi ao Templo e, tendo observado tudo em redor, como já fosse tarde, saiu para Betânia com os discípulos.
No dia seguinte, após saírem de Betânia, teve fome. E avistando de longe uma figueira que tinha folhas, foi ver se, por acaso, acharia nela alguma coisa e, chegando a ela, nada achou senão folhas, porque não era tempo de figos.
E Jesus, disse à figueira: “Nunca mais coma alguém fruto de ti.” E seus discípulos ouviram isso.
Chegaram, pois, a Jerusalém. E, entrando ele no Templo, começou a expulsar os que ali vendiam e compravam; e derrubou as mesas dos cambistas, e as cadeiras dos que vendiam pombas.
E não permitia que ninguém atravessasse o Templo levando qualquer utensílio.
E ensinava, dizendo-lhes: “Não está escrito: O templo, construído, será usado como lugar de oração para todas as nações? Vós, porém, o tens feito covil de ladrões.”
Ora, os principais sacerdotes e os professores da Lei ouviram isto, e procuravam um modo de o matar; pois o temiam, porque toda a multidão se maravilhava com o seu ensinamento.
Ao cair da tarde, saíam da cidade. Quando passavam na manhã seguinte, viram que a figueira havia secado desde as raízes.
Então, Cefas, lembrando-se, disse-lhe: “Olha, Mestre, secou-se a figueira que amaldiçoaste.”
Respondeu-lhes Jesus: “Tende fé no PAI Supremo.”
Em verdade, eu vos digo, que qualquer que disser a este monte: “Ergue-te e lança-te no mar, e não duvidar em seu coração, mas confiar que se fará aquilo que diz, assim lhe será feito.”
“Por isso vos digo: tudo o que pedirdes em oração, crede que recebereis, e assim vos acontecerá.”
“Quando estiverdes orando, perdoai, se tendes alguma coisa contra alguém, para que também o PAI Supremo de vocês, que está no céu, vos perdoe as suas ofensas.”
“Mas, se vós não perdoardes, também o PAI Supremo de vocês, que está no céu, não vos perdoará as suas ofensas.”
Novamente em Jerusalém, Jesus caminhava pelo Templo quando se aproximaram dele os chefes dos sacerdotes, os escribas e os anciãos.
Que lhe perguntaram: “Com que autoridade fazes tu estas coisas? Ou quem te deu autoridade para fazê-las?”
Respondeu-lhes Jesus: “Eu vos perguntarei uma coisa; respondei-me, pois, e eu vos direi com que autoridade faço estas coisas.”
“O batismo de João era do céu, ou dos homens? Respondei-me.”
Ao que eles argumentavam entre si: “Se dissermos: Do céu, ele dirá: ‘Então por que não confiaram nele’?”
“Mas diremos, por acaso: dos homens? É que temiam o povo, porque todos tinham verdadeiramente a João como profeta.”
Responderam, pois, a Jesus: “Não sabemos.”
Replicou-lhes ele: “Nem eu vos digo com que autoridade faço estas coisas.”
Capítulo 11
Então, começou Jesus a falar-lhes por parábolas. “Um homem plantou uma vinha, cercou-a com uma parede, cavou um lagar e edificou uma torre; depois arrendou-a a uns lavradores e ausentou-se do país.”
“No tempo próprio, enviou um servo aos lavradores para que deles recebesse o fruto da vinha.”
“Mas estes, apoderando-se dele, o espancaram e o mandaram embora de mãos vazias.”
“E tornou a enviar-lhes outro servo, e a este feriram na cabeça e o ultrajaram.”
“Então enviou ainda outro, e a este mataram e a outros muitos, dos quais a uns espancaram e a outros mataram.”
“Ora, tinha ele um, o seu filho amado, a este lhes enviou por último, dizendo: ‘A meu filho, terão respeito’.”
“Mas aqueles lavradores disseram entre si: ‘Este é o herdeiro; vinde, matemo-lo, e a herança será nossa’.”
“E, agarrando-o, o mataram, e o lançaram fora da vinha.”
“Que fará, pois, o senhor da vinha? Virá e destruirá os lavradores, e dará a vinha a outros.”
“Nunca lestes esta passagem na Escritura: ‘A pedra que os edificadores rejeitaram, essa foi posta como pedra angular’?”
“Pelo PAI Supremo foi feito isso, e é maravilhoso aos nossos olhos.”
Procuravam então prendê-lo, mas temeram a multidão, ao perceberem que contra eles proferira essa parábola e, deixando-o, se retiraram.
Enviaram-lhe então alguns dos fariseus e dos herodianos, para que o apanhassem em alguma palavra.
Aproximando-se, pois, disseram-lhe: “Mestre, sabemos que és verdadeiro, e de ninguém se te dá, porque não olhas à aparência dos homens, mas ensinas segundo a verdade o caminho do PAI Supremo. É-nos lícito dar tributo a César, ou não? Daremos, ou não daremos?”
Mas Jesus, percebendo a hipocrisia deles, respondeu-lhes: “Por que me testam? Trazei-me uma moeda para que eu a veja.”
E eles lhe trouxeram. “Perguntou-lhes Jesus: “De quem é esta efígie e inscrição?”
Responderam-lhe: “De César.”
Disse-lhes Jesus: “Dai, pois, a César o que é de César, e ao PAI Supremo o que é do PAI Supremo e dê a mim o que é meu.” E admiravam-se dele.
Então se aproximaram dele alguns dos saduceus, que dizem não haver ressurreição, e perguntaram-lhe: “Mestre, Moisés nos deixou escrito que se morrer alguém, deixando mulher sem deixar filhos, o irmão dele case com a mulher, e suscite descendência ao irmão. Ora, havia sete irmãos; o primeiro casou-se e morreu sem deixar descendência.”
“O segundo casou-se com a viúva, e morreu, não deixando descendência; e da mesma forma, o terceiro; e assim os sete, e não deixaram descendência. Após todos, morreu também a mulher.”
“Na ressurreição, de qual deles será ela esposa, pois os sete por esposa a tiveram?”
Respondeu-lhes Jesus: “Por acaso, não errais vós em razão de não compreenderdes as Escrituras nem o poder do PAI Supremo?”
“Porquanto, ao ressuscitarem dos mortos, nem se casam, nem se dão em casamento; pelo contrário, são como os anjos nos céus.”
“Quanto aos mortos, porém, serem ressuscitados, não lestes no livro de Moisés, onde se fala da sarça, como o YHWH, o seu, Elohim, lhe disse: Eu sou o YHWH, o, Elohim, de Abraão, o YHWH, o, Elohim, de Isaque e o YHWH, o, Elohim, de Jacó?”
“O meu PAI não é a Divindade de mortos, mas de vivos. Estais em grande erro.”
Aproximou-se dele um dos mestres da Lei que os ouvira discutir e, percebendo que lhes havia respondido bem, perguntou-lhe: “Qual é a primeira de todas as leis?”
Respondeu Jesus: “A primeira é: ‘Ouve, Israel! YHWH, nosso, Elohim, YHWH é nosso único, Elohim’. Amarás, pois, YHWH, o teu, Elohim, de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento e de todas as tuas forças.”
“E a segunda é esta: ‘Amarás ao teu próximo como a ti mesmo. Não há outra lei maior do que essas’.”
