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LIVRO 1
O Nascimento de Maria. “A Revelação de Tiago”.
Capítulo 1
O rico Joachim e seu autoexílio.
1 Segundo narram as memórias das doze tribos de Israel, havia um homem muito rico, de nome Joachim, que fazia suas ofertas em dobro ao Senhor, dizendo: “O que sobra ofereço para todo o povoado, e o devido na expiação de meus pecados será para o Senhor a fim de ganhar-lhe as boas graças.”
2 Chegou a grande festa do Senhor, na qual os filhos de Israel devem oferecer seus donativos, e Ruben se pôs à frente de Joachim dizendo-lhe: “Não te é lícito oferecer tuas dádivas, enquanto não tiveres gerado descendência em Israel.”
3 Joachim entristeceu tanto que se dirigiu aos arquivos de Israel com intenção de consultar o censo genealógico e verificar se, porventura, teria sido ele o único que não havia tido posteridade em seu povoado. E, examinando os pergaminhos, constatou que todos os justos haviam gerado descendentes. Lembrou-se, por exemplo, de como o patriarca Abraão lhe deu o Senhor, em seus derradeiros anos de vida, a Isaac por seu filho.
4Joachim, atormentado sobremaneira, não procurou por sua esposa e retirou-se para o deserto. Lá, armou sua tenda e manteve um jejum por quarenta dias e quarenta noites, dizendo a si: “Não retornarei à minha casa, nem sequer para me alimentar ou beber, até que o Senhor, meu Deus, me visite e minhas preces me sirvam de sustento.”
Capítulo 2
A lamentação de Anna.
1 Agora, sua esposa Anna lamentou e lamentou duas vezes, dizendo: “Lamento ser uma viúva, eu lamento por não ter filhos.”
2 Mas chegou a grande festa do Senhor e lhe disse sua criada Judite: “Até quando vais humilhar tua alma? Já é chegada a festa maior e não te é lícito entristecer-te. Toma este lenço de cabeça que me foi dado pela dona da tecelagem, já que não posso cingir-me com ele por ser eu de condição servil e levá-lo o selo real.”
3 E disse Anna: “Afasta-te de mim, pois que não fiz tal coisa e, além disso, o Senhor já me humilhou em demasia para que eu o use. Exceto se algum malfeitor o haja dado, e tenhas vindo para fazer-me a mim também cúmplice do pecado.”
4 Replicou Judite: “Que motivo tenho eu para maldizer-te, se o Senhor já te amaldiçoou, não te dando fruto em Israel?”
5 E Anna, ainda que profundamente triste, despiu suas vestes de luto, cingiu-se com o toucado, vestiu suas roupas de bodas e desceu, na hora nona, ao jardim para passear. Ali viu um loureiro, assentou-se à sua sombra e orou ao Senhor, dizendo: “Ó Deus de meus pais, abençoa-me assim como abençoou o ventre de Sara, dando-lhe como filho Isaac.”
Capítulo 3
Anna continua a se lamentar.
1 E, tendo elevado seus olhos aos céus, viu um ninho de passarinhos no loureiro e novamente lamentou-se dizendo: “Ai de mim! Por que nasci e em que hora fui concebida? Vim ao mundo para ser como terra maldita entre os filhos de Israel; estes me cumularam de injúrias e me escorraçaram do templo de Deus.”
2 “Ai de mim! A quem me assemelho eu? Não às aves do céu, por serem fecundas em tua presença, Senhor.”
3 “Ai de mim! A quem me pareço eu? Não às bestas da terra, pois que até estes animais irracionais são prolíficos ante teus olhos, Senhor.”
4 “Ai de mim! A quem me posso comparar? Nem sequer a estas águas, porque até elas são férteis diante de ti, Senhor.”
5 “Ai de mim A quem me igualo eu? Nem sequer a esta terra, porque ela também é fecunda, dando seus frutos na ocasião própria, e te bendiz a ti, Senhor.”
Capítulo 4
A anunciação a Anna.
1 E eis que se lhe apresentou um anjo do Altíssimo, dizendo-lhe: “Anna, Anna, o Senhor escutou teus rogos: conceberás e darás à luz e de tua prole se falará em todo o mundo.”
2 Anna respondeu: “Viva o Senhor meu Deus, que, se chegar a ter algum fruto de bênção, seja menino ou menina, trarei como um presente ao Senhor meu Deus, e estará a seu serviço todos os dias de sua vida.”
3 Então, vieram dois anjos com este recado para ela: “Joachim, teu marido, voltou com seus rebanhos, pois que um anjo de Deus desceu até ele e lhe disse: “Joachim, Joachim, o Senhor escutou teus rogos. Volta, pois, que Anna, tua mulher, conceberá em seu ventre.”
