Ouça os Evangelhos Sagrados
LIVRO 3
Jesus revela a verdade aos seus discípulos e inicia seus ensinamentos na Galileia.
Capítulo 1
Jesus aparece aos seus discípulos após a ressurreição.
1 No terceiro dia após o seu sofrimento, o primeiro dia da semana, por medo dos judeus, os discípulos estavam com as portas fechadas onde estavam reunidos.
2 E Jesus apareceu e ficou ali no meio deles. “A paz esteja com vocês”, ele disse, e quando ele ouviu suas dúvidas, começou a ensiná-los da seguinte forma.
3 “Então, lhes disse Jesus: ‘Meus irmãos e irmãs, há muito tempo gostaria de lidar a conhecer as verdades mais profundas e que vocês devem saber para que suas almas encontrem a salvação, e que até agora vossos ouvidos foram impedidos de ouvi-los’.”
4 “Porque os vossos corações estavam ligados ao mundo pelo qual acabei de me entregar e do qual fui ressuscitado para sempre, e vossas mentes foram ressuscitadas comigo.”
5 “De modo que agora consigam compreender o que não podiam compreender antes, livrei vocês das garras dos Arcontes deste mundo. Para ouvirem as palavras que um discípulo deve ouvir do seu mestre e que um mortal deve ouvir do seu Deus.”
6 Então, Jesus lhes disse: “Não tenham medo, vão para a Galileia e lá me verão.”
7 Após isso, os 19 discípulos, 12 homens e 7 mulheres, foram para a Galileia, para o monte chamado ‘Divinação e Alegria’, que Jesus lhes havia designado.
Capítulo 2
Jesus reaparece na Galileia e fala sobre o PAI e o criador do mundo.
1 Depois destas coisas, Jesus apareceu outra vez aos discípulos junto ao mar de Tiberíades, na Galileia, e veio falar com eles.
2 Quando seus discípulos o viram ali, prostraram-se para adorá-lo; embora alguns ainda estivessem em dúvida.
3 E Pedro ficou ousado e perguntou: “Senhor, fala-nos sobre o PAI, quem ele é e por que ele te enviou.”
4 E Jesus respondeu: “Simão, você é abençoado, porque você não acha que sabe, isto que é um mistério para toda a carne, porque o meu PAI não é o criador do mundo da matéria que observamos ao seu redor, o mundo cheio de morte e de agonia.”
5 “Mas, que vem com a febre da carne e seu desejo, os mortais consideram-no cheio de todo deleite e conforto, e assim desperdiçam suas vidas em busca de ilusões.”
6 “Não! Todas essas coisas escravizam a humanidade apenas ao criador deste mundo. Meu PAI é exaltado acima deste, onde é chamado Deus altíssimo, pois ninguém fala de nada como mais alto, a menos que haja outros abaixo dele. E vocês mortais são, em parte, de suas criações em que ele moldou o corpo da impureza imunda, mas vossas almas ele roubou do mundo de luz de meu PAI.”
7 “Com eles, ele transmitiu aos seus corpos de carne uma aparência de vida que é apenas uma sombra da vida que você conheceu no pleroma do altíssimo.”
8 “Aqui vocês permanecem sempre na ignorância, nunca conhecendo a sua origem ou o seu destino. E pela falta desse conhecimento, você morre e renasce em novos corpos outra vez, desde que a saída esteja oculta de você, e é por isso que o PAI me enviou ao mundo na semelhança de vossa carne, para que eu vos comunicasse estas verdades.”
Capítulo 3
Jesus fala a respeito dos Mandamentos do legislador.
1 André perguntou: “Salvador, o que faremos então daquelas coisas que, quando em carne, dissestes à multidão e que não diferem muito do que elas ouviam de seus escribas.”
2 E o salvador respondeu: “Que fique assim por agora, ó André, alguns deles ainda podem descobrir que abrigam a centelha da Luz dentro deles e então eles irão procurar isto que lhes ensino agora.”
3 “Outros não podem, mas meu PAI os ama e ele me ordenou que lhes concedesse tal sabedoria.”
4 “Que eles possam compreender para aquebrantar a dureza de vossos corações, de quem criou este mundo e que deu os mandamentos ao legislador, nada de errado encontrará neles, no entanto, não vos dá instrução quanto à salvação de vossas almas.”
Capítulo 4
Jesus fala da libertação de seu corpo.