Ao que lhe disse o mestre da Lei: “Muito bem, Mestre; com verdade disseste o que está escrito na Lei. Mas como disseste anteriormente, o PAI é O Único, e fora d’Ele não há outro. E amá-Lo de todo o coração, de todo o entendimento e de todo seu poder, e amar o próximo como a si, é mais do que todos os holocaustos e sacrifícios.”
E Jesus, vendo que havia respondido sabiamente, disse-lhe: “Não estás longe do reino do PAI Supremo.” E ninguém ousava mais o interrogar.
Por sua vez, Jesus, enquanto ensinava no Templo, perguntou: “Como os mestres da Lei dizem que o Messias é Filho de Davi?”
“Pois o próprio Davi, em espírito, o chama dizendo: ‘Disse Yaldabaoth ao meu YHWH o seu, Elohim: ‘Assenta-te à minha direita. Até eu pôr os teus inimigos por escabelo dos teus pés.’
Pois, se Davi, o chama de ‘YHWH o seu, Elohim,’ então, como ele é seu filho?”
“Não vedes que o Cristo vem do meu PAI, acima de vosso YHWH, acima de Yaldabaoth e de todos os Arcontes?”
“E prosseguindo ele no seu ensino, disse: “Guardai-vos dos mestres da Lei, que gostam de andar com vestes compridas, e das saudações nas praças.”
“E dos primeiros assentos nas sinagogas, e dos primeiros lugares nos banquetes.”
“Que devoram as casas das viúvas e, por pretexto, fazem longas orações; estes hão de receber muito maior condenação.”
Jesus sentou-se em frente ao tesouro do templo onde se colocavam as ofertas e observava a multidão. Ele via como as pessoas colocavam dinheiro no tesouro do templo, e muitos ricos depositavam grandes quantias.
Ele também viu uma viúva pobre colocar duas pequenas moedas ali.
E, chamando-o ele os seus discípulos, disse-lhes: “Em verdade, eu vos digo, que esta pobre viúva deu mais do que todos os que depositavam grandes quantias.”
“Porque todos deram daquilo que lhes sobrava; mas esta, da sua pobreza, deu tudo o que tinha, mesmo todo o seu sustento.”
Capítulo 12
Quando saía do Templo, disse-lhe um dos seus discípulos: “Mestre, olha que pedras e que edifícios!”
Ao que Jesus lhe disse: “Vês estes grandes edifícios? Não se deixará aqui pedra sobre pedra que não seja derrubada.”
Depois, estando ele sentado no Monte das Oliveiras, na frente do Templo, com Cefas, Tiago, João e André.
Eles perguntaram-lhe em particular: “Dize-nos, quando acontecerão essas coisas, e que sinal haverá quando todas elas estiverem para se cumprir?”
Então, Jesus começou a dizer-lhes: “Tomai cuidado; ninguém vos engane. Muitos virão em meu nome, dizendo: ‘Sou eu’; e a muitos enganarão.”
“Quando ouvirdes falar de guerras e boatos de guerras, não vos assusteis por ser necessário que tais coisas aconteçam; contudo, ainda não será o fim.”
“Pois se levantará nação contra nação, e reino contra reino, e haverá terremotos em diversos lugares, e haverá fomes. Isso será o princípio das dores.”
“Prestem atenção a vocês mesmos! Por minha causa, vocês serão entregues aos tribunais e sinagogas, e serão açoitados. Além disso, vocês serão levados diante de governadores e reis para testemunhar a meu respeito.”
“Mas importa que primeiro as Boas Novas sejam proclamadas entre todas as nações.”
“Portanto, quando forem levados e entregues às autoridades, não vos preocupeis com o que dizer. Falai o que vos for concedido naquele momento, pois não sereis vós a falar, mas sim o Espírito Santo.”
“Um irmão entregará à morte a seu irmão, e um pai a seu filho; e filhos se levantarão contra os pais e os matarão.”
“E sereis odiados de todos devido ao meu nome; mas aquele que perseverar até o fim, esse será salvo.”
“Ora, quando vós virdes a abominação da desolação, sobre a qual falou o profeta Daniel, estar onde não deve estar (quem lê, entenda), então os que estiverem em Judeia fujam para os montes.”
“Quem estiver no terraço não desça, nem entre para tirar alguma coisa da sua casa. E quem estiver no campo, não retroceda para buscar a sua capa.”
“Mas ai das que estiverem grávidas, e das que amamentarem naqueles dias! Orai, pois, para que isto não aconteça no inverno.”
“Porque naqueles dias haverá uma tribulação tal, qual nunca houve desde o princípio da criação, que Yaldabaōth criou, até agora, nem jamais haverá.”
“Se o Poder do Logos não abreviasse aqueles dias, ninguém se salvaria, mas ele, devido aos Eleitos que escolheu, abreviou aqueles dias.”
“Então, se alguém vos disser: ‘Eis aqui o Messias!’ ou: ‘Ei-lo ali!’ Não acrediteis.”
“Porque surgirão falsos messias e falsos profetas, e farão sinais e prodígios para enganar, se possível, até os escolhidos.”
“Ficai vós, pois, de sobreaviso; eis que de antemão vos tenho dito tudo.”
“Mas naqueles dias, depois daquela tribulação, o sol escurecerá, e a lua não dará a sua luz.”
“As estrelas cairão do céu, e os Poderes que estão nos sete céus do Caos, os Arcontes, serão abalados.”
“Então, verão vir o Filho do homem em uma nuvem, com Grande Poder e Glória.”
“Ora, quando essas coisas começarem a acontecer, exultai e levantai as suas cabeças, porque a vossa redenção se aproxima.”
“Yeshua propôs-lhes então uma parábola: “Olhai para a figueira, e para todas as árvores. Quando começam a brotar, sabeis por vós mesmos, ao vê-las, que já está próximo o verão.”
“Assim também vós, quando virdes acontecer essas coisas, sabei que o reino do PAI Supremo está próximo.”
“Em verdade, eu vos digo, que não passará esta geração, até que todas essas coisas aconteçam.”
“Passará o céu e a terra, mas as minhas palavras não passarão.”
“Quanto, porém, ao dia e à hora, ninguém sabe, nem os anjos no céu, nem o Filho, senão o PAI.”
“Olhai! Vigiai! Porque não sabeis quando chegará o tempo.”
“É como se um homem, devendo viajar, ao deixar a sua casa, conferisse autoridade aos seus servos, a cada um o seu trabalho, e ordenasse também ao porteiro que vigiasse.”
“Vigiai, pois, não sabeis quando virá o senhor da casa, se à tarde, se à meia-noite, se ao cantar do galo, se pela manhã.”
“Para que, vindo de improviso, não vos ache dormindo.”
“O que vos digo a vós, a todos, o digo: Vigiai.”
Capítulo 13
Ora, dali a dois dias era a festa dos pães ázimos e os principais sacerdotes e os mestres da Lei andavam buscando como prender Jesus com traição, para o matarem.
Pois eles diziam: “Não durante a festa, para não haver tumulto entre o povo.”
Ora, estando Jesus em Betânia, na casa de Lázaro, a quem ele havia ressuscitado, aproximou-se dele Maria de Betânia com um vaso de alabastro com unguento muito precioso, e o derramou sobre sua cabeça, enquanto ele se sentava à mesa.
