Ouça os Evangelhos Sagrados
LIVRO 2
Atos da infância de nosso Senhor Jesus Cristo.
Capítulo 1
A Infância de Jesus.
1 Eu, Tomé Israelita, julguei necessário levar ao conhecimento de todos os irmãos descendentes dos gentios, a Infância de Nosso Senhor Jesus Cristo e tantas quantas maravilhas ele realizou após nascer em nossa terra. O princípio é como segue:
Capítulo 2
Jesus com cinco anos.
1 Este Menino Jesus, que na época tinha cinco anos, encontrava-se um dia brincando no leito de um riacho, após haver chovido. E, represando a correnteza em pequenas poças, tornava-as instantaneamente cristalinas, dominando-as somente com a sua palavra.
2 Fez depois uma massa mole com o barro e com ela formou uma dúzia de passarinhos. Era então um sábado e havia outros meninos brincando com ele.
3 Porém, um certo homem judeu, vendo o que Jesus acabara de fazer num dia de sábado, foi correndo até o seu pai José e lhe disse: “Olha, teu filho está no riacho e juntando um pouco de barro fez uma dúzia de passarinhos, profanando com isso o dia do sábado.
4 Então José foi até lá e, assim que o viu, repreendeu: “Por que você está fazendo o que não é permitido no sábado?”
5 Mas Jesus, batendo palmas, dirigiu-se às figurinhas ordenando-lhes: “Voai!” E os passarinhos foram todos embora gorjeando.
6 Os judeus, ao verem isso, encheram-se de admiração, foram contar aos seus líderes o que haviam visto Jesus fazer.
Capítulo 3
Jesus e as outras crianças.
1 Encontrava-se ali presente o filho de Anás, o escriba, e teve a ideia de fazer escoar as águas represadas por Jesus usando uma planta de vime.
2 Ante essa atitude, Jesus indignou-se e disse: “Malvado, ímpio e insensato. Será que as poças e as águas te atrapalhavam? Ficarás agora seco como uma árvore, sem que possas dar folhas, nem raiz, nem frutos.” Imediatamente o rapaz tornou-se completamente seco.
3 Então Jesus partiu e foi para a casa de José. E os pais pegaram o infeliz, chorando a sua terna idade, e o levaram ante José, maldizendo-o por ter um filho que fazia tais coisas.
Capítulo 4
A natureza divina de Jesus.
1 De outra feita, ele andava em meio ao povo e um rapaz que vinha correndo esbarrou em suas costas.
2 Exaltado, Jesus lhe disse: “Não prosseguirás teu caminho”. E imediatamente o rapaz caiu morto.
3 Algumas pessoas viram o que havia acontecido e disseram: “De onde esse menino veio? Pois todas as suas palavras tornam-se fatos consumados!”
4 E os pais do defunto, chegando a José, o interpelaram dizendo: “Com um filho como esse, de duas uma: ou não podes viver com o povo, ou tens de acostumá-lo a abençoar e não a amaldiçoar; pois causa a morte aos nossos filhos.”
Capítulo 5
José repreende Jesus.
1 José chamou Jesus à parte e o advertiu da seguinte maneira: “Por que fazes tais coisas, se elas se tornam a causa de eles nos odiarem e perseguirem?”
2 Jesus respondeu: “Bem sei que estas palavras não vêm de ti. Mas calarei por respeito à tua pessoa. Esses outros, ao contrário, receberão seu castigo”.
3 E no mesmo instante aqueles que haviam falado mal dele, ficaram cegos.
4 As testemunhas desta cena encheram-se de pavor e ficaram perplexas, confessando que qualquer palavra de sua boca, fosse boa ou má, tornava-se um fato e se convertia numa maravilha.
5 Quando José percebeu o que Jesus havia efetuado, agarrou sua orelha e a puxou fortemente.
6 O menino então indignou-se e lhe disse: “A ti é suficiente que me vejas sem me tocares. Tu nem sabes quem sou, pois se soubesses não me magoarias. E ainda que neste instante eu esteja contigo, fui criado antes de ti.”