4 E, tendo voltado Joachim, ordenou que seus pastores lhe trouxessem dez ovelhas sem mancha, dizendo: “Estas, serão para o Senhor”, e doze novilhas de leite: “E estas, serão para os sacerdotes e para o sinédrio.” E, finalmente, cem cabritos para todo o povoado.
5 Ao chegar Joachim com seus rebanhos, estava Anna à porta e, ao vê-lo chegar, pôs-se a correr e atirou-se ao seu pescoço dizendo: “Agora vejo que Deus me abençoou abundantemente, pois, sendo viúva, deixo de ser e, sendo estéril, conceberei em meu ventre.” E Joachim repousou naquele primeiro dia em sua casa.
Capítulo 5
O nascimento de Maria.
1 No dia seguinte, ao ir oferecer suas dádivas ao Senhor, dizia para consigo mesmo: “Saberei se Deus me vai ser favorável se eu chegar a ver o éfode do sacerdote.”
2 E, ao oferecer o sacrifício, observou o éfode do sacerdote, quando este se acercava do altar de Deus, e, não encontrando pecado algum em sua consciência, disse: “Agora vejo que o Senhor houve, por bem perdoar todos os meus pecados.”
3 Então desceu Joachim justificado do templo e foi para casa.
4 E o tempo de Anna cumpriu-se, e no nono mês deu à luz.
5 Perguntou à parteira: “A quem dei à luz?”
6 E a parteira respondeu: “Uma menina.”
7 Então Anna reclinou a menina no berço, e exclamou: “Minha alma foi enaltecida.”
8 Ao fim do tempo marcado pela lei, Anna purificou-se, deu o peito à menina e lhe pôs o nome de Maria.
Capítulo 6
O início da vida de Maria.
1 Dia a dia a menina se ia robustecendo. Ao chegar aos seis meses, sua mãe deixou-a só no chão, para ver se, se sustentava de pé, e ela, após andar sete passos, voltou aos seios de sua mãe.
2 Então Anna levantou-a, dizendo: “Salve ó, Senhor! Não andarás mais por este solo, até que te leve ao templo do Senhor”.
3 E lhe fez um oratório em sua casa e não consentiu que nenhuma coisa vulgar ou impura passasse por suas mãos. Chamou, além disso, umas donzelas hebreias, todas virgens, para entreterem a menina.
4 Quando a menina completou um ano, Joachim deu um grande banquete, para o qual convidou os sacerdotes, os escribas, o sinédrio e todo o povo de Israel.
5 E apresentou a menina aos sacerdotes, que a abençoaram com estas palavras: “ó Deus de nossos pais, bendiz esta menina e dá-lhe um nome glorioso e eterno por todas as gerações.”
6 Ao que todo o povo respondeu: “Assim seja, assim seja. Amém.”
7 Joachim também a apresentou aos príncipes e aos sacerdotes, e estes a abençoaram assim: “Ó Deus Altíssimo, põe teus olhos nesta menina e outorga-lhe uma bênção perfeita, dessas que excluem as posteriores.”
8 Sua mãe, Anna, a levou ao oratório de sua casa e deu-lhe o peito. Compôs, então, um hino ao Senhor Deus, dizendo: “Entoarei um cântico ao Senhor, meu Deus, porque me visitaste, afastaste de mim o opróbrio de meus inimigos e me deste um fruto santo, que é único e múltiplo a seus olhos. Quem dará aos filhos de Ruben a notícia de que Anna está amamentando? Ouvi, ouvi, ó, Doze Tribos de Israel: ‘Anna está amamentando’.”
9 E tendo deixado a menina para que repousasse na câmara onde havia o oratório, saiu e pôs-se a servir os comensais. Estes, uma vez terminada a ceia, saíram regozijando-se e louvando ao Altíssimo.
Capítulo 7
Maria vai para o templo.
1 Entretanto, os meses iam-se passando para a menina. E Maria, ao fazer dois anos, disse Joachim a Anna: “Vamos levá-la ao templo do Senhor para cumprir a promessa que fizemos, para que o Senhor não a reclame e nossa oferenda se torne inaceitável a seus olhos.”
2 Anna respondeu: “Esperemos, todavia, até que complete três anos, para que a menina não tenha saudades de nós.”
3 Disse Joachim: “Esperaremos.”
4 Ao completar três anos, disse Joachim: “Chama as donzelas hebreias que não têm mancha, e que tomem, duas a duas, uma candeia acesa para que a acompanhem para que a menina não olhe para trás e seu coração seja cativado por alguma coisa fora do templo de Deus”.
5 E assim fizeram enquanto iam subindo ao templo do Senhor.
6 O sacerdote lá a recebeu, o qual, após tê-la beijado, abençoou-a e exclamou: “O Senhor engrandeceu teu nome diante de todas as gerações, pois que no final dos tempos manifestará em ti sua redenção aos filhos de Israel”.
7 Então fez a sentar-se no terceiro degrau do altar. O Senhor derramou graças sobre a menina, que dançou, cativando toda a casa de Israel.
