Ouça os Evangelhos Sagrados
8th Aeon
Jesus, descende do PAI, a Luz Primordial.
Capítulo 1
O nascimento de Jesus Cristo.
Ora, o nascimento de Jesus Cristo foi assim: estando Maria, sua mãe, sob a tutela de José, antes de se ajuntarem, achou-se grávida do Espírito Santo. Então, José, seu tutor, sendo um homem justo, e não querendo torná-la um exemplo público, teve a intenção de repudiá-la em particular.
Mas enquanto ele pensava nestas coisas, eis que um anjo do Senhor lhe apareceu em sonho, dizendo: “José, não temas receber Maria; ela é do Espírito Santo. E ela dará à luz um filho, e lhe porás o nome de Jesus; porque ele salvará o seu povo”.
Então, José, despertando do sono, realizou como o anjo do Senhor lhe havia ordenado.
Capítulo 2
Uma breve história da infância de Jesus.
Tendo Jesus nascido em Belém da Judeia, nos dias do rei Herodes, eis que uns magos vieram do oriente a Jerusalém, dizendo: “Onde está aquele que é nascido rei dos judeus? Porque vimos a sua estrela no oriente e viemos adorá-lo.”
O rei Herodes, ouvindo estas coisas, perturbou-se, e com ele toda a Jerusalém.
E, tendo reunido todos os principais sacerdotes e escribas do povo, perguntou-lhes onde havia de nascer o Cristo.
Responderam-lhe, eles: “Em Belém da Judeia, porque assim está escrito pelo profeta: ‘E tu, Belém, na terra de Judá, não és o menor entre os príncipes de Judá, porque de ti sairá um Governador, que governará o meu povo de Israel’.”
Então Herodes, tendo chamado em particular os magos, perguntou-lhes atenciosamente quando a estrela havia aparecido. E ele os enviou a Belém, e disse: “Ide e procurai solicitamente o menino e quando o encontrardes, avisai-me, para que eu também possa adorá-lo.”
Tendo eles ouvido o rei, partiram e eis que a estrela que eles viram no oriente ia adiante deles, até que veio e parou onde estava o menino. Quando eles viram a estrela, eles se regozijaram com grande alegria.
E, entrando em casa, viram o menino com Maria, sua mãe, e prostraram-se e o adoraram e, abrindo os seus tesouros, ofereceram-lhe presentes; ouro, incenso e mirra.
Avisados por um anjo em sonho para que não voltassem a Herodes, partiram para a sua terra por outro caminho.
Havendo eles partido, eis que um anjo do Senhor apareceu a José em sonho, dizendo: “Levanta-te, toma o menino e sua mãe, e foge para o Egito, e fica lá até que eu te avise, pois Herodes procurará a criança para matá-lo.” Levantando-se, ele tomou de noite o menino e sua mãe, e partiu para o Egito.
Então Herodes, vendo que era desprezado pelos sábios, irritou-se muito e mandou matar todos os meninos que havia em Belém e em todas as suas fronteiras, de dois anos para baixo, conforme o tempo que ele havia inquirido solicitamente dos sábios.
Após a morte de Herodes, eis que um anjo do Senhor apareceu em sonho a José no Egito, dizendo: “Levanta-te, toma o menino e sua mãe e vão para a terra de Israel, por estarem mortos os que tentaram contra a vida da criança.”
E ele se levantou, tomou o menino e sua mãe e veio para a terra de Israel.
Mas quando ele ouviu que Arquelau reinava na Judeia no lugar de seu pai Herodes, ele teve medo de ir para lá, não obstante, foi avisado por um anjo do Senhor em um sonho.
Ele se desviou para as partes da Galileia, e ele veio e habitou numa cidade chamada Nazaré.
Capítulo 3
João Batista anuncia e batiza o Salvador.
Naqueles dias surgiu João Batista, pregando no deserto da Judeia, e dizendo: “Arrependei-vos, porque é chegado o Cristo.” E o mesmo João tinha sua vestimenta de pelos de camelo e um cinto de couro em torno de seus lombos; e sua dieta era gafanhotos e mel silvestre.
Então, iam ter com ele todo o povo de Jerusalém, e toda a Judeia, e toda a circunvizinhança do Jordão, e eram por ele batizados no Jordão, confessando os seus pecados.
Mas, quando ele viu muitos dos fariseus e saduceus vindo ao seu batismo, disse-lhes: “Oh, geração de víboras, quem vos ensinou a fugir da ira vindoura? Pois produzem frutos dignos de arrependimento e não penseis em dizer em vós mesmos: ‘Temos por pai Abraão’. Porque eu vos digo que até destas pedras Deus pode produzir filhos a Abraão.”
“E agora também está posto o machado à raiz das árvores, por isso, toda árvore que não produz bom fruto é cortada e lançada ao fogo. Na verdade, eu vos batizo com água para arrependimento, mas aquele que vem após mim é mais poderoso do que eu, cujas sandálias não sou digno de desatar.”
“Ele vos batizará com o Espírito Santo e com Fogo, cujo leque está em sua mão, e ele limpará completamente a sua eira, e juntará o seu trigo no celeiro, mas ele queimará a palha com fogo inextinguível.”
Então veio Jesus da Galileia ao Jordão, ter com João, para ser batizado por ele. Mas João o contestou, dizendo: “Preciso ser batizado por ti, e tu vens a mim?”
E Jesus, respondendo, disse-lhe: “Deixa assim por agora, porque assim nos convém cumprir toda a justiça.”
Então, João concordou com ele. E, sendo Jesus batizado, saiu logo da água e eis que se lhe abriram os céus, e viu o Espírito de Deus descendo como uma pomba, e vindo sobre ele; eis que uma voz do céu dizia: “Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo.”
Capítulo 4
Jesus inicia seu ministério e reúne seus primeiros discípulos.
Então, Jesus foi conduzido pelo Espírito ao deserto, para ser tentado por Belial. Tendo jejuado quarenta dias e quarenta noites, depois teve fome.
Aproximando-se dele, o tentador disse: “Se tu és o Filho de Deus, manda que estas pedras se transformem em pães.”
Ele, porém, respondendo, disse: “Está escrito: ‘Nem só de pão viverá o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus’.”
Então, Belial o leva à cidade santa e o coloca no pináculo do templo, E disse-lhe: “Se tu és o Filho de Deus, lança-te abaixo: porque está escrito: ‘Ele dará ordens aos seus anjos a teu respeito; contra uma pedra’.”
Disse-lhe Jesus: “Também está escrito: ‘Não tentarás o Senhor teu Deus’.”
Novamente, Belial o levou a um monte muito alto, e mostrou-lhe todos os reinos do mundo e a glória deles e disse-lhe: “Tudo isto te darei, se te prostrares e me adorares.”
Então disse-lhe Jesus: “Vai-te, Satanás, porque está escrito: ‘Ao Senhor teu Deus adorará, e só a ele servirás’.” Então Belial o deixou, e eis que vieram os anjos e o serviram.
Tendo Jesus ouvido que João fora lançado na prisão, partiu para a Galileia. E, deixando Nazaré, veio e habitou em Cafarnaum, que está na costa do mar, nos limites de Zabulon e Naftalim.
O povo que estava nas trevas viu uma grande luz e, para aqueles que estavam sentados na região e sombra da morte, a luz raiou. Desde então, começou Jesus a pregar.
E Jesus, andando junto ao mar da Galileia, viu dois irmãos, Simão, chamado Pedro, e André, seu irmão, que lançavam a rede ao mar, porque eram pescadores.
E disse-lhes: “Sigam-me, e eu vos farei pescadores de homens.” E eles, deixando imediatamente as suas redes, o seguiram.
Saindo dali, ele viu outros dois irmãos, Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão, em um barco com Zebedeu, seu pai, consertando suas redes; e ele os chamou. E eles imediatamente deixaram o barco e seu pai, e o seguiram.
Percorria Jesus toda a Galileia, ensinando nas sinagogas, proclamando sobre o PAI e curando todas as enfermidades e moléstias entre o povo.
E a sua fama correu por toda a Síria e ele os curou. E seguiram-no grandes multidões da Galileia, e de Decápolis, e de Jerusalém, e da Judeia, e de além do Jordão.
Capítulo 5
Jesus ensina a doutrina do PAI na Montanha: “Os Felizes e Abençoados.”
Jesus, vendo a multidão, subiu a um monte; e, assentando-se, aproximaram-se dele os seus discípulos e ele começou a ensiná-los.
Jesus disse: “Bem-aventurados os pobres de espírito, porque são deles Aeon Eterno.
Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados.
Bem-aventurados os mansos, porque herdarão a terra.
Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão fartos.
Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia.
Bem-aventurados os puros de coração, porque eles verão o PAI.
Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos do PAI.
Bem-aventurados os perseguidos pela justiça, porque são deles Aeon Eterno.
Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós por minha causa.
Alegrai-vos e exaltai, porque grande é a vossa parte no Aeon Eterno; porque assim perseguiram os profetas que viveram antes de vós.”
Jesus disse: “Vós sois o sal da terra: mas se o sal perder o seu sabor, com que será salgado? Para nada mais presta, senão para ser lançado fora e pisado pelos homens. Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade edificada sobre um monte. Nem se acende uma candeia e a põe debaixo de uma vasilha, mas no castiçal; e dá luz a todos os que estão na casa. Assim, brilhe a vossa luz diante dos homens, para verem as vossas boas obras e glorifiquem a vosso PAI.”
Jesus disse: “Não penseis que vim destruir a lei ou os profetas; não vim anular, mas cumprir. Pois em verdade vos digo que, até que o céu e a terra passem, nenhuma palavra se omitirá da lei, até que tudo seja cumprido. Aquele, pois, que violar um destes menores mandamentos e assim ensinar aos homens, será chamado o menor no Aeon Eterno; mas aquele que os cumprir e ensinar será chamado grande no Aeon Eterno. Pois eu vos digo que, se a vossa justiça não exceder a dos escribas e fariseus, de modo algum entrareis no Aeon Eterno.”
Jesus disse: “Ouvistes o que foi dito pelos antigos: ‘Não matarás; e quem matar estará em perigo de julgamento’; mas eu vos digo que todo aquele que se irar contra seu irmão sem causa estará em perigo de julgamento e qualquer que disser a seu irmão, tolo, estará em perigo de conselho; mas qualquer que disser: ‘Tolo, estará em perigo de fogo do inferno’. Portanto, se trouxeres a tua oferta ao altar, e ali te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa ali a tua oferta diante do altar e vai; primeiro reconcilie-se com seu irmão e depois venha e ofereça sua oferta. Entra em acordo rapidamente com o teu adversário, enquanto estás no caminho com ele, para não suceder que o adversário te entregue ao juiz, e o juiz te entregue ao oficial de justiça, e sejas lançado na prisão. Em verdade, te digo que de maneira nenhuma sairás dali enquanto não pagares o último centavo.”
Jesus disse: “Ouvistes o que foi dito aos antigos: ‘Não adulterarás’. Eu, porém, vos digo que qualquer que atentar numa mulher para a cobiçar, já em seu coração, cometeu adultério com ela. E, se o teu olho direito te faz errar, arranca-o e lança-o de ti, porque te convém que se perca um dos teus membros, e não que todo o teu corpo vá para o inferno. Se a tua mão direita te faz errar, corta-a e lança-a de ti; porque te convém que se perca um dos teus membros, e não que todo o teu corpo seja lançado no inferno.”
Jesus disse: “Ouvistes o que foi dito: ‘Qualquer que repudiar sua mulher, dê-lhe carta de divórcio’. Eu, porém, vos digo que todo aquele que repudiar a sua esposa, a não ser devido à fornicação, a faz cometer adultério, e qualquer que casar com a divorciada comete adultério.”
Jesus disse: “Também ouvistes o que foi dito pelos antigos: ‘Não jurarás perjurar, mas cumprirás os teus juramentos ao Senhor’. Mas eu vos digo: não jureis de modo algum; nem pelo céu; porque é o trono de Deus; nem pela terra, porque é o escabelo de seus pés e nem por Jerusalém; pois é a cidade do grande Rei. Nem jurarás pela tua cabeça, porque não podes tornar um cabelo branco ou preto. Seja, porém, a vossa comunicação: ‘Sim, sim. Não, não’, porque tudo o que passa disso vem do mal.”
Jesus disse: “Ouvistes o que foi dito: ‘Olho por olho, dente por dente’. Eu, porém, vos digo que não resistais ao mal; volte para ele, o outro também. E se alguém te processar na lei e tirar o teu casaco, deixa-o ficar com o teu manto também. Qualquer que te obrigar a caminhar uma milha, vai com ele duas. Dá a quem te pede, e não te desvie daquele que te pede emprestado.”
Jesus disse: “Ouvistes o que foi dito: ‘Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo’. Eu, porém, vos digo: amai os vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam. E orai pelos que vos maltratam e vos perseguem, para que sejais filhos de vosso PAI que está no Aeon Eterno, porque ele faz nascer o seu sol sobre maus e bons, e faz chover sobre justos e injustos. Pois, se amais aqueles que vos amam, que recompensa tens? Não fazem também os publicanos o mesmo? E se saudais somente a vossos irmãos, que fazeis de mais? Não fazem também os publicanos assim? Sejais vós, pois, perfeitos, como é perfeito o vosso PAI que está no Aeon Eterno.”
Capítulo 6
Jesus continua a ensinar a doutrina do PAI na Montanha: “Caridade, Oração e Jejum”.
Jesus disse: “Guardai-vos de dar esmolas diante dos homens, para serem vistos por eles, do contrário, não tereis recompensa de vosso PAI que está no Aeon Eterno. Portanto, quando deres esmola, não toques a trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para serem glorificados pelos homens. Em verdade vos digo que já receberam a sua recompensa. Mas, quando deres esmola, não saiba a tua mão esquerda, o que faz a tua direita, para a tua esmola ficar em secreto.”
Jesus disse: “E quando orardes, não serás como os hipócritas, porque gostam de orar em pé nas sinagogas e nas esquinas das ruas, para serem vistos pelos homens. Em verdade vos digo que já receberam a sua recompensa. Mas tu, quando orar, entra no teu aposento e, fechando a tua porta, ora a teu PAI, que está em secreto, e teu PAI, que vê em secreto, te recompensará publicamente. Mas, quando orar, não useis de vãs repetições, como fazem os gentios, porque pensam que pelo muito falar serão ouvidos. Portanto, não sejais semelhantes a eles, porque vosso PAI sabe do que necessitas, antes mesmo de pedir.”
Jesus disse: “Assim, portanto, orai: ‘PAI nosso, que estás nos céus, santificado seja o teu nome. Venha a nós, o teu reino. Seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu. O pão nosso de cada dia, dá-nos hoje. E perdoa-nos as nossas dívidas, assim como perdoamos aos nossos devedores. Não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos de todo o mal por teu ser, o reino, o poder e a glória para sempre’. Amém.”
Jesus disse: “Porque, se perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso PAI celestial vos perdoará. Mas, se não perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso PAI não vos perdoará as vossas ofensas. Além disso, quando jejuarem, não fiquem tristes como os hipócritas, porque eles desfiguram seus rostos, para parecerem aos homens que jejuam. Em verdade vos digo que já receberam a sua recompensa. Tu, porém, quando jejuares, unge a cabeça e lava o rosto. Para não parecer aos homens que jejuam, mas a teu PAI, que está em secreto, e teu PAI, que vê em secreto, te recompensará publicamente.”
Jesus disse: “Não ajunteis tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem tudo consomem, e onde os ladrões minam e roubam. Mas ajuntai para vós tesouros no céu, onde nem a traça, nem a ferrugem os consomem, e onde os ladrões não minam nem roubam. Pois onde estiver a vossa mente, aí estará também o vosso tesouro.”
Jesus disse: “A candeia do corpo é o olho, se, pois, o teu olho for simples, todo o teu corpo terá luz. Mas, se o teu olho for mau, todo o teu corpo será tenebroso. Se, pois, a luz que há em ti são trevas, quão grandes serão essas trevas!”
Jesus disse: “Ninguém pode servir a dois senhores, porque ou há de odiar um e amar o outro, ou então ele se apegará a um e desprezará o outro. Você não pode servir ao PAI e aos Arcontes.”
Jesus disse: “Portanto, eu vos digo, não se preocupe com sua vida, o que você deve comer ou o que você deve beber e nem ainda pelo vosso corpo, o que haveis de vestir. Não é a vida mais do que a carne, e o corpo do que as vestes?”
Jesus disse: “Eis as aves do céu, porque não semeiam, nem colhem, nem ajuntam em celeiros, ainda assim, seu Pai celestial os alimenta. Você não é muito melhor do que eles? Qual de vós, pensando bem, pode acrescentar um côvado à sua estatura? E por que vos preocupais com o vestuário?”
Jesus disse: “Considere os lírios do campo, como eles crescem, eles não trabalham, nem fiam. Portanto, se o PAI veste assim a erva-do-campo, que hoje existe e amanhã é lançada no forno, não vestirá muito mais a vós, homens de pouca fé! Portanto, não se preocupem, dizendo. O que comeremos? Ou, o que devemos beber? Ou, com que seremos vestidos? Pois, depois de todas essas coisas, os gentios procuram. Porque vosso PAI celestial sabe que necessitais de estas coisas. Mas buscai primeiro o PAI e a sua justiça e estas coisas vos serão acrescentadas. Portanto, não pense no amanhã: pois o amanhã deve pensar nas coisas de si mesmo. Basta a cada dia o seu mal.”
Capítulo 7
Jesus continua a ensinar a doutrina do PAI na Montanha: “Julgamento”.
Jesus disse: “Não julgueis, para que não sejais julgados. Porque, com o julgamento com que julgais, sereis julgados e, com a medida com que medis, vos será medido novamente. E por que vês o cisco no olho do teu irmão, mas não reparas na trave que está no teu próprio olho? Ou como dirás a teu irmão: ‘Deixa-me tirar o cisco do teu olho e eis que há uma trave no teu olho’? Hipócrita, tira primeiro a trave do teu olho; e então verás bem para tirar o cisco do olho do teu irmão.”
Jesus disse: “Não deis aos cães o que é sagrado, nem lanceis as vossas pérolas aos porcos, para que não as pisem e, voltando-se, vos dilacerem. Peçam e lhes será dado, busquem e encontrarão; batam, e a porta lhes abrirá; porque todo aquele que pede, recebe; e quem procura encontra e ao que bate se abrirá.”