Mas, quando seus discípulos viram isso, ficaram indignados, dizendo: “Para que serve este desperdício? Pois este unguento poderia ter sido vendido por muito e dado aos pobres.”
Jesus, compreendendo isso, disse-lhes: “Por que incomodais a mulher? Pois ela fez um bom trabalho em mim. Porque sempre tendes os pobres convosco, mas a mim nem sempre. Porque ela derramou este unguento em meu corpo, ela o fez para meu sepultamento.”
“Em verdade vos digo que, onde quer que este evangelho seja pregado em todo o mundo, também será contada a história que Maria de Betânia fez, para preservar a sua memória.”
Então, Judas, do litoral de Sk’irot, um dos doze, foi ter com os principais sacerdotes para lhes entregar Jesus.
Ouvindo-o eles, alegraram-se, e prometeram dar-lhe dinheiro. E buscava como o entregaria em ocasião oportuna.
Ora, no dia anterior ao Festival dos pães ázimos, quando imolavam o cordeiro da Páscoa, disseram-lhe seus discípulos: “Aonde queres que vamos fazer os preparativos para os jantares da Páscoa?”
Enviou, pois, dois dos seus discípulos, e disse-lhes: “Ide à cidade, e vos sairá ao encontro um homem levando um cântaro de água; siga-o.”
E, onde ele entrar, dizei ao dono da casa: “O Mestre manda perguntar: Onde está o meu aposento em que hei de celebrar a Páscoa com os meus discípulos? E ele vos mostrará um grande cenáculo mobiliado e pronto, aí fazei-nos os preparativos.”
Partindo, pois, os discípulos, foram à cidade, onde acharam tudo como ele lhes dissera, e prepararam o jantar da Páscoa.
Ao anoitecer, chegou ele com os seus discípulos.
E, quando estavam reclinados à mesa e comiam, disse Jesus: “Em verdade vos digo que um de vós, que comigo come, há de me entregar.”
Ao que eles começaram a entristecer-se e a perguntar-lhe um após outro: “Por acaso sou eu?”
Respondeu-lhes: “É um de vós, que molha comigo o pão no prato. Pois o Filho do Homem vai, conforme está escrito a seu respeito, pois bem-aventurado é aquele por quem o Filho do Homem é entregue! Devido a ele, será cumprida a Glorificação do PAI.”
Enquanto comiam, Yeshua tomou o pão ázimo e, fazendo a bênção, o partiu e deu-lho, dizendo: “Tomai; isto é o meu corpo.”
E, tomando um cálice, rendeu graças, fez a bênção e deu-lho; e todos beberam dele.
E disse-lhes: “Isto é o meu sangue, o sangue da renovação da aliança, que por muitos é derramado. Em verdade, eu vos digo, que não beberei mais do fruto da videira, até aquele dia em que o beber, novo, no Aeon eterno do PAI Supremo.”
O Mestre reuniu-se a todos e disse: “Antes que eu seja entregue a eles, cantaremos um hino ao PAI Supremo e, em seguida, iremos ao encontro daquilo que nos espera.”
Jesus pediu para darem as mãos em círculo e, colocando-se no meio, disse: “Respondei-me, Amém.”
Começou, então, a cantar um hino que dizia: “Glória ao PAI”. E os discípulos ao redor lhe respondiam: “Amém.”
“Glória à Graça; glória ao Espírito; glória ao Santo; glória a sua glória.” “Amém.”
“Nós o louvamos e damos, graças, ó, Pai; ó, Luz em que não habita as trevas.” “Amém.”
“Agora direi porque damos graças: ”
“Devo ser salvo e salvarei.” “Amém.”
“Devo ser liberto e libertarei.” “Amém.”
“Devo ser gerado e gerarei.” “Amém.”
“Devo ouvir e serei ouvido.” “Amém.”
“Devo ser lembrado e sempre lembrarei.” “Amém.”
“Devo ser lavado e lavarei.” “Amém.”
“A Graça dança em conjunto, eu devo tocar a flauta, dançai todos.” “Amém.”
“O reino dos anjos canta louvores conosco.” “Amém.”
“Ao universo pertence àquele que participa da dança.” “Amém.”
“Quem participa da dança, não sabe o que vai acontecer.” “Amém.”
“Devo ir, mas ficarei.” “Amém.”
“Devo honrar e devo ser honrado.” “Amém.”
“Não tenho morada, mas estou em todos os lugares.” “Amém.”
“Não tenho templo, mas estou em todos os templos.” “Amém.”
“Sou um espelho para aquele que me contempla.” “Amém.”
“Sou uma porta para aquele que bate.” “Amém.”
“Sou um caminho para ti que passa.” “Amém.”
“Se seguires minha dança, compreendes o que falo, guarda silêncio sobre meus mistérios.”
“Tu, que participa da dança, compreende o que faço, pois a ti pertence esse sofrimento!”
“Tu não poderias de maneira alguma compreender o que sofre, se Eu não tivesse sido enviado como Logos do PAI.”
“Viste o que sofro, me viste sofrendo, e não ficaste insensível, mas sim profundamente perturbado.”
“Tu, que pela perturbação alcançaste a sabedoria, tens em mim um leito, repousa em mim.”
“Saberás quem sou quando Eu tiver partido. O que pareço ser agora, não sou. Tu verás quando vieres.”
“Se soubesse como sofrer, seria capaz de não sofrer mais. Aprende a sofrer e te tornarás capaz de não mais sofrer.”
“O que não sabes, eu mesmo vou ensinar. Sou teu Deus. Quero andar no mesmo ritmo das almas santas. Aprende comigo a palavra da sabedoria.”
“Diz-me de novo: ‘Glória ao Pai; glória ao Logos; glória ao Espírito Santo’.”
“Queres saber o que sou? Com a palavra, revelei tudo, e não fui de modo algum revelado.”
“Compreende bem, estarei aqui. Quando tiveres compreendido, diz: ‘Glória ao PAI’!” “Amém.”
E, tendo cantado o canto dos salmos, saíram para o monte das Oliveiras.
Depois disto, disse-lhes Jesus: “Esta noite, todos vós desfalecereis devido a mim, porque assim está escrito: ‘Ferirei o pastor, e as ovelhas do seu rebanho serão dispersas’.”
Continuou dizendo Jesus: “Mas, depois que eu ressuscitar, irei adiante de vós para a Galileia.”
Ao que Cefas lhe disse: “Ainda que todos se escandalizem, nunca, porém, eu.”
Replicou-lhe Jesus: “Em verdade, eu te digo que hoje, nesta noite, antes que o galo cante, três vezes, tu me negarás.”
Mas ele repetia com veemência: “Ainda que me seja necessário morrer contigo, de modo nenhum te negarei.” Assim também diziam todos.
Então chegaram a um lugar chamado Getsêmani, e disse Jesus a seus discípulos: “Sentai-vos aqui, enquanto eu oro.”
Ele levou consigo Pedro, Tiago e João, e começou a sentir um profundo tormento.
E disse-lhes: “A minha alma está triste até a morte; ficai aqui e vigiai.”
E adiantando-se um pouco, prostrou-se em terra e orava para que, se fosse possível, passasse dele aquela hora.
Ele disse: “Pai, meu Pai, tudo te é possível. Afasta de mim este cálice; contudo, que não seja o que desejo, mas sim o que tu queres.”