Capítulo 6
O primeiro encontro de Jesus com um mestre.
1 Encontrava-se naquela época em um local próximo um certo rabino de nome Zachyas, o qual, ouvindo Jesus falar dessa maneira com seu pai, encheu-se de admiração ao ver que, sendo um menino, dizia tais coisas.
2 Então, passados alguns dias, aproximou-se de José e lhe disse: “Vejo que tens um filho sensato e inteligente. Então, me confie para aprender as letras. Eu, de minha parte, juntamente com elas, ensinar-lhe-ei toda espécie de sabedoria e a arte de saudar os mais velhos, de respeitá-los como superiores e pais e de amar seus semelhantes”.
3 José respondeu: “Ninguém consegue ensinar esta criança, exceto Deus sozinho. Não o considere uma pequena cruz, irmão.”
4 Ao ouvir José dizer isso, Jesus riu e disse a Zachyas: “Acredite em mim, mestre, o que meu pai lhe disse é verdade. Sou o Senhor dessas pessoas e estou presente com vocês e tenho sido. Nasci entre vocês e estou com vocês. Sei de onde você veio e quantos anos você viverá. Eu te juro, mestre, eu existia quando você nasceu. Se você deseja ser um mestre perfeito, ouça-me e eu lhe ensinarei uma sabedoria que ninguém mais conhece, exceto eu e aquele que me enviou a você. É você que é meu aluno, e eu sei quantos anos você tem e como muito tempo você tem que viver. Quando você vir a cruz que meu pai mencionou, então você acreditará que tudo o que eu lhe disse é verdade.”
5 Os judeus que estavam de pé e ouviram Jesus se maravilharam e disseram: “Que estranho e absurdo! Esta criança tem apenas cinco anos e ainda diz essas coisas. Na verdade, nunca ouvimos ninguém dizer o tipo de coisa esta criança faz.”
6 Jesus lhes disse em resposta: “Vocês estão realmente maravilhados? Antes, considerem o que eu disse a vocês. A verdade é que eu também sei quando vocês nasceram, e seus pais, e anúncio este paradoxo para você: quando o mundo foi criado, eu existia com aquele que me enviou a vocês.”
7 Os judeus, ao ouvirem o que a criança estava falando assim, ficaram com raiva, mas não puderam dizer nada em resposta.
8 Mas o menino Jesus pulou para frente e disse a eles: “Eu ironizei vocês porque sei que suas mentes pequenas se maravilham com ninharias.”
9 Quando, portanto, eles pensaram estarem sendo consolados pela exortação do menino, o mestre disse a José: “Traga-o para a sala de aula e eu lhe ensinarei o alfabeto.”
10 José o pegou pela mão e o levou para a sala de aula. O mestre escreveu o alfabeto para ele e começou a instrução repetindo a letra alfa muitas vezes. Mas a criança ficou quieta e não lhe respondeu por um longo tempo. Não é à toa, então, que o mestre ficou com raiva e bateu na cabeça dele.
11 Jesus recebeu o golpe com calma e lhe respondeu: “Estou ensinando a você em vez de você me ensinar, e sua condenação é grande. Para você, essas letras são como um jarro de bronze ou um címbalo que se choca, que não pode produzir glória ou sabedoria porque tudo não passa de barulho. Ninguém entende a extensão da minha sabedoria.”
12 Quando ele superou a raiva, ele recitou as letras de alfa para ômega muito rapidamente.
13 Jesus, porém, fixou seus olhos no rabino Zachyas e lhe disse: “Já que você não conhece a real natureza da letra alfa, como você vai ensinar a letra beta? Seu impostor, se você sabe, me ensine primeiro a letra alfa e depois confiarei em você a letra beta.”
14 Ele começou a questionar o mestre sobre a primeira letra, mas não conseguiu dizer nada.
15 Então, enquanto muitos ouviam, ele disse a Zachyas: “Ouça, mestre, e observe a disposição da primeira letra: Como ela tem duas linhas retas ou traços indo até um ponto no meio, reunidos, elevado, dançante, de três pontas, de duas pontas, não antagônicos, da mesma família, desde que o alfa tenha linhas de igual medida.”