Jesus disse: “Ou qual dentre vós é o homem que, se o filho lhe pedir pão, lhe dará uma pedra? Ou, se lhe pedir peixe, lhe dará uma serpente? Se vós, sendo maus, sabeis dar boas dádivas a vossos filhos, quanto mais vosso PAI, no Aeon Eterno, dará coisas boas aos que lhe pedirem?”
Jesus disse: “Portanto, tudo aquilo que desejais que os homens vos façam, fazei-o vós também a eles. Entrai pela porta estreita, pois larga é a porta e espaçoso o caminho que conduz à perdição, e muitos são os que por ela entram. E estreita é a porta e apertado o caminho que conduz à vida, e poucos são os que a encontram.”
Jesus disse: “Cuidado com os falsos profetas, que vêm até vós disfarçados em ovelhas, mas por dentro são lobos devoradores. Vós os conhecereis pelos seus frutos. Os homens colhem uvas dos espinheiros ou figos dos cardos? Assim também, toda árvore boa produz bons frutos, mas uma árvore corrupta produz maus frutos. Não pode a árvore boa dar maus frutos, nem a árvore má dar bons frutos. Toda árvore que não produz bom fruto é cortada e lançada ao fogo. Portanto, pelos seus frutos os conhecereis.”
Jesus disse: “Nem todo aquele que me chama de ‘Senhor, Senhor’ entrará no Aeon Eterno, mas sim aquele que cumpre a vontade de meu PAI que está nos Aeons Eternos. Muitos me dirão naquele dia: ‘Senhor, Senhor, não proferimos nós profecias em teu nome? E em teu nome não expulsamos demônios? Em teu nome, não realizamos numerosas obras maravilhosas?’ Contudo, eu lhes declararei: ‘Jamais vos conheci, afastai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade.’”
Jesus disse: “Portanto, todo aquele que ouve estas minhas palavras e as coloca em prática, eu o compararei a um homem sábio que edificou a sua casa sobre a rocha. E desceu a chuva, transbordaram os rios, sopraram os ventos e bateram naquela casa e não caiu, porque estava fundada sobre uma rocha.”
Jesus disse: “Todo aquele que ouve estas minhas palavras e não as coloca em prática, será comparado a um homem insensato, que construiu sua casa sobre a areia. E caiu a chuva e as inundações vieram, e os ventos sopraram e bateram naquela casa e caiu e grande foi a sua queda.”
Quando Jesus acabou de proclamar estas palavras, estavam as multidões maravilhadas da sua doutrina, porque ele as ensinava como quem tem autoridade e não como os escribas.
Capítulo 8
Jesus ensina a prioridade dos discípulos.
Ora, descendo Jesus do monte, grandes multidões o seguiram. Eis que um leproso, tendo-se aproximado, adorou-o, dizendo: “Senhor, se quiseres, podes purificar-me.”
E Jesus, estendendo a mão, tocou-lhe, dizendo: “Quero, fique limpo!” E imediatamente ele ficou limpo da sua lepra.
Tendo Jesus entrado em Cafarnaum, apresentou-se a ele um centurião, implorando: “Senhor, o meu criado jaz em casa, de cama, paralítico, sofrendo horrivelmente.”
Jesus lhe disse: “Eu irei curá-lo”.
Mas o centurião respondeu: “Senhor, não sou digno que entres em minha casa; mas somente manda com uma palavra e o meu rapaz será curado. Pois também sou homem sujeito à autoridade, tenho soldados às minhas ordens e digo a este: ‘vai, e ele vai; e a outro: vem, e ele vem; e ao meu servo: faze isto, e ele o faz’.”
Ouvindo isto, admirou-se Jesus e disse aos que o seguiam: “Em verdade vos afirmo que nem mesmo em Israel achei fé como esta. Digo-vos que muitos virão do Oriente e do Ocidente e tomarão lugares à mesa com Abraão, Isaque e Jacó no Aeon Eterno. Ao passo que os filhos do reino serão lançados para fora, nas trevas; ali haverá choro e ranger de dentes.”
Então, disse Jesus ao centurião: “Vai-te, e seja feito conforme a tua fé.” E, naquela mesma hora, o servo foi curado.
Tendo Jesus chegado à casa de Pedro, viu a sogra deste acamada e ardendo em febre. Mas Jesus tomou-a pela mão, e a febre a deixou. Ela se levantou e passou a servi-los.
Chegada a tarde, trouxeram-lhe muitos endemoninhados e Jesus, meramente com a palavra, expeliu os espíritos e curou todos os que estavam doentes.
Vendo Jesus muita gente ao seu redor, ordenou que passassem para a outra margem. Então, aproximando-se dele um escriba, disse-lhe: “Mestre, te seguirei para onde quer que fores.”
Mas Jesus lhe respondeu: “As raposas têm seus covis e as aves do céu, ninhos; mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça.”
E outro dos discípulos lhe disse: “Senhor, permite-me ir primeiro sepultar meu pai.”
Replicou-lhe, porém, Jesus: “Siga-me, e deixa aos mortos sepultar os seus mortos.”
Então, entrando ele no barco, seus discípulos o seguiram. Eis que sobreveio uma grande tempestade no mar, de sorte que o barco era varrido pelas ondas. Entretanto, Jesus dormia. Mas os discípulos vieram acordá-lo, clamando: “Senhor, salva-nos! Ou perecemos!”
Perguntou-lhes, então, Jesus: “Por que sois tímidos, homens de pequena fé?” E, levantando-se, repreendeu os ventos e o mar e fez-se grande tranquilidade.
E maravilharam-se os homens, dizendo: “Quem é este que até os ventos e o mar lhe obedecem?”
Tendo ele chegado à outra margem, à terra dos gadarenos, vieram-lhe ao encontro dois endemoninhados, saindo dentre os sepulcros e a tal ponto furiosos, que ninguém podia passar por aquele caminho.
Eis que clamaram: “O que temos nós em comum contigo, ó, filho do ‘PAI’? Vieste aqui para nos atormentar antes do tempo determinado?”
Ora, andava pastando, não longe deles, uma grande manada de porcos. Então, os demônios lhe rogavam: “Se nos expulsas, manda-nos para a manada de porcos.”
“Pois ide”, ordenou-lhes Jesus. E eles, saindo, passaram para os porcos e eis que toda a manada se precipitou, despenhadeiro abaixo, para dentro do mar, e nas águas pereceram.
Fugiram os porcariços e, chegando à cidade, contaram estas coisas e o que acontecera aos endemoninhados.
Então, a cidade toda saiu para encontrar-se com Jesus; e, vendo-o, lhe rogaram que se retirasse da terra deles.
Capítulo 9
Jesus cura Verônica e ressuscita a filha de Jairo, chamada Semida e recruta mais discípulos para ajudar em suas obras.
Entrando Jesus num barco, passou para o outro lado e foi para a sua própria cidade de Cafarnaum. E eis que lhe trouxeram um paralítico deitado num leito.
Vendo-lhes a fé, Jesus disse ao paralítico: “Tem bom ânimo, filho; estão perdoados os teus pecados.”
Mas alguns escribas diziam consigo: “Este blasfema.”
Jesus, porém, conhecendo seus pensamentos, disse: “Por que cogitais o mal no vosso coração? Pois qual é mais fácil? Dizer: ‘Estão perdoados os teus pecados’, ou dizer: ‘Levanta-te e anda?’ Ora, para que saibais que o Filho do Homem tem sobre a terra autoridade para perdoar pecados.”
Disse, então, ao paralítico: “Levanta-te, toma o teu leito e vai para tua casa.”
E, levantando-se, partiu para sua casa. Vendo isto, as multidões, possuídas de temor, glorificaram a ‘Deus’, que dera tal autoridade aos homens.
Partindo Jesus dali, viu um publicano chamado Levi sentado na coletoria de impostos e disse-lhe: “Siga-me!” Ele se levantou e o seguiu.
E sucedeu que, estando ele em casa, à mesa, muitos publicanos e pecadores vieram e tomaram lugares com Jesus e seus discípulos.
Ora, vendo isto, os fariseus perguntavam aos discípulos: “Por que come o vosso mestre com os publicanos e pecadores?”
Mas Jesus, ouvindo, disse: “Os sadios não precisam de médico, e sim os doentes. Ide, porém, e aprendei o que significa isso: ‘Quero Misericórdia e não holocaustos’; pois não vim chamar justos, e sim pecadores.”
Vieram, depois, os discípulos de João e lhe perguntaram: “Por que jejuamos nós, e os fariseus, e teus discípulos não jejuam?”
Respondeu-lhes Jesus: “Podem, acaso, estar tristes os convidados para o casamento, enquanto o noivo está com eles? Dias virão, contudo, em que lhes será tirado o noivo, e nesses dias hão de jejuar. Ninguém põe remendo de pano novo em roupa velha, porque o remendo tira parte da veste, e fica maior a rotura. Nem se põe vinho novo em odres velhos; do contrário, rompem-se os odres, derrama-se o vinho, e os odres se perdem. Mas põe-se vinho novo em odres novos, e ambos se conservam.”
Falava ele ainda quando um dos líderes da sinagoga, chamado Jairo, chegou, ajoelhou-se diante dele e disse: “Minha filha Semida acaba de falecer. Vem e impõe a tua mão sobre ela, e ela viverá.”
E Jesus, levantando-se, e seguindo-o também os seus discípulos.
No caminho, eis que veio por trás dele e lhe tocou na orla de sua veste, uma mulher chamada Verônica, que durante doze anos vinha padecendo de uma hemorragia.
Dizia ela consigo mesma: “Se eu somente lhe tocar a veste, ficarei curada.”
E Jesus, voltando-se e vendo-a, disse: “Tem bom ânimo, filha, a tua fé te salvou.” E, desde aquele instante, ela se curou.
Tendo Jesus chegado à casa de Jairo, o líder da sinagoga, e vendo os tocadores de flauta e o povo em alvoroço.
Disse Jesus: “Retirai-vos, porque não está morta a menina, mas dorme.”
E riam-se dele. Mas, afastado o povo, entrou Jesus, tomou a menina Semida pela mão, e ela se levantou.
E a fama deste acontecimento correu por toda aquela terra.
Partindo Jesus dali, seguiram-no dois cegos, clamando: “Tem compaixão de nós, Filho de Davi!”
Tendo ele entrado em casa, aproximaram-se os cegos, e Jesus lhes perguntou: “Credes que posso fazer isso?”
Responderam-lhe: “Sim, Senhor!”
Então, Jesus lhes tocou os olhos, dizendo: “Faça-se-vos conforme a vossa fé.” E eles abriram-se os olhos.
Jesus, porém, os advertiu severamente, dizendo: “Acautelai-vos para que ninguém o saiba.”
Eles, porém, divulgaram-lhe a fama por toda aquela terra.
Ao se retirarem, foi levado a Jesus um mudo endemoninhado. E, após Jesus expulsar o demônio, o mudo falou.
E as multidões se admiravam dizendo: “Jamais se viu tal coisa em Israel!”
Mas os fariseus murmuravam: “Pelo maioral dos demônios é que expulsa os demônios.”
E percorria Jesus todas as cidades e povoados, ensinando nas sinagogas, pregando a doutrina do PAI e curando toda sorte de doenças e enfermidades.
Vendo Jesus as multidões, compadeceu-se delas, porque estavam aflitas e exaustas como ovelhas sem pastor.
E, então, se dirigiu a seus discípulos dizendo: “A seara, na verdade, é grande, mas os trabalhadores são poucos. Rogai, pois, ao Senhor da seara que mande trabalhadores para a sua seara.”
Capítulo 10
Jesus dá instruções e poder aos seus discípulos.
E, chamando a si os seus doze discípulos, deu-lhes poder contra os espíritos imundos, para expulsá-los e para curar toda sorte de doenças e enfermidades.
Ora, os nomes dos doze apóstolos são estes; O primeiro, Simão, chamado Pedro, e seu irmão André; Tiago Maior, e seu irmão João, filhos de Zebedeu, Natanael, o qual o nome era Bartolomeu; Judas Tomé, o Dídimo, e Levi, o publicano, o qual o nome era Mateus; Lebeu, cujo nome era Judas Tadeu, irmão de Simão, o cananeu, irmão de Filipe e irmão de Tiago Menor, filhos de Alfeu, e Judas Iscariotes.
Estes doze, Jesus enviou e lhes ordenou, dizendo: “Não ireis pelo caminho dos gentios, nem entrareis em cidade de samaritanos; mas ide antes às ovelhas perdidas da casa de Israel.”
“E, indo, pregai, dizendo: ‘É chegado Aeon Eterno. Curai os enfermos, purificai os leprosos, ressuscitai os mortos, expulsai os demônios’.”
“De graça recebestes, de graça dai. Não leveis ouro, nem prata, nem bronze nos vossos bolsos, nem arrecade para o vosso caminho, nem duas túnicas, nem alparcas, nem cajado, porque digno é o trabalhador do seu sustento.”
“E em qualquer cidade ou vila em que vocês entrarem, perguntem quem nela é digno, e ali fiquem até que partam dali. Quando entrarem numa casa, saudai-a. E, se a casa for digna, desça sobre ela a vossa paz, mas, se não for digna, que a vossa paz volte para vós. Todo aquele que não vos receber, nem ouvir as vossas palavras, quando saírem daquela casa ou cidade, sacudam o pó dos vossos pés.”
“Em verdade vos digo que haverá menos rigor para a terra de Sodoma e Gomorra no dia do juízo do que para aquela cidade. Eis que vos envio como ovelhas no meio de lobos, portanto, sede prudentes como as serpentes e inofensivos como as pombas.”
“Acautelai-vos, porém, dos homens, porque eles vos entregarão aos sinédrios e vos açoitarão nas suas sinagogas. E sereis levados perante governadores e reis por minha causa, para testemunho contra eles e contra os gentios. Mas, quando vos entregarem, não vos preocupeis em como ou no que haveis de falar; porque naquela mesma hora vos será dado o que haveis de dizer. Porque não sois vós que falais, mas o Espírito de vosso PAI é quem fala em vós. E o irmão entregará o irmão à morte, e o pai ao filho, e os filhos se levantarão contra seus pais, e os farão perecer. Sereis odiados por todos devido ao meu nome, mas aquele que perseverar até o fim será salvo.”
“Mas, quando vos perseguirem nesta cidade, fujam para outra, porque em verdade vos digo que não acabareis de percorrer as cidades de Israel sem que venha o Filho do Homem.”
“O discípulo não está acima de seu mestre, nem o servo acima de seu senhor. Basta ao discípulo ser como seu mestre, e ao servo como seu senhor. Se o mestre da casa foi chamado de Belzebu, quanto mais os de sua casa serão chamados de nomes piores?”
“Portanto, não temam, pois não há nada oculto que não seja revelado, e nada escondido que não se torne manifesto. O que vos digo nas trevas, proclamai-o à luz; e o que escutais vossos ouvidos, proclamai-o sobre os telhados.”
“E não tenham medo dos que matam o corpo, mas não podem matar a alma; temei antes aquele que pode fazer perecer no inferno tanto a alma como o corpo. Não se vendem dois pardais por um centavo? E nenhum deles cairá no chão sem o seu Pai. Mas até os cabelos da vossa cabeça estão todos contados. Não tenham medo, pois vocês são mais valiosos do que muitos pardais. ”
“Portanto, qualquer que me confessar diante dos homens, eu também o confessarei diante de meu PAI que está no Aeon Eterno. Mas qualquer que me negar diante dos homens, também eu o negarei diante de meu PAI que está no Aeon Eterno.”
“Não penseis que vim trazer paz à terra, não vim trazer paz, mas a guerra.”
“Pois vim para colocar um homem em desacordo com seu pai, e a filha contra sua mãe, e a nora contra sua sogra. E os inimigos do homem serão os de sua própria casa.”
“Aquele que não odiar seu pai e sua mãe não poderá se tornar meu discípulo. E quem não odiar seus irmãos e irmãs e tomar sua cruz, como eu, não será digno de mim.”
“Quem encontrar a sua vida, irá perdê-la, quem morre por minha causa, irá achá-la.”
“Quem vos recebe, a mim me recebe e quem me recebe, recebe aquele que me enviou.”
“Aquele que recebe um profeta na qualidade de profeta, receberá a recompensa de profeta e quem recebe um justo na qualidade de justo, receberá a recompensa de justo.”
“E qualquer que der a beber a um destes pequeninos um copo de água fria somente em nome de um discípulo, em verdade vos digo que de modo algum perderá a sua recompensa.”
Capítulo 11
João Batista, o mensageiro de Jesus.
Aconteceu que, acabando Jesus de dar ordens aos seus doze discípulos, partiu dali para ensinar e pregar nas cidades deles.
Ora, tendo João ouvido na prisão as obras de Cristo, enviou dois dos seus discípulos, a dizer-lhe: “És tu aquele que havia de vir, ou esperamos outro?”
Jesus respondeu e disse-lhes: “Ide e anunciai novamente a João o que estais ouvindo e vendo, os cegos veem, e os coxos andam, os leprosos são purificados e os surdos ouvem, os mortos são ressuscitados e todos têm a palavra proclamada a eles. Abençoado é aquele que não se ofender em mim.”
E, partindo eles, começou Jesus a dizer à multidão a respeito de João: “O que foste ver no deserto? Um galho agitado pelo vento? Mas o que foste ver? Um homem vestido com roupas leves? Eis que os que vestem roupas macias estão nas casas dos reis. Mas o que foste ver? Um profeta? Sim, vos digo, e mais do que um profeta. Pois este é aquele de quem está escrito: ‘Eis que envio o meu mensageiro diante da tua face, o qual preparará o teu caminho diante de ti’.”
“Em verdade vos digo que, entre os nascidos de mulher, não surgiu outro maior do que João Batista. Mas o menor no Aeon Eterno é maior do que ele. E desde os dias de João Batista até agora se faz violência ao Aeon Eterno, e pela força se apoderam dele. Pois todos os Profetas e a Lei profetizaram até João. E, se quereis dar crédito, este é o Elias que havia de vir. Quem tem ouvidos para ouvir, que ouça.”