1 Levi perguntou ao salvador: “Meu Senhor, então com que sofrimento sofrestes e morreste a morte?”
2 E o salvador respondeu: “Sofri e não sofri, morri e não morri, pois todos os desígnios forjados pelos malévolos Arcontes foram para libertar-me da roupa vergonhosa da matéria, a qual é o corpo e que havia assumido devido à minha estada neste mundo.”
3 “Por muito tempo eu vinha dizendo para que você mantivesse a minha identidade em segredo, mas os Arcontes reconheceram meu Poder e finalmente eles me crucificaram.”
4 “Mas eles não suspeitaram que seriam a causa da minha libertação.”
5 “E a razão pela qual sofri essas indignidades foram devidos àquelas almas sem espíritos verdadeiros, que sendo elas elevadas, eu poderia afastá-las do criador desse mundo e trazê-los ao conhecimento da notícia de mim que vocês proclamarão.”
6 “Muitos deles serão chamados, embora poucos escolhidos.”
Capítulo 5
Jesus fala sobre a reencarnação, a respeito dos Eleitos, e o fim de tudo.
1 Maria Salomé lhe perguntou: “Qual será o fim de todas as coisas, e por que somente alguns serão salvos?”
2 O Salvador disse-lhe: “Hó, mãe de Tiago e João, sua curiosidade é tão grande quanto a de Sophia, que desejava espiar por trás do véu do pleroma, amém.”
3 “Em verdade, eu lhe digo, as notícias do reino da luz serão pregadas ao longo deste mundo sublunar e no mundo abaixo.”
4 “E aqueles que ouvirem essas verdades e a mantiverem em seus corações, irão se libertar do eterno retorno, a qual é a roda da morte e renascimento.”
5 “Quando seus corpos perecerem, suas almas serão elevadas e, se forem sábias, ascenderão acima do oitavo Aeon, passando pelos portais dos sete céus do Caos dos Arcontes.”
6 “E quando o número total dos Eleitos for redimido, todos os que abrigaram dentro de sua composição, a divina luz de meu PAI, a matéria que os aprisionou, voltarão ao estado de barro virgem, sem nenhuma impressão semelhante a ele. Finalmente, toda a criação do Arconte desse mundo retornará à falta de vida.”
Capítulo 6
Jesus fala da Natureza, da Matéria e do Pecado.
1 Simão Pedro perguntou: “Então a matéria será destruída ou não?”
2 O salvador disse: “Todas as espécies, todas as formações, todas as criaturas estão unidas, elas dependem umas das outras e se separarão novamente em sua própria origem, pois a essência da matéria somente se separará de novo em sua própria essência. Quem tem ouvidos para ouvir, que ouça.”
3 Pedro disse-lhe: “Tende explicado todas as coisas para nós, diga-nos também qual é o pecado original do mundo?”
4 O salvador respondeu: “O pecado não existe, ao contrário, é você quem produz o pecado quando faz o que está conforme a natureza do adultério.”
5 “A única, apropriadamente denominada pecado, é por isso que o bem veio entre vós para purificar toda a natureza a fim de restaurar ao seu estado original.”
6 Então, ele prosseguiu dizendo: “Esta é a razão pela qual você adoece e morre, pois o espírito sempre tende de escapar da mistura com o corpo da morte daquele que ainda não está iluminado.”
7 “Aquele que compreende minhas palavras que as coloque em prática. A matéria produziu uma paixão sem igual que se originou de algo contrário à natureza Divina. A partir daí, todo o corpo se desequilibra, essa é a razão por que vos digo, tende coragem, e se estiverdes desanimados, procurar força das diferentes manifestações da natureza. Quem tem ouvidos para ouvir, que ouça.”
Capítulo 7
Maria Madalena conforta os apóstolos.
1 Após o Salvador ter falado essas coisas, ele saudou a todos dizendo: “A paz esteja convosco, recebei minha paz, tomai cuidado para que ninguém vos afaste do caminho dizendo por aqui ou por lá, pois o filho do homem está dentro de vós. Siga-o, quem o procurar o encontrará.”
2 “Prossigam agora, vão proclamar o Evangelho do Reino e não estabeleçais outras regras além das que vos mostrei e não instituais mais como legislador, senão sereis cerceados por elas.” Após dizer tudo isso, Jesus desapareceu.
3 Mas seus discípulos estavam profundamente tristes e falavam: “Como pregaremos aos gentios o evangelho do reino do filho do homem, se eles não o pouparam, vão poupar a nós?”