Capítulo 8
Maria completa doze anos.
1 Saíram, então, seus pais, cheios de admiração, louvando ao Senhor Deus porque a menina não havia olhado para trás. E Maria permaneceu no templo como uma pombinha, recebendo alimento pelas mãos de um anjo.
2 Mas, ao completar doze anos, houve um conselho dos sacerdotes, dizendo: “Eis que Maria cumpriu doze anos no templo do Senhor. Que faremos para que ela não chegue a manchar ao santuário?”
3 E disseram ao sumo sacerdote: “Tu, que tens o altar a teu cargo, entra e ora por ela, e o que o Senhor te disser, isso será o que haveremos de fazer.”
4 E o sumo sacerdote tomou a vestimenta com os doze sinos e entrou no Santo dos Santos e orou por ela.
5 Mas eis que um anjo do Senhor apareceu, e disse-lhe: “Zacarias, Zacarias, sai e reúne a todos os viúvos do povoado. Que cada um venha com um ramo, e o daquele no qual o Senhor fizer um sinal singular, deste será ela esposa.”
6 Saíram os arautos por toda a região da Judeia e, ao soar a trombeta do Senhor, e todos os homens correram para ela.
Capítulo 9
José se torna o guardião de Maria.
1 José, deixando de lado o machado de carpinteiro, uniu-se a eles e, uma vez que se juntaram todos, tomaram cada qual seu ramo e puseram-se a caminho à procura do sumo sacerdote. Este tomou todos os ramos, entrou no templo e se pôs a orar.
2 Quando ele terminou sua oração, pegou as varas, saiu e as devolveu, mas em nenhum deles apareceu sinal algum.
3 Porém, ao pegar José o último, eis que uma pomba saiu dele e se pôs a voar sobre sua cabeça. Então o sacerdote disse: “A ti coube a sorte de receber sob tua custódia a Virgem do Senhor.”
4 José replicou: “Tenho filhos e sou velho, enquanto ela é uma menina; não gostaria de ser objeto de zombarias por parte dos filhos de Israel.”
5 Então disse o sacerdote: “Teme ao Senhor teu Deus com presente o que fez Ele com Datã, Abirão e Corá, como a terra cedeu e eles foram engolidos devido a sua oposição. E teme agora tu também, José, para não acontecer o mesmo à tua casa.”
6 E ele, cheio de temor, recebeu-a sob sua proteção.
7 Disse José a Maria: “Eis que te recebi do templo do Senhor; e agora te deixo em minha casa, e vou construir os meus edifícios e voltarei a ti. O Senhor cuidará de ti.”
Capítulo 10
Maria borda uma cortina para templo.
1 Os sacerdotes, então, reuniram-se e concordaram em fazer um véu para o templo do Senhor. E o sacerdote disse: “Chama algumas donzelas sem mancha da tribo de Davi.” Os ministros se foram, e, após terem procurado, encontraram sete virgens.
2 Então os sacerdotes lembraram da menina Maria, que ela era da tribo dos ávidos e estava imaculada diante de Deus e os emissários a foram buscar.
3 Após as terem introduzido no templo, disse o sacerdote: “Vejamos qual há de bordar o ouro, o amianto, o linho, a seda, o zircão, o escarlate e a verdadeira púrpura.”
4 E o escarlate e a verdadeira púrpura couberam a Maria que, tomando-as, se foi para casa.
5 Naquela época, Zacarias ficou mudo, sendo substituído por Samuel até quando pôde falar novamente.
6 Maria tomou em suas mãos, o escarlate e se pôs a tecê-lo.
Capítulo 11
A anunciação a Maria.
1 Certo dia pegou Maria um cântaro e foi enchê-lo de água. Mas eis que ouviu uma voz que lhe dizia: “Deus te salve, cheia de graça, o Senhor está contigo, bendita és entre as mulheres.”
2 E ela olhou à sua volta, à direita, à esquerda, para ver de onde vinha aquela voz. Tremendo, voltou para casa, deixou a ânfora, pegou a púrpura, sentou-se no divã e se pôs a tecê-la.
3 Mas logo um anjo do Senhor apresentou-se diante dela dizendo: “Não temas, Maria, pois alcançaste graça ante o Altíssimo Onipotente e vais conceber por sua palavra.”
4 Mas ela, ao ouvi-lo, ficou perplexa e disse consigo mesma: “Deverei eu conceber por virtude do Deus vivo e haverei de dar à luz como as demais mulheres?”
5 Ao que lhe respondeu o anjo: “Não será assim, Maria, pois que a virtude do Senhor te cobrirá com sua luz; depois, o fruto santo que deverá nascer de ti será chamado Filho do Altíssimo. E chamarás o seu nome Yeshua, pois ele salvará seu povo de suas iniquidades.”