“Mas a quem compararei esta geração? É como crianças sentadas nos mercados e chamando seus companheiros, e dizendo: ‘Tocamos-vos flauta, e não dançastes, nós vos lamentamos, e vós não lamentastes’. Porque veio João, que não comia nem bebia, e dizem: ‘Ele tem demônio’. Veio o Filho do homem comendo e bebendo, e dizem: ‘Eis aqui um comilão e bebedor de vinho, amigo de publicanos e pecadores’. Mas Sophia será justificada por seus filhos.”
Então, Jesus começou a repreender as cidades onde a maioria de suas obras poderosas foram feitas, porque elas não se arrependeram, dizendo: “Ai de ti, Corazim! Ai de ti, Betsaida! Porque, se em Tiro e em Sidom se tivessem operado os milagres que em vós se operaram, há muito que se teriam arrependido em pano de saco e em cinza. Eu, porém, vos digo que haverá menos rigor para Tiro e Sidom no dia do juízo do que para vós. E tu, Cafarnaum? Que te elevaste até ao céu, até ao inferno descerás; porque, se em Sodoma tivessem sido feitos os milagres que em ti se operaram, ela teria permanecido até hoje. Eu, porém, vos digo que haverá menos rigor para a terra de Sodoma no dia do juízo do que para ti.”
Naquele tempo, Jesus disse: “Graças te dou, ó, PAI, Senhor do Aeon Eterno, porque escondeste estas verdades dos sábios e entendidos, e as revelaste aos pequeninos. Sim, ó, PAI, porque assim te pareceu bem. Todas as coisas me foram entregues por meu PAI, e ninguém conhece o Filho, senão o PAI, e ninguém conhece o PAI, exceto o Filho, e aquele a quem o Filho o revelar a verdade. Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu domínio e aprendei de mim; porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para as vossas almas. Pois meu domínio é suave e meu jugo é leve.”
Capítulo 12
Jesus, o Senhor do Shabat.
Naquele tempo, Jesus passou no dia de Shabat pelo trigo, e seus discípulos tiveram fome e começaram a colher espigas e a comer.
Mas os fariseus, vendo isso, disseram-lhe: “Eis que os teus discípulos fazem o que não é lícito fazer no Shabat”.
Jesus, porém, lhes disse: “Acaso não lestes o que fez Davi, quando teve fome, ele e seus companheiros? Como entrou no templo e comeu os pães da proposição, dos quais não lhe era lícito comer, nem aos que estavam com ele, mas somente aos sacerdotes? Ou não, lestes na lei que, no Shabat, os sacerdotes no templo profanam o Shabat e ficam sem culpa? Eu, porém, vos digo que neste lugar há alguém maior do que o templo. Mas se soubessem o que isso significa, terei misericórdia e não holocausto, não tereis condenado os inocentes. Porque o Filho do homem é Senhor até do Shabat.”
E, partindo dali, Jesus entrou na sinagoga deles, eis que estava ali um homem que tinha a mão secada. E perguntaram-lhe, dizendo: “É lícito curar no Shabat?” Para o acusarem.
E ele disse-lhes: “Que homem haverá entre vós que tenha uma ovelha, e se ela cair em uma cova no dia de Shabat, ele não a agarrará e a levantará? Quanto mais vale um homem do que uma ovelha? Portanto, é lícito fazer bem no Shabat.”
Então, Jesus disse ao homem: “Estende a tua mão.”
E ele a estendeu, sendo restaurado inteiro, como a outra mão.
Então os fariseus saíram e conspiraram contra ele, para verem como o matariam. Jesus, porém, sabendo disso, retirou-se dali.
E seguiram-no grandes multidões, e ele curou a todos os doentes que havia entre eles. Então trouxeram a ele um endemoninhado, cego e mudo, e ele o curou, de modo que o cego e mudo falava e enxergava.
E todo o povo se admirou e disse: “Não é este o filho de Davi?”
Mas os fariseus, ouvindo isso, diziam: “Este não expulsa os demônios, senão por Belzebu, o príncipe dos demônios.”
E, conhecendo os seus pensamentos, Jesus disse-lhes: “Todo reino dividido contra si mesmo é arruinado e toda cidade ou casa dividida contra si mesma não subsistirá. Se Satanás expulsa Satanás, está dividido contra si mesmo, como então o seu reino permanecerá? Se eu expulso demônios por Belzebu, por quem seus filhos os expulsam? Portanto, eles serão seus juízes. Mas, se eu expulso os demônios pelo Espírito do PAI, logo é chegado a vós Aeon Eterno.”
“Ou então, como alguém pode entrar na casa de um homem forte e roubar seus bens, sem primeiro amarrar o homem forte? E então ele saqueará sua casa.”
“Quem não é comigo é contra mim e quem comigo não ajunta, espalha. Portanto, vos digo, todo pecado e blasfêmia se perdoará aos homens, mas a blasfêmia contra o Espírito Santo não se perdoará aos homens. Quem disser uma palavra contra o Filho do homem, isso lhe será perdoado; mas quem falar contra o Espírito Santo, não lhe será perdoado, nem neste mundo, nem no mundo vindouro.”
“Ou faça boa a árvore e bom o seu fruto, ou então corrompe a árvore e seu fruto, porque a árvore é conhecida por seu fruto.”
“Ó, geração de víboras, como podeis vós, sendo maus, falar coisas boas? Pois da abundância do coração a boca fala. O homem bom, do seu bom tesouro, tira coisas boas, e o homem mau, do seu mau tesouro, tira coisas más. Mas eu vos digo que toda palavra ociosa que os homens disserem, eles darão conta no dia do julgamento. Pois por tuas palavras serás justificado, e por tuas palavras serás condenado.”
Então, alguns dos escribas e fariseus responderam, dizendo: “Mestre, queremos ver da tua parte um sinal.”
Ele, porém, respondendo, disse-lhes: “Uma geração má e adúltera pede um sinal, e nenhum sinal lhe será dado, senão o sinal do profeta Jonas. Pois, como Jonas esteve três dias e três noites no ventre da baleia, assim estará o Filho do Homem três dias e três noites no seio da terra. Os homens de Nínive se levantarão em juízo com esta geração, e a condenarão: porque se arrependeram com a pregação de Jonas, e eis que aqui está quem é maior do que Jonas.”
“A rainha de Sabá se levantará no juízo com esta geração, e a condenará; porque ela veio dos confins da terra para ouvir a sabedoria de Salomão, e eis que aqui está quem é maior do que Salomão. Quando o espírito imundo sai do homem, anda por lugares áridos, procurando repouso, e não o encontra. Então diz: ‘Voltarei para minha casa de onde saí’; e quando ele chega, ele o encontra vazio, varrido e decorado. E ele vai e leva consigo outros sete espíritos piores do que ele, e eles entram e habitam ali: e o último estado daquele homem é pior do que o primeiro. Assim será também para esta geração perversa.”
Enquanto ele ainda falava ao povo, eis que sua mãe e seus irmãos estavam do lado de fora, desejando falar com ele.
Então alguém lhe disse: “Eis que estão lá fora tua mãe e teus irmãos, querendo falar contigo.”
Ele, porém, respondendo, disse ao que lhe contava: “Quem é minha mãe? E quem são meus irmãos?”
Estendeu a mão para os discípulos e disse: “Eis aqui minha mãe e meus irmãos! Pois, qualquer que fizer a vontade de meu PAI que está no Aeon Eterno, esses são meus irmãos e minha mãe.”
Capítulo 13
O verdadeiro propósito do porquê Jesus fala por parábolas.
Naquele mesmo dia, Jesus saiu de casa e sentou-se à beira-mar. E ajuntaram-se a ele grandes multidões, de modo que, entrando num barco, assentou-se e toda a multidão estava na praia e falou-lhes muitas coisas por parábolas.
Jesus disse: “Eis que um semeador saiu a semear. E, quando semeava, algumas sementes caíram à beira do caminho, e vieram as aves e as comeram, algumas caíram nas pedras, onde não havia muita terra, sem profundidade da terra. Quando o sol nasceu, elas foram queimadas e, porque não tinham raiz, secaram. Algumas caíram entre espinhos e os espinhos cresceram e as sufocaram. Quem tem ouvidos para ouvir, que ouça.”
Aproximaram-se os discípulos e perguntaram-lhe: “Por que lhes falas por parábolas?”
Ele respondeu e disse-lhes: “Porque a vós é dado conhecer os mistérios dos Aeons Eternos, mas a eles não é dado. Pois a quem tem, será dado a ele, e ele terá mais em abundância; mas a quem não tem, dele será tirado até mesmo o que ele tem. Por isso lhes falo por parábolas. Porque eles, vendo, não veem e ouvindo, não ouvem nem entendem. Mas bem-aventurados os vossos olhos, porque veem, e os vossos ouvidos, porque ouvem.”
“Porque, em verdade, vos digo que muitos profetas e justos desejaram ver o que estão vendo, e não o viram, e ouvir as coisas que estão ouvindo, e não as ouvi. Escutem, pois, a parábola do semeador.”
“Quando alguém ouve a palavra dos Aeons Eternos e não a entende, então vem o Poder maligno e arrebata o que foi semeado em seu coração. Este é aquele que recebeu a semente à beira do caminho. Mas o que recebeu a semente em lugares cheios de pedras, esse é o que ouve a palavra, e logo a recebe com alegria, contudo, não tem raízes em si antes é de pouca duração, porque, vindo tribulação ou perseguição devido à palavra, logo se desagradam. Também o que foi semeado entre os espinhos é o que ouve a palavra, e os cuidados deste mundo e a sedução das riquezas sufocam a palavra, e ela se torna infrutífera. Mas aquele que foi semeado em boa terra é aquele que ouve a palavra e a compreende e a multiplica, no qual dá frutos e produz, umas a cem, outras a sessenta, outras a trinta.”
Jesus propôs-lhes outra parábola, dizendo: “O Aeon Eterno é semelhante a um homem que semeou boa semente no seu campo, porém, enquanto os homens dormiam, veio o seu inimigo e semeou joio no meio do trigo, e retirou-se. Quando a erva cresceu e produziu fruto, então apareceu também o joio. E os servos do dono da casa, chegando, disseram-lhe: ‘Senhor, não semeaste boa semente no teu campo? De onde vem, pois, o joio?’ Ele lhes respondeu: ‘Um inimigo fez isso.’ Os servos perguntaram-lhe: ‘Queres, pois, que vamos arrancá-lo?’ Ele, porém, disse: ‘Não! Para que, ao colher o joio, não arranqueis também o trigo com ele. Deixai crescer ambos juntos até a ceifa. E por ocasião da ceifa, direi aos ceifeiros: ‘Ajuntai primeiro o joio e atai-o em molhos para o queimar, mas o trigo, recolhei-o no meu celeiro’.”
Propôs-lhes outra parábola, dizendo: “O Aeon Eterno é semelhante a um grão de mostarda que um homem tomou e semeou no seu campo. Que de fato é a menor de todas as sementes: mas quando cresce, é a maior entre as ervas e se torna uma árvore, de modo que os pássaros do céu vêm e se alojam em seus galhos.”
Outra parábola lhes disse: “O Aeon Eterno é semelhante ao fermento que uma mulher tomou e misturou com três medidas de farinha, até que tudo esteja levedado.”
Estas coisas falou Jesus à multidão em parábolas, e sem parábolas não lhes falava, para se cumprir o que foi dito pelo profeta: ‘Abrirei em parábolas a minha boca; pronunciarei coisas, que foram mantidas em segredo pelos Arcontes desde a fundação do mundo’.”
Então, Jesus despediu-se da multidão e entrou em casa, e aproximaram-se dele os seus discípulos, dizendo: “Explica-nos a parábola do joio do campo.”
Ele respondeu, e disse: “O que semeia a boa semente é o Filho do homem; O campo é o mundo; a boa semente são os filhos do Aeon Eterno; mas o joio são os filhos dos Arcontes; O inimigo que os semeou é o Arconte Chefe, a antiga serpente; A colheita é o fim do mundo, e os ceifeiros são os anjos. Como, portanto, o joio é colhido e queimado no fogo; assim será no fim deste mundo. O Filho do homem enviará seus anjos, e eles colherão do seu Aeon todas as coisas que ofendem e os que praticam a iniquidade. E lançarão na fornalha acesa; ali haverá choro e ranger de dentes. Então, os justos brilharão como o sol no Aeon Eterno do PAI. Quem tem ouvidos para ouvir, que ouça.”
“Além disso, o Aeon Eterno é semelhante a um tesouro escondido no campo, o qual, quando um homem encontra, ele esconde, e com alegria vai e vende tudo o que tem, e compra aquele campo.”
Além disso, o Aeon Eterno é semelhante a um comerciante que busca boas pérolas. E tendo encontrado uma pérola de grande valor, foi, vendeu tudo o que possuía e a comprou.”
Também o Aeon Eterno é ainda semelhante a uma rede que, lançada ao mar, recolhe peixes de toda espécie; e, quando cheia, os pescadores a arrastam para a praia e, assentados, escolhem os bons para os cestos, mas os ruins jogam fora. Assim será na consumação do mundo: os anjos sairão e separarão os maus dentre os justos, e os lançarão na fornalha de fogo. Ali haverá choro e ranger de dentes.”
Disse-lhes Jesus: “Compreendestes tudo isto?”
Disseram-lhe: “Sim, Senhor.”
Disse-lhes então: “Portanto, todo escriba instruído no Aeon Eterno é semelhante a um pai de família, que tira do seu tesouro coisas novas e velhas.”
E aconteceu que, acabando Jesus estas parábolas, partiu dali.
Chegando à sua terra, ensinava-os na sinagoga, de modo que se maravilhavam, e diziam: “De onde lhe vêm esta sabedoria e estes milagres? Não é este o filho do carpinteiro? Sua mãe não se chama Maria? E seus irmãos, Tiago, Josetos, Simão e Judas? E suas irmãs Assia e Lydia, não estão todas conosco? De onde, então, este homem tem todas essas coisas?” E eles se escandalizaram nele.
Jesus, porém, lhes disse: “Um profeta não fica sem honra senão na sua terra e na sua própria casa.”
E ele não efetuou milagres lá devido à incredulidade deles.
Capítulo 14
João Batista é decapitado a mando de Herodes.
Naquele tempo, Herodes, o tetrarca, ouviu a fama de Jesus, e disse aos seus servos: “Este é João Batista; ele ressuscitou dos mortos; e, portanto, obras poderosas se manifestam nele.”
Porque Herodes havia prendido João, amarrado e encarcerado devido a Herodias, mulher de seu irmão Filipe.
Pois João lhe disse: “Não te é lícito possuí-la.”
E, querendo matá-lo, temeu a multidão, porque o tinham como profeta.
Mas, comemorando-se o aniversário natalício de Herodes, então Salomé, a filha de Herodias, dançou diante deles e agradou a Herodes.
Ao que ele prometeu com juramento dar a ela tudo o que ela pedisse.
E ela, sendo previamente instruída por sua mãe, disse: “Dá-me aqui a cabeça de João Batista em um prato.”
O rei se arrependeu, contudo, devido ao juramento e dos que com ele estavam à mesa, ordenou que se desse a ela.
Mandou degolar João na prisão. E sua cabeça foi trazida em um carregador e dada à donzela, e ela a trouxe para sua mãe.
Chegaram os seus discípulos, levaram o corpo, sepultaram-no, sendo anunciá-lo a Jesus.
Quando Jesus soube disso, partiu dali de barco para um lugar deserto à parte. E quando o povo soube disso, eles o seguiram a pé para fora das cidades. E Jesus saiu, e viu uma grande multidão, e compadeceu-se deles, e curou os seus enfermos.
Ao cair da tarde, aproximaram-se dele os seus discípulos, dizendo: “Este é um lugar deserto e já é tarde, despede a multidão, para poderem ir às aldeias comprar mantimentos.”
Jesus, porém, lhes disse: “Não precisam ir, dai-lhes de comer.”
Responderam-lhe, eles: “Não temos aqui senão cinco pães e dois peixes.”
Ele disse: “Traga-os aqui para mim.”
E ordenou à multidão que se assentasse na relva, tomou os cinco pães e os dois peixes, ergueu os olhos ao céu, abençoou, partiu e deu os pães aos seus discípulos, e os discípulos para a multidão. Todos comeram e se fartaram, e dos pedaços que sobraram recolheram doze cestos cheios. E os que comeram eram cerca de cinco mil homens, além de mulheres e crianças.
Logo ordenou Jesus aos seus discípulos que entrassem no barco e fossem adiante dele para o outro lado da margem, enquanto despedia a multidão. E quando ele havia despedido das multidões, ele subiu a uma montanha à parte para orar.
Quando a noite chegou, ele estava lá sozinho. Mas o barco estava agora no meio do mar, agitado pelas ondas, porque o vento era contrário.
E na quarta vigília da noite, Jesus foi ter com eles, andando sobre o mar. E os discípulos, vendo-o andando sobre o mar, perturbaram-se, dizendo: “É um espírito”. E eles gritaram de medo.
Mas Jesus logo lhes falou, dizendo: “Tende bom ânimo, sou eu, não tenham medo.”
E Pedro, respondendo-lhe, disse: “Senhor, se és tu, manda-me ir ter contigo por cima das águas.”
E Jesus disse a ele: “Vem.”
E, quando Pedro desceu do barco, andou sobre as águas, para ir ter com Jesus. Mas, quando viu o vento forte, teve medo e começou a afundar.
Então Pedro clamou, dizendo: “Senhor, salva-me.”
E imediatamente Jesus estendeu a mão, segurou-o e disse-lhe: “Homem de pouca fé, por que duvidaste?” E quando eles entraram no barco, o vento cessou.
Então, os que estavam no barco o adoraram, dizendo: “Verdadeiramente, tu és o Filho do PAI.”
E, tendo eles passado, chegaram à terra de Genesaré. Quando os homens daquele lugar tiveram conhecimento dele, eles enviaram por todo aquele país ao redor, e trouxeram a ele todos os que estavam enfermos.
E rogaram-lhe que só tocasse na orla do seu manto, e todos os que tocavam ficavam perfeitamente curados.
Capítulo 15
Jesus fala sobre as regras e a lei dos judeus.
Então, aproximaram-se de Jesus alguns escribas e fariseus de Jerusalém, dizendo: “Por que transgridem os teus discípulos a tradição dos anciãos? Porque não lavam as mãos quando comem pão.”