Voltando, achou-os dormindo e disse a Cefas: “Simão, dormes? Não pudeste vigiar uma hora? Acordai e orai, para que não entreis em tentação, o espírito, na verdade, está pronto, mas a carne é fraca.”
Retirou-se de novo e orou, dizendo as mesmas palavras.
E voltando outra vez, achou-os dormindo, porque seus olhos estavam pesados e não sabiam o que lhe responder.
Ao voltar pela terceira vez, disse-lhes: “Então, vocês dormem e descansam agora! Basta, é chegada a hora. Eis que o Filho do homem está sendo entregue nas mãos dos pecadores.”
“Levantai-vos, vamos, eis que é chegado aquele que me trai.”
E logo, enquanto ele ainda falava, chegou Judas, um dos doze, e com ele uma multidão com espadas e varas, vinda da parte dos principais sacerdotes, dos mestres da Lei e dos anciãos.
Ora, o que o entregava lhes havia dado um sinal, dizendo: “Aquele que eu beijar, esse é; prendei-o e levai-o com segurança.”
E, logo que chegou, aproximando-se de Jesus, disse: “Mestre!” E o beijou.
Ao que eles lhes lançaram as mãos, e o prenderam.
Mas um dos que ali estavam, puxando da espada, feriu o servo do sumo sacerdote e cortou-lhe uma orelha.
Disse-lhes Jesus: “Saístes com espadas e varas para me prender, como a um ladrão? Todos os dias estava com vocês no Templo, a ensinar, e não me prendestes; mas isto é para que se cumpra a Escritura.”
Nisto, todos os seus discípulos o deixaram e fugiram.
Ora, seguia-o certo jovem envolto em um lençol sobre o corpo nu, e o agarraram. Mas ele, largando o lençol, fugiu despido.
Levaram Jesus ao sumo sacerdote, e ajuntaram-se todos os principais sacerdotes, os anciãos e os mestres da Lei.
E Cefas o seguiu de longe até o pátio do sumo sacerdote, e estava sentado com os guardas, aquecendo-se ao fogo.
Os principais sacerdotes e todo o Sinédrio buscavam testemunho contra Jesus para o matar, e não o achavam.
Porque contra ele muitos depunham falsamente, mas os testemunhos não concordavam.
Levantaram-se, por fim, alguns que depunham falsamente contra ele, dizendo: “Nós o ouvimos dizer: ‘Eu destruirei este Templo, construído por mãos de homens, e em três dias edificarei outro, não feito por mãos de homens’.”
E nem assim concordava com o seu testemunho.
Levantou-se então o sumo sacerdote no meio e perguntou a Jesus: “Não respondes coisa alguma? Que é que estes depõem contra ti?”
Ele, porém, permaneceu calado e nada respondeu. Tornou o sumo sacerdote a interrogá-lo, perguntando-lhe: “És tu o Messias, o Filho de Elohim, o Abençoado?”
Respondeu Jesus: “Sou o Poder do Logos e vereis o Filho do homem sentado à direita do Poder do PAI Supremo e vindo com as nuvens do céu.
Então, o sumo sacerdote, rasgando as suas vestes, disse: “Para que precisamos ainda de testemunhas?”
Acabais de ouvir a blasfêmia, que vos parece? E todos o condenaram como réu de morte.
Alguns começaram a cuspir nele e a cobrir-lhe o rosto, e a dar-lhe socos.
E a dizer-lhe: “Profetiza.” E os guardas o receberam a bofetadas.
Ora, estando Cefas embaixo, no átrio, chegou uma das criadas do sumo sacerdote.
E, vendo Cefas, que se estava aquecendo, encarou-o e disse: “Tu também estavas com o nazareno, esse Jesus.”
Mas ele o negou, dizendo: “Não sei nem compreendo o que dizes.”
E saiu para o alpendre, e a criada, vendo-o, começou de novo a dizer aos que ali estavam: “Esse é um deles.” Mas ele o negou outra vez.
E, pouco depois, os que ali estavam disseram novamente a Cefas: “Certamente tu és um deles; pois és também da Galileia.”
Ele, porém, começou a praguejar e a jurar: “Não conheço esse homem de quem falais.”
Nesse instante, o galo cantou. Cefas lembrou-se da palavra que lhe dissera Jesus: “Antes que o galo, três vezes me negarás. E, caindo em si, começou a chorar.”
Capítulo 14
Logo de manhã, tiveram conselho os principais sacerdotes com os anciãos, os professores da Lei e todo o Sinédrio; e, maniatando a Jesus, o levaram e o entregaram a Pilatos.
Pilatos lhe perguntou: “És tu o rei dos judeus?”
Respondeu-lhe Jesus: “É como dizes.”
E os principais dos sacerdotes o acusavam de muitas coisas.
Tornou Pilatos a interrogá-lo, dizendo: “Não respondes nada? Vê quantas acusações te fazem.”
Mas Jesus nada mais respondeu, de maneira que Pilatos se admirava.
Ora, por ocasião da festa, costumava soltar-lhes um preso qualquer que eles pedissem.
E havia um, chamado Barrabás, preso com outros sediciosos, os quais num motim haviam cometido um homicídio.
E a multidão subiu e começou a pedir o que lhe costumava fazer.
Ao que Pilatos lhes perguntou: “Quereis que vos solte o rei dos judeus?”
Pois ele sabia que, por inveja, os principais sacerdotes lhe haviam entregue.
Mas os principais sacerdotes incitaram a multidão a pedir que lhes soltasse antes a Barrabás.
E Pilatos, tornando a falar, perguntou-lhes: “Que farei então daquele a quem chamais rei dos judeus?”
Novamente, clamaram eles: “Crucifica-o!”
Disse-lhes Pilatos: Mas que mal fez ele?
Ao que eles clamaram ainda mais: “Executa-o!”
Então, Pilatos, querendo satisfazer a multidão, soltou-lhe Barrabás; e, tendo mandado açoitar a Jesus, o entregou para ser executado.
Os soldados, ao levarem para dentro, no pátio, o qual é o pretório, convocaram toda a corte.
Vestiram-no de púrpura e puseram-lhe na cabeça uma coroa de espinhos que haviam tecido.
E começaram a saudá-lo: Salve, rei dos judeus!
Davam-lhe com uma cana na cabeça, cuspiam nele e, postos de joelhos, o adoravam.
Após o terem assim escarnecido, despiram-lhe a púrpura, e lhe puseram as vestes. Então o levaram para fora, a fim de o executarem.
E obrigaram certo Simão, cireneu, pai de Alexandre e de Rufo, que por ali passava, vindo do campo, a carregar-lhe o madeiro.
Levaram-no, pois, ao lugar do Gólgota, que quer dizer, lugar da Caveira.
E ofereciam-lhe vinho misturado com mirra; mas ele não o tomou.
Então, o executaram, e repartiram entre si as vestes dele, lançando sortes sobre elas para ver o que levaria cada um.
E era a hora terceira quando o executaram.
Por cima dele estava escrito o título da sua acusação: “O REI DOS JUDEUS.”
Também, com ele, executaram dois ladrões, um à sua direita chamado Dimas, e outro à esquerda chamado Gestas.
E cumpriu-se a passagem na Escritura que diz: “E com os malfeitores foi contado.”