Capítulo 7
Jesus, uma criança erudita.
1 Depois que Zachyas, o mestre, ouviu a exposição feita pelo menino sobre tantas e tais alegorias acerca da primeira das letras, ficou desconcertado diante da resposta e da erudição que ele manifestava.
2 E Zachyas disse aos presentes: “Pobre de mim! Não sei o que fazer, pois eu mesmo procurei a confusão ao trazer este jovem para junto de mim. Leva-o, então, irmão José, rogo-te. Não posso suportar a severidade do seu olhar.”
3 “Não consigo fazer com que seu discurso seja inteligível para mim. Este jovem não nasceu na terra. E capaz de dominar até mesmo o fogo. Talvez tenha nascido antes da criação do mundo. Não sei qual o ventre que pode tê-lo carregado e qual seio pôde havê-lo nutrido. Ai de mim! Meu amigo, estou aturdido. Não posso seguir acompanhando de sua inteligência.”
4 “Enganei-me, pobre de mim: queria muito ter um aluno e deparei-me com um mestre. Percebo perfeitamente, amigos, a minha confusão; pois, velho e tudo o mais, deixei-me vencer por uma criança. É de se ficar arrasado e perecer por causa desse jovem, pois agora sou incapaz de olhá-lo fixamente. Que vou respondeu quando todos me disserem que me deixei vencer por uma criança?”
5 “Que explicarei a respeito do que ele me disse sobre as linhas da primeira letra? Não sei, amigos, porque ignoro a origem e o destino dessa criatura. Por isso, peço-te, irmão José, que o leve de volta para tua casa. Que grande coisa ele é, deus ou anjo, ou qualquer outra coisa que eu possa chamá-lo, eu não sei. O que posso dizer?”
Capítulo 8
Jesus cura os amaldiçoados.
1 E enquanto os judeus se entretinham em dar conselhos a Zachyas, o menino pôs-se a rir com muita vontade.
2 Então o menino Jesus disse: “Frutificai agora vossas coisas e abri os olhos à luz os cegos de coração. Vim de cima para amaldiçoar-vos e depois chamar-vos para o alto, pois esta é a ordem daquele que me enviou por vossa causa.”
3 Quando o menino terminou de falar, sentiram-se imediatamente curados todos os que haviam caído sob a maldição.
4 E desde então ninguém ousava irritá-lo para que ele não os amaldiçoasse ou ficassem cegos.
Capítulo 9
Os poderes de cura de Jesus.
1 Dias depois encontrava-se Jesus brincando num terraço. E um dos meninos que estavam com ele caiu do alto e faleceu. Os outros, ao verem isso, se foram e somente Jesus ficou.
2 Os pais da criança morta vieram e acusaram Jesus dizendo: “Você encrenqueiro, você é quem o derrubou.”
3 Mas Jesus lhes disse: “Eu não o joguei no chão, ele se jogou no chão. Ele simplesmente não estava sendo cuidadoso e pulou do telhado e morreu.”
4 Jesus então deu um salto de cima do terraço, caindo junto ao cadáver.
5 E pôs-se a gritar pelo nome do menino: “Zenon, levanta-te e responde-me: fui eu quem te empurrou?”
6 O morto levantou-se num instante e disse: “Não, Senhor. Tu não me jogaste, porém, me ressuscitas-te”.
7 Ao ver isto, todos os presentes ficaram consternados e os pais do menino glorificaram a Deus por aquele maravilhoso feito e adoraram a Jesus.
Capítulo 10
Jesus salva o jovem lenhador.
1 Poucos dias depois estava um jovem cortando lenha nas redondezas e aconteceu que o machado escapou e cortou a planta do seu pé. O infeliz estava morrendo rapidamente devido à hemorragia.
2 Sobreveio por isso um grande alvoroço e juntou muita gente. Também Jesus veio ter ali.
3 Após abrir espaço à força por entre a multidão, chegou junto do ferido e com suas mãos apertou o pé injuriado do jovem, que num instante ficou curado.