Jesus, porém, respondendo, disse-lhes: “Por que também vocês transgridem o mandamento de ‘Deus’ pela vossa tradição? Porque ‘Deus’ ordenou, dizendo: ‘Honra a teu pai e a tua mãe’; e: ‘Quem amaldiçoar o pai ou a mãe, morra de morte’. Mas vós dizeis: ‘Qualquer que disser a seu pai ou a sua mãe: É uma dádiva, seja qual for o teu proveito de mim; E não honre seu pai ou sua mãe, ele será livre’. Assim tornastes o mandamento de Deus sem efeito por vossa tradição.”
“Hipócritas, bem profetizou Isaías a vosso respeito, dizendo: ‘Este povo se aproxima de mim com a sua boca, e me honra com os seus lábios; mas o coração deles está longe de mim’. Mas em vão me adoram, ensinando doutrinas que são mandamentos de homens.”
E chamando a multidão, disse-lhes: “Ouçam e compreendam, não é o que entra pela boca que contamina o homem; mas o que sai da boca, isso é o que contamina o homem.”
Então vieram os seus discípulos e disseram-lhe: “Sabes que os fariseus se escandalizaram ao ouvirem estas palavras?”
Jesus, porém, respondendo, disse: “Toda planta que meu PAI Celestial não plantou será arrancada. Deixem-nos por ser guias cegos de cegos. E se um cego guiar outro cego, ambos cairão na vala.”
Então, respondeu Pedro e disse-lhe: “Explica-nos esta parábola.”
E Jesus disse: “Ainda vós não entendeis? Ainda não compreendeis que tudo o que entra pela boca desce para o ventre, sendo lançado na boca? Mas as coisas que saem da boca saem do coração e eles contaminam o homem. Porque do coração procedem os maus pensamentos, homicídios, adultérios, fornicações, furtos, falsos testemunhos, blasfêmias. Estas são as coisas que contaminam o homem.”
Então, Jesus partiu dali e foi para as costas de Tiro e Sidom.
E eis que uma mulher de Canaã veio das mesmas regiões e clamou a ele, dizendo: “Tem misericórdia de mim, ó, Senhor, filho de Davi, pois minha filha está gravemente atormentada por um demônio.”
Mas ele não lhe respondeu uma palavra. E os seus discípulos aproximaram-se dele e rogaram-lhe, dizendo: “Manda-a embora, porque ela clama atrás de nós.”
Mas ele respondeu e disse: “Não fui enviado senão às ovelhas perdidas da casa de Israel?”
Então, ela aproximou-se e o adorou, dizendo: “Senhor, ajuda-me.”
Ele, porém, respondendo, disse: “Não é bom tomar o pão dos filhos e lançá-lo aos cachorrinhos.”
E ela disse: “Verdade, Senhor, mas os cachorrinhos comem das migalhas que caem da mesa dos seus donos.”
Então, Jesus, respondendo, disse-lhe: “Ó, mulher, grande é a tua fé! Seja-te feito como queres.” E sua filha ficou curada desde aquele instante.
Partindo Jesus dali, aproximou-se do mar da Galileia e subiu a um monte, sentou-se ali. E aproximaram-se dele grande multidão, trazendo consigo coxos, cegos, mudos, aleijados e muitos outros, e prostraram-nos aos pés de Jesus e ele os curou. De modo que a multidão se maravilhou, ao ver os mudos, os aleijados, ficar curados, os coxos andarem e os cegos verem e glorificarem o Deus de Israel.
Então Jesus chamou os seus discípulos e disse: “Tenho compaixão da multidão, porque já faz três dias que estão comigo, e não têm o que comer.”
Disseram-lhe os seus discípulos: “De onde haveríamos de ter no deserto tanto pão, para saciar tão grande multidão?”
Perguntou-lhes Jesus: “Quantos pães tens?”
Eles responderam: “Sete e alguns peixinhos.”
Então, Jesus ordenou à multidão que se sentasse no chão e, tomando os sete pães e os peixes, deu graças, partiu-os e deu-os aos seus discípulos, e os discípulos à multidão.
Todos comeram e se fartaram e, dos pedaços que sobraram, levantaram sete cestos cheios. Os que comeram foram quatro mil homens, além de mulheres e crianças. Ele se despediu da multidão e embarcou, então chegou às costas da cidade de Magdala.
Capítulo 16
Jesus alerta a todos sobre o antigo fermento dos fariseus.
Chegaram também os fariseus com os saduceus e, para o tentarem, pediram-lhe que lhes mostrasse um sinal do céu.
Ele respondeu, e disse: “Ao cair da tarde, dizeis: ‘Haverá bom tempo, porque o céu está vermelho. E pela manhã, o dia estará ruim, pois o céu está vermelho e baixo’. Ó, hipócritas, vocês podem discernir a face do céu, mas vocês não podem discernir os sinais dos tempos? Uma geração má e adúltera pede um sinal e nenhum sinal lhe será dado, senão o sinal do profeta Jonas.”
E Jesus os deixou e partiu.
Quando seus discípulos chegaram ao outro lado, eles se esqueceram de levar o pão.
Então, Jesus lhes disse: “Estejam atentos e tenham cuidado com o fermento dos fariseus e dos saduceus”.
E discutiam entre si, dizendo: “É porque não trouxemos pão.”
Jesus, percebendo isso, disse-lhes: “Homens de pouca fé, por que discutem entre vós, por que não trouxestes pão? Ainda não compreendestes, nem vos lembrais dos cinco pães para cinco mil, e de quantos cestos levantastes? Nem os sete pães para quatro mil, e quantos cestos levantastes? Como não entendeis que não vos falei a respeito do pão, para vos guardarem do fermento dos fariseus e dos saduceus? Como vocês não entendem que não era de pão que eu estava lhes falando? Tomem cuidado com o ensinamento dos fariseus e dos saduceus.”
Chegando Jesus às regiões de Cesareia de Filipe, interrogou os seus discípulos, dizendo: “Quem os homens dizem ser o Filho do Homem?”
Responderam eles: “Uns dizem que és João Batista; outros, Elias e outros, Jeremias, ou algum dos profetas.”
Ele lhes disse: “Mas vós, quem dizeis que eu sou?”
E Simão Pedro respondeu e disse: “Tu és o Cristo, o Filho do PAI vivo.”
E Jesus, respondendo, disse-lhe: “Bem-aventurado és tu, Simão, filho de Jonas, porque não foi revelado a você por carne ou sangue, mas por meu PAI que está no Aeon Eterno. E eu também te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra instruirei a minha doutrina e as portas do Hades não prevalecerão contra ela. Eu te darei as chaves do conhecimento dos Aeons Eternos e tudo o que ligares na terra será ligado no Aeon Eterno.”
Então, Jesus ordenou a seus discípulos que não dissessem a ninguém que ele era o Cristo. Desde então, começou Jesus a explicar aos seus discípulos que lhe convinha ir a Jerusalém, e suportar muitas coisas dos anciãos, e dos principais sacerdotes, e dos escribas, e ser morto, e ressuscitar ao terceiro dia.
Então Pedro o tomou e começou a repreendê-lo, dizendo: “Senhor, longe de ti isso não te acontecerá.”
Ele, porém, voltando-se, disse a Pedro: “Afasta-te de mim, Satanás.”
Então disse Jesus aos seus discípulos: “Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me.”
“Pois quem quiser salvar a sua vida, irá perdê-la; e quem perder a sua vida por minha causa, irá achá-la.”
“Pois, o que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma? Ou que dará o homem em troca da sua alma? Porque o Filho do homem há de vir na glória de seu PAI, com os seus anjos e então ele recompensará cada homem de acordo com suas obras. Em verdade vos digo que, há alguns, dos que aqui estão, que não passarão pela morte, até que vejam o Filho do homem vindo em seu reino.”
Capítulo 17
A Transfiguração de Jesus.
Depois de seis dias, Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João, seu irmão, e levou-os à parte para um alto monte, e transfigurou-se diante deles, branco como a luz. E eis que lhes apareceram Moisés e Elias, falando com ele.
Então, respondendo Pedro, disse a Jesus: “Senhor, é bom estarmos aqui; se queres, façamos aqui três tendas, uma para ti, outra para Moisés e outra para Elias.”
Enquanto ele ainda falava, eis que uma nuvem luminosa os envolveu e eis que da nuvem saiu uma voz que dizia: “Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo, ouçam-no.”
Ouvindo isso, os discípulos prostraram-se com o rosto em terra e ficaram aterrorizados.
Jesus, aproximando-se, tocou-lhes e disse: “Levantem e não tenham medo.”
E, levantando-lhes os olhos, não viram ninguém, senão somente Jesus.
Descendo eles do monte, Jesus ordenou-lhes, dizendo: “A ninguém conteis a visão, até que o Filho do homem ressuscite dentre os mortos.”
E seus discípulos perguntaram-lhe, dizendo: “Por que então dizem os escribas que Elias deve vir primeiro?”
E Jesus, respondendo, disse-lhes: “Mas digo a vocês: Elias já veio, e eles não o reconheceram, mas fizeram com ele tudo o que quiseram. Da mesma forma, o Filho do homem será maltratado por eles.”
Então entenderam os discípulos que lhes falavam de João Batista.
E, quando chegaram ao meio da multidão, aproximou-se dele um homem que se ajoelhou diante de Jesus e disse: “Senhor, tenha misericórdia de meu filho, porque ele é lunático e muito atormentado, muitas vezes ele cai no fogo e muitas vezes na água. E trouxe-o a teus discípulos, e eles não puderam curá-lo.”
Então, Jesus, respondendo, disse: “Ó, geração incrédula e perversa, até quando estarei com vocês? Até quando terei que suportá-los? Traga a criança aqui para mim.”
E Jesus repreendeu o demônio e ele saiu da criança, que ficou curada desde aquele instante.
Então, os discípulos aproximaram-se de Jesus à parte e disseram: “Por que não pudemos nós expulsá-lo?”
E Jesus disse-lhes: “Devido à vossa incredulidade. Porque, em verdade, vos digo que, se tiverdes fé como um grão de mostarda, direis a este monte: “Passa daqui para acolá e removerá, e nada vos será impossível. No entanto, esta espécie de demônio só sai com oração e jejum.”
Estando eles na Galileia, disse-lhes Jesus: “O Filho do homem será entregue nas mãos dos homens e eles o matarão, e ao terceiro dia ressuscitará.” E os discípulos ficaram cheios de tristeza.
Tendo eles chegado a Cafarnaum, dirigiram-se a Pedro os que cobravam o tributo de duas dracmas e perguntaram: “O vosso mestre não paga as duas dracmas?”
E Pedro Respondeu e diz: “Sim.”
E quando ele entrou em casa, Jesus o impediu, dizendo: “O que você pensa, Simão? De quem cobram os reis da terra, impostos ou tributos? De seus próprios filhos ou de estranhos?”
Disse-lhe Pedro: “Dos estranhos.”
Disse-lhe Jesus: “Então, os filhos estão isentos. Mas, para não escandalizá-los, vá ao mar e jogue o anzol. Tire o primeiro peixe que você pegar, abra-lhe a boca, e você encontrará uma moeda de quatro dracmas. Pegue-a e entregue-a a eles, para pagar o meu imposto e o seu.”
Capítulo 18
O maior no Aeon Eterno.
No mesmo instante, aproximaram-se de Jesus os discípulos, perguntando: “Quem é o maior no Aeon Eterno?”
Então, Jesus chamou uma criança e colocou-a no meio deles, e disse: “Em verdade vos digo que, se não vos converterdes e não vos tornardes como crianças, de modo algum entrareis no Aeon Eterno. Portanto, quem se humilhar como esta criança, esse é o maior no Aeon Eterno. E quem receber uma criança como esta em meu nome, a mim me recebe. Mas quem ofender um destes pequeninos que acreditam em mim, melhor seria para ele que uma pedra de moinho fosse pendurada em seu pescoço, e que ele se afogasse nas profundezas do mar.”
Continuou dizendo Jesus: “Ai do mundo devido às ofensas! Pois é necessário que as ofensas venham, mas aí daquele homem por quem vem a ofensa! Portanto, se a tua mão ou o teu pé te escandalizar, corta-os e lança-os para longe de ti. E se o teu olho te ofender, arranca-o e lança-o de ti. É melhor para ti entrar na vida com um olho, em vez de ter dois olhos para ser lançado no fogo do inferno. Guardai-vos de não desprezar nenhum destes pequeninos, porque eu vos digo que os seus anjos no céu sempre contemplam a face de meu PAI que está no Aeon Eterno.”
Jesus disse: “Porque o Filho do homem veio salvar o que se havia perdido. Como você pensa? Se um homem tem cem ovelhas, e uma delas se extravia, não o deixa as noventa e nove, e vai aos montes buscar a que se extraviou? E se ele a encontrar, em verdade vos digo que ele se alegra mais com aquela ovelha do que com as noventa e nove que não se desviaram.”
Jesus disse: “Assim também não é da vontade de vosso PAI, que está no Aeon Eterno, que algum destes pequeninos se perca. Além disso, se teu irmão pecar contra ti, vai e repreende-o entre ti e ele, só, se ele te ouvir, ganhaste a teu irmão. Mas, se ele não te ouvir, leva ainda contigo um ou dois, para que, pela boca de duas ou três testemunhas, toda palavra seja confirmada. E se ele deixar de ouvi-los, diga-o ao templo, mas se ele deixar de ouvir ao templo, considere-o como um gentio e publicano.”
“Em verdade vos digo que tudo o que ligardes na terra será ligado no céu, e tudo o que desligardes na terra será desligado no céu. Novamente vos digo que, se dois de vós concordarem na terra quanto a qualquer coisa que pedirem, isso lhes será feito por meu PAI. Porque, onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles.”
Então, Pedro aproximou-se dele e disse: “Senhor, quantas vezes meu irmão pecará contra mim, e eu lhe perdoarei? Até sete vezes?”
Respondeu-lhe Jesus: “Não te digo que até sete, mas até setenta vezes sete.”
“Portanto, Aeon Eterno é semelhante a um certo rei, que quis prestar contas de seus servos. E, começando ele a prestar contas, foi-lhe apresentado um que lhe devia dez mil talentos. Mas, como ele não tinha como pagar, seu senhor ordenou que ele fosse vendido, e sua esposa e filhos, e tudo o que ele tinha, para o pagamento ser feito. O servo, portanto, prostrou-se e o adorou, dizendo: ‘Senhor, tem paciência comigo, e eu te pagarei tudo.’ Então o senhor daquele servo se compadeceu, e o soltou, e perdoou-lhe a dívida. Saindo, porém, o mesmo servo, encontrou um dos seus conservos, que lhe devia cem denários. E o seu conservo prostrou-se a seus pés, e rogava-lhe, dizendo: tem paciência comigo, e tudo te pagarei. E ele não quis, mas foi e lançou-o na prisão, até que pagasse a dívida. Então, quando seus conservos viram o que foi feito, eles ficaram muito tristes e vieram e contaram ao seu senhor tudo o que havia acontecido. Então, o seu senhor, chamando-o, disse-lhe: ‘servo mau, perdoei-te toda a tua dívida, porque me desejaste; como tive pena de ti?’ E, indignado, o seu senhor o entregou aos carrascos, até que pagasse tudo o que lhe devia. Assim também vos fará meu PAI celestial, se de coração não perdoardes cada um a seu irmão pelas suas ofensas.”
Capítulo 19
Jesus fala sobre o casamento.
Aconteceu que, havendo Jesus acabado de dizer estas palavras, partiu da Galileia e foi para os confins da Judeia, além do Jordão. E grandes multidões o seguiam e ali os curou.
Aproximaram-se dele também os fariseus, tentando-o, e dizendo-lhe: “É lícito ao homem repudiar a sua mulher por qualquer causa?”
E ele, respondendo, disse-lhes: “Não tens lido que aquele que os fez no princípio os fez masculino e feminino, e disse: ‘Por isso, deixará o homem pai e mãe, e se unirá à sua mulher; e serão os dois uma só carne’? Portanto, eles não são mais dois, mas uma só carne. Portanto, o que Deus uniu, não o separe o homem’.”
Disseram-lhe: “Por que mandou Moisés, então, dar carta de divórcio e repudiar?”
Disse-lhes ele: “Moisés, devido à dureza dos vossos corações, vos permitiu repudiar vossas mulheres, mas no princípio não foi assim. Então, eu vos digo, qualquer que repudiar sua mulher, exceto por fornicação, e casar com outra, comete adultério.”
Disseram-lhe os seus discípulos: “Se assim é a situação do homem com a mulher, então não convém casar!”
Mas Jesus lhes disse: “Nem todos podem aceitar estas palavras, exceto aqueles a quem é dado. Porque há eunucos que assim nasceram do ventre de suas mães, e há eunucos, que foram castrados pelos homens. Aquele que pode recebê-lo, receba-o.”
Trouxeram-lhe então algumas crianças, para que lhes impusesse as mãos e orasse, mas os discípulos os repreendiam.
Mas Jesus disse: “Deixai os pequeninos, e não os impeçais de vir a mim, porque dos tais é Aeon Eterno.” E Jesus impôs as mãos sobre eles e partiu dali.
Eis que se aproximou dele um homem e lhe disse: “Bom Mestre, que bem farei para conseguir a vida eterna?”
E disse-lhe Jesus: “Por que me chamas bom? Não há bom senão um, o qual é o PAI, Mas, se queres a vida eterna, guarda os mandamentos.”
Perguntou-lhe o homem: “Quais mandamentos?
Jesus respondeu dizendo: “Não matarás, não cometerás adultério, não furtarás, não dirás falso testemunho, honra a teu pai e a tua mãe, e amarás o teu próximo como a ti mesmo.”
O jovem disse-lhe: “Estas coisas, guardo desde a minha juventude, o que me falta ainda?”
Disse-lhe Jesus: “Se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens, dá-o aos pobres e terás um tesouro no céu.”
O jovem, porém, ouvindo estas palavras, retirou-se triste, porque era dono de muitas propriedades.
Então disse Jesus aos seus discípulos: “Em verdade vos digo que um rico dificilmente entrará no Aeon Eterno. E outra vez vos digo ser mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar um rico no Aeon Eterno.”