E os que iam passando, blasfemavam dele, meneando a cabeça e dizendo: “Ah! Tu que destróis o Templo e em três dias o reedificas. Salva-te a ti mesmo, descendo do madeiro.”
De igual modo, também os principais sacerdotes, com os professores da Lei, escarnecendo-o, diziam entre si: “A outros salvou; a si não pode salvar. Desça agora do madeiro o Messias, o rei de Israel, para vermos e crermos.”
Também, os que com ele foram crucificados o injuriavam.
E, chegada a hora sexta, houve trevas sobre a terra, até a hora nona.
E, à hora nona, bradou Jesus em alta voz: “Alohi, Alohi, Lemana Shavactani.”
Alguns dos que ali estavam, ouvindo isso, diziam: “Eis que chama por Elias.”
Correu um deles, ensopou uma esponja em vinagre e, pondo-a numa cana, dava-lhe de beber, dizendo: “Deixai, vejamos se Elias virá tirá-lo.”
Mas Jesus, dando um grande brado, morreu.
Então o véu do Templo se rasgou em dois, de alto a baixo.
Ora, o centurião, que estava na frente dele, vendo-o assim bradar e morrer, disse: “Verdadeiramente, este homem era Filho do PAI Supremo.”
Também ali estavam algumas mulheres olhando de longe, entre elas Maria de Magdala, Maria de Cleófas, mãe de Tiago, o Menor e de José (Filipe), e Maria Salomé, mãe de Tiago, o Maior e João.
As quais o seguiam e o serviam quando ele estava na Galileia; e outras mulheres que haviam subido com ele a Jerusalém, como Marta, Joana, Maria de Betânia.
Ao cair da tarde, como era o dia da preparação, isto é, a véspera do Shabat.
José de Arimateia, ilustre membro do Sinédrio, que também esperava o reino do PAI Supremo, cobrando ânimo, foi a Pilatos e pediu o corpo de Jesus.
Admirou-se Pilatos de que já tivesse morrido e, chamando o centurião, perguntou-lhe se, de fato, havia morrido.
E, depois que soube do centurião, cedeu o corpo a José.
O qual, tendo comprado um pano de linho, tirou do madeiro o corpo, envolveu-o no pano e o depositou num sepulcro aberto em rocha e rolou uma pedra para a porta do sepulcro.
E Maria de Magdala e Maria de Cleófas, mãe de José (Filipe), observavam onde fora posto.
Capítulo 15
Ora, passado o Shabat, Maria de Magdala, Maria de Cleófas, e Maria Salomé, compraram aromas para irem ungi-lo.
E, no primeiro dia da semana, foram ao sepulcro muito cedo, quando o sol já havia nascido.
E diziam umas às outras: “Quem nos removera a pedra da porta do sepulcro?”
Mas, levantando os olhos, notaram que a pedra, que era muito grande, já estava revolvida.
E entrando no sepulcro, viram um moço sentado à direita, vestido de um manto branco; e ficaram aterrorizadas.
Ele, porém, lhes disse: “Não vos atemorizeis; buscais a Jesus, de Nazaré, que foi crucificado, ele ressuscitou, não está aqui, eis o lugar onde o puseram.”
Mas ide, dizei a seus discípulos, que ele vai adiante de vós para a Galileia, ali o vereis, como ele vos disse.
E, saindo, elas fugiram do sepulcro, porque estavam possuídas de medo e assombro e não disseram nada a ninguém, porque temiam.
Ora, havendo Jesus ressuscitado nas primeiras horas do primeiro dia da semana, apareceu primeiramente a Maria de Magdala, da qual havia expulsado sete demônios.
Foi ela anunciá-lo aos que haviam andado com ele, os quais estavam tristes e chorando.
E, ouvindo que Jesus vivia, e que tinha sido visto por ela, eles não o creram.
Depois disso, manifestou-se sob outra forma a dois deles que iam de caminho para o campo.
Os quais foram anunciá-lo aos outros, mas nem a estes deram crédito.
Por último, então, apareceu aos discípulos, estando eles reclinados à mesa, e lançou-lhes em rosto a sua incredulidade e dureza de coração, por não haverem dado crédito aos que o haviam visto já ressuscitado.
E disse-lhes: “Ide por todo o mundo, e pregai as Boas Novas a toda criatura.”
Quem crer e for imerso em batismo de agua será salvo; mas quem não crer será condenado.
E estes sinais acompanharão aos que crerem e em meu nome expulsarão demônios, falarão outros idiomas.
Pegarão em serpentes, isto é, lidarão com inimigos, e se beberem alguma coisa mortífera, não lhes fará dano algum; e porão as mãos sobre os enfermos, e estes serão curados.
Ora, o Salvador, após lhes ter falado, foi recebido no céu, e assentou-se à direita do PAI Supremo.
Eles, pois, saindo, pregaram por toda parte, cooperando com eles o Espirito Sagrado, e confirmando a palavra com os sinais que os acompanhavam.
Amém.
O Evangelho de Marcos, reconhecido por sua antiguidade e por ser considerado a tradição de Simão Cefas (Pedro), serve como uma peça fundamental para este cânon. Sua narrativa, que enfatiza a ação e o Poder do Logos, foi aqui revisitada e harmonizada com a lente da Gnose, desvelando verdades profundas que a interpretação tradicional tende a obscurecer.
A metodologia de harmonização textual aplicada a este evangelho, em diálogo com as revelações de Pistis Sophia e outros textos gnósticos, nos permitiu ir além da superfície narrativa. Onde o texto original apresenta uma figura que é “o pastor e o rei de Israel”, nossa obra revela a verdadeira identidade de Jesus como o Poder do Logos, o Cristo, o poder do PAI Supremo que vem para se chocar com a criação de Yaldabaoth e suas leis.
Nesta edição, desmascaramos a ambiguidade das divindades, distinguindo o PAI Supremo do Demiurgo que criou o mundo e do Arconte Supremo Yaldabaoth, e ressignificamos eventos-chave. O ato de Jesus purificar o Templo é reinterpretado como o desmascaramento de uma instituição de Yaldabaoth, e a promessa de recompensa aos que o seguem é entendida como um ganho espiritual e de comunidade gnóstica em meio à perseguição.
O Evangelho de Marcos, por meio de sua narrativa concisa e poderosa, nos convida a entender que a fé não está na obediência cega à Lei, mas na busca da Gnose, no triunfo sobre a carne e na certeza da vinda do Filho do Homem, que abalará os Poderes dos Sete Céus do Caos e levará os Eleitos para o Aeon Eterno do PAI Supremo.
Eusébio cita Papias sobre o Evangelho de Marcos em Hist. Eccl. iii. 39 da seguinte forma:
Para obter informações sobre esses pontos, podemos simplesmente remeter nossos leitores aos próprios livros; mas agora, aos extratos já feitos, adicionaremos, como questão de primordial importância, uma tradição a respeito de Marcos, que escreveu o Evangelho, que ele [Pápias] relatou nas seguintes palavras: “E o presbítero disse isso. Marcos, tendo se tornado o intérprete de Pedro, escreveu com precisão tudo o que se lembrava. Não foi, no entanto, na ordem exata em que ele relatou os ditos ou atos de Cristo. Pois ele não ouviu o Senhor nem O acompanhou. Mas depois, como eu disse, ele acompanhou Pedro, que adaptou suas instruções às necessidades [de seus ouvintes], mas sem a intenção de dar uma narrativa regular das palavras do Senhor. Portanto, Marcos não cometeu nenhum erro ao escrever algumas coisas conforme se lembrava delas. Pois, de uma coisa ele teve especial cuidado: não omitir nada que tivesse ouvido e não inserir nada fictício nas declarações.” Isso é o que Papias relata a respeito de Marcos.