6 Então, disse Maria: “Eis aqui a serva do Senhor em sua presença; que isto aconteça a mim conforme sua palavra”.
Capítulo 12
Maria visita sua prima Isabel.
1 E, concluído seu trabalho com a púrpura e o escarlate, levou-o ao sacerdote. Este a abençoou dizendo: “Maria, o Senhor enalteceu teu nome e serás bendita entre todas as gerações da terra.”
2 Cheia de alegria, Maria foi à casa de sua parente Isabel.
3 Chamou-a da porta e ao ouvi-la, Isabel largou o escarlate, correu para a porta, abriu-a e, ao ver Maria, louvou-a dizendo: “Que fiz eu para que a mãe do meu Senhor venha a minha casa? Pois saiba que o fruto que carrego em meu ventre se pôs a pular dentro de mim, como que para bem-dizer-te.”
4 Mas Maria havia se esquecido dos mistérios que o anjo Gabriel comunicara, e elevou os olhos aos céus e disse: “Quem sou eu, Senhor, para que todas as gerações me bendigam?”
5 E passou três meses em casa de Isabel. Dia a dia seu ventre aumentava e, cheia de temor, pôs-se a caminho de casa e escondia-se dos filhos de Israel.
6 Quando sucederam essas coisas, ela contava dezesseis anos.
Capítulo 13
José descobre a condição de Maria.
1 Ao chegar Maria ao sexto mês de gravidez, voltou José de suas construções e, ao entrar em casa, deu-se conta de que ela estava grávida.
2 Então, José feriu seu próprio rosto, jogou-se no chão sobre uma manta e chorou amargamente, dizendo: “Como vou me apresentar agora diante de meu Senhor? E que oração direi eu agora por esta donzela, pois que a recebi virgem do templo do Senhor e não a soube guardar? Será que a história de Adão se repetiu comigo? Assim como no instante em que ele estava glorificando a Deus veio a serpente e, ao encontrar Eva sozinha, a enganou, o mesmo me aconteceu.”
3 E, levantando-se, José chamou Maria e lhe disse: “Ó tu que foste cuidado de Deus, por que fizeste isso? Acaso te esqueceste do Senhor teu Deus? Como pudeste humilhar-te tua alma, tu que te criaste no santo dos santos e recebeste alimento das mãos de um anjo?”
4 E ela chorou amargamente dizendo: “Sou pura e não conheço homem algum.”
5 E José lhe disse: “De onde vem então o que está em teu ventre?”
6 Maria respondeu: “Pelo Senhor, meu Deus, eu juro que não sei como aconteceu.”
Capítulo 14
Um Anjo fala com José.
1 José, então, encheu-se de temor e retirou-se da presença de Maria e pôs-se a pensar sobre o que faria com ela.
2 Dizia consigo próprio: “Se escondo seu erro, serei contrario a lei do Senhor; se a denuncio ao povo de Israel, temo que o que aconteceu a ela se deva a uma intervenção dos anjos, e venha eu a entregar à morte uma inocente. Como deverei proceder, pois? Mandarei embora às escondidas.”
3 E nisto caiu a noite e eis que um anjo do Senhor lhe apareceu em sonhos dizendo-lhe: “Não temas por esta donzela, pois o que ela carrega em seu ventre é o fruto do Espírito Sagrado. Dará à luz um filho e lhe porás o nome de Yeshua, pois ele salvará seu povo de suas iniquidades.”
4 E, ao despertar, José levantou-se e glorificou ao Altíssimo por haver-lhe concedido tal graça, e continuou guardando Maria.
Capítulo 15
As autoridades descobrem a condição de Maria.
1 Mas, por essa ocasião, veio à casa de José o escriba Anás, que lhe disse: “Por que não compareceste à nossa reunião?”
2 Respondeu-lhe José: “Estava cansado da caminhada e decidi repousar este primeiro dia.”
3 Mas, ao voltar-se, Anás deu-se conta da gravidez de Maria.
4 Então, correu até ao sacerdote dizendo-lhe: “José, de quem tu dás testemunho que ele é justo, cometeu uma falta grave.”
5 Perguntou o sacerdote: “Que queres dizer com isso?”
6 Ao que respondeu Anás: “Ao violar aquela virgem que recebeu do templo de Deus, com fraude de seu casamento e sem o manifestar ao povo de Israel.”
7 Disse o sacerdote: “E estás certo de que foi José que fez tal coisa?”
8 Replicou Anás: “Envia uma comissão e te certificarás de que a donzela está realmente grávida.”
9 Saíram os emissários e a encontraram tal qual havia dito Anás, e por isso a levaram juntamente com José ante o tribunal.
10 E o sacerdote iniciou dizendo: “Maria, como realizaste tal coisa? Por que humilhaste tua alma e te esqueceste do Senhor teu Deus? Tu que te criaste no santo dos santos, que recebias alimento das mãos de um anjo, que escutaste os hinos e que dançavas na presença de Deus? Como fizeste isso?”