4 Disse então ao rapaz: “Levanta-te já; continua cortando lenha e lembra-te de mim.”
5 A multidão, quando se deu conta do que havia acontecido, adorou o Menino dizendo: “O espírito de Deus verdadeiramente habita nesta criança.”
Capítulo 11
Os milagres de Jesus em casa.
1 Quando tinha seis anos, sua mãe lhe deu certa vez um cântaro para ir enchê-lo de água e o trouxesse para casa.
2 Mas, no caminho, Jesus tropeçou nas pessoas, e a vasilha se quebrou.
3 Então ele estendeu o manto com o qual se cobria, encheu-o de água e levou-o a sua mãe.
4 Esta, ao ver tal maravilha, pôs-se a beijar Jesus.
5 E foi guardando em seu íntimo todos os mistérios que o via realizar.
Capítulo 12
Jesus multiplica a colheita.
1 Certa vez, sendo tempo de semeadura, saiu Jesus com seu pai para semear trigo em sua propriedade.
2 E enquanto José esparramava as sementes, o Menino Jesus teve também vontade de semear um grãozinho de trigo.
3 Após ceifar e debulhar, sua colheita somou cem coros. Convocou então em sua propriedade todos os pobres da região e repartiu com eles o grão.
4 José, depois, levou para si o restante. E Jesus tinha oito anos quando operou esse milagre.
Capítulo 13
Jesus ajuda José na carpintaria.
1 Seu pai, que era carpinteiro, fazia arados e jugo. Certa vez recebeu o encargo de fazer uma cama para certa pessoa de boa posição.
2 Aconteceu que uma das tábuas era mais curta que a outra; e por isso José não sabia como proceder.
3 Então o Menino Jesus disse a seu pai: “Põe no chão ambas as tábuas e iguala-as pela metade.”
4 Assim fez José. Jesus foi até à outra extremidade, pegou a tábua mais curta e a esticou, deixando-a tão comprida quanto a outra.
5 José, seu pai, encheu-se de admiração ao ver o prodígio e cobriu o menino de abraços e beijos dizendo: “Feliz de mim, porque Deus me deu este menino.”
Capítulo 14
Segundo encontro de Jesus com um mestre.
1 José, percebendo que a inteligência do menino ia amadurecendo ao mesmo tempo que a idade, quis novamente impedir que ele permanecesse Analfabeto, por isso levou-o até outro mestre e o colocou à sua disposição.
2 Este lhe disse: “Te ensinarei em primeiro lugar as letras gregas; depois as hebraicas.”
3 Era evidente que o mestre conhecia bem a capacidade do rapaz e sentia medo dele.
4 Após escrever o alfabeto, entretinha-se com ele por um longo tempo sem obter nenhuma resposta de seus lábios.
5 Finalmente Jesus lhe disse: “Se és mestre de verdade e conheces perfeitamente as letras, dize-me primeiro qual é o valor de Alfa e então eu te direi, qual é o de Beta”.
6 Irritado, o mestre então bateu-lhe na cabeça. Quando o Menino sentiu a dor, amaldiçoou-o e imediatamente o mestre desmaiou e caiu de bruços no chão.
7 O jovem voltou para a casa de José. Este encheu-se de pesar e disse a Maria que não o deixasse sair de casa, porque todos os que o aborreciam morriam.
Capítulo 15
Terceiro encontro de Jesus com um mestre.
1 Passado algum tempo, outro mestre, que era amigo íntimo de José, lhe disse: “Leva teu filho à escola, talvez com delicadeza eu possa ensinar-lhe as letras.”
2 José replicou: “Se te atreves, irmão, leva-o contigo”.
3 Ele o aceitou com muito receio e preocupação, porém o menino progredia com muita boa vontade.
4 Ele entrou impetuosamente na sala de aula e encontrou um livro colocado sobre a carteira. Pegou-o, e, sem parar para ler as letras que nele estavam escritas, abriu sua boca e começou a falar levado pelo Espírito Santo, ensinando a Lei aos circunstantes que o escutavam. E uma grande multidão que se havia juntado ouvia-o, cheia de admiração pela maravilha da sua doutrina e pela clareza de suas colocações, considerando que era uma criança que assim lhes falava.