Irineu escreveu (Contra Heresias 3.1.1): “Após a partida deles [de Pedro e Paulo da Terra], Marcos, o discípulo e intérprete de Pedro, também nos transmitiu por escrito o que havia sido pregado por Pedro.” Observe que Irineu havia lido Papias e, portanto, não fornece nenhuma confirmação independente da declaração feita pelo autor anterior.
No entanto, existem duas outras evidências externas que podem confirmar que o autor do Evangelho de Marcos foi discípulo de Pedro. Justino, o Mártir, cita Marcos como sendo as memórias de Pedro (Dial. 106.3). Em Atos 10:34-40, o discurso de Pedro serve como um bom resumo do Evangelho de Marcos, “começando na Galileia, depois do batismo que João pregou". Finalmente, não havia uma motivação extremamente forte para a igreja primitiva atribuir o segundo evangelho a um Marcos obscuro, o discípulo de Pedro, em vez de diretamente a um apóstolo. Portanto, a tradição da autoria de Marcos deve ser levada a sério.
Um Judeu Marginal, v. 2: No entanto, embora o autor possa ter sido discípulo de Pedro em algum momento, o autor do Evangelho de Marcos não precisava ter se limitado à pregação de Pedro como material. A introdução da NAB diz: “A influência petrina não deve, contudo, ser exagerada. O evangelista reuniu várias fontes orais e possivelmente escritas — histórias de milagres, parábolas, ditos, relatos de controvérsias e a paixão — para falar do Messias crucificado para a época de Marcos.”
John P. Meier fornece um exemplo na qual o autor de Marcos se mostra dependente da tradição oral. A história da alimentação da multidão é encontrada duas vezes em Marcos e uma vez em João. Meier escreve (Um Judeu Marginal , v. 2, pp. 965-966): “Isso sugere uma longa e complexa história da tradição que remonta aos primórdios da primeira geração cristã. Antes do Evangelho de Marcos, parece ter havido dois ciclos de tradições sobre o ministério de Jesus na Galileia, cada um começando com uma versão do milagre da alimentação (Mc 6:32-44 e Mc 8:1-10). Antes da criação desses ciclos, as duas versões da alimentação teriam circulado como unidades independentes, a primeira versão atraindo para si a história de Jesus caminhando sobre as águas (um desenvolvimento também testemunhado em João 6), enquanto a segunda versão não recebeu tal elaboração. Por trás das três versões da história do milagre haveria alguma forma primitiva.”
Quem escreveu os Evangelhos?: O autor do Evangelho de Marcos parece, de fato, carecer de conhecimento direto da geografia da Palestina. Randel Helms escreve a respeito de Marcos 11:1 (Quem Escreveu os Evangelhos?, p. 6): “Qualquer pessoa que se aproximasse de Jerusalém a partir de Jericó viria primeiro a Betânia e depois a Betfagé, e não o contrário. Esta é uma das várias passagens que mostram que Marcos conhecia pouco sobre a Palestina; devemos presumir, argumenta Dennis Nineham, que ‘Marcos não conhecia as posições relativas dessas duas aldeias na estrada de Jericó’ (1963, 294-295). De fato, Marcos conhecia tão pouco sobre a região que descreveu Jesus indo do território tírio ‘via Sidon até o Mar da Galileia, através do território das Dez Cidades’ (Marcos 7:31); isso é semelhante a dizer que se vai de Londres a Paris via Edimburgo e Roma. A solução simplista, diz Nineham, é que 'o evangelista não conhecia diretamente a Palestina' (40).”
Nineham afirma o seguinte sobre a procedência do Evangelho de Marcos (São Marcos , pp. 42-43): “De todos os lugares sugeridos, Roma foi de longe o mais popular e, até onde as evidências permitem qualquer conclusão, é talvez o provável. O Evangelho de Marcos foi claramente destinado a uma igreja composta na maioria por membros gentios (ver, por exemplo, 7:3ss., 11:13, 12:42) e que havia conhecido, ou estava esperando, perseguição devido à fé (cf. 8:34-38, 10:38ss., 13:9-13); tudo isso é compatível com a origem romana, e se o Evangelho circulou desde o início com a autoridade da igreja romana, é mais fácil explicar como ele conquistou tão cedo uma posição de autoridade.”
Reginald Fuller afirma o seguinte sobre a proveniência de Marcos (Uma Introdução Crítica ao Novo Testamento , p. 107): "A declaração de Irineu (veja acima) de que Marcos foi escrito em Roma tem sido amplamente aceita por estudiosos modernos (por exemplo, Streeter). Tentativas foram feitas para apoiá-la com evidências internas (por exemplo, latinismos como 'denário', 'legião'). Tais latinismos, no entanto, são o vocabulário da ocupação militar e falam tanto da proveniência Palestina quanto de Roma. A conexão Marcos-Pedro-Roma parece uma conjectura do século II baseada em 1 Pedro 5:13. Remova a conexão petrina e a questão da proveniência se torna totalmente aberta. Marcos é um evangelho helenístico. Sua língua é o grego e, como veremos, suas tradições, especialmente em sua cristologia, contêm elementos helenísticos, que Marcos qualifica em uma direção paulina. No entanto, suas tradições também estão em estreito contato com a tradição Palestina, não somente com a tradição anterior, como nas histórias de milagres (Jesus como o profeta escatológico), mas em material recente, como partes do Pequeno Apocalipse. Somos levados a sugerir Antioquia como o local de origem provável."
Uma variação geral de datação para o Evangelho de Marcos pode ser sugerida com referência às evidências externas. Se a tradição da autoria de Marcos for aceita, Irineu sugere que o Evangelho de Marcos foi escrito após a morte de Pedro, tradicionalmente ambientado em Roma por volta de 65 d.C. Se a tradição não for aceita, como afirma Nineham (op. cit., p. 41), "Aqueles cautelosos em aceitar a tradição de Papias dificilmente podem estabelecer o limite inferior muito antes, pois devem dar tempo para que a tradição oral se desenvolva da maneira descrita acima". O terminus ad quem é estabelecido pela incorporação de Marcos ao Evangelho de Mateus e ao Evangelho de Lucas. Se o Evangelho de Mateus foi escrito nas duas últimas décadas do primeiro século, a variação mais provável de datação para o Evangelho de Marcos é de 65 a 80 d.C.
Essa variação pode ser ainda mais qualificada por meio de um exame das evidências internas.
O “Pequeno Apocalipse” de Marcos, no capítulo 13, é geralmente considerado uma referência aos eventos da Primeira Revolta Judaica, que ocorreu entre 66 e 70 d.C. Os eventos que cercaram a queda de Jerusalém e a destruição do Templo deixaram uma profunda impressão nos judeus da época. Jerusalém e o Templo eram o centro da vida religiosa dos judeus palestinos, e a guerra com os romanos havia devastado o interior do país e deixado milhares de mortos. Portanto, é compreensível que alguns associem esses eventos horríveis ao fim dos tempos. Uma exegese de Marcos 13 mostra como a descrição do autor corresponde às calamidades da Primeira Revolta Judaica.