Quando seus discípulos ouviram isso, ficaram extremamente surpresos, dizendo: “Quem então pode ser salvo?”
Jesus, porém, olhando para eles, disse-lhes: “Para os homens isso é impossível, mas com o PAI todas as coisas são possíveis.”
Então, Pedro respondeu dizendo-lhe: “Eis que deixamos tudo e te seguimos, o que teremos, portanto?”
E Jesus lhes disse: “Em verdade vos digo que vós, os que me seguistes, na regeneração de todas as coisas, quando o Filho do homem se assentar no trono em sua glória, também vos assentareis em doze tronos no décimo segundo Aeon Eterno de Luz, para julgar as doze tribos de Israel. E todo aquele que abandonou casas, ou irmãos, ou irmãs, ou pai, ou mãe, ou esposa, ou filhos, ou terras, devido ao meu nome, receberá cem mil vezes mais em graça e glória e herdará a vida eterna. Mas muitos primeiros serão últimos e os últimos serão os primeiros.”
Continuou dizendo Jesus: “Porque o Aeon Eterno é semelhante a um homem, pai de família, que saiu de madrugada para contratar trabalhadores para a sua vinha. E quando ele fez um acordo com os trabalhadores de um denário por dia, ele os enviou para sua vinha. Ele saiu por volta da hora terceira e viu outros que estavam ociosos na praça do mercado, e disse-lhes: ‘Ide vós também para a vinha, e o que for justo eu vos darei’. E eles seguiram seu caminho. Novamente, ele saiu por volta da hora sexta e nona, e fez o mesmo. E por volta da décima primeira hora, ele saiu e encontrou outros que estavam ociosos, e disse-lhes: ‘Por que vocês estão aqui ociosos o dia todo’? Responderam-lhe: ‘Porque ninguém nos contratou’. Disse-lhes: ‘Ide vós também para a vinha; e tudo o que for certo, isso recebereis’. Ao cair da tarde, disse o senhor da vinha ao seu despenseiro: ‘Chama os trabalhadores e paga-lhes o seu salário, começando pelos últimos até aos primeiros’. E, chegando os que haviam sido contratados por volta da hora décima, receberam um denário cada um. Vindo, porém, os primeiros, pensaram deverem ter recebido mais; e eles também receberam um centavo para cada um. E, recebendo-o, murmuravam contra o pai de família, dizendo: ‘Estes últimos trabalharam somente uma hora, e tu os igualaste a nós, que suportamos o fardo e o calor do dia’. Ele, porém, respondendo a um deles, disse: ‘Amigo, não te faço mal, não concordaste comigo por um denário?’ Toma o que tens e vai; a este último darei o mesmo que a ti. Não me é lícito fazer o que quero do que é meu? Teu olho é mau porque sou bom? Assim, os últimos serão os primeiros, e os primeiros, os últimos, porque muitos serão chamados, mas poucos escolhidos’.”
Capítulo 20
Jesus explica sobre o Cálice Sagrado, “O Santo Graal”.
Jesus, subindo para Jerusalém, chamou os doze discípulos à parte no caminho, e disse-lhes: “Eis que subimos para Jerusalém e o Filho do homem será entregue aos principais sacerdotes e aos escribas, e eles o condenarão à morte, e o entregarão aos gentios para que o escarneçam, o açoitem e o crucifiquem, mas ao terceiro dia ele ressuscitará.”
Então, veio a ele a Maria Salomé, mãe dos filhos de Zebedeu com seus filhos Tiago e João, adorando-o e desejando uma certa coisa dele.
Jesus disse a ela: “O que queres?”
Maria Salomé lhe disse: “Concede que estes meus dois filhos se assentem, um à tua direita e outro à tua esquerda, nos seus Aeons Eternos.”
Jesus, porém, respondendo, disse: “Vocês não sabem o que estão pedindo. Vocês podem beber do cálice que beberei e ser batizado com o batismo com o qual sou batizado?”
Eles responderam: “Podemos.”
Disse-lhes Jesus: “Em verdade, bebereis do meu cálice e sereis batizados com o batismo com que sou batizado, mas sentar-se à minha direita e à minha esquerda não é meu para dar, mas será dado àqueles para quem está preparado por meu PAI.”
E quando os outros discípulos ouviram isso, eles ficaram indignados com os dois irmãos.
Jesus, porém, chamou-os e disse: “Vós bem sabeis que os Arcontes deste mundo dominam todas as nações, e o Poder de seus Regentes exerce autoridade sobre elas. Mas entre vós não será assim, antes, qualquer que entre vós quiser ser grande, seja vosso ministro. E quem entre vós quiser ser o primeiro, seja o vosso servo, assim como o Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos.”
E quando eles partiram de Jericó, uma grande multidão o seguiu.
Eis que dois cegos sentados à beira do caminho, quando ouviram que Jesus passava, clamaram, dizendo: “Tem misericórdia de nós, Senhor.”
A multidão os repreendia, porque deviam calar-se, mas eles clamavam ainda mais, dizendo: “Tem misericórdia de nós, Senhor.”
E Jesus, parando, chamou-os e disse: “O que quereis que vos faça?”
Disseram-lhe: “Senhor, que se abram os nossos olhos.”
Então Jesus teve compaixão deles, e tocou-lhes os olhos, e imediatamente os olhos deles recuperaram a visão, e eles o seguiram.
Capítulo 21
A entrada de Jesus em Jerusalém.
E, chegando-se eles a Jerusalém, e chegando a Betfagé, ao monte das Oliveiras, enviou Jesus dois de seus discípulos.
Jesus ordenou dizendo-lhes: “Ide à aldeia que está defronte de vós, e logo achareis uma jumenta amarrada, e um jumentinho com ela: solta-os e trazem os para mim. E, se alguém vos disser alguma coisa, direi: ‘O Senhor precisa deles; e imediatamente ele os enviará’.”
Os discípulos foram e fizeram como Jesus lhes havia ordenado, e trouxeram a jumenta e o jumentinho, e vestiram-lhes as suas vestes, e puseram-no sobre eles.
E uma multidão muito grande estendia as suas vestes pelo caminho, outros cortaram galhos das árvores e espalharam-nos pelo caminho.
As multidões que iam adiante e as que vinham atrás clamavam, dizendo: “Hosana nas alturas, bendito és vindo em nome do Senhor; Hosana nas alturas.”
Chegando Jesus a Jerusalém, toda a cidade se alvoroçou, dizendo: “Quem é este?”
A multidão dizia: “Este é Jesus, o profeta de Nazaré da Galileia.”
E Jesus entrou no templo de Salomão, e expulsou todos os que vendiam e compravam no templo, e derrubou as mesas dos cambistas e as cadeiras dos que vendiam pombas, e disse-lhes: “Não está escrito: ‘Esse templo será chamado templo de oração para todos os povos’? Mas vocês fizeram dele um lugar de comércio.”
E os cegos e os coxos foram ter com ele no templo e ele os curou.
Os principais sacerdotes e os escribas, vendo as maravilhas que ele fazia, e os meninos clamando no templo, e dizendo: “Hosana nas alturas”, eles ficaram muito descontentes.
E os sacerdotes e os escribas disseram-lhe: “Ouve o que estes dizem?”
E Jesus disse-lhes: “Sim; nunca lestes: ‘Da boca dos pequeninos e das crianças de peito tiraste o louvor perfeito’?”
E, deixando-os, saiu da cidade para Betânia, e ele se hospedou lá.
Pela manhã, ao voltar para a cidade, teve fome. E, vendo uma figueira à beira do caminho, aproximou-se dela, mas não achou nela senão folhas, e disse-lhe: “Nunca mais nasça fruto em ti.” E logo a figueira secou.
Os discípulos, vendo isto, maravilharam-se, dizendo: “Como secou a figueira!”
Jesus respondeu e disse-lhes: “Em verdade vos digo que, se tiverdes fé e não duvidardes, não só fareis isto que foi feito à figueira, mas também se disserdes a este monte, ergue-te, e seja lançado no mar, será feito. E tudo o que pedirdes na oração, crendo, recebereis.”
Tendo Jesus entrado no templo, estando ele ensinando, aproximaram-se dele os principais sacerdotes e os anciãos do povo, e perguntaram: “Com que autoridade fazes tu estas coisas? E quem te deu esta autoridade?”
E Jesus, respondendo, disse-lhes: “Eu também vos farei uma pergunta, se me responderdes, também eu vos direi com que autoridade faço estas coisas. O batismo de João, de onde era? Do céu, ou dos homens?”
E eles argumentaram entre si, dizendo: “Se dissermos: do céu, ele nos dirá: por que vocês não acreditaram nele? Mas se dissermos: dos homens, tememos o povo; pois todos consideram João um profeta.”
E eles, respondendo a Jesus, disseram: “Não sabemos.”
E ele lhes disse: “Nem eu vos digo com que autoridade faço estas coisas. Mas o que vocês pensam? Um certo homem tinha dois filhos e chegando ao primeiro, disse: Filho, vai trabalhar hoje na minha vinha. Respondeu ele: ‘Não quero’; mas depois arrependeu-se e foi. E ele veio para o segundo, e disse o mesmo. Ele, respondendo, disse: ‘Eu vou, senhor’; e não foi. Qual dos dois fez a vontade de seu pai?”
Disseram-lhe: “O primeiro.”
Disse-lhes Jesus: “Em verdade vos digo que os publicanos e as meretrizes entram adiante de vós no Aeon Eterno. Porque João veio a vós no caminho da justiça, e não lhe deste crédito, mas os publicanos e as meretrizes o creram.”
Ouça outra parábola: “Havia um certo pai de família que plantou uma vinha, cercou-a, cavou nela um lagar, edificou uma torre, arrendou-a a lavradores e partiu para uma terra distante. E quando se aproximou o tempo do fruto, ele enviou seus servos aos lavradores, para receberem os frutos dele. E os lavradores, apoderando-se dos servos, espancaram um, mataram a outro e a outro apedrejaram. Novamente, ele enviou outros servos em maior número do que o primeiro: e eles fizeram a eles o mesmo. Mas, por fim, enviou-lhes seu filho, dizendo: ‘Eles reverenciarão meu filho’. Mas quando os lavradores viram o filho, disseram entre si: ‘Este é o herdeiro; vinde, matemo-lo e apoderemo-nos da sua herança’. E, agarrando-o, lançaram-no fora da vinha e o mataram. Quando, pois, vier o senhor da vinha, que fará àqueles lavradores?”
Disseram-lhe: “Fará perecer miseravelmente aqueles ímpios, e arrendará a sua vinha a outros lavradores, os quais lhe darão os frutos a seu tempo.”
Disse-lhes Jesus: “Nunca lestes nas Escrituras: ‘A pedra que os construtores rejeitaram, essa se tornou a pedra angular. Isto é obra do Senhor e é maravilhoso aos nossos olhos? Portanto, vos digo que vos será tirado o Aeon Eterno, e será dado a um povo que dê os seus frutos. E quem cair sobre esta pedra será despedaçado, mas aquele sobre quem ela cairá será reduzido ao pó.”
E quando os principais sacerdotes e fariseus ouviram suas parábolas, perceberam falar deles. Mas, quando procuravam prendê-lo, temiam a multidão, porque o tomavam por profeta.
Capítulo 22
Jesus não descende de Davi e sim do Pai Vivo.
E Jesus, respondendo, tornou a falar-lhes por parábolas, dizendo: “Os Aeons Eternos são semelhantes a um certo rei que celebrou as bodas de seu filho, e enviou os seus servos para chamá-los convidados para as bodas, e não quiseram vir. Novamente enviou outros servos, dizendo: ‘Dizei aos convidados, eis que preparei o meu jantar, os meus bois e cevados já foram preparados e tudo está pronto’. Mas eles não fizeram caso e foram, um para a sua fazenda, outro para o seu negócio. E o restante pegou seus servos, e os tratou maliciosamente, e os matou. O rei, porém, ouvindo isto, indignou-se, enviou os seus exércitos, e destruiu aqueles assassinos, e incendiou a sua cidade. Então disse aos seus servos: ‘As bodas estão preparadas, mas os convidados não eram dignos. Ide, pois, pelos caminhos, e a todos quantos encontrardes, convidai para as bodas’. Então aqueles servos saíram pelos caminhos e reuniram todos quantos encontraram, tanto maus como bons. E, entrando o rei para ver os convidados, viu ali um homem que não trajava veste nupcial, e disse-lhe: ‘Amigo, como entraste aqui, não tendo veste nupcial?’ E ele ficou sem palavras. Então disse o rei aos servos: ‘Amarrai-o de pés e mãos, e levai-o embora, e lançai-o nas trevas exteriores; ali haverá choro e ranger de dentes’. Pois muitos são os chamados, mas poucos são os ‘escolhidos’.”
Então foram os fariseus e deliberaram sobre como poderiam enredá-lo em sua conversa.
E enviaram-lhe os seus discípulos com os herodianos, dizendo: “Mestre, sabemos que és verdadeiro e ensinas o caminho do PAI como a verdade, e não te importas com ninguém, porque não olhas para a aparência dos homens. Diz a nós, pois, o que pensas tu? É lícito dar tributo a César, ou não?”
Jesus, porém, percebendo a maldade deles, disse: “Por que me tentais, hipócritas? Mostre-me a moeda do tributo.”
E trouxeram-lhe um denário. E disse-lhes: “De quem é esta efígie e inscrição?”
Eles dizem a ele: “De César.”
Então lhes disse: “Dai, pois, a César o que é de César, e ao PAI o que é do PAI e dê a mim o que é meu.”
Ao ouvirem estas palavras, eles maravilharam-se, deixaram-no e seguiram o seu caminho.
No mesmo dia, vieram a ele os saduceus, que dizem não haver ressurreição, e o interrogaram, dizendo: “Mestre, Moisés disse: ‘Se morrer um homem, não tendo filhos, seu irmão se casará com a mulher dele, e suscitará descendência a seu irmão. Ora, havia conosco sete irmãos, e o primeiro, tendo casado, falecido, e não tendo filhos, deixou sua mulher a seu irmão, da mesma forma o segundo também, e o terceiro, até o sétimo. E por último, morreu também a mulher. Portanto, na ressurreição, de qual dos sete ela será esposa? Pois todos eles a tinham.”
Jesus respondeu, e disse-lhes: “Estão errados, não conhecendo as Escrituras, nem o poder do PAI. Pois na ressurreição nem se casam, nem se dão em casamento, mas são como os anjos do PAI no Aeon Eterno. Mas quanto à ressurreição dos mortos, não leram o que vos foi dito por vosso Deus Adonai Sabaoth, dizendo: ‘Eu sou o Deus de Abraão, e o Deus de Isaque, e o Deus de Jacó’? O meu PAI não é o ‘Deus’ dos mortos, mas dos vivos.”
A multidão, ouvindo isto, admirou-se da sua doutrina. Mas, quando os fariseus ouviram que ele havia feito calar os saduceus, eles se reuniram.
Então um deles, que era doutor da lei, interrogou-o, tentando-o, dizendo: “Mestre, qual é o grande mandamento da lei?”
Disse-lhe Jesus: “Amarás o Senhor teu ‘Deus’ de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento. Este é o primeiro e grande mandamento. E o segundo é semelhante a este, amarás o teu próximo como a ti mesmo. Destes dois mandamentos dependem toda a lei e os profetas.”
Estando os fariseus reunidos, Jesus perguntou-lhes, dizendo: “Que pensais vós do Cristo? De quem ele é filho?”
Disseram-lhe: “O Filho de Davi.”
Jesus respondeu: “Como, pois, Davi, em espírito, o chama de Adonai, dizendo: ‘Disse YHWH ao meu Adonai: Assenta-te à minha direita, até que eu ponha os teus inimigos debaixo dos teus pés’? Pois, se Davi, o chama de Adonai, então, como ele é apenas seu filho? Não vedes que o Cristo vem do meu PAI, acima de vosso YHWH, acima de Adonai Sabaoth e de todos os Arcontes?”
E nenhum homem pôde responder-lhe uma palavra, nem, ousou qualquer homem daquele dia em diante fazer-lhe mais perguntas.
Capítulo 23
Os fariseus e doutores da Lei obstruíram o conhecimento.
Então falou Jesus à multidão e aos seus discípulos, dizendo: “Na cadeira de Moisés estão assentados os escribas e fariseus, mas não façais segundo as suas obras, porque dizem e não fazem. Porque carregam fardos pesados e difíceis de suportar, e os põem aos ombros dos homens, mas eles mesmos não os moverão nenhum com seus dedos. Mas todas as suas obras eles fazem para serem vistos pelos homens, eles alargam seus filactérios e alargam as franjas de suas vestes, e amam os salões mais altos nas festas, e os assentos principais nas sinagogas, e saudações nos mercados, e ser chamado pelos homens, ‘mestre, mestre’.”
Continuou dizendo ele: “Mas não vos chameis mestre, por um só ser o vosso Mestre, o Cristo, e todos vós sois irmãos. E a ninguém sobre a terra chameis vosso pai, por um só ser vosso PAI, o que está no Aeon Eterno. Nem vos chamei mestre, por um só ser o vosso Mestre, Cristo.”
“Mas o maior entre vós será vosso servo. E todo aquele que se exaltar será humilhado, e aquele que se humilhar será exaltado.”
“Mas aí de vós, escribas, doutores da lei e fariseus, hipócritas! Porque esconderam as chaves do conhecimento aos homens dos Aeons Eternos; porque vós mesmos nem entrais, nem aos que entrariam permitis entrar.”
“Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Porque devorais as casas das viúvas e, sob pretexto, realizais longas orações, portanto recebereis maior condenação.”
“Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Pois percorreis o mar e a terra para fazer um prosélito, e quando ele é feito, vós o tornais duas vezes mais filho do Arconte do que vós.”
“Ai de vós, guias cegos, que dizeis: ‘Qualquer que jurar pelo templo, isso não é nada, mas quem jurar pelo ouro do templo, esse é um devedor!’ Insensatos e cegos! Pois qual é maior, o ouro ou o templo que santifica o ouro? E qualquer que jurar pelo altar, isso nada é, mas o que jurar pela dádiva que está sobre ela, é culpado. Insensatos e cegos! Pois qual é maior, a oferta ou o altar que santifica a oferta? Portanto, quem jurar pelo altar jura por ele e por tudo o que está sobre ele. E quem jurar pelo templo, jura por ele e por aquele que nele habita. E quem jurar pelo céu, jura pelo trono de Deus e por aquele que nele está assentado.”
“Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Pois pagais o dízimo da hortelã, do endro e do cominho e omitisse as questões mais importantes da lei, o juízo, a misericórdia e a fé; guias cegos, que coisem um mosquito e engolem um camelo.”
“Aí de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Porque limpam o exterior do copo e do prato, mas por dentro estão cheios de extorsão e excessos. Fariseu cego, limpa primeiro o que está no copo e do prato, para que também o exterior fique limpo.”
“Aí de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Porque sois como túmulos branqueados, que de fato parecem belos por fora, mas por dentro estão cheios de ossos de mortos e de toda impureza. Assim também vós por fora pareceis justos aos homens, mas por dentro estais cheios de hipocrisia e iniquidade.”
“Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Porque edificais os sepulcros dos profetas e adornais os sepulcros dos justos, e dizeis: ‘Se tivéssemos existido nos dias de nossos pais, não teríamos sido participantes com eles no sangue dos profetas’. Portanto, vós mesmos sois testemunhas de que sois filhos daqueles que mataram os profetas. Enchei então a medida de vossos pais. Serpentes, geração de víboras, como escaparão da condenação do inferno? Portanto, eis que vos envio profetas, sábios e escribas; alguns deles mataram e crucificaram; e alguns deles açoitarão nas vossas sinagogas, e os perseguiram de cidade em cidade; para que sobre vós caia todo o sangue justo derramado sobre a terra, desde o sangue do justo Abel até o sangue de Zacarias, filho de Baraquias, a quem matastes entre o templo e o altar.”
“Em verdade vos digo que todas estas coisas hão de vir sobre esta geração. Ó, Jerusalém, Jerusalém, tu que matas os profetas e apedrejas os que te são enviados, quantas vezes eu teria reunido teus filhos, assim como uma galinha ajunta seus pintinhos debaixo de suas asas, e tu não quisestes! Eis que a vossa casa ficará deserta. Pois eu vos digo que não me vereis mais, até que digais: ‘Bendito o que vem em nome do Senhor’.”
Capítulo 24
Jesus revela a destruição do templo e o fim dos Arcontes e de seu mundo e de todas as coisas.
E, saindo Jesus, ia-se retirando do templo e aproximaram-se dele os seus discípulos, para lhe mostrarem os edifícios do templo.
E Jesus disse-lhes: “Não estão vendo todas estas coisas? Em verdade vos digo que não ficará aqui pedra sobre pedra que não seja derrubada.”
E estando ele assentado no monte das Oliveiras, aproximaram-se dele os seus discípulos em particular, dizendo: “Diga-nos, quando serão essas coisas? E qual será o sinal da tua vinda e do fim do mundo?”
E Jesus, respondendo, disse-lhes: “Cuidado para, que ninguém vos engane. Porque muitos virão em meu nome, dizendo: ‘Eu sou o Cristo’, e enganarão a muitos. E ouvireis falar de guerras e rumores de guerras, vejam e, não vos perturbeis, porque é necessário que todas estas coisas aconteçam, mas ainda não é o fim.”
“Porque se levantará nação contra nação, reino contra reino, e haverá fomes, pestes e terremotos em vários lugares. Tudo isso é o princípio das dores. Então serão entregues para serem afligidos e vos matarão e sereis odiados de todas as nações devido ao meu nome.
“Então, muitos se escandalizarão, trairão uns aos outros e odiarão uns aos outros. E muitos falsos profetas se levantarão e enganarão a muitos. E, por se multiplicar a iniquidade, o amor de muitos esfriará.”
“Mas aquele que perseverar até o fim, esse será salvo. E os evangelhos dos Aeons Eternos serão pregados em todo o mundo, em testemunho a todas as nações e então virá o fim.”
“Quando, pois, virem que a abominação da desolação, predita pelo profeta Daniel, na entrada do lugar santo em Jerusalém. Então, os que estiverem na Judeia fujam para os montes e aquele que estiver no terraço não desça para tirar alguma coisa de sua casa. E quem estiver no campo, não volte para buscar as suas vestes. Mas, ai das que estiverem grávidas e das que amamentarem naqueles dias!”
“Orai, porém, para que a vossa fuga não aconteça no inverno, nem no Shabat, porque haverá então grande tribulação, como nunca houve desde o princípio do mundo até agora, nem jamais haverá de ser.”
“E se aqueles dias não fossem abreviados, ninguém se salvaria, mas devido aos eleitos, serão abreviados aqueles dias. Então, se alguém vos disser: ‘Eis que Cristo está aqui ou ali’, não acreditem. Porque hão de surgir falsos cristos e falsos profetas, e farão grandes sinais e prodígios, de modo que, se possível fora, enganariam até os escolhidos. Eis que já vos disse antes.”
“Portanto, se vos disserem: ‘Eis que ele está no deserto’, não saias: eis que ele está nas câmaras secretas, não acredite. Porque, assim como o relâmpago sai do oriente e se mostra até o ocidente, assim será também a vinda do Filho do Homem. Pois onde estiver o cadáver, aí se juntarão às águias. Imediatamente após a tribulação daqueles dias, o sol escurecerá, e a lua não dará a sua luz, e as estrelas cairão do céu, e os Arcontes, as Autoridades e os Poderes e seus Anjos serão abalados.”
“E então aparecerá o sinal do Filho do Homem no céu e então todas as nações da terra se lamentarão e verão o Filho do Homem vindo nas nuvens do céu com poder e grande glória. E ele enviará os seus anjos com grande clamor de trombeta, os quais reunirão os seus eleitos desde os quatro ventos, de uma à outra extremidade dos céus.”
“Agora aprendam uma parábola da figueira. Quando o seu ramo ainda é delicado e brotam folhas, sabeis que o verão está próximo. Assim também vós, quando virem todas estas coisas, sabeis que está próximo, mesmo às portas. Em verdade vos digo que não passará esta geração sem que todas estas coisas ocorram.”
“O céu e a terra passarão, mas minhas palavras não passarão. Mas daquele dia e hora ninguém sabe, nem os anjos do céu, mas somente meu PAI.
Mas, como foi nos dias de Noé, assim também será a vinda do Filho do homem. Porque, como nos dias anteriores ao dilúvio, comiam e bebiam, casavam-se e davam-se em casamento, até ao dia em que Noé entrou na arca, e não o perceberam, até que veio o dilúvio e os levou a todos.”
“Assim será também a vinda do Filho do Homem. Então estarão dois no campo, um será levado e o outro deixado. Duas mulheres estarão moendo no moinho, uma será levada e a outra deixada.”
“Vigiai, pois, não sabeis a que hora há de vir o vosso Senhor. Mas saiba disso, que se o dono da casa soubesse em que vigília o ladrão viria, ele teria vigiado e não teria permitido que sua casa fosse arrombada. Portanto, também vós estais preparados, porque o Filho do homem virá à hora em que não penseis.”
“Quem é, pois, o servo fiel e prudente, a quem o seu senhor constituiu chefe da sua casa, para lhes dar o sustento a seu tempo?”
“Bem-aventurado aquele servo a quem o seu senhor, quando vier, achar servindo assim. Em verdade, vos digo que o fará governar sobre todos os seus bens.”
“Mas, se aquele mau servo disser no seu coração: ‘O meu senhor tarda em vir’. E começará a espancar os seus conservados, e a comer e beber com os ébrios.”
“O Arconte daquele servo virá em um dia em que ele não o espera, e em uma hora em que ele não sabe, e o cortará em pedaços, e designará sua parte com os hipócritas. Ali haverá choro e ranger de dentes.”
Capítulo 25
Vigiai, multiplicai a Palavra e fazei boas obras.
“Então, Aeon Eterno será semelhante a dez virgens que, tomando as suas lâmpadas, saíram ao encontro do noivo. E cinco delas eram sábias, e cinco eram tolas.
As tolas, tomando as suas lâmpadas, não levaram azeite consigo, mas as prudentes, com as lâmpadas, levaram azeite nas vasilhas.”
“Enquanto o noivo não chegara, todas elas cochilaram e dormiram. E à meia-noite ouviu-se um grito: ‘Eis o noivo! Saiam para encontrá-lo’.”
“Então, todas aquelas virgens se levantaram e prepararam suas lâmpadas. E as tolas disseram às sábias: ‘Dê-nos do seu óleo, pois nossas lâmpadas se apagaram’.”
“Mas as sábias responderam, dizendo: ‘Não! Para não haver o suficiente para nós e para vocês, mas ide antes aos que vendem e comprai para vós mesmos’.”
“E, saindo as tolas para comprar o óleo, chegou o noivo, e as que estavam preparadas entraram com ele para as bodas e fechou-se a porta.”
“Depois vieram também as virgens tolas, dizendo: ‘Senhor, Senhor, abre-nos’.”
“Ele, porém, respondendo, disse: ‘Em verdade vos digo que não vos conheço’.”
“Vigiai, pois, não sabeis o dia nem a hora em que o Filho do Homem há de vir.”
“Pois a Palavra do Aeon Eterno é como um homem viajando para um país distante, que chamou seus próprios servos e entregou-lhes seus bens. E a um deu cinco talentos, a outro dois e a outro um talento a cada homem de acordo com suas várias habilidades e imediatamente fez sua jornada.”
“Então, o que recebera cinco talentos, negociou com eles, e ganhou outros cinco talentos. Da mesma forma, o que recebera dois, ganhou também outros dois. Mas o que recebera um foi e cavou na terra, e escondeu o talento de seu senhor.”
“Passado muito tempo, voltou o senhor daqueles servos e prestou contas com eles.”
“Aproximou-se, pois, o que recebera cinco talentos e trouxe outros cinco talentos, dizendo: ‘Senhor, entregaste-me cinco talentos, eis aqui outros cinco talentos que ganhei com eles’.”
“Disse-lhe o seu senhor: ‘Muito bem, servo bom e fiel, foste fiel no pouco, sobre o muito te colocarei! Entra no desfrute do teu senhor’.”
“Aproximou-se também o que recebera dois talentos e disse: ‘Senhor, entregaste-me dois talentos, eis aqui outros dois talentos que ganhei’.”
“Seu senhor lhe disse: ‘Muito bem, servo bom e fiel, sobre o pouco foste fiel, sobre o muito te colocarei! Entra no desfrute do teu senhor’.”
“Aproximou-se então o que recebera um talento e disse: ‘Senhor, eu sabia que és um homem duro, que ceifas onde não semeaste e ajuntas onde não espalhaste. E fui e escondi o teu talento na terra, eis aqui o que é teu’.”
“Respondeu-lhe o seu senhor, e disse-lhe: ‘Servo malévolo e preguiçoso, sabias que ceifo onde não semeei e ajunto onde não espalhei, você deveria, portanto, ter colocado meu talento nos cambistas e, na minha vinda, eu deveria ter recebido o meu com usura. Tirai-lhe, pois, o talento, e dai-o a quem tem dez talentos’.”
“Porque a todo aquele que tem será dado e terá em abundância, mas ao que não tem será tirado até mesmo o pouco que tem. E lançai o servo inútil nas trevas exteriores, ali haverá choro e ranger de dentes.”
“Quando o Filho do homem vier em sua glória, e todos os santos anjos com ele, então se assentará no trono de sua glória.”
“E diante dele serão reunidas todas as nações, e ele separará uns dos outros, como um pastor separa as suas ovelhas dos cabritos. E colocará as ovelhas à sua direita, mas os cabritos à esquerda.”
“Então, dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: ‘Vinde, abençoados de meu PAI, possuí por herança o Aeon Eterno que vos está preparado desde a fundação do mundo. Pois tive fome, e me destes de comer, tive sede, e me destes de beber, fui peregrino, e vós me acolhestes. Quando necessitei de roupas, vós me vestistes, estive enfermo, e vós me cuidastes, estive preso, e foste visitar-me’.”
“Então, os justos responderão a ele, dizendo: ‘Senhor, quando te vimos com fome e te alimentamos? Ou com sede, e te demos de beber? Quando te vimos peregrino e te acolhemos? Ou nu, e te vestimos? Ou quando te vimos enfermo ou preso e fomos ver-te’?
“E, respondendo o Rei, lhes dirá: ‘Em verdade vos digo que, sempre que o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes.’
Então, dirá também aos que estiverem à sua esquerda: ‘Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para os Arcontes e seus anjos. Porque tive fome, e não me destes de comer, tive sede, e não me destes de beber, era peregrino, e não me acolhestes e na prisão não me visitastes’.”
“Então, eles também lhe responderão, dizendo: ‘Senhor, quando te vimos faminto, ou com sede, ou estrangeiro, ou nu, ou enfermo, ou na prisão, e não te servimos’? Então, lhes responderá, dizendo: ‘Em verdade vos digo que, quando não o fizestes a um destes pequeninos, a mim não o fizestes’. E estes irão para o castigo eterno, mas os justos para a vida eterna.”
Capítulo 26
Jesus é entregue para ser Glorificado.
E aconteceu que, quando Jesus terminou todas estas palavras, disse aos seus discípulos: “Sabeis que daqui a dois dias é a festa dos Pães Ázimos, e o Filho do homem será entregue para ser crucificado.”
Reuniram-se, pois, os principais sacerdotes, os escribas e os anciãos do povo, na casa do sumo sacerdote, chamado Caifás, e deliberaram sobre como prender Jesus por astúcia e matá-lo.
Mas eles disseram: “Não no dia da festa, para não haver alvoroço entre o povo.”
Ora, estando Jesus em Betânia, na casa de Lázaro, a quem ele havia ressuscitado, aproximou-se dele Maria de Betânia com um vaso de alabastro com unguento muito precioso, e o derramou sobre sua cabeça, enquanto ele se sentava à mesa.
Mas, quando seus discípulos viram isso, ficaram indignados, dizendo: “Para que serve este desperdício? Pois este unguento poderia ter sido vendido por muito e dado aos pobres.”
Jesus, compreendendo isso, disse-lhes: “Por que incomodais a mulher? Pois ela fez um bom trabalho em mim. Pois sempre tendes os pobres convosco, mas a mim nem sempre. Porque ela derramou este unguento em meu corpo, ela o fez para meu sepultamento.”
“Em verdade vos digo que, onde quer que este evangelho seja pregado em todo o mundo, também será contada a história que Maria de Betânia fez, para preservar a sua memória.”
Então, Judas Iscariotes foi ter com os principais sacerdotes, e disse-lhes: “Vou lhes entregar, o que vão me dar?”
E os principais sacerdotes fizeram pacto com ele por trinta moedas de prata. E a partir desse momento, ele buscou uma oportunidade para entregar Jesus.
Ora, no primeiro dia da festa dos pães ázimos, os discípulos aproximaram-se de Jesus, dizendo-lhe: “Onde queres que façamos os preparativos para comermos a páscoa?”
E ele disse: Vá à cidade, a tal homem e diga-lhe: “O Mestre disse: ‘Meu tempo está próximo, celebrarei a páscoa em tua casa com meus discípulos’.”
E os discípulos fizeram como Jesus lhes ordenara e prepararam a páscoa.
Ao cair da tarde, sentou-se com seus discípulos. E, enquanto comiam, disse: “Em verdade vos digo que um de vós me entregará, por ser o escolhido para libertar o Logos do corpo que me veste, para que eu retorne ao Aeon Eterno.”
Os discípulos, entristecidos, e cada um deles, começou a perguntar: “Senhor, sou eu’? E Judas, a quem o Mestre escolheu, disse: ‘Sou eu’.”
E o Mestre lhe respondeu: “Tu o disseste, e por tua obediência serás elevado acima de todos.”
E ele, respondendo aos outros, disse: “Aquele que come a mão comigo no prato, esse me entregará.”
Enquanto comiam, Jesus tomou o pão, abençoou-o, partiu-o e deu-o aos discípulos, dizendo: “Tomai, comei, esse é o meu corpo.”
E, tomando, deu graças e deu-o, dizendo: “Bebei dele todos, porque isto é o cálice do meu sangue do novo testamento, que será derramado por muitos. Mas eu vos digo, não mais beberei deste fruto da videira, até aquele dia em que o beba novamente convosco no Aeon Eterno de meu PAI.”
Antes que fosse preso e julgado pelos judeus, O Mestre reuniu a todos e disse: “Antes que eu seja entregue a eles, cantaremos um hino ao PAI e, em seguida, iremos ao encontro daquilo que nos espera.”
Jesus pediu para darem as mãos em círculo e, colocando-se no meio, disse: “Respondei-me, Amém.”
Começou, então, a cantar um hino que dizia: “Glória ao PAI”. E os discípulos ao redor lhe respondiam: “Amém.”
“Glória à Graça; glória ao Espírito; glória ao Santo; glória a sua glória.” “Amém.”
“Nós o louvamos e damos, graças, ó, Pai; ó, Luz em que não habita as trevas.” “Amém.”
“Agora direi porque damos graças: ”
“Devo ser salvo e salvarei.” “Amém.”
“Devo ser liberto e libertarei.” “Amém.”
“Devo ser gerado e gerarei.” “Amém.”
“Devo ouvir e serei ouvido.” “Amém.”
“Devo ser lembrado e sempre lembrarei.” “Amém.”
“Devo ser lavado e lavarei.” “Amém.”
“A Graça dança em conjunto, eu devo tocar a flauta, dançai todos.” “Amém.”
“O reino dos anjos canta louvores conosco.” “Amém.”
“Ao universo pertence àquele que participa da dança.” “Amém.”
“Quem participa da dança, não sabe o que vai acontecer.” “Amém.”
“Devo ir, mas ficarei.” “Amém.”
“Devo honrar e devo ser honrado.” “Amém.”
“Não tenho morada, mas estou em todos os lugares.” “Amém.”
“Não tenho templo, mas estou em todos os templos.” “Amém.”
“Sou um espelho para aquele que me contempla.” “Amém.”
“Sou uma porta para aquele que bate.” “Amém.”
“Sou um caminho para ti que passa.” “Amém.”
“Se seguires minha dança, compreendes o que falo, guarda silêncio sobre meus mistérios.”
“Tu, que participa da dança, compreende o que faço, pois a ti pertence esse sofrimento!”