11 E ela se pôs a chorar amargamente dizendo: “Juro pelo Senhor meu Deus que estou pura em sua presença e que não conheço homem algum.”
12 Então, o sacerdote dirigiu-se a José dizendo-lhe: “Por que fizeste isso?”
13 Replicou José: “Juro pelo Senhor, meu Deus, que me encontro puro com relação a ela.”
14 Acrescentou o sacerdote: “Não jures em falso, dize a verdade. Usaste fraudulentamente o matrimônio e não o deste a conhecer ao povo de Israel, e não abaixaste tua cabeça sob a mão poderosa de Deus, por quem sua descendência havia sido bendita.”
15 José guardou silêncio.
Capítulo 16
José e Maria são provados.
1 O sacerdote continuou dizendo: “devolve a virgem que recebeste do templo do Senhor.”
2 José ficou com os olhos marejados de lágrimas.
3 Mas acrescentou o sacerdote: “Farei com que bebais da água da prova do Senhor e ela vos mostrará, diante de vossos próprios olhos, vossos pecados.”
4 E, tomando da água, fez José bebê-la, enviando-o em seguida à montanha; mas voltou são e salvo.
5 Fez o mesmo com Maria, também enviando-a à montanha; mas ela voltou sã e salva. E toda a cidade encheu-se de admiração ao ver que não havia pecado neles.
6 Replicou o sacerdote: “Posto que o Senhor não declarou vosso pecado, tampouco irei condenar-vos.”
7 Então despediu e, tomando Maria, José voltou para casa cheio de alegria e louvando ao Altíssimo.
Capítulo 17
A viagem a Belém.
1 Veio uma ordem do primeiro imperador de Roma, Caio Otávio César Augusto, para se fazer o censo de todos os habitantes de Belém da Judeia.
2 Disse José: “A meus filhos posso recensear, mas que farei desta donzela? Como vou incluí-la no censo? Como minha esposa? Envergonho-me. Como minha filha? Mas já sabem todos os filhos de Israel que não é! Este é o dia do Senhor, que se faça sua vontade.”
3 E, selando seu jumento, fez com que Maria se acomodasse sobre ele, enquanto um de seus filhos ia à frente puxando o animal pelo cabresto.
4 José os acompanhava. Quando estavam a três milhas de distância de Belém, José virou-se para Maria e viu que ela estava triste; e disse consigo mesmo: “Deve ser a gravidez que lhe causa incômodo”.
5 Mas, ao voltar-se novamente, encontrou-a sorrindo, e lhe disse: “Maria, que acontece, pois que algumas vezes te vejo sorridente e outra triste?”
6 E ela lhe disse: “É que se apresentam dois povos diante de meus olhos; um que chora e se aflige e outro que se exulta e se alegra.”
7 E, ao chegar à metade do caminho, disse Maria a José: “Desça-me, porque o fruto de minhas entranhas luta por vir à luz.”
8 E ele ajudou-a a apear do jumento, dizendo-lhe: “Aonde poderia eu levar-te para resguardar teu pudor, já que estamos em campo aberto?”
Capítulo 18
José vê o tempo parar.
1 E, encontrando uma caverna, levou-a para dentro e, havendo deixado os seus filhos com ela, foi buscar uma parteira hebreia na região de Belém.
2 “Eu, José, encontrei-me andando, mas não podia avançar; ao levantar meus olhos para o céu, pareceu-me ver como se o ar estivesse estremecido de assombro; e quando fixei a vista no firmamento, o encontrei estático e os pássaros do céu imóveis; ao dirigir meu olhar à terra, vi um recipiente no solo e uns trabalhadores sentados em atitude de comer, com suas mãos na vasilha. Mas os que pareciam comer, na realidade não mastigavam; e os que estavam em atitude de pegar a comida, tampouco a tiravam do prato; e, finalmente, os que pareciam levar os manjares à boca, não o faziam, ao contrário, tinham seus rostos voltados para cima.”
3 “Também havia umas ovelhas que estavam sendo tangidas, mas não davam um passo, ao contrário, estavam paradas, e o pastor levantou sua destra para bater-lhes com o cajado, mas parou sua mão no ar.”
4 “E, ao dirigir meu olhar à corrente do rio, vi como uns cabritinhos punham nela seus focinhos, mas não bebiam. Em uma palavra, todas as coisas estavam afastadas, por uns instantes, de seu curso normal.”
Capítulo 19
O nascimento de Jesus e o testemunho das parteiras.