A destruição do Templo, ocorrida em 70 d.C., é mencionada nos vv. 1-4. Saindo da área do templo, um discípulo disse: “Mestre, olha para os enormes blocos de pedra e para os edifícios enormes!” Diante do templo, Jesus respondeu: “Vês estes grandes edifícios? Não ficará pedra sobre pedra; tudo será demolido.” Pedro e alguns outros então questionam Jesus em particular sobre os sinais do apocalipse, um sinal revelador da mão redacionista de Marcos (em vez da tradição anterior bem conhecida).
Nos v. 5-8, o autor fala de "guerras e rumores de guerras", mas "este ainda não é o fim". Se o cap. 13 se refere à Primeira Revolta Judaica, isso indica que alguns previram anteriormente que o fim viria durante a guerra, uma visão que o autor deve negar (ou talvez modificar ligeiramente, cf. v. 24) após o fim dos combates. O autor fala de "fome" durante este período em que nação se levanta contra nação, e Josefo relata os horrores da pestilência e da fome durante a Primeira Revolta Judaica.
Os Cinco Evangelhos: A respeito dos vv. 9-13, Robert Funk escreve em Os Cinco Evangelhos : “Os ditos em Marcos 13:9-13 refletem um conhecimento detalhado dos eventos que ocorreram — ou ideias que eram correntes — após a morte de Jesus: provações e perseguições aos seguidores de Jesus, o chamado para pregar o evangelho a todas as nações, o conselho para oferecer testemunho espontâneo e a predição de que as famílias se voltariam umas contra as outras são características da existência cristã posterior, não dos eventos na Galileia ou em Jerusalém durante a vida de Jesus. A nota sobre filhos traindo seus pais pode ser uma alusão às terríveis calamidades que ocorreram durante o cerco de Jerusalém (66-70 d.C.)”
O versículo 14 diz: “Quando virdes a 'Abominação da Profanação' onde não deve estar — que o leitor tome nota! — os que estiverem na Judeia fujam para os montes.” O comentário entre parênteses para “que o leitor tome nota” ressalta o fato de que este discurso foi escrito para os cristãos da época de Marcos. O público contemporâneo de Marcos entenderia muito bem do que ele estava falando, embora a 'Abominação da Profanação' seja uma referência enigmática para nós. A frase é emprestada de Dn 9:27, onde se refere à profanação do Templo de Jerusalém por Antíoco por volta de 165 a.C. (provavelmente com uma imagem de Zeus), embora tenha sido adaptada à época do evangelista. No contexto da Primeira Revolta Judaica, isso provavelmente se refere à profanação do Templo pelos romanos. Josefo nos conta que os soldados vitoriosos ergueram seus estandartes imperiais e os adoraram no lugar santo (Guerras dos Judeus 6.6.1).
Randel Helms comenta a referência a Daniel no Evangelho de Marcos (op. cit., p. 8):
Quem escreveu os Evangelhos? Portanto, o “tempo, tempos e metade de um tempo” de Daniel são três anos e meio, ou mil duzentos e noventa dias. O autor de Daniel referia-se, com a “abominação da desolação”, ao altar a Zeus que Antíoco IV estabeleceu no templo de Jerusalém em dezembro de 167 a.C., como nos diz I Macabeus 1:54. Mas, aos olhos de Marcos, Daniel estava realmente falando do próprio tempo de Marcos, o “tempo do fim”, quando outra “abominação da desolação” foi erguida no templo de Jerusalém. Pois, segundo Josefo, as ofertas regulares cessaram no templo em julho de 70, o templo foi queimado em agosto e, mais tarde naquele mês, a águia imperial romana foi erguida no recinto do templo e sacrifícios foram oferecidos a ela; então, em setembro, o templo foi arrasado (Josfo, A Guerra Judaica , capítulos 6 e 7). Três anos e meio depois disso seria o início do ano 74. Não deveria ser surpreendente que um autor do primeiro século aplicasse o Livro de Daniel à Guerra Judaica; o próprio Josefo fez isso, ele nos conta, no verão do ano 70, no auge do cerco (Josefo, 309).
Helms prossegue argumentando que a referência aos pretendentes messiânicos em 13:21-22 sugere que o autor de Marcos escreveu pouco depois do ano 70, e não alguns anos antes. Josefo nos fala sobre Menaém, filho de Judas, bem como Simão, filho de Gioras, “ambos notáveis pretendentes messiânicos”. Helms afirma: “Para Marcos, a Guerra Judaica havia terminado; restavam somente a desordem cósmica e a Segunda Vinda.”
Josefo refere-se a falsos profetas durante a fase final do ataque romano ao Templo, enquanto este era consumido pelas chamas: “Um falso profeta foi a causa da destruição dessas pessoas, pois havia feito uma proclamação pública na cidade naquele mesmo dia, de que Deus lhes ordenara que subissem ao templo e que ali receberiam sinais milagrosos de sua libertação. Havia então inúmeros falsos profetas subornados pelos tiranos para impor ao povo, que lhes anunciavam que deveriam esperar pela libertação de Deus; e isso para impedi-los de desertar, e para poderem ser sustentados acima do medo e da preocupação por tais esperanças.” (Guerras dos judeus 6.5.2)
Possivelmente a inspiração para os vv. 15-18, os cristãos abandonaram Jerusalém antes do cerco começar e fugiram para a cidade de Pela, de acordo com Eusébio ( Hist. Eccl. 3.5.3).
Os horrores da guerra parecem vívidos na memória do autor (v. 19), e as tribulações provavelmente ainda perduram após o ocorrido, pois o autor deseja o seu fim (v. 20). Embora o autor rejeite as alegações de outros que recentemente afirmaram que o Senhor retornará durante a guerra (v. 7), ele adapta essa afirmação dizendo que o dia do Senhor está "próximo, às portas” durante este período de tribulação (v. 28-29). Ele assegura aos seus leitores que eles verão a Parusia antes que a primeira geração cristã desapareça (v. 30). Isso indica que Marcos foi escrito logo após a queda de Jerusalém, ocorrida em 70 d.C.
O Jesus Histórico: JD Crossan escreve em The Historical Jesus que Jesus "disse, de acordo com Marcos 13:24, que haveria um intervalo claro, mas não prolongado, entre a destruição do Templo e seu próprio retorno. A comunidade de Marcos vivia nesse intervalo, tendo rejeitado aqueles falsos profetas cristãos que, em 13:5-8 e 21-23, haviam proclamado o retorno de Jesus na... destruição do Templo na Primeira Guerra Romano-Judaica de 66-70 d.C. Marcos, em outras palavras, separa clara e deliberadamente tudo o que levou à parousia de Jesus em 13:24-37. E tudo é colocado nos lábios proféticos do próprio Jesus. Isso, diz Marcos, foi o que ele realmente disse.”
Paul J. Achtemeier escreve (The Anchor Bible Dictionary , v. 4, p. 545): “A certeza de que não se pode calcular por eventos históricos quando o Cristo ressuscitado retornaria em glória, encontrada repetidamente no cap. 13, pode ter sido criada para afastar o desânimo quando a destruição do templo em Jerusalém não foi imediatamente seguida por esse retorno.”