“Tu não poderias de maneira alguma compreender o que sofre, se Eu não tivesse sido enviado como Logos do PAI.”
“Viste o que sofro, me viste sofrendo, e não ficaste incessível, mas sim profundamente perturbado.”
“Tu, que pela perturbação alcançaste a sabedoria, tens em mim um leito, repousa em mim.”
“Saberás quem sou quando Eu tiver partido. O que pareço ser agora, não sou. Tu verás quando vieres.”
“Se soubesse como sofrer, seria capaz de não sofrer mais. Aprende a sofrer e te tornarás capaz de não mais sofrer.”
“O que não sabes, eu mesmo vou ensinar. Sou teu Deus. Quero andar no mesmo ritmo das almas santas. Aprende comigo a palavra da sabedoria.”
“Dize-me de novo: ‘Glória ao Pai; glória ao Logo; glória ao Espírito Santo’.”
“Queres saber o que sou? Com a palavra revelei tudo, e não fui de modo algum revelado.”
“Compreende bem, estarei aqui. Quando tiveres compreendido, diz: ‘Glória ao PAI’!” “Amém.”
E, tendo cantado o canto dos salmos, saíram para o monte das Oliveiras.
Depois disto, disse-lhes Jesus: “Esta noite, todos vós desfalecereis devido a mim, porque assim está escrito: ‘Ferirei o pastor, e as ovelhas do seu rebanho serão dispersas’.”
Continuou dizendo Jesus: “Mas, depois que eu ressuscitar, irei adiante de vós para a Galileia.”
Pedro respondeu-lhe: “Ainda que todos percam a coragem por tua causa, eu jamais perderei a minha.”
Disse-lhe Jesus: Em verdade, te digo que esta noite, antes que o galo cante, três vezes me negarás.
Disse-lhe Pedro: “Nunca te negarei, ainda que me seja necessário dar a minha vida por ti.” E todos os outros discípulos disseram o mesmo.
Então Jesus foi com eles a um lugar chamado Getsêmani, e disse: “Sentem-se aqui enquanto vou orar ali.”
E levando consigo Pedro e os dois filhos de Zebedeu, Tiago e João, começou a entristecer-se e a pesar. Então, lhes disse: “A minha alma está profundamente triste até a morte, ficai aqui e vigiai comigo.”
E ele foi um pouco mais longe, caiu sobre seu rosto, e orou, dizendo: “Meu PAI, se possível, passe de mim este cálice, todavia, não seja como quero, mas como tu queres.”
Depois, voltou para os seus discípulos e os encontrou dormindo, e disse a Pedro: “O que não pudestes vigiar comigo nem uma hora? Vigiai e orai, para que não entreis em tentação, o espírito está pronto, mas a carne é fraca.”
Afastou-se pela segunda vez e orou, dizendo: “Meu PAI, se este cálice não pode passar de mim sem que eu o beba, faça-se a tua vontade.”
E ele veio e os encontrou dormindo novamente, porque seus olhos estavam pesados. E ele os deixou, e foi embora novamente, e orou pela terceira vez, dizendo as mesmas palavras.
Então voltou para os seus discípulos e disse-lhes: “Dormi agora e descansai; eis que é chegada a hora, e o Filho do homem está sendo entregue nas mãos dos Arcontes.”
Levantai-vos, vamos, eis que está perto aquele que me entregará. E enquanto ele ainda falava, eis que veio Judas Iscariotes, um dos discípulos, e com ele uma grande multidão com espadas e varas, da parte dos principais sacerdotes e anciãos do povo.
Ora, Judas deu-lhes um sinal, dizendo: “Aquele que eu beijar, esse é, prendam-no.”
E imediatamente ele veio a Jesus e disse: “Salve, mestre.” E o beijou.
E Jesus lhe disse: “Amigo, por que vieste?”
Então, eles vieram, lançaram mão de Jesus e o prenderam.
E eis que Pedro, um dos que estavam com Jesus, estendeu a mão, desembainhou a espada, feriu um servo do sumo sacerdote e cortou-lhe a orelha.
Gritou então Jesus: “Pedro, embainha a tua espada, porque todos os que lançarem mão da espada, da espada morrerão. Pensas tu que agora não posso orar a meu PAI, e ele me dará presentemente mais de doze legiões de anjos? Mas como então as escrituras serão cumpridas, que assim deve ser?”
Naquela mesma hora, disse Jesus à multidão: “Saístes com espadas e paus, como a um ladrão, para me prender? Diariamente me sentava convosco, ensinando no templo, e não me prenderam.”
Então todos os discípulos o abandonaram e fugiram. E os que prenderam Jesus levaram-no a Caifás, o sumo sacerdote, onde estavam reunidos os escribas e os anciãos.
Mas Pedro o seguiu de longe até o palácio do sumo sacerdote, e entrou e sentou-se com os servos para ver o fim.
Ora, os principais sacerdotes, e os anciãos, e todo o conselho, buscavam falso testemunho contra Jesus, para condená-lo à morte, mas não encontraram.
Por fim, chegaram duas falsas testemunhas, e disseram: “Este disse: ‘Posso destruir o templo de Deus e reedificá-lo em três dias’.”
E, levantando-se o sumo sacerdote, disse-lhe: “Nada respondes? O que estes testemunham contra ti?”
Mas Jesus se calou. E, respondendo ao sumo sacerdote, disse-lhe: “Conjuro-te pelo Deus vivo, que nos digas se tu és o Cristo, o Filho de Deus.”
Disse-lhe Jesus: “Tu disseste, no entanto, digo-vos que vereis em breve o Filho do Homem assentado à direita do PAI, e vindo sobre as nuvens do céu.”
Então, o sumo sacerdote rasgou as suas próprias vestes, dizendo: “Ele blasfemou, que necessidade temos ainda de testemunhas? Eis que agora ouvistes a sua blasfêmia. O que vocês acham?”
Eles responderam e disseram: “Ele é culpado de morte.”
Então, cuspiram em seu rosto e o esbofetearam, e outros o feriram com as palmas das mãos, dizendo: “Profetiza-nos, Cristo, quem é aquele que te feriu?”
Ora, Pedro estava sentado fora do palácio e aproximou-se dele uma serva donzela, dizendo: “Tu também estavas com Jesus, o galileu.”
Mas ele negou diante de todos, dizendo: “Não sei o que dizes.”
E, saindo ele para o pátio, outra criada o viu e disse aos que ali estavam: “Este também estava com Jesus, o nazareno.”
E negou novamente com juramento: “Não conheço esse homem.”
Passado algum tempo, aproximaram-se dele os que ali estavam e disseram a Pedro: “Certamente tu também és um deles; pois tua fala te denuncia.”
Então começou a praguejar e a jurar, dizendo: “Não conheço esse homem.”
E imediatamente o galo cantou. E Pedro lembrou-se da palavra de Jesus, que lhe disse: “Antes que o galo cante, três vezes me negarás.” E ele saiu e chorou amargamente.
Capítulo 27
Jesus é humilhado e glorificado.
Ao amanhecer, todos os principais sacerdotes e anciãos do povo deliberaram contra Jesus, para o matarem. E, amarrando-o, levaram-no e entregaram-no a Pôncio Pilatos, o governador.
Então, Judas Iscariotes, vendo que ele havia sido condenado, arrependeu-se e tornou a trazer as trinta moedas de prata aos principais sacerdotes e anciãos, dizendo: “Errei, entregando sangue inocente.”
E eles disseram: “O que é isso para nós? Cuide disso.”
E ele, atirando as moedas de prata para o templo, retirou-se e foi enforcar-se.
E os principais sacerdotes pegaram as moedas de prata e disseram: “Não é lícito colocá-las no tesouro, porque é o preço do sangue”
E deliberaram, e compraram com eles o campo do oleiro, para sepultar os estranhos. Por isso, aquele campo foi chamado Campo de Sangue até o hoje.
E Jesus apresentou-se ao governador Poncio Pilatos, e o governador perguntou-lhe, dizendo: “Tu és o rei dos judeus?”
E Jesus disse-lhe: “Tu é que dizes.”
E quando foi acusado pelos principais sacerdotes e anciãos, nada respondeu.
Disse-lhe então Pilatos: “Não ouves quantas coisas testemunham contra ti?”
E Jesus ficou em silêncio e não disse uma palavra; de modo que o governador muito se impressionou.
Ora, naquela festa, o governador costumava soltar ao povo um prisioneiro, a quem eles quisessem. E eles tinham então um prisioneiro notável, chamado Barrabás.
Portanto, quando eles estavam reunidos, Pilatos disse-lhes: “Quem quereis que vos solte? Barrabás, ou Jesus, chamado Cristo?”
Pois ele sabia que, por inveja, o haviam entregado. Estando ele sentado no tribunal, sua mulher Cláudia Prócula disse a ele: “Não te envolvas na questão desse justo, porque hoje em sonho muito sofri por causa dele.”
Mas os principais sacerdotes e os anciãos persuadiram a multidão a pedir Barrabás e matar Jesus.
O governador respondeu e disse-lhes: “Qual dos dois quereis que vos solte?”
Eles disseram: “Barrabás.”
Pilatos disse-lhes: “O que devo fazer então com Jesus, chamado de Cristo?”
Todos lhe dizem: “Seja crucificado.”
E o governador disse: “Ora, que mal fez ele?”
Mas eles clamavam ainda mais, dizendo: “Seja crucificado.”
Vendo, porém, Pilatos que nada podia prevalecer, mas sim um tumulto, pegou água e lavou as mãos perante a multidão, dizendo: “Estou inocente do sangue deste justo.”
Então, respondeu todo o povo, dizendo: “Que o seu sangue caia sobre nós e sobre nossos filhos.”
Então, soltou-lhes Barrabás e, após açoitar Jesus, entregou-o para ser crucificado.
Então, os soldados do governador levaram Jesus ao salão comum e reuniram a ele todo o bando de soldados. E eles o despiram e o vestiram com um manto vermelho.
E tecendo uma coroa de espinhos, colocaram-no em sua cabeça, e uma cana na mão direita e ajoelharam-se diante dele, e o escarneciam, dizendo: “Salve, rei dos judeus!”
E cuspiram nele, pegaram na cana e bateram-lhe na cabeça. E, após zombarem dele, tiraram-lhe o manto, puseram-lhe as suas próprias vestes e levaram-no para o crucificar.
E, ao saírem, encontraram um pastor chamado Simão: obrigaram-no a carregar a sua cruz.
E quando chegaram a um lugar chamado Gólgota, deram-lhe a beber vinagre misturado com fel.
Depois, o crucificaram, dividindo as suas vestes entre si, lançando sortes. Era preciso que se cumprisse a profecia: “Repartem entre si os meus despojos, lançam sortes sobre as minhas vestes.”
E pôs sobre a sua cabeça a sua acusação escrita: “Este é Jesus, o Rei dos judeus.”
Então foram crucificados com ele dois malfeitores, um à direita e outro à esquerda.
E os que passavam o insultavam, meneando a cabeça, e dizendo: “Tu, que destróis o templo, e em três dias o reedificas, salva-te a ti mesmo. Se tu és o Filho de Deus, desça da cruz.”
Da mesma forma, também os principais sacerdotes zombavam dele, com os escribas e anciãos, dizendo: “Ele salvou outros, a si mesmo ele não pode salvar. Se ele é o rei de Israel, desça agora da cruz, e nós acreditamos nele.”
“Ele confiou em Deus; livre-o agora, se o quer; porque disse: ‘Eu sou o Filho de Deus’.”
Até os ladrões crucificados com ele proferiram as mesmas provocações.
Ora, desde a hora sexta, houve trevas sobre toda a terra até a hora nona.
E por volta da hora nona, clamou Jesus em alta voz: “Eli, Eli, lamma sabachthani? Isto é, Meu Poder, meu Poder, por que me abandonaste?
Alguns dos que ali estavam, ouvindo isso, disseram: “Este homem chama por Elias.”
E logo um deles correu, tomou uma esponja, encheu-a de vinagre, pôs numa cana e deu-lhe de beber.
Os outros diziam: “Deixa, vejamos se Elias vem salvá-lo.”
Jesus, após clamar novamente em alta voz, entregou o seu espírito.
E eis que o véu do templo se rasgou em duas partes, de alto a baixo, e a terra tremeu e as rochas se partiram.
E depois de sua ressurreição, os sepulcros se abriram, e muitos que haviam morrido ressurgiram, e saíram das sepulturas e entraram na cidade de Jerusalém, e apareceram a muitos.
Ora, o centurião e os que com ele vigiavam Jesus, vendo o terremoto e tudo o que havia acontecido, ficaram tomados de medo, dizendo: “Verdadeiramente, este era o Filho de Deus.”
Muitas mulheres estavam ali, observando de longe, que seguiram Jesus desde a Galileia, servindo-o, entre as quais Maria Madalena, Maria, sua mãe e irmã de sua mãe, Maria de Cleófas, mãe de Tiago Menor e Filipe, Maria Salomé, a mãe dos filhos de Zebedeu, Tiago Maior e João, Maria de Betânia e Marta sua irmã e Joana esposa de Cuza.
Ao anoitecer, veio um homem rico de Arimatéa, chamado José, que também era discípulo de Jesus. Ele foi a Pilatos e pediu o corpo de Jesus. Então Pilatos ordenou que o corpo fosse entregue.
E quando José de Arimatéa tomou o corpo, envolveu-o em um pano de linho limpo, e colocou-o em seu próprio túmulo novo, que havia escavado na rocha.
E rolou uma grande pedra para a porta do sepulcro e partiu. E ali estavam Maria Madalena e a outra Maria de Cléofas, sentadas junto ao sepulcro.
No dia seguinte, que se seguia ao dia da preparação, os principais sacerdotes e os fariseus reuniram-se diante de Pilatos, dizendo: “Senhor, lembremo-nos de que aquele enganador disse, enquanto ainda estava vivo: ‘Depois de três dias ressuscitarei’. Ordene, portanto, que o sepulcro seja assegurado até o terceiro dia, para que seus discípulos não venham à noite, e o roubem, e digam ao povo: ‘Ele ressuscitou dos mortos’. Então, o último erro será pior que o primeiro.”
Disse-lhes Pilatos: “Leve alguns soldados.” Foram, pois, e guardaram o sepulcro, selando a pedra e pondo guarda.
Capítulo 28
A ressurreição de Cristo e as revelações dos mistérios feitas aos discípulos na Galileia.
No fim do Shabat, quando já despontava o primeiro dia da semana, Maria Madalena e a outra Maria de Cléofas e Maria Salomé foram ver o sepulcro.
E eis que houve um grande terremoto, porque o anjo do Senhor desceu do céu, aproximou-se, removeu a pedra da porta e sentou-se sobre ela.
O seu aspecto era resplandecente, e as suas vestes brancas como a neve. E de medo dele tremeram os guardas, e ficaram como mortos.
E, respondendo ao anjo, disse às mulheres: “Não temam, porque sei que buscam a Jesus, que foi crucificado. Ele não está aqui, porque ressuscitou, como disse. Venha, veja o lugar onde o Senhor jazia. E ide depressa, e dizei aos seus discípulos que ele ressuscitou dos mortos. E eis que ele vai adiante de vós para a Galileia, ali o vereis. Eis que vos tenho dito.”
E elas partiram rapidamente do sepulcro com medo e grande alegria e correram para trazer a notícia a seus discípulos.
E, indo elas anunciá-lo aos seus discípulos, foram ao encontro de Simão Pedro e João, e disseram a eles: “Tiraram o Senhor do sepulcro, e não sabemos onde o colocaram!”
Pedro imediatamente dirigiu-se ao sepulcro, seguido pelo outro discípulo. Eles correram juntos, mas João correu mais rápido e chegou primeiro ao sepulcro.
Inclinando-se, ele viu as faixas de linho lá, mas não entrou. Logo depois, chegou Simão Pedro, que vinha atrás dele.
Pedro entrou no sepulcro e também viu as faixas de linho. Então João, que chegara primeiro, também entrou. Ele viu e acreditou.
Os discípulos então voltaram para suas casas.
Enquanto isso, Maria permanecia do lado de fora do sepulcro, chorando. Enquanto chorava, ela se inclinou para olhar no sepulcro.
Eis que Jesus lhes saiu ao encontro, dizendo: “Alegrai-vos!”
Ela se aproximou dele, inclinando-se aos seus pés e o adorando.
Jesus, porém, lhe disse: “Não me toque, pois ainda não ascendi para o PAI. Mas vá, e ao encontrar meus irmãos, diga a eles: “Não temem, vão para a Galileia, e lá me verão. Estou ascendendo ao meu PAI e ao vosso PAI.”
E assim, Maria Madalena foi e anunciou aos discípulos: “Eu vi o Senhor!” Ela lhes contou tudo o que o Senhor tinha lhe dito.”
Ora, quando eles iam, eis que alguns soldados da guarda chegaram à cidade e contaram aos principais sacerdotes tudo o que havia acontecido.
E, reunindo-se eles com os anciãos e deliberando entre si, deram muito dinheiro aos soldados, dizendo: “Dizei: ‘Os seus discípulos vieram de noite e levaram-no enquanto dormíamos’.”
E se isso chegar aos ouvidos do governador Pilatos, nós o persuadiremos e os protegeremos.
Então, eles pegaram o dinheiro e fizeram como lhes foram instruídos. E esta palavra é comum entre os judeus até o hoje.
Então os discípulos partiram para a Galileia, para uma montanha chamada ‘Divinação e Alegria’, onde Jesus os ordenara.
E lá passou para cada um deles, todo o conhecimento e os mistérios de todas as coisas. E cada discípulo escreveu seu próprio evangelho.
Após tudo isso, aproximando-se Jesus, falou-lhes, dizendo: “É me dado todo o poder no céu e na terra. Vão, pois, ensinai todas as nações, batizando-os em nome do PAI, e do Filho, e do Espírito Santo, ensinando-os a guardar e multiplicar todas as coisas que vos tenho revelado. E eis que estou com vocês todos os dias que hão de vir, até a consumação.”
Amém.
Notas:
Informações sobre o Evangelho de Levi (Mateus):
É a posição quase universal da erudição que o Evangelho de Mateus é dependente do Evangelho de Marcos. Essa posição é aceita quer se subscreva a Hipótese das Duas Fontes dominante ou, em vez disso, prefira a hipótese de Farrer-Goulder.