1 Então uma mulher que descia da montanha me disse: “Aonde vais?
2 Ao que respondi: “Ando procurando uma parteira hebreia.”
3 Ela replicou: “Mas és de Israel?”
4 E respondi: “Sim.”
5 A mulher acrescentou: “E quem é, a que está dando à luz na caverna?”
6 Eu lhe disse: “É minha esposa.”
7 Ao que ela replicou: “Então, não é tua mulher?”
8 E eu lhe respondi: “É Maria, a que se criou no templo do Senhor, e ainda que me tivesse sido dada por mulher, não o é, pois, que concebeu por virtude do Espírito Santo.”
9 E interrogou-lhe a parteira: “Isto é verdade?”
10 José respondeu: “Vem e verás.”
11 Então a parteira se pôs a caminho com ele.
12 Ao chegar à gruta, pararam, e eis que esta estava envolta por uma nuvem brilhante.
13 E exclamou a parteira: “Minha alma foi engrandecida, porque meus olhos viram coisas incríveis, pois que nasceu a salvação para Israel.”
14 De repente, a nuvem começou a sair da gruta, e dentro brilhou uma luz tão grande que nossos olhos não podiam resistir. Esta, por um momento, começou a diminuir tanto que deu para ver o menino que estava tomando o peito de sua mãe, Maria.
15 A parteira então deu um grito dizendo: “Grande é o hoje para mim, já que pude ver com meus próprios olhos um novo milagre.”
16 E, ao sair a parteira da gruta, veio a seu encontro, Maria Salomé; exclamou ela: “Salomé, Salomé, tenho que te contar uma maravilha nunca vista, e é que uma virgem deu à luz; coisa que, como sabes, não permite a natureza humana.”
17 Mas Salomé replicou: “Pelo Senhor, meu Deus, não acreditarei em tal coisa, se não me for dado tocar com os dedos e examinar sua natureza.”
Capítulo 20
Maria é examinada por Maria Salomé.
1 E, havendo entrado a parteira, disse a Maria: “Prepara-te, porque há entre nós uma grande controvérsia em relação a ti.”
2 Salomé, ao introduzir seu dedo em sua natureza, mas, de repente, deu um grito dizendo: “Ai de mim, minha maldade e minha incredulidade é que têm a culpa! Por tentar ao Deus vivo desprende-se de meu corpo minha mão queimada.”
3 E dobrou os joelhos diante do Senhor, dizendo: “Oh, Deus de nossos pais! Lembra-te de mim porque sou descendente de Abraão, Isaac e Jacó, não faças de mim um exemplo para os filhos de Israel; devolve-me curada, porém, aos pobres, pois que tu sabes, Senhor, que em teu nome exercia minhas curas, recebendo de ti meu salário.”
4 E apareceu um anjo do Altíssimo, e disse-lhe: “Salomé, Salomé, Deus escutou-te. Aproxima tua mão do menino, toma-o, e haverá para ti alegria e prazer.”
5 E acercou-se Salomé e o tomou, dizendo: “Adorar-te-ei porque nasceste para ser o grande Rei de Israel”.
6 Então, de repente, sentiu-se curada e saiu em paz da gruta. Nisso ouviu uma voz que dizia: “Salomé, Salomé, não contes as maravilhas que viste até estar o menino em Jerusalém.”
Capítulo 21
A visita dos Magos.
1 E José dispôs-se a partir para a Judeia. Por essa ocasião sobreveio um grande tumulto em Belém, ao virem uns magos dizendo: “Onde está o recém-nascido Rei dos judeus, pois vimos sua estrela no Oriente e viemos para adorá-lo”
2 O rei Herodes, o grande, ao ouvir isto, perturbou-se, enviou seus emissários aos magos e convocou os príncipes e os sacerdotes fazendo-lhes esta pergunta: “O que está escrito em relação ao Messias? Aonde ele nascerá?”
3 E eles responderam: “Em Belém da Judeia, segundo dizem as escrituras.”
4 Com isto, despachou-os e interrogou os magos com estas palavras: “Qual o sinal que vistes em relação ao nascimento desse rei?”
5 Responderam-lhe os magos: “Vimos um astro muito grande que brilhava entre as demais estrelas e as eclipsava, fazendo-as desaparecer. Nisto soubemos que a Israel havia nascido um rei, e viemos com a intenção de adorá-lo.”
6 Então replicou Herodes: “Ide e buscai-o para que também possa eu ir adorá-lo.”
7 Naquele instante aquela estrela, que haviam avistado no Oriente, voltou novamente a guiá-los até chegarem à caverna e pousou sobre a entrada dela.
8 Vieram, então, os magos a ter com o Menino e sua Mãe, Maria, e tiraram oferendas de seus cofres: ouro, incenso e mirra.
9 Mas, avisados por um anjo para que não entrassem na Judeia, voltaram a suas terras por outro caminho.
Capítulo 22
O massacre dos inocentes.
1 Ao dar-se conta o rei Herodes de que havia sido enganado pelos magos, encolerizou-se e enviou seus sicários, dando-lhes a missão de assassinar a todos os meninos de menos de dois anos.