Tiago, irmão de Jesus: Robert Eisenman escreve ( James, o Irmão de Jesus , p. 56): “A partir das mesmas considerações textuais internas já mencionadas, é possível demonstrar que Marcos também foi escrito após a queda do Templo em 70 d.C. Toda a natureza de sua polêmica antijudaica e oposição à família e aos irmãos de Jesus, por um lado, e sua orientação pró-Pedro, por outro, distinguem-no como tendo surgido após a destruição do centro de Jerusalém — em particular, após a tentativa da Comunidade Romana de se apresentar como a herdeira legítima de Jesus e do movimento messiânico que ele representava, por mais absurdo que, historicamente falando, isso pudesse parecer a qualquer observador objetivo da época.”
Eisenman comenta (op. cit., p. 56): “Há, de fato, várias referências veladas a eventos desse tipo no Evangelho de Marcos, por exemplo, na introdução ao Pequeno Apocalipse, onde Jesus prediz a destruição do Templo (13:1-2) e no próprio Apocalipse, quando a Missão Paulina é antecipada (13:9-10) — mas, ainda mais importante, na representação do rompimento do véu do Templo em sua morte (Marcos 15:38 e pars.). Este véu foi muito provavelmente danificado no ataque romano final ao Templo ou nas várias altercações e tumultos que o precederam. Josefo se refere especificamente a ele, juntamente com seus materiais de substituição, como tendo sido entregue aos romanos após o ataque ao Templo. Sem dúvida, estava em exposição em Roma, danificado ou não, juntamente com o restante do espólio que Josefo descreve como tendo sido exibido no Triunfo de Tito.”
Os Últimos Deuses da Mitologia: Muitos estudiosos veem outra alusão histórica em Mc 5:8-13 a uma “Legião” que tinha um porco como emblema e que Josefo nos conta ter permanecido em Jerusalém após a guerra (Guerras dos Judeus 7.1.3). William Harwood escreve em “Os Últimos Deuses da Mitologia”, “Desde a queda da cidade, alguns meses antes [em 70 d.C.], Jerusalém havia sido ocupada pela Décima Legião Romana [X Fretensis], cujo emblema era um porco. A referência de Marcos a cerca de dois mil porcos, a dimensão da Legião Ocupante, combinada com sua designação flagrante dos seres malignos como Legião, não deixou dúvidas na mente judaica de que os porcos da fábula representavam o exército de ocupação. A fábula de Marcos, na verdade, prometia que o messias, ao retornar, expulsaria os romanos para o mar, assim como havia expulsado seus substitutos de quatro patas.”
Embora o autor do Evangelho de Marcos esteja sofrendo tribulações e suas tradições revelem ressentimento contra o poder romano, ele deseja distanciar-se dos judeus que estão na origem da revolta. Ao mesmo tempo, deseja apresentar o cristianismo como algo politicamente inócuo para as autoridades romanas. Por essa razão, há uma tendência a exonerar Pilatos e culpar os judeus em Marcos (cf. 15:9-15), tendência que se torna ainda mais exagerada em tempos posteriores. Na realidade, o prefeito antissemita provavelmente não teria dado a mínima importância a Jesus, especialmente se ele representasse uma ameaça à ordem durante a festa da Páscoa. Não há nenhuma outra tradição de costume de libertar prisioneiros durante uma festa, e tal anistia aberta vai contra a sabedoria administrativa. JD Crossan vê na história de Barrabás uma condenação dos judeus que escolheram a insurreição (Jesus: Uma Biografia Revolucionária , p. 143): “Em grego, o termo técnico para tal bandido rebelde são lestes, e é exatamente assim que Barrabás é chamado. Ele era um bandido, um rebelde, um insurgente, um lutador pela liberdade — dependendo sempre, é claro, do seu ponto de vista. Mas Marcos foi escrito logo após a terrível consumação da Primeira Guerra Romano-Judaica em 70 d.C., quando Jerusalém e seu Templo foi totalmente destruído. Já vimos como os zelotes, uma coalizão frouxa de grupos de bandidos e camponeses rebeldes forçados a entrar em Jerusalém pelo cerco romano cada vez mais intenso, lutaram na cidade pelo controle geral da rebelião em 68 d.C. Ali, diz Marcos, estava a escolha de Jerusalém: ela escolheu Barrabás em vez de Jesus, um rebelde armado em vez de um salvador desarmado. Sua narrativa sobre Barrabás foi, em outras palavras, uma dramatização simbólica do destino de Jerusalém, como ele o via.”
A compreensão provável do “Pequeno Apocalipse” é que ele foi escrito com referência aos eventos da Primeira Revolta Judaica: O Templo é destruído (v. 2), há guerras e ameaças de guerras (c. 7), nação se levanta contra nação e há fome (v. 8), muitos são presos (v. 11), deve-se fugir da Judeia (v. 14), há falsos profetas (v. 22), e tudo isso é “mais angustiante do que qualquer outro período entre a obra da criação e agora, e por todos os tempos vindouros”.
Devido às alusões históricas encontradas no Evangelho de Marcos aos eventos da Primeira Revolta Judaica, o período de cinco anos entre 70 e 75 d.C. é a datação mais plausível para o Evangelho de Marcos no período mais amplo indicado, de 65 a 80 d.C.
Novo Testamento Judaico: Embora seja uma tradução específica (com foco na perspectiva judaica e uso de nomes hebraicos), seria uma ferramenta suplementar incrivelmente valiosa. Ele já utiliza termos como “Yeshua” e pode contextualizar “Deus” de maneiras que ressoam com a distinção de YHWH, o que seria ótimo para comparar e fundamentar suas escolhas.
Copyright - David Harold Stern, Jewish Publication Society, 2007.
Bíblia Literal do Texto Tradicional / Bíblia de Estudo Literal do Texto Tradicional (e Anotada): Como o próprio nome diz, priorizam a literalidade do Texto Tradicional, o que é excelente para seu trabalho.
Almeida Corrigida Fiel (ACF) / João Ferreira de Almeida Corrigida e Revisada, Fiel: São conhecidas por sua alta fidelidade literal ao Texto Tradicional/Recebido. Menos fluidas para leitura geral, mas ótimas para estudo minucioso.
Tradução Brasileira: Uma tradução histórica que também preza pela literalidade.
Almeida Revista e Atualizada Interlinear: Esta seria ideal, ao apresentar o texto original (grego/hebraico) com a tradução literal. Isso permitiria a você ver diretamente qual termo original (Kyrios, Theos, Theos Hypsistos, etc.) está sendo traduzido como “Senhor”, “Deus”, “Altíssimo”, etc., facilitando suas atribuições.
STERN, David Harold. Novo Testamento Judaico. Jewish Publication Society, 2007.
The Holy Bible: 1611 Edition, King James Version. Estados Unidos, American bible society., 1611.
The Holy Bible: King James Version. Estados Unidos, Hendrickson Publishers, 2004.
JAMES, King. Holy Bible King James Version. Evans Akuamoah-Boateng, 1976.
DE ALMEIDA, João Ferreira. A BÍBLIA SAGRADA, contendo o Velho e o Novo Testamento. Sociedada Bíblica do Brasil, 1864.
https://tuapalavra.com.br/pt-BR/NTJ/mc/1
https://www.newadvent.org/bible/mar001.htm
O EVANGELHO DE LUCAS - DISCÍPULO DE PAULO
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