4 Maria Madalena se levantou, cumprimentou a todos e disse a seus irmãos: “Não vos lamentais, nem sofrais, nem exiteis, pois sua graça estará inteiramente convosco e vos protegerá. Antes louvemos sua grandeza, pois ele nos preparou e nos fez masculinos.”
5 Após Maria ter dito isso, eles entregaram seus corações ao PAI e começaram a conversar sobre as palavras do Salvador.
Capítulo 8
Pedro convida Maria Madalena a ensinar.
1 Pedro disse a Maria Madalena: “Irmã, sabemos que o Salvador te amava mais do que qualquer outra mulher, conta-nos as palavras do Salvador, as que te lembras, aquelas que só tu sabes e nós nem ouvimos.”
2 Maria Madalena respondeu dizendo: “Esclarecerei a voz o que está oculto”.
3 E começou a falar essas palavras: “Eu” disse ela: “Eu tive uma visão do senhor”. E contei a ele: “Mestre, me revelaste hoje em uma visão.”
4 Ele respondeu e me disse: “Bem-aventurada sejas por não fraquejar ao me ver, pois onde está a mente há um tesouro.”
5 Eu lhe disse: “Mestre, aquele que tem uma visão, vê com a alma ou com o espírito?”
6 Jesus respondeu e disse: “Não vê nem com a alma, nem com espírito, mas com a consciência que está entre ambos, assim é que tem a visão e é por isso que estou falando com você agora, ó Maria.”
Capítulo 9
A jornada da alma para a salvação.
1 E eu lhe perguntei: “Senhor, sabemos que você nos deixará para ascender ao reino da luz, de onde você veio no princípio, e lá que desejamos nos juntar a você para não continuarmos sendo órfãos neste mundo.”
2 “Mas nós não sabemos o caminho para onde você está prestes a ir, não se apresse em partir, ó, Salvador, sem revelar o caminho invisível que leva ao PAI.”
3 “Que é o caminho que toda alma deve seguir quando deixar para trás a insensível mistura com a matéria no dia em que a carne afrouxar o seu aperto.”
4 E o salvador disse-me: “Maria, eu te mostrarei o caminho que deve seguir para que, no dia em que teus irmãos te perguntarem sobre estas coisas, você saiba o que você e eles devem saber.”
5 “A realização da verdadeira salvação para que todos possam se reunir no Aeon de Luz no alto, de onde todas as almas dos eleitos surgiram primeiro.”
6 “Saiba Primeiramente o seguinte, o caminho é simples, mas não encerrado.”
7 “Ele serpenteia através dos sete Aeons celestes e cada um deles é zelosamente vigiado por sua Autoridade, o guardião e coletor de tributos. Sempre vigilante para receber o que lhe é devido.”
8 “Quando eu mesmo desci da luz primordial, disfarcei-me vestindo a aparência e a natureza de cada Arconte do seu reino. De modo que passei livremente entre os seus habitantes, e eu mudei a vestimenta de novo, e de novo com cada mundo pelo qual passei, como ator que muda a vestimenta a cada nova cena.”
9 “Agora, como você sabe, retornarei de onde vim e preciso remover cada camada externa, mesmo sete corpos de cada substância diferente, deixando cada manto pendurado nas mãos do Arconte governando cada Aeon.”
10 “Você e seus irmãos não poderão fugir tão facilmente do ofício dos Arcontes, mas embora eles sejam vigilantes, não é grande coisa enganá-los, desde que você saiba quais palavras os vencerão.”
Capítulo 10
A Ascensão da Alma Redimida.
1 “E, além disso, ele me mostrou em minha visão a alma dos redimidos, sendo a única que sabe de sua origem e seu destino.”
2 “Aquela alma surgiu como uma faísca de uma fogueira na noite fria, tendo retirado o sufocante corpo de carne grossa.”
3 “Continuou a subir até que finalmente a alma chegou ao portal do primeiro Aeon dos Poderes, aquele mesmo que é chamado ‘Escuridão’.”
4 “E que assim falou a ela: ‘Não prossigas além, transgressor’.”
5 “E a alma respondeu: ‘Por que, em que pequei contra você’?”
6 “E a ‘Escuridão’ respondeu: ‘Aquele meu reino é o reino das trevas e ninguém que acende a tocha do conhecimento é permitido aqui, agora vamos extinguir a sua luz para que você possa retornar ao sono tranquilo da ignorância’.”