2 E quando chegou até Maria a notícia da matança das crianças, encheu-se de temor e, envolvendo seu filho em panos, colocou-o numa manjedoura.
3 Isabel, quando se inteirou de que também buscavam a seu filho João, pegou-o e levou-o a uma montanha e pôs-se a ver onde o haveria de esconder; mas não havia um lugar bom para isso.
4 E, entre soluços, exclamou em voz alta: “Ó Montanha de Deus, recebe em teu seio a mãe com seu filho”, pois que não podia subir mais alto.
5 E nesse instante abriu a montanha suas entranhas para recebê-los. Uma grande luz os acompanhou, pois estava com eles um anjo do Altíssimo para guardá-los.
Capítulo 23
A morte de Zacarias.
1 Mas o rei Herodes prosseguia na busca de João, e enviou seus emissários a Zacarias para lhe dizerem: “Onde escondeu teu filho?”
2 Mas ele respondeu desta maneira: “Eu me ocupo do serviço de Deus e me encontro sempre no templo. Não sei onde está meu filho.”
3 Os emissários informaram a Herodes tudo o que se passara, e ele encolerizou-se muito, dizendo consigo mesmo: “Deve ser seu filho que vai reinar em Israel”.
4 E enviou outro recado dizendo-lhe: “Diga-nos a verdade sobre onde está teu filho, porque do contrário bem sabes que teu sangue está sob minhas mãos.”
5 Mas Zacarias respondeu: “Serei mártir do Senhor te atreveres a derramar meu sangue, porque minha alma será recolhida pelo Senhor ao ser segada uma vida inocente no vestíbulo do santuário.”
6 Ao romper da aurora foi assassinado Zacarias, sem que os filhos de Israel se dessem conta desse crime.
Capítulo 24
Simeão, o sucessor de Zacarias.
1 Os sacerdotes se reuniram à hora da saudação; mas Zacarias não saiu a seu encontro, como de costume, para abençoá-los. E se puseram a esperá-lo para o saudar na oração e para glorificar o Altíssimo.
2 Ante sua demora, começaram a ter medo; e, tomando ânimo, um deles entrou e viu ao lado do altar sangue coagulado e ouviu uma voz que dizia: “Zacarias foi morto e não se limpará o seu sangue até que chegue o vingador.”
3 E, ao ouvir a voz, encheu-se de temor e saiu para informar os sacerdotes.
4 Estes, tomando coragem, entraram e testemunharam o ocorrido. Então, os frisos do templo rangeram e eles rasgaram suas vestes de alto a baixo.
5 Mas não encontraram seu corpo, somente uma poça de sangue coagulado; e, cheios de temor, saíram para informar a todo o povo que Zacarias havia sido assassinado.
6 E correu a notícia em todas as tribos de Israel, que o choraram e guardaram luto por três dias e três noites.
7 Concluído esse tempo, reuniram-se os sacerdotes para deliberar sobre quem iriam pôr em seu lugar.
8 Recaiu a sorte sobre Simeão, pois, pelo Espírito Santo, havia sido assegurado de que não veria a morte até que lhe fosse dado contemplar o Messias encarnado.
Capítulo 25
As declarações finais de Tiago.
1 E eu, Tiago, que escrevi esta história, ao levantar-se um grande tumulto em Jerusalém por ocasião da morte de Herodes, retirei-me ao deserto até que cessasse o motim, glorificando ao Senhor meu Deus, que me concedeu a graça e a sabedoria necessárias para compor esta narração.
2 Que a graça esteja com todos os que temem a Nosso Senhor Jesus Cristo, para quem deve ser a glória por todos os séculos dos séculos.
Amém!
Notas:
Texto Revisado em dezembro de 2024.
O Protevangelium Jacobi, também conhecido como o Proto-Evangelho de Tiago:
É um antigo texto apócrifo cristão que desempenhou um papel significativo na teologia, cultura e imaginação popular da antiguidade tardia e medieval. Ele não é um título original ou antigo, mas foi atribuído ao livro quando foi publicado pela primeira vez no século XVI. O Protevangelium se concentra na vida de Maria, a mãe de Jesus, antes e imediatamente após o nascimento de Jesus. Ele relata o nascimento milagroso de Maria, sua educação, vida jovem e seu noivado com José. Além disso, o texto narra as circunstâncias do nascimento de Jesus, sua virgindade contínua, a oposição do rei Herodes ao menino Jesus e a proteção milagrosa de João Batista e sua mãe.