5 José, quando soube disso, encheu-se de medo e correu imediatamente até a escola, receando que também aquele mestre pudesse ter sido maltratado.
6 Este, porém, lhe disse: “Saiba, irmão, que recebi esse menino como se fosse um aluno comum e acontece que está transbordando graça e sabedoria. Leva-o, por favor, para tua casa.”
7 Ao ouvir essas palavras, o menino sorriu e disse: “Agradeço a ti, por haveres falado com retidão e dado um testemunho justo; será curado aquele que foi anteriormente castigado.”
8 E imediatamente o outro mestre sentiu-se bem. José pegou o menino e foram para casa.
Capítulo 16
Tiago é curado por Jesus.
1 Certa vez José mandou seu filho Tiago juntar lenha e trazê-la para casa.
2 O Menino Jesus o acompanhou. Mas aconteceu que, enquanto Tiago recolhia os gravetos, uma cobra picou lhe a mão.
3 Tendo caído ao chão, ficou completamente largado, e estando já para morrer, Jesus se aproximou e assoprou a mordida.
4 Imediatamente a dor desapareceu, a cobra explodiu e Tiago recobrou imediatamente a saúde.
Capítulo 17
Jesus ressuscita um menino.
1 Aconteceu depois, nas vizinhanças de José, que um menino que vivia doente faleceu. Sua mãe chorava inconsolavelmente.
2 Jesus, ao tomar conhecimento da dor daquela mãe e do tumulto que se formava, acudiu rapidamente.
3 E encontrando o menino já morto, tocou-lhe o peito e lhe disse: “Pequenino, falo contigo. Não morras, mas vive feliz e fica com tua mãe.”
4 No mesmo instante o menino abriu os olhos e sorriu.
5 Então disse Jesus à mulher: “Anda, pega-o, dá-lhe leite e lembra-te de mim.”
6 Ao presenciar o acontecido, os circunstantes encheram-se de admiração e exclamaram: “Na verdade, este menino ou é um Deus, ou um anjo de Deus, pois tudo o que sai de sua boca torna-se um fato consumado”.
7 Jesus saiu dali e pôs-se a brincar com os outros jovens.
Capítulo 18
Jesus ressuscita um homem.
1 Dias depois aconteceu que, estando construindo uma casa, sobreveio um grande tumulto.
2 Jesus levantou-se e dirigiu-se até o local.
3 E, vendo ali um cadáver estendido no chão, tomou-lhe a mão e dirigiu-se a ele nos seguintes termos: “Homem, falo contigo: levanta-te e termina teu trabalho.”
4 Ele se levantou em seguida e o adorou.
5 A multidão que viu esta cena encheu-se de admiração e disse: “Esse rapaz deve ter vindo do céu, por livrar muitas almas da morte e ainda seguirá livrando mais durante sua vida.”
Capítulo 19
Jesus aos doze anos no templo.
1 Quando contava doze anos, seus pais, como de costume, foram, em caravana, até Jerusalém para assistir às festas da Páscoa. Quando terminaram as festas, voltavam para casa.
2 Mas, no instante de partir, o Menino Jesus retomou a Jerusalém, enquanto seus pais pensavam que o encontrariam na caravana.
3 Depois do primeiro dia de marcha, puseram-se a buscá-lo entre os seus parentes. Mas, não o encontrando, preocuparam-se muito e voltaram a Jerusalém para procurá-lo.
4 Finalmente, depois do terceiro dia, o encontraram no templo sentado em meio aos doutores da lei, escutando-os e fazendo-lhes perguntas.
5 Todos estavam atentos a ele e admiravam-se de ver que, menino como era, deixava os anciãos e mestres do povo sem palavras, averiguando os principais pontos da lei e as parábolas dos profetas.
6 Aproximando-se Maria, sua mãe, lhe disse: “Meu filho, por que agiste assim conosco? Veja com que preocupação estamos a te procurar.”
7 Jesus, porém, respondeu: “E por que me procuravas? Não sabias acaso que devo ocupar-me das coisas que se referem ao meu PAI?”