7 “E a alma respondeu: ‘Não, ó, ‘Escuridão’, mas aqueles que dormem o seu sono, só o fazem porque eles são, primeiro, ignorantes de sua astúcia. Mas disto o Salvador me avisou e assim extinguiu o poder das trevas sobre mim’.”
8 “E alegrando-se por estar livre dessa outra natureza, a da ignorância mundana, a alma seguiu.”
9 “Após um tempo se elevando, a alma alcança o portal do segundo Aeon, daquele Poder chamado ‘Desejo’. Sendo aquele que faz com que as naturezas se misturem e que despertará na alma em fuga, o carinho por aquelas falsas delícias deixadas para trás na terra, de modo que incite nela o anseio de retornar ao mundo.”
10 E o próprio ‘Desejo’ apareceu ali num instante, falando com ela, dizendo: ‘Quem és tu, e de onde você surgiu’?”
11 “E a alma disse: ‘Eu sou da semente do PAI vivo e não pertenço a este mundo, não me atrapalhe, pois busco apenas retornar ao lugar de onde surgi, no princípio’.”
12 “Assim ela falou com ele, e o ‘Desejo’ disse à alma: “Não te vi descer, mas agora te vejo subir, porque falas mentira, já que pertences a mim’.”
13 “A alma respondeu e disse: ‘Eu te vi, e não me viste, nem me reconheceste, usaste-me como assessório e não me reconheceste.’ Após dizer isso, a alma foi embora, resultante de alegria.”
14 “Em seguida, em sua ascensão, a alma alcança o portal do terceiro Aeon, daquele Poder chamado ‘Ignorância’.
15 “Ele interrogou a alma dizendo: ‘Onde você pensa que está indo, você acha que merece entrar no reino celestial? Estás aprisionada à maldade, estás aprisionada, não julgueis’.”
16 “E alma disse: ‘Porque me julgaste apesar de eu não haver julgado, eu estava aprisionada, no entanto, não aprisionei, não fui reconhecida, que o todo está se desfazendo, tanto as coisas terrenas quanto as celestiais’.”
17 “Quando a alma triunfou sobre o terceiro Poder, ela ascendeu e viu o quarto Poder que assumiu sete semelhanças. A primeira forma, trevas, a segunda desejo, a terceira ignorância, a quarta é a comoção da morte, a quinta é o reino da carne, a sexta a van sabedoria da carne, a sétima a sabedoria irada.”
18 “Essas são as sete Autoridades da ‘Ira’. Eles questionam a alma: ‘De onde vem você, assassino, para onde você está indo, viajante dimensional’?”
19 “Por sua parte, a alma respondeu dizendo: ‘O que me subjugava foi eliminado e o que me fazia voltar foi derrotado, e meu desejo foi extinto e a ignorância expirou. No meio de um mundo, fui liberto de um mundo e liberto de um padrão de morte, recebi libertação de um modelo celestial, libertação da cadeia do esquecimento, que são transitórios. Daqui em diante alcançarei em silêncio o final do tempo propício no Aeon Eterno’.”
Capítulo 11
Os apóstolos contestam a autoridade de Maria Madalena.
1 Após ter dito isso, Maria Madalena se calou, pois até aqui o salvador lhe havia falado. Mas André respondeu e disse aos seus irmãos: “Dizei o que tens para dizer sobre o que ela falou, eu de minha parte não acredito que o Salvador tenha dito isso, pois esses ensinamentos carregam ideias estranhas.”
2 Pedro respondeu e falou sobre as mesmas coisas, ele os inquiriu sobre o salvador: “Será que ele realmente conversou em particular com uma mulher e não abertamente conosco? Devemos mudar de opinião e ouvirmos a ela? Ele a preferiu do que a nós?”
3 Então, Maria Madalena se lamentou e disse a Pedro: “Pedro, meu irmão, o que estás pensando, achas que inventei tudo isso no mau coração ou que estou mentindo sobre o Salvador?”
4 Levi respondeu a Pedro: “Pedro, sempre foste exaltado, agora te vejo competindo com uma mulher como um adversário. Mas se o salvador a fez merecedora, quem és tu para rejeitá-la? Certamente o salvador a conhece bem, daí ter a amado mais do que a nós. É antes o caso de nos envergonharmos e assumirmos o homem perfeito e nos separarmos como ele nos mandou e pregarmos o evangelho. Não criando nenhuma regra ou Lei além das que o Salvador nos falou.”