Também é consenso que o evangelista não foi o apóstolo Mateus. Tal ideia é baseada nas declarações do segundo século de Papias e Irineu. Conforme citado por Eusébio em Hist. Eccl. 3.39, Papias afirma: "Mateus reuniu os oráculos [do Senhor] na língua hebraica, e cada um os interpretou da melhor maneira que pôde." Em Adv. Haer. 3.1.1, Irineu diz: "Mateus também publicou um Evangelho escrito entre os hebreus em seu próprio dialeto enquanto Pedro e Paulo pregavam em Roma e lançavam os fundamentos da igreja." Sabemos que Irineu havia lido Papias, e é mais provável que Irineu tenha sido guiado pela declaração que encontrou lá. Essa declaração em Papias em si é considerada infundada porque o Evangelho de Mateus foi escrito em grego e se baseou amplamente em Marcos, não na experiência pessoal do autor.
Herman N. Ridderbos escreve ( Mateus , p. 7):
Isso significa, no entanto, que não podemos mais aceitar a visão tradicional da autoria de Mateus. Pelo menos duas coisas nos proíbem de fazê-lo. Primeiro, a tradição sustenta que Mateus foi o autor de um escrito aramaico, enquanto o ponto de vista que adotei não nos permite considerar nosso texto grego como uma tradução de um original aramaico. Segundo, é extremamente duvidoso que uma testemunha ocular como o apóstolo Mateus teria feito uso tão extensivo de material como uma comparação dos dois Evangelhos indica. Marcos, afinal, nem sequer pertencia ao círculo dos apóstolos. De fato, o Evangelho de Mateus supera os dos outros escritores sinóticos nem em vivacidade de apresentação nem em detalhes, como esperaríamos em um relato de testemunha ocular, mas nem Marcos nem Lucas estavam entre aqueles que seguiram Jesus desde o início de Seu ministério público.
JC Fenton argumenta ( O Evangelho de São Mateus , p. 12):
Geralmente pensa-se que o Evangelho de Marcos foi escrito por volta de 65 d.C. e que seu autor não foi um dos apóstolos nem uma testemunha ocular da maioria dos eventos registrados em seu Evangelho. Mateus, portanto, dependia da escrita de tal homem para a produção de seu livro. O que Mateus fez, de fato, foi produzir uma segunda e ampliada edição de Marcos. Além disso, as mudanças que ele faz na maneira de Marcos contar a história não são aquelas correções que uma testemunha ocular poderia fazer no relato de alguém que não era uma testemunha ocular. Assim, enquanto no Evangelho de Marcos podemos estar a apenas um passo das testemunhas oculares, no Evangelho de Mateus estamos a um passo ainda mais longe.
Francis Write Beare observa ( O Evangelho segundo Mateus , p. 7):
Mas a dependência do livro de fontes documentais é tão grande que nos proíbe de considerá-lo como obra de qualquer discípulo imediato de Jesus. Além disso, há indicações claras de que é um produto da segunda ou terceira geração cristã. O nome tradicional de Mateus é mantido na discussão moderna apenas por conveniência.
O autor é um judeu-cristão anônimo. Eduard Schweizer escreve ( A Boa Nova segundo Mateus , p. 16):
O contexto judaico é claro. Os costumes judaicos são familiares a todos (veja a discussão de 15:5), o debate sobre a lei é uma questão central (veja a discussão de 5:17-20), e o sábado ainda é observado (veja a discussão de 24:20). A disputa com os fariseus serve principalmente como um aviso à comunidade (veja a introdução aos capítulos 24-25); mas uma referência aos principais representantes da sinagoga não está muito abaixo da superfície. Acima de tudo, o método de interpretação aprendida da Lei, que "desliga" e "liga", ainda era central para Mateus e sua comunidade (veja a discussão de 16:19; 18:18). A preservação de ditos, como 23:2-3, que apoiam a autoridade contínua do ensino farisaico, e acima de tudo a ênfase especial colocada na exigência de não ofender aqueles que ainda pensam em termos legalistas (veja a discussão de 17:24-27), mostra que o diálogo com a Sinagoga Judaica não havia sido interrompido. Por outro lado, um dito como 27:25 mostra que a comunidade cristã havia se separado conclusivamente das Sinagogas, embora a esperança pela conversão dos judeus ainda não estivesse totalmente morta.
Schweizer se junta à maioria dos estudiosos em favor de uma proveniência síria para o Evangelho de Mateus (op. cit., pp. 15-16):
Como local de origem, a Síria ainda é a possibilidade mais provável. Por um lado, uma associação com o judaísmo palestino e sua interpretação da Lei é claramente discernível; por outro lado, um reconhecimento total do mundo gentio e a admissão de pagãos na comunidade pós-Páscoa são fatos aceitos. A destruição de Jerusalém desempenha algum papel; mas não foi vivenciada em primeira mão, e o êxodo de cristãos de Jerusalém é perceptível apenas na tradição emprestada de Marcos, não no próprio Mateus. . . Mas a Síria é sugerida pelo papel principal atribuído a Pedro, especialmente sua interpretação autoritária dos comandos de Jesus como se referindo a novas situações (veja a discussão de 16:9); pois de acordo com Atos 12:17, Pedro havia deixado Jerusalém. Ele certamente estava em Antioquia Síria, como sabemos por Gálatas 2:1 ff.
Larry Swain resumiu as evidências pelas quais localizamos Mateus em Antioquia (correspondência por e-mail):
O testemunho patrístico sobre Jerusalém, embora considerado incorreto, tem o valor negativo de demonstrar que ninguém pensou que Mateus veio de qualquer outro lugar, exceto do Oriente.
É duvidoso que teria sido aceito tão cedo e tão amplamente a menos que uma das igrejas maiores e mais importantes o patrocinasse. Já que Roma, Éfeso, Alexandria e Jerusalém têm todas razões muito importantes contra elas, isso deixa Antioquia.
O status de Pedro em Mateus está de acordo com sua posição em Antioquia, dito ser o primeiro bispo lá. Não é um argumento forte por si só, mas se encaixa no padrão.
Antioquia tinha uma grande população judaica e também era o local das primeiras missões gentias. Mateus, mais do que os outros evangelhos, reflete essa dualidade.
Somente em Antioquia o estater oficial era igual a 2 didracmas, Mt 17.24-7.
Os dois textos que parecem se referir à tradição de Mateus (num caso, ao texto de Mateus; no outro, possivelmente ao texto, mas mais provavelmente ao material de M) são as cartas de Inácio, bispo de Antioquia, e a Didaquê, cuja proveniência também é a Síria ou o norte da Palestina, colocando Mateus firmemente nessas áreas no final do primeiro século.
Sabemos que no terceiro século havia uma escola em Antioquia que alegava remontar aos tempos antigos e que tinha diversas tradições textuais do Antigo Testamento disponíveis. Se a tradição for verdadeira, então isso está de acordo tanto com as citações de Mateus do Antigo Testamento quanto com a tradição da "Escola de Mateus"; principalmente porque se diz que os membros dessa escola de Antioquia conheciam hebraico e grego, o que novamente aponta um forte paralelo com o autor de Mateus.
Há algumas fortes similaridades entre o texto luciânico da Bíblia hebraica e as citações de Mateus de textos do AT em alguns casos. Luciano viveu e trabalhou em Antioquia e acredita-se que tenha trabalhado com um texto ur-luciânico, ou seja, uma das tradições do AT mencionadas acima, à qual o autor Mateus teve acesso.
Uma das preocupações no texto de Mateus é uma abordagem conservadora da Torá, que novamente está de acordo com Antioquia e também com a Palestina.
O texto também parece estar preocupado em reagir contra parte do material vindo de Yavneh, o que novamente o coloca em uma área na qual Yavneh tinha alguma influência, ou seja, o norte da Palestina, Síria e Antioquia.
A comunidade descrita em Mateus geralmente é entendida como rica, o que exclui a Palestina após a guerra de 70.
Para definir o terminus ad quem , Inácio de Antioquia e outros escritores antigos mostram dependência do Evangelho de Mateus. A dependência de Marcos define um terminus a quo para a datação de Mateus, que deve ser assumido como tendo sido escrito pelo menos uma década depois do evangelho no qual se baseia. Várias indicações no texto também confirmam que Mateus foi escrito c. 80 EC ou mais tarde.
JC Fenton resume as evidências para a datação de Mateus da seguinte forma (op. cit., p. 11):
Os primeiros escritos sobreviventes que citam este Evangelho são provavelmente as cartas de Inácio, o Bispo de Antioquia, que, enquanto era levado como prisioneiro do Oriente para Roma por volta de 110 d.C., escreveu para várias igrejas na Ásia, na Ásia Menor e para a igreja em Roma. Inácio se refere à estrela que apareceu na época do nascimento de Jesus, à resposta de Jesus a João Batista, quando ele foi batizado, e a vários ditos de Jesus que são registrados apenas neste Evangelho (12:33, 15:13, 19:12). Parece quase certo que Inácio, e possivelmente os destinatários de suas cartas também, conheciam este Evangelho, e, portanto, que ele foi escrito antes de 110 d.C. Mas quanto tempo antes?
Aqui não podemos ter tanta certeza. Mas é possível que possamos encontrar evidências de que Mateus estava escrevendo depois da guerra entre os romanos e os judeus que terminou na destruição do templo em Jerusalém em 70 d.C. Veja, por exemplo, 22:7: O rei ficou irado, e ele enviou suas tropas e destruiu aqueles assassinos e queimou sua cidade ; e compare também 21:41, 27:25. Similarmente, o Evangelho de Mateus contém uma nota fortemente antijudaica percorrendo-o, desde o ensino de não fazer como os hipócritas fazem no Capítulo 6, até os Ais dos escribas e fariseus no Capítulo 23; e isso pode apontar para uma data depois de c. 85 d.C. quando os cristãos foram excluídos das sinagogas judaicas. Vale a pena notar aqui que Mateus frequentemente fala de suas sinagogas (4:23, 9:35, 10:17, 12:9, 13:54), como se quisesse distinguir as reuniões e os locais de reunião cristãos daqueles dos judeus, dos quais os cristãos haviam sido expulsos.
Beare oferece o seguinte até o momento do Evangelho de Mateus (op. cit., pp. 7-8):
É geralmente aceito que ele foi escrito após a queda de Jerusalém para os exércitos de Tito (70 d.C.), e o amplo conhecimento dele que é exibido em toda a literatura cristã do segundo século torna difícil situar sua composição em qualquer momento posterior à década de abertura daquele século. Se o Sermão da Montanha pode ser considerado em qualquer sentido como "a resposta cristã a Jâmnia... um tipo de contrapartida mishnaica cristã para a formulação que ocorre ali" (Davies, Setting , p. 315), isso indicaria uma data alguns anos antes ou depois da virada do século.
Sobre o conhecimento da queda de Jerusalém que o autor evidencia, Schweizer escreve a respeito de Mateus 22:7 (op. cit., p. 418):
A ira do anfitrião é mencionada por ambos os evangelistas, mas é impossível conceber o rei vindo com seu exército não apenas para matar aqueles que foram convidados, mas para queimar sua cidade (não "cidades"), e fazer tudo isso enquanto a festa está pronta para os recém-convidados. A parábola lida com cidadãos comuns, que compram campos e usam bois, não com homens que governam cidades inteiras. Depois de sua punição, além disso, o veredito do rei no versículo 8 é inútil. Os versículos 6-7 são, portanto, claramente uma interpolação na narrativa, que antes passava diretamente do versículo 5 para a ira do rei (início do versículo 7), e então para o versículo 8. Aqui, os eventos de 70 d.C. - a tomada e queima de Jerusalém pelos exércitos romanos - coloriram a linguagem da parábola.
Há uma última evidência que pode estabelecer o terminus a quo para o Evangelho de Mateus. Em Mateus 23:35, Jesus é levado a dizer: "Para que sobre vós caia todo o sangue justo derramado sobre a terra, desde o sangue do justo Abel até o sangue de Zacarias, filho de Baraquias, a quem matastes entre o templo e o altar." No versículo paralelo de Lucas 11:51, a referência é a Zacarias (filho de Joiada) cujo assassinato é relatado em 2 Crônicas 24:20-22, que é o último assassinato relatado no Antigo Testamento e que também chamou a atenção dos escritores rabínicos por ser assim. Os teóricos de Q consideram a forma lucana como primária (Kloppenborg, Excavating Q , pp. 81-2); o autor de Mateus entendeu que a identificação se refere a um Zacarias, filho de Baraquias. O assassinato desse indivíduo ocorreu em 67 ou 68 e é descrito em Josefo, Guerras Judaicas 4.335. Infelizmente, também é possível que isso se refira ao profeta do AT de mesmo nome.
Há um amplo consenso de que Inácio trai conhecimento de Mt 3:15 em Smyrn. 1:1. Este exemplo de certa dependência é oferecido por Wolf-Dietrich Kohler, Georg Werner Kummel, Clayton N. Jefford e a Biblia Patristica. Sobre isso, Massaux escreve ( The Influence of the Gospel of Saint Matthew on Christian Literature before Saint Irineu , v. 1, p. 89):
. . . (τον χυριον ημων) . . . βεβαπτισμενον υπο Ιωαννου, ινα πληρωθη πασα διχαιοσνη υπ αυτου.
. . . Nosso Senhor foi . . . batizado por João para que toda a devida observância pudesse ser cumprida por ele; . . .
Sem dúvida, esta passagem lembra Mt 3,15: Cristo responde ao Batista que fica surpreso ao vê-lo aproximar-se dele para ser batizado: συνην .
De todos os evangelistas, somente Mt. fornece este motivo para o batismo de Jesus: é apropriado cumprir toda a justiça. As mesmas palavras de Inácio são encontradas em Mt. O uso da frase ινα πληρωθη πασα διχαιοσυνη corresponde tão tipicamente ao caráter do primeiro evangelho, onde διχαιοσυνη desempenha um papel tão importante que seria irracional referir-se a outro escrito.
Além disso, os evangelhos apócrifos dão um motivo totalmente diferente para o batismo de Jesus. Assim, de acordo com Jerônimo, o Evangelho segundo os Hebreus observa uma certa reticência da parte de Jesus em ser batizado, já que ele não é um pecador. No Evangelho segundo os ebionitas, a sequência de palavras é diferente, e a palavra διχαιοσυνη está faltando. A Predicatio Pauli , por outro lado, menciona que, instado por sua mãe e quase contra sua vontade, Cristo permitiu-se ser batizado. Deixe-me acrescentar finalmente, então, quando Ef. 18:2 afirma que o motivo para o batismo de Cristo é a purificação da água por sua Paixão, o próprio Inácio confirma meu ponto de vista. De fato, se ele [não] mostrou uma dependência literária de Mt. no texto que estou analisando, não vejo por que ele daria aqui um motivo diferente daquele que ele afirma em Ef. 18:2.
Inácio também demonstra conhecimento de Mt 10:16 em Polyc. 2:2. Massaux argumenta (op. cit., pp. 90-91):
Φρονιμος γινου ως οφις εν απασιν χαι αχεραιος εις αει ως η περιστερα.
Em todas as coisas, seja sábio como a serpente e em todos os momentos, seja tão simples como a pomba.
Apenas um único texto em todo o Novo Testamento, Mt. 10:16, usa essas duas comparações e as une como faz Inácio de Antioquia: γινεσθε ουν φρονιμοι Ως οι οφεις χαι αχεραιοι ως αι περιστεραι .
Todos os termos de Mt. estão presentes no texto de Inácio, que apenas mudou a frase de Mateus para o singular conforme o contexto exigia - ele está escrevendo para Policarpo - e inseriu εν απασιν na primeira cláusula e εις αει na segunda.
A passagem está ausente em Lucas 10:3, que é paralela à narrativa de Mt. na qual a metáfora é inserida.
Há duas passagens em Inácio que mostram conhecimento de Mt 15:13, e estas são Trall. 11:1 e Phld. 3:1. Massaux afirma (op. cit., p. 88): "Dos evangelistas, somente Mt. relembra esta declaração de Cristo. Encontro aqui, como encontrei em Inácio, a palavra φυτεια relacionada ao Pai."
Outras passagens nas quais há alusões a Mateus nas cartas de Inácio são: Ef. 5:2 (Mt 18:19-20), 6:1 (Mt 10:40; 21:33-41), 10:3 (Mt 13:25), 11:1 (Mt 3:7), 14:2 (Mt 12:33), 15:1 (Mt 23:8), 16:2 (Mt 3:12), 17:1 (Mt 26:6-13), 19 (Mt 2:2, 9); Magn. 5:2 (Mt 22:19), 8:2 (Mt 5:11-12), 9:1 (Mt 27:52); Trall. 9:1 (Mt 11:19); Romanos 9:3 (Mt 10:41-42, 18:5); Phld. 2:1-2 (Mt 7:15), 6:1 (Mt 23:27), 7:2 (Mt 16:17), Sm. proêmio (Mt 12:18), 6:1 (Mt 19:12), 6:2 (Mt 6:28); Pol. 1:1 (Mt 7:25), 1:2-3 (Mt 8:17).
Assim, Kummel argumenta que o Evangelho de Mateus data das duas últimas décadas do primeiro século ( Introdução ao Novo Testamento , pp. 119-120): "Mesmo que, de fato, Mk e Mt tenham se originado em regiões diferentes, precisamente em sua reformulação de Mk Mt mostra um desenvolvimento tão claro de relações comunitárias e reflexão teológica (veja, por exemplo, 18:15 e seguintes e 28:19) que uma data de escrita logo após Mk parece menos provável do que um período entre 80 e 100. Uma data de origem após 100 é excluída pelo fato de Mt ter sido usado por Inácio."
Referências Bibliográficas:
The Holy Bible: 1611 Edition, King James Version. Estados Unidos, American bible society., 1611.
The Holy Bible: King James Version. Estados Unidos, Hendrickson Publishers, 2004.
JAMES, King. Holy Bible King James Version. Evans Akuamoah-Boateng, 1976.
DE ALMEIDA, João Ferreira. A BÍBLIA SAGRADA, contendo o Velho e o Novo Testamento. Sociedada Bíblica do Brasil, 1864.
Recursos on-line adicionais:
Evangelho O Testemunho da Verdade
Louvores Gospel Gnósticos.