8 E os escribas e fariseus lhe diziam: “És tu acaso a mãe deste menino?”
9 Ela respondeu: “Assim é!”
10 E eles retrucaram: “Pois feliz de ti entre as mulheres, já que o Senhor teve por bem bendizer o fruto do teu ventre, porque semelhantes glória, virtude e sabedoria não ouvimos nem vimos jamais.”
11 Jesus levantou-se e seguiu sua mãe. E era obediente a seus pais. Sua mãe guardava todos esses fatos no seu coração. Enquanto isso, Jesus ia crescendo em idade, sabedoria e graça. Graças sejam dadas a ele por todos os séculos dos séculos.
Amém!
Notas:
Texto Revisado em dezembro de 2024.
Sobre o Evangelho da Infância de Tomé:
Para um leitor moderno, o Evangelho da Infância de Tomé é provavelmente o mais engraçado dos escritos cristãos antigos. Ele descreve os eventos surpreendentes da infância de Jesus e as dificuldades que seus pais enfrentaram ao tentar criar essa criança de temperamento forte que também era onipotente. Preenchendo as lacunas deixadas pelos evangelhos do Novo Testamento, o texto deixa claro que Jesus nem sempre foi o salvador perfeitamente misericordioso que os cristãos posteriores acreditavam que ele era. Em sua juventude, Jesus frequentemente usava seus poderes milagrosos para fazer coisas como matar seus colegas de brincadeira, fazer com que aqueles que estavam bravos com seu pai ficassem cegos e fazer seu professor desmaiar. Felizmente, a história também deixa claro que Jesus se tornou mais gentil com a idade, ressuscitando os mortos e curando os doentes e usando suas habilidades divinas para propósitos melhores.
O uso do Evangelho da Infância de Tomé pode ser rastreado até Irineu de Lyon em 185 EC e histórias semelhantes são encontradas ainda mais cedo na Epístola dos Apóstolos. O Evangelho da Infância de Tomé claramente não é o trabalho do discípulo de Jesus mencionado em todos os quatro evangelhos canônicos. Tomé não é apenas nomeado como autor nos manuscritos mais antigos, mas o texto também foi brevemente atribuído a Tiago. Além disso, o texto não foi escrito por nenhum escritor do primeiro século porque o autor não mostra praticamente nenhum conhecimento da vida judaica na época de Jesus (o autor sabe sobre Jerusalém e a Páscoa, mas pouco mais). Além disso, o texto não poderia ter se originado no primeiro século porque depende do Evangelho de Lucas para a história de Jesus no templo aos doze anos. A maioria das tradições contidas no Evangelho da Infância de Tomé datam de meados do segundo século.
O chamado Evangelho da Infância de Tomé, em suas várias formas, apresenta uma série de narrativas independentes sobre o jovem Jesus, entre as idades de cinco e doze anos. Provavelmente foi escrito, originalmente, em grego. Dos quatorze manuscritos gregos que atestam o Evangelho, oito nunca foram publicados ou disponibilizados para análise acadêmica. Temos, por outro lado, manuscritos anteriores em outras línguas. Há cópias siríacas dos séculos V e VI (Cod. Brit. Mus. Add. 14484 e Göttingen ms Syr. 10; três outras testemunhas siríacas são posteriores), e pelo menos uma testemunha fragmentária em latim da mesma data (um palimpsesto de Viena Vindob. 563; outras testemunhas latinas também são posteriores). Mas essas testemunhas versionais também diferem significativamente entre si e do que pode ser encontrado no grego, de modo que alguns estudiosos até argumentaram que a versão do Evangelho encontrada no siríaco (Peeters). Ou como atestada em uma combinação de várias versões siríaca, latina, georgiana e especialmente etíope (Voicu, 1991), representa melhor o “original” do que o grego.