5 Depois que Levi disse essas palavras, eles começaram a sair para anunciar e pregar.
Amém.
Notas:
Texto Revisado em Dezembro de 2024.
Informações sobre o Evangelho de Maria Madalena:
Em sua introdução em The Complete Gospels , Karen King nomeia os manuscritos disponíveis para o Evangelho de Maria: “Sabe-se que apenas três manuscritos fragmentários sobreviveram até o período moderno, dois fragmentos do século III (P. Rylands 463 e P. Oxyrhynchus 3525) publicados em 1938 e 1983, e uma tradução copta mais longa do século V (Berolinensis Gnosticus 8052,1) publicada em 1955.”
King continua fazendo estas observações críticas ao texto: Há, além disso, algumas variações importantes entre os manuscritos gregos e coptas. A tradução que se segue dá preferência aos fragmentos gregos sobre os coptas porque eles são mais antigos e estão escritos na língua original do texto, e também porque as variantes coptas refletem tendências teológicas que, sem dúvida, pertencem a um tempo posterior. Por exemplo, os fragmentos gregos parecem presumir que a liderança de Maria Madalena como mulher não está em debate; apenas seu ensinamento é desafiado. Mudanças na versão copta, no entanto, apontam para uma situação em que a liderança das mulheres como tal está sendo desafiada e requer defesa. As mudanças no texto podem refletir a exclusão histórica das mulheres de seus papéis de liderança anteriores nas comunidades cristãs.
King afirma que a teologia do Evangelho de Maria é a seguinte: o Evangelho de Maria comunica uma visão de que o mundo está passando, não em direção a uma nova criação ou uma nova ordem mundial, mas em direção à dissolução de um caos ilusório de sofrimento, morte e dominação ilegítima. O Salvador veio para que cada alma possa descobrir sua própria natureza espiritual verdadeira, sua “origem” no Bem, e retornar ao lugar de descanso eterno além das restrições do tempo, da matéria e da falsa moralidade. O Evangelho de Maria exalta Maria Madalena sobre os discípulos homens de Jesus. O Evangelho de Maria fornece informações importantes sobre o papel das mulheres na igreja primitiva.
Em sua introdução em The Nag Hammadi Library , Karen King faz estas observações: O confronto de Maria com Pedro, um cenário também encontrado em O Evangelho de Tomé, Pistis Sophia e O Evangelho dos Egípcios , reflete algumas das tensões no cristianismo do século II. Pedro e André representam posições ortodoxas que negam a validade da revelação esotérica e rejeitam a autoridade das mulheres para ensinar. O Evangelho de Maria ataca ambas as posições de frente por meio de sua representação de Maria Madalena. Ela é a amada do Salvador, possuidora de conhecimento e ensino superiores aos da tradição apostólica pública. Sua superioridade é baseada na visão e na revelação privada demonstrada em sua capacidade de fortalecer os discípulos vacilantes e transformá-los em direção ao Bem. O terminus ad quem é definido pelos manuscritos do terceiro século que atestam o Evangelho de Maria. O uso do termo Salvador para Jesus e a teologia gnóstica no Evangelho de Maria sugerem uma datação no segundo século.
O Evangelho de Maria é encontrado no Berlin Gnostic Codex (Papyrus Berolinensis 8502). Este importantíssimo e bem preservado códice foi descoberto no final do século XIX em algum lugar perto de Akhmim no alto Egito. Foi comprado no Cairo em 1896 por um estudioso alemão, Dr. Carl Reinhardt, e então levado para Berlim.
O códice (como esses livros antigos são chamados) foi provavelmente copiado e encadernado no final do quarto ou início do quinto século. Ele contém traduções coptas de três textos gnósticos cristãos primitivos muito importantes: o Evangelho de Maria, o Evangelho de João e a Sophia de Jesus Cristo. Os textos em si datam do segundo século e foram originalmente escritos em grego.
Apesar da importância da descoberta desta antiga coleção de escrituras gnósticas, vários infortúnios, incluindo duas guerras mundiais, atrasaram sua publicação até 1955. Naquela época, a grande coleção de Nag Hammadi de antigos escritos gnósticos também havia sido recuperada. Foi descoberto que cópias de dois dos textos deste códice, o Evangelho de João e a Sofia de Jesus Cristo, também haviam sido preservadas na coleção de Nag Hammadi. Esses textos do Códice Gnóstico de Berlim foram usados para auxiliar e aumentar as traduções do Evangelho de João e da Sofia de Jesus Cristo, como agora são publicadas na Biblioteca de Nag Hammadi.