O Protevangelium foi provavelmente escrito no final do século II e se tornou particularmente popular na parte oriental da cristandade. A Igreja Oriental instituiu dias de festa para honrar a Virgem Maria ao longo do ano, com base em episódios encontrados na narrativa do Protevangelium. O livro sobreviveu em cerca de 150 manuscritos gregos e várias versões orientais, incluindo copta, siríaca, etíope, armênia, georgiana e eslava. No entanto, o Protevangelium não foi tão difundido no Ocidente devido à sua representação dos "irmãos" de Jesus como filhos de José de um casamento anterior. Essa interpretação foi severamente condenada por Jerônimo, que acreditava que os irmãos de Jesus eram, na verdade, seus primos. A visão de Jerônimo estava intimamente ligada à sua agenda ascética, pois acreditava que tanto Maria quanto José eram virgens perpétuas.
O relato do Protevangelium foi explicitamente condenado pelo Papa Inocêncio I em 405 d.C. e pelo Decreto Gelasiano no século VI. O Protevangelium de Tiago é um texto antigo reintroduzido no Ocidente em 1552 por G. Postel, através de uma tradução latina de um manuscrito grego perdido. Postel intitulou o texto “Protevangelium sive de natalibus Jesu Christi et ipsius Matris virginis Mariae, sermo historicus divi Jacobi minoris”, mas é mais conhecido como “Protoevangelho de Tiago”. Os manuscritos antigos do texto apresentam uma variedade de títulos longos e explicativos, como “Narrativa e história sobre como a Santíssima Mãe de Deus nasceu para nossa salvação” ou “Narrativa do Santo Apóstolo Tiago, o Arcebispo de Jerusalém e Irmão de Deus, sobre o Nascimento da Santíssima Mãe de Deus e Eterna Virgem Maria”. No entanto, o manuscrito mais antigo, Bodmer V, do terceiro ou quarto século, simplesmente o chama de “O Nascimento de Maria, a Revelação de Tiago”. Aqui, “revelação” não se refere ao gênero literário, mas à natureza do relato (revelador) ou à fonte final das informações do autor, que, embora se alegue ser Tiago, irmão de Jesus, recebeu suas informações por revelação divina.
Antes de sua reintrodução por Postel, o livro pode ter sido simplesmente chamado de Livro de Tiago. Esta parece sua designação na primeira referência certa ao relato, feita pelo pai da igreja Orígenes em 254 d.C., que indica em seu Comentário sobre Mateus que Tiago era filho de José de um casamento anterior e enfatiza a virgindade contínua de Maria. Há também possíveis referências em Clemente de Alexandria e Justino Mártir, mas eles não fazem referência ao texto do Protevangelium em si. O texto grego do Protevangelium foi publicado pela primeira vez por M. Neander em Basileia em 1563. A edição mais influente e amplamente traduzida foi o texto grego construído por Constantine von Tischendorf em 1853 com base em dezoito manuscritos medievais tardios. Mais de um século depois, o manuscrito verdadeiramente antigo Bodmer V foi publicado por M. Testuz, tornando-se a base da melhor edição disponível do evangelho. Contudo, ainda não há uma edição crítica que leve em conta todos os manuscritos e versões sobreviventes, sendo um grande desiderato dos estudos cristãos primitivos.
Informações do manuscrito:
Mais de 140 manuscritos contendo o texto grego do Evangelho da Infância de Tiago foram recuperados. Os estudiosos dividiram os manuscritos em cinco famílias e estão trabalhando para produzir uma nova edição crítica abrangente.
Manuscrito mais importante: Papiro Bodmer V (grego, final do século III).
Traduções em inglês:
Cameron, Ron, ed. The Other Gospels: Non-Canonical Texts. Philadelphia: Westminster, 1982.
Elliott, J.K., ed. The Apocryphal New Testament. Oxford: Clarendon, 1993.
Miller, Robert J., ed. The Complete Gospels: Annotated Scholars Version. Rev and enl. ed. Sonoma: Polebridge, 1994.
Schneemelcher, Wilhem, ed. Gospels and Related Writings. Translated by R. McL. Wilson. Vol. 1 of New Testament Apocrypha. Rev. ed. Louisville: Westminster/John Knox, 1991.
Edições em Línguas Antigas: Versão para Estudiosos:
Hock, Ronald F. Os Evangelhos da Infância de Tiago e Tomé . Santa Rosa: Polebridge Press, 1995.
Texto grego
Referências Bibliográficas:
O Proto-Evangelho De Tiago:
WALKER, Alexander (Ed.). Apocryphal Gospels, Acts, and Revelations. T. & T. Clark, 1870.
EHRMAN, Bart; PLESE, Zlatko. The apocryphal gospels: Texts and translations. OUP USA, 2011.
CAMERON, Ron (Ed.). The other Gospels: non-canonical Gospel texts. Westminster John Knox Press, 1982.
ELLIOTT, James Keith (Ed.). The Apocryphal New Testament: A Collection of Apocryphal Christian Literature in an English Translation. OUP Oxford, 1993.
MILLER, Robert J. The complete gospels: Annotated scholars version. 1994.
Recursos on-line adicionais:
http://web.archive.org/web/20071014121739/http://gospels.net/additional/infancyjamesadditional.html