Qualquer que seja sua forma mais primitiva, não pode haver dúvida de que este Evangelho foi um dos mais populares dos primeiros cristãos ao longo dos tempos. Temos cópias dele em um número surpreendente de línguas antigas e medievais tardias, sendo treze no total. Particularmente importantes para a bolsa de estudos sobre a história do texto foram as quatro versões etíopes estudadas por Van Rompay e os dezesseis manuscritos eslavos estudados por de Santos Otero (Das kirchenslavische). J. A. Fabricius foi o primeiro a publicar uma versão do Evangelho em 1703 (grego e latim), mas no último século e meio ele foi mais conhecido pelas duas versões gregas produzidas por Constantine von Tischendorf em 1853. A mais longa de suas duas versões continha dezenove capítulos e era comumente chamada de grego A; Tischendorf a baseou, principalmente, em dois manuscritos do século XV (Bologna ms Univ. 2702 e Dresden ms A 187), suplementados em alguns lugares por dois outros manuscritos de aproximadamente a mesma data, um dos quais agora foi perdido (Phil. gr. 144) e o outro continha apenas o que são agora os capítulos 1–6 (Paris ms, Bibl. Nat. gr. 239.). Sua versão mais curta (grego B) continha apenas onze capítulos e era baseada em apenas um manuscrito do século XIV ou XV (Cod. Sinai gr. 453). Desde os dias de Tischendorf, outros manuscritos gregos vieram à tona, em particular um publicado por A. Delatte em 1927 (Cod. Ath. gr. 355), que contém três capítulos adicionais no início da narrativa retratando algumas das atividades milagrosas de Jesus já com dois anos no Egito, e uma versão mais longa de um dos discursos do menino Jesus (cap. 6; este manuscrito também atribui o relato a Tiago em vez de Tomé). Essas diferenças tornam o manuscrito ateniense de Delatte muito mais próximo da forma latina do texto que Tischendorf havia publicado (baseado principalmente em um manuscrito do século XIV, Vat. Reg. 648).
Informações do manuscrito:
As edições críticas do Evangelho da Infância de Tomé, compiladas por Constantin von Tischendorf no século XIX, são as ferramentas padrão para o estudo do texto do Evangelho da Infância de Tomé.
Tischendorf A
(Dois manuscritos: Bologna Univ. 2702 e Dresden 1187, século XV/XVI )
Tischendorf B
(Manuscrito descoberto por Tischendorf no mosteiro do Sinai, século XIV/XV)
Tischendorf Latin
(Dois manuscritos: Vat. Reg. 648 e um palimpsesto em Viena, século V/VI)
Traduções em inglês:
Cameron, Ron, ed. The Other Gospels: Non-Canonical Texts. Philadelphia: Westminster, 1982.
Ehrman, Bart D., ed. The New Testament and Other Early Christian Writings: A Reader. New York: Oxford University Press, 1998.
Elliott, J.K., ed. The Apocryphal New Testament. Oxford: Clarendon, 1993.
Miller, Robert J., ed. The Complete Gospels: Annotated Scholars Version. Rev and enl. ed. Sonoma: Polebridge, 1994.
Schneemelcher, Wilhem, ed. Gospels and Related Writings. Translated by R. McL. Wilson. Vol. 1 of New Testament Apocrypha. Rev. ed. Louisville: Westminster/John Knox, 1991.
Edições em Línguas Antigas: Versão para Estudiosos:
Hock, Ronald F. The Infancy Gospels of James and Thomas. Santa Rosa: Polebridge Press, 1995.
Greek Text
Referências Bibliográficas:
O Evangelho da Infância de Tomé:
WALKER, Alexander (Ed.). Apocryphal Gospels, Acts, and Revelations. T. & T. Clark, 1870.
EHRMAN, Bart; PLESE, Zlatko. The apocryphal gospels: Texts and translations. OUP USA, 2011.
CAMERON, Ron (Ed.). The other Gospels: non-canonical Gospel texts. Westminster John Knox Press, 1982.
ELLIOTT, James Keith (Ed.). The Apocryphal New Testament: A Collection of Apocryphal Christian Literature in an English Translation. OUP Oxford, 1993.
MILLER, Robert J. The complete gospels: Annotated scholars version. 1994.
Recursos on-line adicionais:
http://web.archive.org/infancythomasadditional