Mas, mais importante, o códice preserva o fragmento sobrevivente mais completo do Evangelho de Maria e está claro que esta Maria chamada é a pessoa que chamamos de Maria de Magdala. Dois outros pequenos fragmentos do Evangelho de Maria de edições gregas separadas foram posteriormente desenterrados em escavações arqueológicas em Oxyrhynchus, Egito. (Fragmentos do Evangelho de Tomé também foram encontrados neste antigo sítio; veja a página Oxyrhynchus e Evangelho de Tomé para mais informações sobre Oxyrhynchus.) Encontrar três fragmentos de um texto desta antiguidade é extremamente incomum, e é assim evidenciado que o Evangelho de Maria foi bem distribuído nos primeiros tempos cristãos e existia tanto em um grego original quanto em uma tradução em língua copta.
Infelizmente, o manuscrito sobrevivente do Evangelho de Maria está sem as páginas 1 a 6 e 11 a 14, páginas que incluíam seções do texto até o capítulo 4 e partes do capítulo 5 a 8. O texto existente do Evangelho de Maria , conforme encontrado no Berlin Gnostic Codex, é apresentado abaixo. O texto do manuscrito começa na página 7, no meio de uma passagem.
Mais material introdutório
Recomendamos fortemente a nova tradução de Karen King com comentários estendidos, The Gospel of Mary of Magdala: Jesus and the First Woman Apostle. The Gospel of Mary também está incluído, junto com uma introdução útil, na International Edition of The Nag Hammadi Scriptures .
Sem material explicativo e de fundo, será impossível para um leitor não familiarizado com os antigos escritos cristãos gnósticos entender o Evangelho de Maria. A introdução da Dra. King ao seu livro, que fornecemos aqui em prévia, dá uma excelente visão geral do texto do Evangelho de Maria e uma discussão sobre a descoberta e os fragmentos de manuscritos sobreviventes. Nos capítulos subsequentes, a Dra. King fornece as informações contextuais que um leitor precisa para entender as mensagens deste importante texto.
Informações do manuscrito:
Tradução para o inglês na Biblioteca da Sociedade Gnóstica
Tradução de Andrew Bernhard
Original translation of this text was prepared by members of the
Coptic Gnostic Library Project of the Institute for Antiquity and Christianity, Claremont Graduate School.
The Coptic Gnostic Library Project was funded by UNESCO, the National Endowment for the Humanities, and other Institutions.
E. J. Brill has asserted copyright on texts published by the Coptic Gnostic Library Project.
The translation presented here has been edited, modified and formatted for use in the Gnostic Society Library.
For academic citation, please refer to published editions of this text.
Traduções em inglês:
Wilhelm Schneemelcher, ed., tradução de R. McL. Wilson, Apócrifos do Novo Testamento: Evangelhos e Escritos Relacionados (Louisville: John Knox Press, 1992), pp. 391-395.
Português Robert J. Miller, ed., Os Evangelhos Completos: Versão Anotada de Estudiosos (Sonoma, CA: Polebridge Press 1992), pp. 351-360.
James M. Robinson, ed., The Nag Hammadi Library in English (São Francisco, CA: HarperCollins 1990), pp. 523-527.
Edições em Línguas Antigas: Versão para Estudiosos:
EHRMAN, Bart; PLESE, Zlatko. The apocryphal gospels: Texts and translations. OUP USA, 2011.
Texto grego
Referências Bibliográficas:
O Evangelho de Maria de Magdala:
EHRMAN, Bart; PLESE, Zlatko. The apocryphal gospels: Texts and translations. OUP USA, 2011.
LAYTON, Bentley. As escrituras gnósticas. Edicoes Loyola, 2002.
LAYTON, Bentley; BRAKKE, David; COLLINS, John (Ed.). The gnostic scriptures. Yale University Press, 2021.
The Gnostic Bible: Revised and Expanded Edition. Estados Unidos, Shambhala, 2009.
BARNSTONE, Willis; MEYER, Marvin (Ed.). The Gnostic Bible: Revised and Expanded Edition. Shambhala Publications, 2009.
Recursos on-line adicionais:
https://web.archive.org/web/20231113065333/https://www.earlychristianwritings.com/gospelmary.html